Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
quarta-feira, dezembro 31, 2008
terça-feira, dezembro 30, 2008
Um ano de "smoke ban"
segunda-feira, dezembro 29, 2008
Ainda Cavaco e os Açores: a questão do regime
O Presidente, o rapaz e os lobos...
Bom, já perceberam... Espero bem que, ao contrário do que aconteceu com os lobos na tal recôndita aldeia, nunca em Portugal se venha a gerar situação política, social ou outra suficientemente grave para justificar uma intervenção dramática do Presidente. É que, então, pode bem acontecer que ninguém o oiça, apesar da razão que, tal como agora, é de justiça ser-lhe atribuída.
História(s) da Música Popular (111)
Pois um dos maiores êxitos de Aretha foi, em 1968, este “I Say a Little Prayer”, um original de Bacharach e David que Dionne Warwick tinha gravado em 1966 e editado no ano seguinte. O original de Dionne tinha atingido o #4 do Billboard e a versão de Aretha viria a “trepar” até ao #10, embora eu pense que se tornou a mais conhecida e popular aqui pelo “rectângulo”.
Claro, pelo que disse se depreende prefira a versão de Dionne, com menor potência de voz, menos “gospel like” mas com mais “swing”. Aqui, pelo menos, consigo encontrar a razão.
Uma curiosidade: parece que existe uma versão humorística do tema dedicada a José Mourinho, “composta” nos seus tempo do Chelsea. Nome: “I Sign a Little Player or Two”. Coisa dos rivais londrinos do Arsenal, ou do vizinho Fulham, certamente.
Queiroz e "O Jogo"
domingo, dezembro 28, 2008
A RTP e D. Juan Carlos
Apesar das más traduções continuarem (“primo-irmão” não existe em português; a tradução correcta de “primo-hermano” é “primo-direito” – caramba!, é assim tão difícil?), a RTP presenteia-nos por vezes com muito boas surpresas. Acabei há pouco de ver , na RTP 2, um excelente documentário sobre a infância, adolescência e ascensão ao trono de D. Juan Carlos. Uma autêntica lição de política e de História que bem valeu o serão. Muito bem!
As capas de Cândido Costa Pinto (52)
Tristeza...
Mas a este sentimento junta-se um outro, só aparentemente incompatível: uma enorme falta de rigor e uma total condescendência crítica para com situações e pessoas. Este tipo de atitude é principalmente visível na imprensa desportiva, por exemplo, que constrói ídolos tão rapidamente como essa imagem se auto-destrói quando muitos desses praticantes vão competir para campeonatos muito mais exigentes. Também já por aqui falei - um pequeno fait divers e assunto que conheço bem - nas classificações dos guias de vinhos, onde qualquer nota abaixo de 15 (em 20), quase inexistente nesses mesmos guias, significa que cá por casa nunca se beberá tal coisa nem se oferecerá aos amigos. Mas este é também sentimento dominante quando muitos tentam olhar com nostalgia o passado, incapazes de uma atitude crítica como se essa fosse condição para destruir as memórias das quais se molda a quase totalidade do seu presente. Ou em algumas personalidades da política, das artes e do espectáculo, que, a páginas tantas, já ninguém é capaz de explicar das razões da sua tão apregoada genialidade. Esta é uma atitude característica das sociedades pouco livres, demasiado dependentes do estado e das corporações, pequeninas e provincianas, em que domina o sentimento “é melhor estar quieto porque não consigo fazer nada e, no fim, ainda me lixo”. Em que muitos tem medo de enfrentar os seus próprios fantasmas, tal como tiveram medo de enfrentar a vida que esses fantasmas agora povoam. Claro que uma herança do salazarismo, do “nojo” da política, de súbditos e não de cidadãos, mas, em certa medida, esse foi também o caldo de cultura que fez medrar e eternizar a ditadura do “Estado-Novo”.
No fundo, ambas são atitudes com a mesma raiz: o subdesenvolvimento gerador da ignorância, do desconhecimento da razão e causa das coisas, do medo, da inveja, da falta ou pequenez de horizontes. Também do sentimento “contentinho da Silva” quando, mesmo que apenas por um fugaz momento, pelos tradicionais “cinco minutos de fama”, se consegue sair do anonimato nem que seja por uma qualquer realização de circunstância ou sem especial valor ou relevância fora do “bairro”, do círculo restrito dos amigos bajuladores que, assim, sentem que também compartilham um pouco dessa suposta “notoriedade”.
sábado, dezembro 27, 2008
Futebol, mercados e transmissões televisivas
Partindo de uma afirmação verdadeira, um Acordão do Tribunal da Relação de Lisboa que afirma que quem adquire os direitos de transmissão televisiva “só poderá ser uma entidade legalmente autorizada a exercer a actividade de televisão” - o que não é, como se sabe, o caso da Olivedesportos – e daí tirando as devidas conclusões que me parecem ser também incontestáveis (“o dr Vale e Azevedo pode ser o que for, isso não invalida que, de facto, teve razão quando denunciou os contratos com a Olivedesportos”), Rui Cartaxana salta destas premissas para uma conclusão que elas não justificam, isto é, que aquilo que os clubes portugueses recebem como receitas das transmissões televisivas está francamente sub-avaliado (“para se ter uma ideia, a Olivedesportos paga ao conjunto dos clubes portugueses cerca de 40/42 milhões de euros/ano. Um clube espanhol de 2ª linha como o Villarreal cobra sozinho 46 milhões/ano. E um clube como o Tottenham arrecada só por si, 51 milhões! Andamos todos a brincar com coisas sérias…” ).
