sexta-feira, abril 30, 2010

Muito bem!

"A Zona Euro está a permitir que alguns ganhem bastante dinheiro. A Grécia é "junk"? A consequência lógica de acreditar que a Grécia é 'junk bond' é prever o desmembramento do euro."
Helena Garrido é sempre uma voz indispensável e o seu "Visto da Economia" refúgio seguro neste dias de angústia.

Oh! Senhor Presidente!...

“Eu entendo que faz sentido reponderar todos aqueles investimentos, públicos ou privados, na área dos bens não transaccionáveis, que tenham uma grande componente importada, isto é, que utilizem pouca produção nacional e que sejam capital intensivo, ou seja, que utilizem pouca mão-de-obra portuguesa”, sustentou [Aníbal Cavaco Silva].

Uma pergunta ao Senhor Presidente da República e meu, respeitado, ex-professor de “Economia Pública”: e todos aqueles investimentos que, apesar de uma percentagem significativa de componente importada, se manifestem como indispensáveis, porque estruturantes, para o país e que, desse modo, contribuam para o incremento da sua competitividade, crescimento económico e produtividade global?

História(s) da Música Popular (159)

1910 Fruitgum Company - "May I Take A Giant Step"
Bubblegum (X)
Claro que depois de “O Rei Manda”, ou seja, “Simon Says”, só se lhe poderia seguir o “Mamã Dá Licença”, o que no caso da 1910 Fruitgum Company significou “May I Take A Giant Step” (into your heart, acrescente-se, pois só assim dava para cantar o refrão, como honestíssima proposta, ao ouvido do par enquanto se davam uns pulos...).

Bom, a coisa não teve o mesmo sucesso de “Simon Says”, ficando-se pelo #63 do Billboard, mas não deixa de ser uma canção divertida, o que, neste caso do “mastiga e deita fora”, é o que bem mais interessa. A quase repetição do sucesso anterior viria, no entanto, de seguida, mas isso já é desbravar muito caminho... Talvez lá para a semana, se o tempo (refiro-me a ambos, time & weather) a isso ajudar.

A comissão de inquérito PT/TVI

Até agora, o resultado mais relevante, e também gratificante, daquele triste espectáculo que tem sido a comissão de inquérito ao caso PT/TVI foi a afirmação expressa de indiscutível benfiquismo por parte de Zeinal Bava. Surpresa? Nem por isso: existiam pelo menos 60% de probabilidades de ser assim!

quarta-feira, abril 28, 2010

Que grande lição de táctica!

Dizia-me um outro dia o meu filho, referindo-se ao “Barça”, que “jogam assim desde que nasceram e não sabem jogar de outra maneira”. Nada mais verdadeiro: quando alguém lhes mete um “pauzinho na engrenagem”, como o fizeram o Chelsea de Guus Hiddink o ano passado e o Inter de José Mourinho este ano, jogando da única maneira possível para quem lhes quer ganhar, ficam como um matemático principiante perante o último teorema de Fermat. Contra o Chelsea tiveram por si uma arbitragem que faria corar de vergonha aquele senhor árbitro português cuja principal qualidade era o modo como fugia a correr à frente dos jogadores do FCP quando ousava marcar uma falta a favor da equipa contrária; hoje, mesmo contra 10 em 2/3 do tempo de jogo, soçobraram perante uma equipa que deu em campo a maior lição de rigor e concentração defensivas a que me lembro de ter assistido desde que com um ano e tal de idade frequentava com o meu pai o antigo Campo das Salésias.

É feio? Mourinho trouxe o “double decker”? Bom, feio é perder ou ganhar com batota, e saber defender como o Inter o fez só valoriza a excepcional categoria de um treinador e o modo como sabe preparar uma equipa. Parabéns, pois, José Mourinho! E que grande lição de táctica!

A propósito da crise...

...De vez em quando, lemos coisas bem interessantes.

Les Femmes de Godard (3)

Anna Karina in "Alphaville" (1965)

Combater o "déficit" por via das prestações sociais?

Combater o “déficit” através de uma redução nas prestações sociais? Sim, se isso corresponder a uma sua racionalização por via de uma melhoria no rigor na sua fiscalização e incremento de justiça no seu escalonamento e atribuição. Mas atenção: a linha que separa esta proposta de um eventual incremento da injustiça social é sempre demasiado ténue e perigosa. Por mim, preferiria um aumento imediato do IVA em 1% (nunca deveria ter descido) e um corte nos salários acima de 1 000 ou 1 500 euros na função pública para aqueles que têm um contrato de efectividade, mediante um sistema que contemplasse a progressividade e talvez através da adopção de um esquema de poupança forçada. Socialmente, parece-me bem mais justo.

