quarta-feira, outubro 28, 2015

4ªs feiras, 18.15h (139) - Carl Theodor Dreyer (I)

"Ordet" (1955) - Partes um e dois
Filme completo c/ legendas em inglês

Um Rui Vitória demasiado "low profile"

De uma coisa Rui Vitória tem de se convencer: não pode fazer a "quadratura do círculo". Isto é, a equipa não pode manter o sistema de jogo de Jorge Jesus (4x4x2 ou, melhor, 4x2x4) sem Jorge Jesus, isto é, sem a personalidade deste (para o bem e para o mal), treinando de outro modo e alterando modelo e princípios de jogo que permitem esse sistema se exprima com alguma eficácia. Como Rui Vitória parece ser um homem demasiado "low profile" para fazer o que se poderia chamar, com alguma liberdade, um "corte epistemológico" no futebol da equipa, esta está condenada a navegar numa espécie de águas turvas, numa indefinição do seu futebol cujas fragilidades defensivas são o resultado mais evidente. Acresce que efectuar esse tal "corte epistemológico" a meio de uma época e com um plantel  construído para e "viciado" em seis anos de "modelo" Jorge Jesus - e mesmo que Rui Vitória fosse homem para o fazer - me parece quase impossível e obra que traria custos desportivos ainda maiores para o clube. Conclusão: ou eu me engano muito ou perdeu-se uma época. 

domingo, outubro 25, 2015

SLB: uma equipa sem identidade

Olha-se para a equipa do SLB desde o início da temporada e o problema-base é sempre o mesmo: é uma equipa sem identidade, que não se percebe como joga ou quer jogar, na qual os jogadores se sentem demasiadas vezes desconfortáveis e que, por isso, raramente se impõe aos seus adversários, acabando, como hoje, por quase se reduzir ao "pontapé para a frente e muita fé em Deus". Claro que, além disso, faltarão jogadores de classe, principalmente um nº8 e dois laterais, já que nem Sílvio, Eliseu, Talisca ou Pizzi são jogadores à altura do SLB. Mas sem essa definição-base de uma ideia de jogo nem sequer é possível saber de que modo (com que jogadores, quais as suas características) essa falta poderá ser colmatada. 

Claro que, a montante, temos de nos debruçar também sobre o desinvestimento realizado e a mudança de modelo de negócio, mas mesmo tendo isso em atenção, como condicionante, exigiam-se outro tipo de ideias ao seu treinador e mais ao futebol praticado pela equipa.

Matiné de Domingo (125) - Homenagem a Maureen O' Hara (1920 - 2015)


"How Green Was My Valley", de John Ford (1941)
Filme completo c/ legendas em castelhano

quarta-feira, outubro 21, 2015

4ªs feiras, 18.15h (138) - "Buñuel" (I)

Filme completo c/ legendas em inglês

Uma direita canhestra

Ora vamos lá ver... O que esta nossa direita, que, na sua grande maioria e em termos históricos, nunca foi muito civilizada e muito menos amante da democracia (a não ser para a f....), teme não é o acesso do PCP e do BE à governação, algo que, por si só, e existindo a garantia de cumprimento dos tratados internacionais (NATO, UE, Euro, etc), e se fossem inteligentes, até os devia deixar em em estado de congratulação: ter 20% dos eleitores portugueses na margem do sistema não é saudável para qualquer sociedade. O que a direita radical teme mesmo é a possibilidade de, com as oportunidades agora abertas ao PS, ter bem menos possibilidades de se perpetuar no poder, apesar deste género de OPA recente do PSD sobre o CDS o parecer faciltar. E para o evitar vale quase tudo, excepto o "velho e relho" recurso ao"putsch" militar que, felizmente, entrou em desuso: a insinuação de "golpe de Estado", os ataques ao carácter de António Costa, a"misinterpretation" das regras da democracia parlamentar, o apelo a Francisco Assis e aos deputados da ala "segurista", a substituição da Constituição da República por uma qualquer "tradição", a transformação do voto livre e individual dos portugueses num qualquer plebiscito póstumo sobre a forma de governo, etc, etc. Triste espectáculo, este!