Ora embora partindo do princípio que os contratos dos clubes portugueses podem ser melhorados (tese que partilho), apresentar como exemplos comparativos o Villareal e o Tottenham já me parece um exagero e algo que não tem em conta realidades bem distintas: Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes, Espanha um pouco mais do que 45 milhões e o Reino Unido cerca de 60 milhões. Isso significa que se um qualquer jogo entre os três grandes portugueses pode atingir uma audiência de, por exemplo, 2 ou 3 milhões de telespectadores, em Portugal, facilmente, e de modo menos do que proporcional, um Villareal-Barça, Real Madrid ou, até, Valência ou Atlético, mesmo tendo em conta a relativa pequena dimensão da massa adepta do Villareal, facilmente chegarão aos 7 ou 8 milhões só em Espanha. Idem no que diz respeito aos jogos dos "Spurs", na melhor liga do mundo. A dimensão dos mercados dita a sua lei!
Mas devemos ir mais longe. Quer os principais jogos da liga espanhola quer os da Premiership são vendidos para quase todo o mundo, atingindo audiências de muitas dezenas ou centenas de milhões de pessoas em mercados de médio/elevado poder de compra, como o são, por exemplo, o Extremo-Oriente e a América Latina. Isto é algo que não acontece com a liga portuguesa, quando muito com alguma excepção no caso antigas colónias - mercados de muito fraco poder de compra - ou da diáspora europeia. Daqui resulta que considere ainda mais optimista (devo dizer, irrealista?) a comparação efectuada por Rui Cartaxana, embora não conteste a sua boa vontade e a legitimidade e urgência dos objectivos a que se propõe. Daí também considere que, se melhorar um pouco os actuais direitos televisivos é algo possível e desejável, a longo prazo só existe um caminho para tornar os principais clubes portugueses competitivos: fazê-los partilhar do mercado mundial das grandes ligas europeias, o que significa forçar a UEFA, através da fusão de alguns campeonatos nacionais, a permitir a criação de uma Liga Ibérica. Tudo o resto são apenas paliativos; aspirinas que diminuem a dor mas não curam a grave doença.
sexta-feira, dezembro 26, 2008
Autismo?
A igreja católica e o conflito na educação
Mas tendo dito isto, e exactamente por isso e como seu resultado, é conveniente que se chame a atenção para o facto de que a opinião de D. José Policarpo, em particular, e/ou a da igreja católica, em geral, não é, neste caso específico, apenas dominado pelos seus interesses pastorais, mesmo que estes, tantas vezes, de modo mais ou menos nítido, se interliguem ou sobreponham com questões políticas. A igreja católica, pela importante posição que desde há muito ocupa no ensino em Portugal (e com indiscutível sucesso, assinale-se uma vez mais o que é de justiça), não pode aparecer no actual conflito como entidade detentora de uma posição de equidistância, de mediação e de neutralidade, que por esse motivo não pode ser a sua. Antes pelo contrário: por muito boa vontade que possa ter e soluções positivas que possa legitimamente propor, e que serão sempre bem-vindas, é parte interessada naquilo que se discute e no resultado final do processo. É sob esta luz, pois, que qualquer sua intervenção deverá também ser analisada.
quarta-feira, dezembro 24, 2008
Bom Natal
terça-feira, dezembro 23, 2008
Era útil que o governo esclarecesse o que se passou na TAP
O Benfica de LFV
segunda-feira, dezembro 22, 2008
José Pacheco Pereira e o "Horst Wessel Lied": uma pequena contribuição
Quando se referiu ao "Horst Wessel Lied", JPP mencionou-a como sendo uma "canção de cervejaria", relacionando esse ambiente popular e barulhento, promíscuo, das cervejarias alemãs, atulhadas de gente já um pouco ébria, com as características arruaceiras - de lutas de rua contra os "inimigos" comunistas, sindicalistas e sociais-democratas (e outros) - presentes na génese do NSDAP e, principalmente, das suas Sturmabteilung (SA). Tem razão. No entanto, gostaria de acrescentar algo.
As "canções de cervejaria" (as cervejarias são um espaço público popular na Alemanha – o putsch de Munique teve a sua génese numa cervejaria) são, na sua essência e origem, canções populares, levadas e cantadas nesses locais de reunião, conraternização e comemoração. Nesse sentido, pouco as distingue das canções de "pub" inglesas, para além das especificidades culturais e de local (o ambiente de um "pub" é diferente do de uma cervejaria alemã) que dão origem a formas musicais e mood and tones um pouco diversos. São esse tipo de canções, muitas vezes com "letras" adaptadas á situação que se vive no momento, que também vemos, por vezes, serem cantadas nas messes dos oficiais da RAF, nos intervalos dos seus duros combates como pilotos durante a WWII, acompanhadas ao piano, frequentemente já influenciadas pela sua apropriação pelas classes altas das universidades britânicas e também por hinos religiosos, eles próprios formas musicais populares. Aliás é muito interessante verificar que essas canções populares de confraternização e união, cantadas á volta do álcool, são frequentemente comuns às classes situadas nos dois extremos opostos da hierarquia social. Também se estivermos atentos, verificaremos que o muito lisboeta fado - canção popular urbana por excelência -, nas suas versões de contestação política que se vieram a perder tais como o "fado repúblicano" ou o "fado operário", também era cantado nas tabernas dos bairros populares pelos trabalhadores e carbonários que por aí se juntavam e conspiravam. Já sem canções, muitas das frustradas revoluções "reviralhistas" contra o "Estado Novo" foram discutidas e pensadas em cafés (existe mesmo a expressão "revolucionário de café"), locais de confraternização e convívio da pequena e média burguesia lisboeta.