No fundo, é assim tão estranho e difícil de entender que, de acordo com a Constituição da República e o modus operandi das democracias liberais parlamentares, as coisas se passem deste modo?:
  1. Em função dos resultados eleitorais, e ao contrário de afirmações de António Costa, o Presidente da República convide o líder da PAF para formar governo. O cumprimento das questões processuais nunca pode constituir uma perda de tempo mas uma condição essencial à legitimação plena das decisões. 
  2. Se este aceitar o encargo (pode desde logo pedir escusa por achar não estarem reunidas as condições para tal), apresente o seu programa à Assembleia da República, a principal sede de poder, que o recusará ou aprovará.
  3. Caso o aprove, o assunto está resolvido. Caso isso não aconteça, o Presidente da República convide o líder do segundo partido mais votado para formar governo, repetindo-se os procedimentos até se encontrar uma solução conveniente e com previsível estabilidade.
É mesmo assim tão estranho e difícil de entender? Eu acho que não é, mas também penso que não é isso que está em causa. O que está em causa para esta direita infelizmente "canhestra" é conseguir de algum modo subverter as regras da democracia liberal e parlamentar, que dizem defender mas apenas quando isso lhes dá jeito.

segunda-feira, outubro 19, 2015

O momento político: resumindo e concluindo

Resumindo e concluindo:
  1. O Presidente da República deve convidar o líder da PAF para formar governo, devendo este apresentar o seu programa na Assembleia da República excepto se decidir à partida declarar não ter sequer condições para dar tal passo.
  2. Se o governo passar na AR, mesmo que apenas por abstenção do PS, deve governar nessas condições, se assim o decidir fazer.
  3. Caso isso não aconteça, isto é, se o governo não conseguir  fazer passar o seu programa na AR, o que significa, segundo declaração do seu líder, ter o PS uma solução estável e duradoura, o Presidente da República deve convidar o segundo partido mais votado (PS) para formar governo e este apresentar-se e à solução maioritária encontrada ao julgamento dos deputados eleitos. 
  4. Será esta uma situação ilegal e/ou ilegítima? Não vejo porquê: será apenas uma solução mais frágil por não integrar o parido ou coligação mais votados. Mas será a possível.
O resto é "achismo", futurologia, subjectividade pura ou, pior ainda, especulação e ruído para ocupar o espaço mediático. Será isto assim tão difícil de entender ou Portugal não quer mesmo ser uma democracia liberal de um país civilizado?

sexta-feira, outubro 16, 2015

Friday midnight movie (148) - Gothic/Horror (XXXI)


"Sisters", de Brian De Palma (1973)
Filme completo c/ legendas em português

Podem dois partidos antagónicos coligar-se?

Podem dois partidos com programas diferentes e até antagónicos apoiarem o governo de um deles e até coligarem-se? Mais concretamente: pode um partido que defende a democracia liberal, a participação na NATO, na UE e no Euro (para que não restem dúvidas, defendo todas elas) , formar governo com o apoio de quem defende o contrário e, no limite, é partidário da instauração da ditadura do proletariado e de um regime comunista, de "democracia popular"? Claro que, em certas circunstâncias históricas, tal é perfeitamente possível, aconteceu várias vezes no passado (até entre grupos beligerantes no terreno) e só uma total má fé ou ignorância da História pode afirmar essa impossibilidade. Aliás, basta recuar uns anos, até 1936 e para um país aqui bem perto, e ver como os partidos e as burguesias independentistas ou autonomistas das direitas catalã e basca (já para não falar no republicanismo moderado castelhano) apoiaram e se aliaram à República "vermelha" na guerra contra a direita franquista. E este é apenas um exemplo. É que uma coisa são objectivos estratégicos, de longo prazo, outra, bem diferente, as circunstâncias conjunturais que ditam as alianças tácticas, e talvez não fosse má ideia para muita gente, em vez de andar por aí a dizer disparates demonstrando uma ignorância de arrepiar, perder algum tempo com a leitura dos livros de História ou até mesmo, em última análise, dos clássicos do marxismo. Caramba, a maioria até tem uma licenciatura.

Significa isto a defesa de uma qualquer aliança à esquerda do PS? Nada disso - nem mesmo o seu contrário. Apenas a demonstração de que não será por antagonismo programático e de objectivos estratégicos, mas mais por não integrar  o partido vencedor das eleições e enfrentar uma comunicação social adversa, que essa eventual solução governativa apresentará as suas maiores fragilidades.  