Bom, mas voltemos ao "Horst Wessel Lied", ou "Die Fahne Hohe" ("bandeira ao alto"). O tal Horst Wessel, autor da letra em 1929 (a música era baseada num tema popular – lá está), era um relativamente destacado militante nazi dos primeiros tempos, em Berlim, morto por um membro do partido comunista alemão no ano seguinte. Daí até o partido dele ter feito mártir vai (foi) um pequeno passo. Parece, no entanto – pelo menos o partido comunista nunca assumiu o assassinato como uma questão política –, que a altercação que lhe deu origem terá sido mais uma questão de dinheiro ou de saias do que propriamente política (diz-se), até porque foi um acto isolado que nada teve a ver com qualquer das rixas de rua na altura frequentes. Nunca saberemos a verdade efectiva, mas o que é um facto é que o mal afamado Dr. Joseph Goebbels não deixou escapar tamanha oportunidade e o "Horst Wessel Lied" tornar-se-ia o hino do partido, tocado em todas as cerimónias oficiais em conjunto com a versão de então do Deutschlandlied, o Hino Nacional da Alemanha. Claro - escusado será dizer - que tanto essa versão do Deutschlandlied como o "Horst Wessel Lied" estão priobidos na Alemanha de hoje.
Pronúncias e traduções
De uma vez por todas:
- “Police officer" é um agente da polícia e não necessariamente um oficial da mesma.
- "Eventually" significa “por fim” e não “eventualmente”.
- “Troops” (p. ex. 2 500 troops) traduz-se por “homens” e não “tropas” (p. ex. 2 500 homens), mesmo que o grupo inclua mulheres.
- “Officials” são “representantes oficiais” e não “oficiais” como os das forças armadas.
- Lancashire pronuncia-se 'læŋki∫ɪə/ [lanky-sheer] ou 'læŋki∫ə/ [lanky-shuh].
- A palavra francesa “esplanade” (grande área aberta em frente a um edifício) poderá traduzir-se por "alameda" e nunca por “esplanada”. “Esplanada” diz-se “terrace”.
- Por último, e juro já ter ouvido esta tradução, “Hôtel de Ville” significa “Paços do Concelho” e não um qualquer “hotel da cidade”.
É que começo a estar um tanto ou quanto farto de tanta asneira!
domingo, dezembro 21, 2008
Portugal: um país demasiado frágil
O que me parece começar a crescer neste momento, em situação de maioria absoluta de um partido “centrista” (digamos assim), é, isso sim, um certo desespero pelo facto de essa representação institucional, nas suas várias componentes, não conseguir influenciar, de forma significativa, a governação do país, À direita, fruto da grave crise dos seus partidos representativos impedir a apresentação de uma alternativa credível de governo ou de propostas consideradas sólidas de alteração a algumas políticas da actual governação (o que a crise também dificulta); à esquerda, em virtude de PCP e “Bloco” terem claramente optado por um estatuto de protesto e um discurso radicalizado de contestação ao “sistema”.
Isto tem como consequência que, à direita, e entre os que nela fundamentalmente se reconhecem, se assista, cada vez mais, a uma tendência para esperar que seja o Presidente da República a intervir, colocando nele as suas esperanças no sentido de, com as competências que lhe são próprias, possa influenciar e/ou corrigir as políticas governamentais no sentido desejado. Sim, eu sei que Ramalho Eanes não é politicamente muito relevante (no entanto, trata-se de um ex-presidente e apoiante destacado de Cavaco Silva), mas as suas afirmações sobre uma questão que neste momento parece ser completamente “estapafúrdia” (dissolução da Assembleia da República), embora possam ser apenas consideradas isso mesmo – nada mais do que uma “estapafúrdia” excentricidade da parte de alguém um pouco já fora do seu tempo -, não deixaram de ser produzidas e por aí ficaram à espera de eco e reacção. Aliás, é este cenário - o da tentativa de reforço da componente de intervenção governamental de Cavaco Silva - que melhor permite compreender as acusações, vindas de alguns sectores da direita, dirigidas aos que (soit disant) pretenderiam envolver Cavaco Silva na “trama” do BPN, mas também o “braço de ferro”, aparentemente sem sentido, do Partido Socialista na questão do Estatuto dos Açores”.
À esquerda, no “Bloco” - já que o PCP, tradicionalmente, não alinha em devaneios ou fomenta situações que pode não vir a dominar - a situação é diversa. Para além da tentativa política, puramente legal e legítima, de actuar no campo das instituições, forçando a uma cisão no PS, começa simultaneamente a assistir-se a uma certa nostalgia da rua, terreno onde, com maior facilidade, é possível forçar a mão e criar dificuldades a um qualquer governo democrático. Não a rua das manifestações legais e legítimas (como as dos professores, p. ex, concorde-se ou não com os seus objectivos) - a rua da democracia - mas uma certa atracção e quase desejo por um alastramento dos distúrbios da Grécia a outros países, ao bom estilo “esquerdista” de copycat expontâneo. Uma rua que, embora exterior ao seu directo controlo, serviria de elemento catalizador da sua capacidade política. Basta verificar a mal disfarçada simpatia com que alguma "blogosfera" acompanha o que se passa nas ruas de Atenas e Salónica, e/ou trocar impressões com quem se reconhece nesse sector político, para ouvir a referência, qual desejo mal disfarçado de aviso, ao facto de poder vir a acontecer em Portugal algo semelhante.
Ambos os cenários, no fundo, reflectem algo de semelhante: a fragilidade da chamada “sociedade civil”, em Portugal, e a sua dificuldade para gerar soluções políticas em democracia. À esquerda, isso espelha-se na incapacidade do “Bloco” assumir um discurso e práticas pós-modernas. À direita, na dificuldade sentida pelo PSD e CDS, quando afastados do poder, em assegurarem a representação institucional de interesses demasiados dependentes do Estado. Em ambos os casos, algo a exigir cuidados e que tem a ver com o atraso do país.
sábado, dezembro 20, 2008
Willie Dixon's Blues Dixonary (14)
Georgie Fame & The Blue Flames - "I Love The Life I Live" (Willie Dixon)
sexta-feira, dezembro 19, 2008
História(s) da Música Popular (110)
Bacharach & David (XIII)
“História(s) da Música Popular” vai até ao fim destes seus capítulos dedicados a Burt Bacharach e Hal David apresentar sempre temas numa versão de Dionne Warwick e numa outra alternativa. Digo, desde já, que prefiro as de Dionne, mas gosto que comparem.