Nota final: é um triste espectáculo assistir aos jornalistas/"pivots" das televisões debitando nas suas entrevistas, num género de PREC ao contrário, a mais arrepiante "vulgata" da narrativa da direita. Lamentável.

quinta-feira, outubro 15, 2015

Deve o PR indigitar Passos Coelho?

A questão é bem interessante e não consigo ter uma posição fechada sobre o assunto. Como defensor de um regime parlamentar puro - que sou -, sem Presidente da República eleito por sufrágio directo e universal e com redução dos seus poderes (como em Itália, Alemanha, Grécia ou nas monarquias constitucionais), tendo a simpatizar mais com a ideia do PR indigitar Pedro Passos Coelho e este submeter-se à decisão soberana da Assembleia da República. Mas e se Passos Coelho declarar à partida que não tem condições para fazer passar o seu governo no parlamento e António Costa lhe apresentar uma alternativa sólida? Digamos que em termos genéricos, não vejo como os defensores do actual regime semi-presidencialista e  do estilo de presidência de Cavaco Silva, maioritariamente situados à direita, pudessem negar ao PR essa prerrogativa. Enfim... alguma coerência, se fazem favor.

António Costa traz a política de volta. Ainda bem.

Ao optar pela negociação à esquerda, tentando alcançar uma maioria por si liderada da Assembleia da República, António Costa, derrotado nas eleições, está também a lutar pela sua sobrevivência política? Óbvio que sim, e, sendo a natural vocação dos partidos e dos seus líderes ascenderem ao poder, ninguém poderá considerar tal coisa ilegal, ilegítima ou ainda menos uma subversão das regras democráticas. Mas ao fazê-lo, convém também que se diga que António Costa está simultâneamente a lutar pela sobrevivência do PS enquanto grande partido com aspirações de governo e, quiçá mesmo, pela manutenção e alargamento do sistema partidário herdado da revolução de Abril. 

Se ao trazer o PCP e o BE para a mesa das negociações (veremos com que sucesso - ou insucesso), Costa está a aprofundar a integração dos dois partidos  no jogo institucional e democrático, onde, em certa medida, principalmente o PCP já se podia considerar incluído, ao colocar enormes reticências a um qualquer tipo de acordo à direita, ou mesmo a viabilizar um governo PÁF, o actual secretário-geral do PS tenta evitar aquilo que pareceria muito provável, a prazo, com um acordo deste tipo: com a possível conivência de um Presidente da República oriundo da direita, mesmo de um sempre imprevisível e não demasiado dado a alinhamentos Marcelo Rebelo de Sousa, ter de enfrentar, sob a "velha e relha" alegação das "forças de bloqueio", eleições no prazo de um ano, eleições essas onde o risco da direita alcançar uma maioria absoluta e PCP e BE melhorarem as suas votações, em prejuízo do PS, seria tudo menos negligenciável, podendo, no limite, levar os socialista a uma espécie de "pasokização".

Ok, certo, estamos conversados sobre os perigos do acordo à direita. Mas à esquerda eles não existem, incluído a fragilidade de um governo sem a presença ou o apoio do partido vencedor das eleições? Claro que sim, enormes, e escuso de enumerá-los, embora, no caso de acordo à esquerda, o PCP ofereça sempre garantias que me parece nenhum outro partido do espectro político, de esquerda ou de direita, pode conseguir reunir. Mas neste caso, isto é, no caso de PCP ou BE forçarem uma ruptura, interrompendo a legislatura e obrigando a eleições antecipadas, será António Costa, e não a direita, a poder responsabilizar as forças à sua esquerda, reclamando que só uma maioria absoluta do PS poderá impedir a direita de governar, o que levará a uma concentração dos votos da esquerda no partido, fortalecendo-o.