Bom, vou deixar para trás “Walk On By”, pela simples razão de que por aqui já passou na versão de Isaac Hayes quando da sua morte. Também não pensem que vão ouvir por aqui “Raindrops Keep Fallin’ On My Head”, de B. J. Thomas. Sim, eu sei que o tema ganhou um Oscar para a melhor canção (integra a banda sonora de “Butch Cassidy and the Sundance Kid” de George Roy Hill, já de si um daqueles filmes com o qual nunca simpatizei), esteve para aí um mês em #1 e já foi considerada a melhor canção de Bacharach e David. Mas aprendi essa coisa do rigor e da ausência de concessões no que diz respeito ao gosto nos velhos tempos do “Em Órbita” e agora ninguém me muda. Ponto final. Além do mais, comecei por dizer que dos compositores que passaram pelo "Brill Building" Bacharach e David eram aqueles que mais próximos estavam da música ligeira, não foi? Pois esse tal “Raindrops...” é disso prova mais do que provada. Segundo ponto final, portanto.
E então? Agora?
Bom, em 1964 Lou Johnson gravou este “(There’s )Always Something There To Remind Me”, cuja “demo tape” tinha sido gravada por Dionne Warwick. Chegou a #49 e, do outro lado do Atlântico, a bem conhecida e descalça Sandie Shaw resolveu gravá-lo. Êxito garantido e três semanas em #1. De tal forma que em 1967 Dionne (ou alguém por ela) resolveu também gravá-lo. E muitos outros, claro, já que o tema apresenta uma lista infindável de cover versions. Pois ficam aqui as versões de Lou e Dionne, já que a de Sandie, acho, toda a gente conhece. Não será assim?
Manuel Alegre e os modelos de sociedade
A racionalidade de Quique
quinta-feira, dezembro 18, 2008
Professores e reforma antecipada
Muitos, a maioria desses professores são mulheres cujo salário era, quando do início da carreira profissional do casal, importante e até decisivo para o bem estar familiar. Hoje, com o casal na “casa dos cinquenta”, o casamento dos filhos e/ou respectiva entrada no mercado de trabalho e a progressão na carreira profissional e melhoria significativa das condições salariais do conjuge masculino, esse salário perdeu a sua importância relativa e a respectiva percentagem nos rendimentos totais do agregado familiar terá decrescido, em muitos casos, substancialmente. Assim sendo, a reforma antecipada com a perda de 10 ou 20% do salário não é significativamente penalizadora, em termos de manutenção do nível de vida adquirido, para quem a ela adere. Reflecte, isso sim e de modo notório, um estado de espírito acomodado, do tipo: “se isto não der muito trabalho e muita chatice continuo, caso contrário quero lá saber de 20% do salário". Exactamente o estado de espirito contrário às reformas necessárias para a requalificação da escola pública.
A música em Kubrick (8)
A música de “Eyes Wide Shut” centra-se em dois compositores do século XX. Dimitri Shostakovich (Дмитрий Дмитриевич Шостакович – São Petersburgo, 1906-1975)
a quem o realizador recorre, se bem me lembro, pela primeira vez, e György Ligeti (a este lá iremos), cuja música já tinha estado presente em “2001 A Space Odyssey”. Não estão sós, mas marcam decisivamente o filme e a memória com que dele ficamos.
Não me compete falar aqui da vida e obra de Dimitri Shostakovich, cuja relação com altos e baixos, amores e desamores, com o regime soviético é por demais conhecida. No caso de “Eyes Wide Shut”, Kubrick recorre a uma das suas mais conhecidas obras, a “Suite for Variety Stage Orchestra”, muitas vezes identificada como Jazz Suite nº 2 ou “Suite para Orquestra de Jazz nº2” e composta nos anos 30 do século XX. Mais propriamente, à sua valsa nº2, o penúltimo dos oito andamentos de que se compõe a peça. Aqui fica, na interpretação da Orquestra Sinfónica do Estado Russo dirigida por Dmitry Yablonsky.
Das desventuras de um pobre "ofidiofóbico" perante o "Público" de hoje
Bom, mas hoje – lá está – a Divina Providência quis novamente interceder por este seu servo, o que significa que lá pelo Além devem ter os ateus – ou este ateu – por boa conta: quando cheguei ao meu fornecedor habitual para comprar os jornais, fui informado por estes dias não receberão o “Público” (já agora, também “A Bola”), vá lá saber-se porquê. Acho que por um qualquer conflito com o distribuidor, não importa. O problema, o magno problema, é que não tomei tal coisa como um sinal do meu “Anjo da Guarda”, talvez por não me dedicar a ouvir o Variações há já algum tempo. Lá me meti ao caminho e tratei de procurar o “Público” onde o houvesse. Só nessa altura, ao comprá-lo, me apercebi de como os Altos Céus me queriam proteger: na primeira página, olhando-me fixamente, lá estava em grande destaque uma repelente víbora, ainda por cima verde. Dobrei o jornal com a primeira página para dentro e, na primeira oportunidade e sem que alguém desse por isso, não fosse o Diabo tecê-las, rasguei de imediato essa primeira página e ofereci-a ao primeiro contentor que encontrei pelo caminho. Que raio, eu sei que já por aqui tenho criticado o “Público” e o seu director Fernandes, mas pensava tinham fair play suficiente para aceitar a discordância, até porque já por várias vezes este blog tinha tido o gosto de por lá ver excertos de posts seus. Sim, eu sei que a vingança se serve fria. Mas assim, tão congelada? É que não havia mesmo necessidade...
E pronto, se virem por aí uma primeira página do “Público” de hoje rasgada... fui eu! Ouviu, José Manuel Fernandes? E, já agora, importa-se de não repetir!?
quarta-feira, dezembro 17, 2008
A Banca e a Caixa
Scolari e Quique Flores
"Jambalaya", ou a música e a gastronomia.
Claro que esse “de tudo um pouco” se reflectiu na música, do "jazz "de Louis Armstrong e Jelly Roll Morton aos "blues" de Bourbon Street, passando pela música dos Cajun, pelo "Zydeco" (uma mistura entre a música Cajun e a música negra cujo nome deriva de “les haricots”), pelo Dixieland, que ainda hoje se pode ouvir no Preservation Hall, até, claro está, às formas mais próximas do "rock and roll" de Antoine “Fats” Domino, Aaron Neville e Lee Dorsey (neste caso, aconselho a colectânea “The New Orleans Hit Story – 20 Years of Big Easy Hits”). Não sei como estão as coisas depois do “Katrina”, mas espero não tenha sido o suficiente para afectar gravemente uma das culturas mais únicas e originais do mundo, principalmente para quem gosta de música e, principalmente, de "blues" e "rock and roll". Mas adiante.
Mas é de gastronomia que venho aqui falar. Melhor, de música e gastronomia numa relação, pelo menos, curiosa. Toda a mistura de que falei se reflecte também na gastronomia, onde uma pujante cozinha crioula, um pouco à semelhança do que acontece, aliás, em Salvador da Baía, por exemplo, marca o território. Dois dos pratos mais emblemáticos da Louisiana e, principalmente, da região de New Orleans são a Jambalaya, uma espécie de paella tropicalizada e que se pensa ter sido introduzida pelos espanhóis e depois adaptada aos ingredientes e cultura locais, e o Gumbo, uma sopa com arroz, salsicha, carne e camarões que me lembra, longinquamente, a Muqueca brasileira ou, se quiser ir até àquelas que parecem ser as suas verdadeiras origens, a bouillabaisse do sul de França. Para ambos, pode comprar-se localmente uma base liofilizada e, depois, tentar reproduzir a receita no regresso. Outro dos ingredientes omnipresentes da gastronomia local, que se cozinha quase como o bacalhau, de mil e uma maneiras diferentes (estou a exagerar), é o lagostim de rio (crawfish) que aqui pelo rectângulo parece começar a constituir uma verdadeira praga. Bom, to make it short, aqui há uns anos, ali no “Blues Café”, nas Docas, era possível comer uns aceitáveis Gumbo e Jambalaya. Dava para, pelo menos, se ficar com uma vaga ideia dos originais.
E a música? Pois, já me esquecia. É que existe um bem conhecido tema atribuído a Hank Williams (1923-1953) que é um autêntico repositório da cozinha e gastronomia da Louisiana. Todos conhecem “Jambalaya”, numa das suas múltiplas versões, e talvez se recordem deste verso: “Jambalaya and a crawfish pie and a file’ gumbo”. Acho está tudo dito, para quem não entendia o seu significado! A pergunta que fica por fazer é o que tem Hank Williams, que era do Alabama, a ver com a gastronomia de New Orleans? Ah, é que me esquecia de dizer que a canção é baseada num antigo tema Cajun, “Grand Texas” de seu nome.
Pois aqui fica como aperitivo para experimentarem, sendo com certeza fácil encontrar as receitas originais na internet. Depois? Bom, depois é só procurar os ingredientes e meter mãos á obra: “Jambalaya and a crawefish pie and a file’ gumbo; 'Cause tonight I’m gonna see my ma cher amio; Pick guitar, fill fruit jar and be gay-o; Son of a gun, we’ll have big fun on the bayou.”
terça-feira, dezembro 16, 2008
CDS
Mas em Portugal não existiu uma transição negociada sob a égide de um qualquer sector reformador do poder de então. A ter existido – esse sector -, ele tinha sido derrotado em 1973. A guerra colonial, fundamentalmente, onde se ancoravam os ultras do regime, terá inviabilizado, em última análise, tal solução e a ruptura revolucionária foi inevitável. Assim sendo, os partidos cresceram na rua e a rua determinou a exclusão do CDS dos governos provisórios, como preço a pagar pelos equilíbrios necessários à viabilidade democrática, viabilidade essa que pressupunha a derrota dessa mesma rua. Este cenário terá sido determinante no alastramento do PPD, tal qual mancha de óleo, até porque se tornava necessário preencher o vazio dos vários poderes locais e regionais provocado pela ruptura revolucionária e era difícil vender, um pouco por esse país fora, a ideia de um CDS imune ao conúbio com a ditadura de Salazar e Caetano. E, no entanto, as personalidades do CDS de então (Freitas do Amaral, Basílio Horta, Amaro da Costa, Luís Barbosa, Morais Leitão, Lucas Pires, mais tarde Mª José Nogueira Pinto, tantos outros), concorde-se ou não com a sua ideologia e práticas – e eu, em boa parte, nelas me não reconheço – não tinham nascido do nada nem eram ilustres desconhecidos: possuíam experiência política, espessura social e cultural, uma respeitável imagem enquanto cidadãos. Exactamente aquilo de que a rua e alguns dos oportunistas poderes emergentes não gostam. Mais ainda, nunca me pareceu que os seus dirigentes ou a sua base de apoio maioritária se situassem claramente à direita dos seus homólogos do PSD.
Terá sido, pois, essa rua tão longínqua que liquidou, em grande parte, o futuro do CDS. Sem espaço político - ou com ele ocupado, parasitado -, problema que o cavaquismo agravou, definhou; abriu-se ao aventureirismo e à inconsequência. Ao oportunismo mais rasteiro. À tal gente com falta de espessura. Resta-lhe a eutanásia, para abreviar o sofrimento de uma morte mais do que anunciada e que se adivinha dolorosa. É pena: um CDS como o de Freitas do Amaral e de Amaro de Costa, de Lucas Pires e Nogueira Pinto – alguns outros – teria sido bem necessário à saúde da democracia portuguesa.