Digamos que numa posição difícil, politicamente quase insustentável, António Costa, um político experiente, escolhe a que lhe poderá render, a si e ao seu partido (mas também, em certa medida, à sobrevivência do regime tal como o conhecemos), maiores dividendos. Isto, meus senhores, principalmente para os que andavam esquecidos ou nunca souberam o que isso era, é a política. Seja bem-vinda.

quarta-feira, outubro 14, 2015

4ªs feiras, 18.15h (137) - "Nouvelle Vague" (VII)

"Les Noces Rouges", de Claude Chabrol (1973)
Filme completo c/ legendas em português

Um curso acelerado de democracia

Aquilo a que o país tem estado a assistir nas duas últimas semanas é uma verdadeira lição (melhor diria, um curso acelerado completo) de como funciona uma democracia liberal, da importância decisiva do parlamento, de como se negoceia um governo e se podem ou não estabelecer compromissos. De como se elege de facto um governo e de como funcionam os mecanismos de um Estado Democrático Parlamentar, enfim. Também da prova de que numa democracia madura, que, à semelhança do que acontece na esmagadora maioria das mais antigas democracias europeias, tenha o seu centro de poder no parlamento, a "tutela" de um qualquer orgão de poder pessoal, eleito por sufrágio directo e universal (Presidente da República), se revela desnecessário, inútil ou até fonte de disfuncionalidades e constrangimentos que podem mesmo afectar o "normal funcionamento das instituições".

Que uma maioria dos portugueses saiba aproveitar esta oportunidade é coisa da qual já tenho algumas dúvidas.

terça-feira, outubro 13, 2015

De como a direita radical também quer ter o seu próprio PBX "(Partido Berdadeiramente Xuxialista")

Sou do tempo, logo após o 25 de Abril e durante o PREC, em que a esquerda radical e o PCP, face à resistência do PS em aderir a concepções não democráticas do regime, tentavam, por todos os meios, criar aquilo que ficou conhecido na História (talvez com mais propriedade na "petite histoire"), com algum humor à mistura, como o PBX, sigla do "Partido Berdadeiramente Xuxialista". Isto é, aquele que, sem qualquer independência ideológica e/ou programática, aderisse acriticamente a uma espécie de frente de esquerda liderada pelo PCP e destinada, tal como aconteceu em alguns países do leste europeu no pós-WWII, a tomar o poder.

Se como dizia Marx, a História se repete, primeiro como tragédia e depois como farsa, temos agora a direita radical a tentar criar o seu próprio PBX, isto é, um Partido Socialista sem qualquer tipo de autonomia ideológica e programática que alinhe, mesmo que com suaves críticas, mais ou menos inconsequentes, nas teses actualmente dominantes na direita europeia. 

Os resultados, em ambos os casos, não deixariam de ter algumas semelhanças entre si. No primeiro, para além da perda total da democracia, teríamos o PS reduzido a uma espécie de partido satélite do PCP, um género de Demokratische Bauernpartei Deutschlands da antiga RDA; no segundo, uma castração da democracia, com a marginalização de 20% do eleitorado, o fim do enquadramento institucional da contestação e do movimento sindical, assegurados pelo PCP, e a "pasokização" do PS.

Como sempre aconteceu desde o 25 de Abril, independentemente dos compromissos a assumir poderem ser concluídos à esquerda ou à direita, e independentemente também das opções ideológicas de cada um (eu incluído), um Partido Socialista forte e independente é condição essencial para uma sobrevivência saudável do regime. O resto é miopia política.

segunda-feira, outubro 12, 2015

A direita, o primado da política e a essência do PCP

Tenho estado fora do país estes dias, acompanhando o que se passa apenas via internet. Mas já deu para perceber que esta direita radical que nos tem governado, escudada na inevitabilidade das soluções económicas, no "there is no alternative", revela enorme dificuldade em entender a essência da democracia liberal, o seu funcionamento e o primado da política. Quando tudo tende a inclinar-se para esse lado, o seu incómodo para lidar com a situação é por demais evidente.

Independentemente do que vier a acontecer, de qualquer que venha a ser o novo governo e concorde eu ou não com os acordos que se vierem a estabelecer (quaisquer que sejam), o que António Costa está a fazer, qualquer que seja o resultado das negociações em que se envolveu, é a dar uma lição de como se actua num regime democrático, de que em democracia não se podem excluir partidos e soluções, de que cada voto é individual e tem uma intenção própria, apenas conhecida por quem o decidiu, de que não existem votos nem cidadãos de primeira e de segunda. No fundo, de que, em caso de necessidade e de poder resultar daí algo de positivo, até com o Diabo se podem fazer compromissos. Como um dia disse Churchill, que Paulo Portas e a direita gostam tanto de citar, "If Hitler invaded hell I would make at least a favourable refererence to the devil in the House of Commons"). Aprendam!