"Amália no Café Luso": um dos melhores álbuns de sempre da música popular portuguesa
In "Amália no Café Luso" (Dezembro de 1955)
Amália (Amália da Piedade Rebordão Rodrigues)) está outra vez na moda. Foram os 10 anos da sua morte, a estreia do filme sobre a sua vida (tentarei não ver) e o “Vírus” de ontem de José Pacheco Pereira, no RCP, falando do fado “Abandono”, com letra de David Mourão Ferreira, mais conhecido como fado “Peniche” em virtude de o poema remeter, de modo óbvio, para a luta contra a ditadura e a sinistra prisão política situada no forte com o mesmo nome. JPP aproveitou para falar um pouco, tanto como o pouquíssimo tempo da rubrica o permite, sobre o flirt que a intérprete manteve com sectores da oposição e até mesmo com personalidades afectas ao partido comunista, assuntos menos conhecidos da opinião pública. É assim a vida...
Bom, mas a Amália vedeta, a Amália diva, confesso me interessa pouco. Não sou um mitómano. Sou, talvez, um fundamentalista do fado e este, enquanto expressão popular, constitui um todo, não se podendo separar letra, música e lugar de culto. Isto significa que nem sempre poemas mais eruditos lhe acrescentam o que quer que seja se não se identificarem com os seus valores originais e vivenciais (antes que me interpretem mal: não estou a dizer seja este o caso do poema de Mourão Ferreira, antes pelo contrário, até porque o fado como canção de intervenção política vem já do século XIX), o mesmo acontecendo também com o rock and roll que cantava os valores, preocupações e anseios dos adolescentes dos anos 50 do século XX, e que sou dos que pensam que o fado se exprime em disco com algum desconforto, como pensava e também achava o velho Alfredo Rodrigo Duarte (“Marceneiro”). Claro que com igual desconforto se sentirá no glamour ou na impessoalidade de algumas grandes salas, tal como acontece com os "blues", por exemplo. Comparo, muitas vezes, Amália com Presley: o que foi realmente muito bom e inovador durou demasiado pouco tempo. Em Presley até 1958, apesar do “coronel” Parker; em Amália será mais difícil determinar, mas pouco entrou pelos anos 60, quando o fado cedeu lugar ao pseudo-folclore e a Amália fadista à vedeta do Olympia.
Bom, having said this, acho que devemos a Amália um dos melhores álbuns de sempre da música popular portuguesa , exactamente porque nele se conjugam a Amália-fadista, o lugar de culto do fado e, ainda, numa cuidada apresentação gráfica, imagens significativas de uma certa Lisboa: da ditadura salazarista; de um tipo de boémia em que se contactavam, sem se misturar fora da alcova, povo e aristocracia, senhores e prostitutas, nobres de nascimento e cantoras de cabaré. Difícil não será identificar, no excelente material gráfico que acompanha o LP original, as fotos de António Ferro e Ricardo Espírito Santo, este suposto amante ou “protector” (normalmente eram ambas as coisas) da fadista. É, como disse, um retrato de uma época, num disco que – em minha opinião – só será igualado ou suplantado em importância, já na década de 70, pela trilogia “Cantigas do Maio”, “Os Sobreviventes” e “Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades”. “Amália no Café Luso” é quase um álbum conceptual antes de tempo e, com toda a certeza, um dos melhores álbuns de sempre da música popular portuguesa. Por isso, dele aqui deixo notícia, na forma deste texto e do “Fado Mayer”, seu tema de abertura, com letra de Linhares Barbosa e música de Armandinho.
segunda-feira, dezembro 15, 2008
Alguém me explica?
- Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que os professores sejam avaliados pelos orgãos de gestão das escola e progridam na carreira de acordo com o seu desempenho medido por essa avaliação?
- Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que os professores, dentro de certos parâmetros, ganhem em função do seu efectivo desempenho, mediante avaliação pela hierarquia competente?
- Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que a nota de um curso, muitas vezes completado há 20, 30 ou 40 anos, juntamente com a antiguidade não sejam os únicos ou fundamentais elementos para a colocação de um professor?
- Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que o valor das licenciaturas dos professores não seja todo ele idêntico, para uma mesma nota final de curso, mas ponderado em função do prestígio e grau de exigência da universidade onde se obteve essa licenciatura?
- Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que um professor colocado numa escola em zona problemática ou responsável por uma turma com mais dificuldades de aprendizagem seja melhor remunerado do que um outro colocado numa zona urbana privilegiada ou leccionando turmas compostas maioritariamente por alunos oriundos da classe média?
- Alguém me explica porque um professor de matemática, português ou inglês, disciplinas básicas na formação de um aluno e que normalmente exigem maior esforço didáctico e mais empenho, não possa ter melhores condições de remuneração do que um outro leccionando “Trabalhos Oficinais ou “Estudo do Meio”?
- Alguém me explica porque se convencionou não ser de esquerda conceder maior autonomia às escolas na sua organização e na contratação dos seus docentes, desde que cumpridos certos padrões universais?
- Alguém me explica porque não é de esquerda pretender que, dentro de certos limites definidos pelo ministério da educação, uma escola, se o pretender, não possa ter um certo grau de liberdade na gestão do seu orçamento, inclusivamente remunerar ou formar melhor os seus recursos humanos ?
- Alguém me explica porque não é de esquerda exigir que um professor, para além das suas funções pedagógicas (preparar e dar as aulas), tenha o seu papel obrigatório na melhoria da organização e desenvolvimento da estrutura escolar, incluindo ligação à comunidade e angariação de fundos junto desta de modo a permitir melhorar as condições oferecidas aos alunos?