Nota final - já agora: quem disse e afirmou repetidamente que o PCP era um "partido de protesto"? Com certeza, alguém sem qualquer formação política ou desconhecedor da História. O PCP é e sempre foi (e até o provou com a sua atitude cautelosa no 25 de Novembro de 1975), um partido de poder, como também sempre o foram os partidos comunistas que se inseriam na mesma linha política, o PCE de Carrillo, o PCI de Berlinguer ou o PCP de Marchais, entre outros. 

De como já sentei o traseiro no "Centre Court" de Wimbledon mas não estava lá a Pippa Middleton nem ouvi os gritinhos da Sharapova

Quem não tem cão, ou caça sem ele ou limita-se a não caçar - que os gatos não são chamados para estas coisas. Ou "quer-se dezer": eu, que a coisas da caça sou pouco dado, se até hoje não consegui um "bilhetinho" para os "Championships" através das vias competentes ("ballot" ou outras - já lá vamos), porque não inscrever-me para uma visita guiada ao All England Lawn Tennis Club? Eu explico... Todos os anos, em Novembro, preencho a minha "application" para o chamado "ballot", isto é, a via principal para se conseguir um "bilhetinho" para o torneio de Wimbledon. Como, em média, o rácio é de um bilhete para cada quatro inscrições, até agora... nada. Como também para quem vive "overseas" (é assim que são chamados os que vivem para cá do Canal) as outras modalidades (já lá vamos) são pouco ou nada práticas, restou-me por agora a opção da visita guiada, marcada via internet, embora sem direito ao excitement da Pippa Middleton nas bancadas e dos "gritinhos" da Sharapova no "court". Também não se pode ter tudo, embora se deva continuar sempre a tentar.
E que dizer para além do que possa vir na estafada "Wikipedia? Bom...
  1. Wimbledon fica no London Borough of Merton. Apanha-se a District Line na direcção de Wimbledon e sai-se em Southfields. Depois, são cerca de 20' de agradável caminhada num arrabalde chique de Londres, entre o Wimbledon Park à esquerda (com um campo de golfe que presumo municipal, pois o parque é público) e um conjunto de casas daquilo que agora se convencionou chamar classe média-alta, à direita. Ou então, 5' de autocarro até à porta do All England Club, mas acho um bocado um sacrilégio. Optei pela caminhada à ida e pelo autocarro à volta (o Oyster Card é válido). Primeira conclusão a tirar: a improvável (mas hoje em dia um "must") combinação de cores - roxo e verde - do All England Club deriva das cores municipais do London Borough of Merton. 
  2. A visita guiada custa £24 para o comum dos mortais (£21 para os maiores de 60) e inclui os Centre Court, Court nº 1, Henman Hill, sala de imprensa, loja e museu.
  3. O clube tem entre 500 e 600 sócios (o número exacto, tal como a potência dos motores dos antigos Roll Royce e Bentley, não é divulgado). Cada sócio paga apenas £200 por ano, mas... não se excite: para se tornar membro do clube é preciso se proposto por quatro sócios, ser aprovado pela direcção e, depois... ficar à espera, sabe-se lá até quando - ou até nunca. Parece que a preferência vai para gente de algum modo ligada ao mundo do ténis, sendo que os antigos campeões individuais se tornam automaticamente membros. Mas houve uma excepção: John Mc Enroe, que pelo seu feitio controverso parece que ficou uns anitos largos à espera. Vidas...
  4. Os sócios não estão autorizados a jogar nos "courts"principais, apenas o podendo fazer em alguns secundários, até dois meses antes do início dos "Championships", e nos "courts" sem piso de relva destinados a treinos, ensino, etc.
  5. Com tão parco dinheiro recebido dos seus sócios, o clube vive das receitas das transmissões televisivas dos "Championships", das verbas recebidas de patrocinadores (Rolex, IBM, HSBC, Évian, Ralph Lauren, Jakob Creeks, etc) e da venda de bilhetes (1/2 milhão de espectadores durante os "Championships"). Todos os anos gera um "excedente" (o clube não gosta da palavra lucro) que é inteiramente aplicado no desenvolvimento do ténis à escala mundial.
  6. Todos os anos, no final dos "Championships", o piso é mudado na totalidade dos "courts". A relva é cortada, ficando apenas a raiz, e vai crescendo a partir daí, sendo preparada ao longo do ano. É cortada três ou quatro vezes por semana, nunca podendo exceder os 15''. Durante os "Championships" a sua altura é de 8''. A preparação inclui uma cerca electrificada anti-raposas (em Londres a raposa tornou-se quase um animal doméstico), que parece gostam muito usar a relva dos "courts" como casa de banho, e um falcão residente, do nome Rufus, para enxotar os pombos (à atenção de Fernando Medina).
  7. Os chamados "apanha bolas" ("ball girls and ball boys") não precisam de saber jogar ténis e são normalmente recrutados nas escolas da região. O seu treinamento inclui aprenderem algumas das "manias" do(a)s principais jogadore(a)s, para que não falhem no modo como entregam as bolas. E, claro, não são pagos, podendo contudo ficar com o seu equipamento como recordação.
  8. Para os "courts" a entrada de comida está condicionada. Mas para a famosa Henman Hill, com o seu quadro electrónico gigante, pode levar-se um cesto de picnic (por mim, devia estar também sujeita a inspecção do respectivo bom gosto).
  9. Terminados os "Championships", os jogadores participantes têm direito ao acesso livre às instalações do All England Lawn Tennis Club durante quinze dias, o que inclui assistência médica, ginásio, fisioterapia, restaurantes, etc.
  10. Os habitantes da zona parece que odeiam o torneio, pois vêem o seu sossego e o bucolismo do Wimbledon Park invadido e transtornado por dezenas ou centenas de milhar de amantes do ténis. Mas nem tudo está para eles perdido: como não existem hoteis na área e ficar no centro de Londres é complicado por causa do trânsito (estragaria a vida ao "referee", o homem encarregado de assegurar o cumprimento da boa ordem dos jogos), vão de férias (literalmente, "põem-se na alheta") e a alugam as suas casas e apartamentos a jogadores e respectivos acompanhantes (namorado(a)s, famílias, treinadores, fisioterapeutas e por aí fora". Uma boa maneira de ter férias "à borla".
  11. Por último, como conseguir um bilhete para os "Champioships" (2/3 dos bilhetes são para venda ao público)? Bom, como disse, temos em primeiro lugar o "ballot". Para os "overseas applicants", como eu, trate disso agora em Novembro. Pela internet, o que é uma sorte, pois os "UK residents" têm de dirigir-se ao All England Lawn Tennis Club, pedir os "papelinhos", preenchê-los e entregá-los, em mão ou pelo correio (very old fashion). Se não os conseguir desta forma, restam-lhe duas alternativas: ir, durante os dias em que decorrem os "Championships", para a porta do clube - de preferência passar lá a noite - e ter a sorte de ser um dos primeiros mil ou mil e pouco "sortudos" que conseguem bilhete por essa via; ficar à porta, durante o dia, para ver se consegue ser presenteado com um dos bilhetes reutilizáveis. Passo a explicar: receber, a troco de cinco libras que o clube doa para acções de caridade, os bilhetes de espectadores que resolvem sair antes dos jogos terminarem. Claro que há sempre a hipótese de conseguir ser convidado por um patrocinador, pelo All England Club ou... entrar para sócio. Agora... boa sorte, para mim em primeiro lugar.