- Enfim, alguém me explica porque todas estas medidas, essenciais á melhoria da escola pública objectivo que é suposto a esquerda defender, são atacadas por sindicatos e partidos que se dizem de esquerda? Serão?
Melina Mercouri e "Ta Pedhiá tou Pireá"
Devo confessar não ver o filme há umas décadas, daí não me querer pronunciar por via de tão longínquas memórias. Mas penso que, por questões da moral conservadora e “bons costumes” (Mercouri, prémio para a melhor interpretação feminina em Cannes, faz papel de prostituta), pelo menos aparentes, da ditadura salazarista, esteve proibido aqui no rectângulo não sei se até Marcelo Caetano se mesmo até ao 25 de Abril. Aliás, para ser mais honesto, não sei mesmo se o filme chegou algum vez a ser exibido comercialmente em Portugal.
A canção, sim: foi mais ou menos um êxito aqui pela rádio, mais na versão em francês de Dalida do que na versão original. Pois aqui deixo esta última, num excerto protagonizado por Melina Mercouri no filme de Jules Dassin (1911-2008).
domingo, dezembro 14, 2008
Até agora - e de memória - as maiores asneiras do governo
- Os tiros no pé (do tipo, “não havia necessidade”): o “facilitismo” nos exames; o excesso de promoção do “Magalhães” - pela imagem "Oliveira da Figueira" que fez colar a Sócrates; o orçamento irrealista para 2009.
- As ausências (do tipo, “o melhor é nem nos metermos nisso!”): a justiça e a lentidão na reforma da administração pública.
- O erro estratégico (do tipo “quem vier a seguir que se lixe!”): as grandes obras públicas - se vierem a ser feitas: mega-aeroporto, TGV Lisboa-Porto e auto-estradas do género “lá vem um”.
"Que floresçam mil flores" (23)
Duas notas sobre o "Fórum das Esquerdas"
- Tenho, digamos, uma posição “mista” em relação aos rankings escolares: partilho a posição daqueles que afirmam que, em última análise, as melhores escolas tendem a ser as frequentadas por uma maioria de alunos pertencentes a “meios” económica, social e culturalmente mais favorecidos, mas também penso que, desde que questões deste tipo sejam tidas em conta, nada de negativo advém da sua publicação e que, isso sim, ela pode constituir mais uma boa contribuição para a discussão das questões relacionadas com a melhoria do sistema de ensino, em geral, e da escola pública, em particular.
Tendo dito isto, parece-me, politicamente, uma posição oportunista que uma parte da chamada esquerda conservadora, reunida no “Fórum da Esquerdas” que, na sua maioria, sempre manifestou posição contrária, ou grandes reservas, à publicação dos rankings, use agora Maria do Rosário Gama, presidente do conselho executivo da Escola Dona Maria de Coimbra, a escola pública melhor classificada, como “troféu” ou “emblema” no caso da avaliação dos professores, inclusivamente sem se dar ao trabalho de averiguar, de modo rigoroso, das razões dessa classificação. Alguma coerência seria, pois, razoavelmente bem-vinda. - Alguém minimamente inteligente pensa que Manuel Carvalho da Silva estará presente no “Fórum das Esquerdas” sem o aval do PCP e sem que este veja nessa participação um activo, uma ponte importante e necessária à “satelização”, pela facção comunista, de outros sectores de esquerda representados na CGTP? Alguém pensa que a imagem “liberal” cultivada por Manuel Carvalho da Silva tem algo de cândido e inocente e que ela não corresponde aos interesses sindicais e políticos da CGTP e do PCP?
sábado, dezembro 13, 2008
Descodificar Belmiro...
No caso do TGV e do novo aeroporto (leia-se: a nova “grande cidade” aeroportuária), questões onde Belmiro até tem maioritariamente razão (apenas a ligação Lisboa-Madrid é defensável e, no curto prazo, de um ponto de vista fundamentalmente político, embora no longo prazo o caso possa mudar de figura e ter um carácter estruturante), todos sabemos que a construção de ambos tenderia a secundarizar e regionalizar o aeroporto Sá Carneiro e, em alguma medida, a região norte centrada no Porto, sendo lícito pensar que poderiam contribuir para fazer da Grande Lisboa o principal polo competitivo do país em termos peninsulares. Ora não só Belmiro de Azevedo já manifestou o seu eventual interesse na gestão das Pedras Rubras, autonomizado dos restantes aeroportos nacionais, como estas duas grandes obras públicas teriam como consequência algum enfraquecimento da posição negocial e reivindicativa do “norte” (leia-se: Porto), algo que estaria bem longe de se mostrar favorável aos interesses do grupo Sonae que cresceu e alcançou notoriedade e importância cavalgando e contribuindo para a “onda nortenha” do pós 25 de Abril (décadas de 70 e 80 do século passado)
Quanto à Banca, bom... nunca os esforços de Belmiro de Azevedo para conseguir uma posição significativa no sector financeiro foram coroados de correspondente êxito. Portanto... e à bon entendeur...
sexta-feira, dezembro 12, 2008
História(s) da Música Popular (109)
Tom Clay - "What The World Needs Now Is Love/Abraham, Martin & John" (Bacharach-David)
Bom, a versão de Dionne é bem conhecida e a de Diana Ross acho pouco recomendável. Por isso, e com a colaboração sempre preciosa de LT, optei por, além do original de Jackie, colocar aqui uma outra versão, muito curiosa, direi pacifista, muito politicamente engagé mas simultaneamente de uma ingenuidade quase tocante, tal qual o era o "ar do tempo". Ficou famosa esta versão de Tom Clay (1971) - um "disc-jockey" de LA - conhecida por “What The World Needs Now Is Love/Abraham (Lincoln), Martin (Luther King) and John (Kennedy). O meu obrigado ao LT, pois não a conhecia.