terça-feira, outubro 06, 2015

"Mais uma corrida, mais uma viagem"






Até para a semana.

Em louvor das empresas de sondagens

Nestas últimas semanas ouviu-se de tudo: que as empresas de sondagens "martelavam" os números e manipulavam resultados (só faltou dizerem que estavam "ao serviço do grande capital"), estavam tecnicamente pouco apetrechadas, as amostras não estavam em consonância com a realidade, o facto de serem apenas contactados eleitores com telefone fixo adulterava seriamente os resultados, etc, etc. Felizmente, verificou-se que nada disso tinha razão de ser e que, em qualquer delas, os números apresentados correspondiam "grosso modo" à realidade. Prova-se são empresas credíveis, dirigidas por gente séria e tecnicamente apetrechadas.

Depois do que se tem passado na última década com o sistema bancário - no que nos diz respeito com os BPP, BPN e GES - depois de rebentado o escândalo Volkswagen nos últimos dias, é compensador saber que ainda há empresas credíveis e em cuja probidade podemos confiar. Espero um dia destes não me venham a desiludir.

segunda-feira, outubro 05, 2015

Quem perde deve demitir-se?

Soares perdeu eleições, Sá Carneiro perdeu eleições, Churchill perdeu eleições, Mitterrand perdeu e eleições. Só Salazar, Tomás e Caetano nunca as perderam porque verdadeiramente nunca as disputaram. E, no entanto, nem Soares, nem Sá Carneiro, nem Churchill, nem Mitterrand se demitiram dos respectivos partidos sempre que as perderam. Bem pelo contrário: voltaram a candidatar-se e até ganharam. Não entendo - aliás, nunca entendi - esta"norma", recentemente inventada, de que quem perde eleições deve demitir-se, assim um pouco como os treinadores de futebol de antigamente (hoje, já nem no futebol é assim).

Sinal da infantilização da política? Sim, talvez, mas também de uma doença mais profunda que vai minando a democracia: a desideologização dos grandes partidos, transformados em "catch all parties", puras máquinas de angariação de votos, e a fulanização que lhe está associada.  A continuarem assim, mais valia, um pouco à semelhança do que acontece nos USA, estes partidos tornarem-se de certa forma inorgânicos, sem um líder reconhecido, nomeando um candidato a primeiro-ministro, escolhido em primárias, antes de cada eleição.

5 notas 5 sobre as eleições

  1. Nos próximos tempos iremos assistir a uma tentativa da direita para enfraquecer o PS, contando para tal com a colaboração dos "media" e das redes sociais, onde as ideias  favoráveis à Coligação têm acolhimento maioritário, e com a actividade da facção Segurista dentro do PS - embora não me pareça que esta, a não ser que Assis, que não é propriamente um Segurista, se decida a avançar, recolha internamente apoios de peso. O objectivo é fácil de entender: necessitando a governação de compromissos e não podendo nem devendo, pelo menos nos tempos mais próximos, o PS a eles se esquivar, forçar a que eles sejam o mais possível favoráveis às ideias e ideais governo. 
  2. Desnecessário dizer que o PS vai ter um papel complicado: opor-se necessariamente a quaisquer medidas mais radicais, que possam ir frontalmente contra as ideias-chave apresentadas pelo partido na campanha, sem arriscar fazer cair o governo (pelo menos, não tendo a garantia de que possa vencer novas eleições) ou ser visto pelos cidadãos como não se diferenciando da direita. Isto, tendo à sua esquerda por um BE fortalecido, com uma liderança carismática e que já demonstrou a sua capacidade para lhe "roubar votos". It's a hell of a task.
  3. Qualquer que seja o próximo Presidente da República (Marcelo Rebelo de Sousa ou Rui Rio - quase de certeza será um deles) dificilmente PSD e CDS (que praticamente deixou de existir no dia da "demissão irrevogável") terão em Belém alguém tão complacente, colaborante e com tão pequena estatura política como Cavaco Silva. Num período de incertezas e alguma instabilidade previsível, onde serão necessários compromissos, esta é pelo menos uma boa notícia.
  4. Outra boa notícia: sem uma maioria absoluta, a política, em vez da economia, tenderá a reassumir um papel fulcral e determinante, o que é sempre saudável, e Passos Coelho terá de deixar de ser um género de CEO do país para se tornar mais primeiro-ministro. Veremos se é capaz, e também em que medida isto condicionará a actuação da ala mais radical e "Blasfema" da coligação.
  5. Numa democracia liberal, baseada em "one man, one vote", os portugueses, enquanto entidade colectiva, não existem no momento do voto, por isso não "quiseram", não "acharam", não foram da "opinião que", etc, etc. Numa democracia liberal, cada voto é individual, secreto, sem discussão prévia conjunta, tem uma intenção que só cada eleitor conhecerá, vale o mesmo independentemente dessa intenção e é quantitativo, não qualitativo. Traduzindo isto "por miúdos", os portugueses não quiseram "que a PAF governasse mas sem maioria", "não votaram no compromisso", "não mostraram sabedoria ou ignorância", etc, etc. Cada português votou num partido, com motivações diversas que cada um conhecerá, e o resultado da votação deu legitimidade à PAF para governar sem maioria absoluta. Qualquer outra interpretação, seja ela qual for, será abusiva.