Pacheco Pereira e os "trabalhos de Hércules" de Manuela Ferreira Leite
quinta-feira, dezembro 11, 2008
"Les haricots sont pas salés" - old time cajun music (7)
Os prisioneiros de Guantanamo; Luís Amado e a oposição
FOX
quarta-feira, dezembro 10, 2008
Mário Soares, a ministra da educação e o "Público"
Onde se fala da assiduidade dos deputados, do sistema eleitoral e do recurso às novas tecnologias
O problema – e já foi diagnosticado – é que os deputados, todos e cada um deles, não são efectivamente eleitos pelo “povo”, pelos cidadãos e, portanto, destes não são conhecidos e a estes não têm de prestar contas nem devem lealdade de qualquer espécie. De facto, nós, eleitores, votamos não em deputados, mas no partido A ou no partido B, consoante a sua ideologia ou soluções que nos propõem para governar o país. Muitos, também, consoante a simpatia que lhes merece, ou não, o respectivo líder que cada partido apresenta como candidato ao cargo de primeiro-ministro. Isto, independentemente dos candidatos propostos para deputados, que normalmente desconhecemos e garantem o seu lugar na lista por designação das chefias partidárias, regionais ou nacionais. Será pois a estas chefias - a quem os nomeou e de quem depende a sua eventual reeleição para futuras legislaturas - que, em última análise, esses deputados devem prestar contas e a quem também devem dever de lealdade política e pessoal. Se o seu comportamento e actividade, por muito maus que possam parecer aos eleitores, são tolerados e tidos como correctos por quem de facto os nomeou - e normalmente são - nada terão a temer: o caso só será lembrado quando a vergonha, aqui e ali, transvasar novamente o recipiente. Até um dia...
Bom, muitos sugerem como remédio-santo milagreiro os “círculos uninominais”. Vejamos. Por um lado têm uma vantagem clara: todos elegemos o “nosso” deputado e mais facilmente controlamos o seu trabalho político. Apesar da sua nomeação se continuar a dever às chefias partidárias – e não vejo problema que assim seja; acho mesmo assim deve ser numa democracia – seria impensável e um suicídio político que estas nomeassem para o cargo “persona non grata” à maioria dos eleitores do respectivo círculo eleitoral. Acresce que em sistemas compostos por “círculos uninominais” – normalmente pequenos - a tendência para o contacto pessoal e a campanha “porta a porta” é bem maior, em detrimento da actividade “comicieira”, com todas as vantagens que daí podem advir. Mas coexistem também um sem número de aspectos negativos. São sistemas castradores da proporcionalidade e da representatividade, que distorcem gravemente chegando ao ponto de, por si só, serem capazes de gerar sistemas bi-partidários. Por isso mesmo, existe a tendência para, no sentido de evitar essa distorção, serem complementados com um ou mais grandes círculos de eleição proporcional e, aí, temos novamente o problema de nomeação dos candidatos e da falta de controle dos eleitores, como acontece em Portugal. Acresce que existe sempre a possibilidade real, principalmente em países onde a tradição uninominal não existe e onde a sociedade civil é mais frágil, da emergência do chamado “caciquismo”, transformando o Parlamento num mosaico incontrolável de pequenos tiranetes representando provincianos poderes locais e/ou regionais. Claro que o sistema funciona no Reino-Unido - e sem círculo de compensação - mas aí estamos perante uma muito diferente história política e partidária e uma sociedade civil mais autónoma e, simultaneamente, ancorada numa forte tradição liberal e no sindicalismo reformista. No caso português, seria bom que antes de se pensar, de modo sério, em avançar nesse sentido se tivessem bem presentes, como exemplo, os problemas gerados pelos processos eleitorais autárquicos e das regiões autónomas.
Confesso passei em voo de pássaro pelo projecto apresentado recentemente, a pedido do PS, pelos politólogos André Freire, Diogo Moreira e Manuel Meirinho. Segundo li – repito: em “diagonal” - , a novidade estaria, por um lado, na existência de círculos regionais e outro nacional e, por outro, no facto de em cada círculo regional ser possível ao eleitor seleccionar um deputado entre os vários propostos. Se li e compreendi bem, por um lado parece interessante, pois em cada círculo regional permite-se que o eleitor se não restrinja ao candidato único, concedendo-lhe a possibilidade de escolha. Mas, ao fazê-lo, afasta também as virtudes do candidato único por partido (o "nosso" deputado) e, da representação, os eleitores que tendo votado no partido "A" não o fizeram no candidato vencedor. Por outro lado, parece-me algo complicado, tendo em atenção a iliteracia (política e outras) de muitos portugueses. Algo assim “a modos que um género" de monstro do Dr. Frankenstein: cabeça de um, braço do outro e cérebro sabe-se lá de quem. Provavelmente, do André Freire, talvez! “Keep it simple”, é algo que me apetece sempre sugerir nestes casos.
Bom, lesson to learn? Sinceramente, não me parece que qualquer das propostas alternativas ao actual sistema eleitoral, pelo menos as conhecidas, possua as virtualidades suficientes para, por si só, mudar a relação entre eleitores e eleitos e valorizar a impropriamente chamada “classe política” ao olhos dos cidadãos, valendo, por isso mesmo, a assunção do risco que sempre implica a mudança de um hábito e de um sistema com quase quarenta anos. Esperemos aquela tendência tão habitual para o populismo suicida em ocasiões como esta não tolde os espíritos mais sãos. Será, talvez, um daqueles casos em que a radicalidade me parece não compensar, sendo bem mais curial que, administrativamente e com alguma dose de bom senso (quando será que os deputados podem passar a acompanhar as sessões e votar via internet do local onde se encontrem em trabalho político?), Jaime Gama e os partidos encontrem mezinha que, não curando o mal, permita pelo menos afastar as mais fortes enxaquecas. Quantas vezes, nós mesmos, não recorremos já, e com indiscutível sucesso, a uma Aspirina na nossa vida diária?