Três notas sobre a crise (entre ontem e hoje)

  1. Indiscutível a responsabilidade governamental sobre o agudizar da crise: porque o governo existe para governar e porque, enquanto tal, se tem eximido a fazê-lo desde que tomou posse, revelando pusilanimidade em algumas situações-chave (professores, por exemplo) e visíveis hesitações em outras (PEC e orçamento). Mas também indiscutíveis responsabilidades do PSD de Ferreira Leite/Pacheco Pereira ao ter resolvido centrar a sua acção em questões morais e de carácter, contribuindo, assim, para a menorização das questões de natureza política e sua substituição pelos ódios e inimizades pessoais e, por consequência, para criação de um ambiente geral de crispação que envenenou todo o debate político e a sociedade em geral e inviabilizou qualquer espírito de cooperação entre governo e oposição,
  2. José Sócrates tem perante si uma escolha: justa ou injustamente, ficar para a História como o primeiro-ministro que conduziu o país para uma das mais graves crises da sua história recente ou como o homem que, perante dificuldades extremas, soube assumir a condição de estadista e, por muito duras que estas possam vir a revelar-se e sem renegar a sua família política, tomou as medidas necessárias para sair da crise de forma sustentada. Não existe uma terceira via.
  3. Quando se exigia algum bom-senso e contenção nas declarações públicas (o que não exclui que se fale claro), Luís Campos e Cunha resolveu, do alto da sua reconhecida e indiscutível competência académica e curricular, espalhar mais uma dose do seu conhecido niilismo militante, afirmando que Portugal pode chegar a uma situação idêntica à da Grécia e que a cooperação proposta por Passos Coelho e a sua reunião de hoje com o primeiro-ministro já viriam tarde. Nem Medina Carreira ousou ir tão longe! O próprio Eduardo Catroga, ex-ministro do governo de Cavaco Silva, foi bem mais positivo nas suas declarações, felizmente. É de lamentar que alguém com o prestígio e competência de Campos e Cunha mostre tão pouca sensibilidade política e se deixe conduzir para campos que muitos tenderão a identificar como de puro ressabiamento pessoal.

terça-feira, abril 27, 2010

Uma solução inevitável?

Até quando PS de José Sócrates e o PSD de Passos Coelho poderão continuar a adiar aquilo que parece inevitável em nome do país, do euro e da UE? Isso mesmo, um governo de coligação ou, pelo menos, um acordo formal de incidência governamental sobre o PEC alargado ou não ao CDS e a todos aqueles que se reconhecem nos elementos essenciais definidores do regime, i.e., estado de direito democrático, primado da economia de mercado, UE e moeda única. Por muito que procure, não encontro solução mais credível.

Giallo (4)


"Torso", de Sergio Martino (1973)

Greve...

Francamente, e ressalvando o facto de não conhecer “por dentro” as empresas e processos de negociação em curso, não vejo razão sólida, laboral e directa, para as greves de hoje no sector dos transportes e correios. Não me parece, para quem tenha um vínculo não provisório, os postos de trabalho possam estar em causa, quem é trabalhador precário por certo não ousa entrar em greve (ora aqui está um direito constitucional e democrático na prática negado a quem dispõe apenas de um contrato de trabalho precário) e o congelamento ou aumento salarial reduzido é compensado pela baixa inflação e queda da taxa de juro dos últimos anos – e quase todos os portugueses têm um empréstimo a amortizar. Porquê então?

Bom, existindo, com muita ou pouca razão isso é irrelevante, algum ambiente geral de descontentamento, ampliado e tornado mais visível pela democratização da informação dos últimos anos (“blogues”, comentários on line, fóruns de opinião, tabloidização dos “media”, etc), o que facilita a simpatia com que este tipo de acções é recebida pelos intervenientes mas também por terceiros, mais do que alcançar qualquer benefício directo para os trabalhadores envolvidos neste tipo de movimentações periódicas – o que dificilmente tem acontecido ou acontecerá - elas têm os seguintes e principais objectivos em vista:
  1. Manter alguma mobilização sindical e política em sectores onde o PCP e a CGTP têm alguma influência, capitalizando o descontentamento existente em seu favor. Tal como nenhum exército se pode manter demasiado tempo inactivo, o tipo de sindicalismo desenvolvido por PCP e CGTP não pode manter-se, crescer ou fortalecer-se sem este tipo de iniciativas, independentemente dos resultados alcançados.
  2. Criar dificuldades a um governo, já de si e muito por culpa própria, frágil e numa situação interna e externa muito difícil e delicada. Mais, criar também dificuldades à execução do PEC e contribuir para fragilizar o país, o euro e a UE perante os mercados e a especulação financeira.
  3. Tendo escolhido efectuar a paralização em sectores estratégicos (comunicações), onde mesmo uma pequena mobilização (e em alguns casos – CP – ela foi mesmo significativa) causaria sempre inconvenientes não negligenciáveis a uma boa parte da população e com visibilidade assegurada nos “media”, responsabilizar a política do governo por esses problemas, aumentando o já existente sentimento geral de descontentamento.

O problema para o PS - partido que apoia o governo - é ter deixado que este “programa de actividades”, que, em última análise, configura uma autêntica mobilização anti-regime, tenha transcendido as fronteiras restritas onde habitualmente se acolhia e comece a estender-se a sectores da sociedade onde era tradicionalmente rejeitado. Digamos que governo e Partido Socialista, mas também PSD e CDS, podem vir a ter aqui um problema...

segunda-feira, abril 26, 2010

A selecção nacional de futebol e o Mundial 2010: "mapping"

(clicar na imagem para ampliar)


À semelhança do que efectuei quando do Euro 2008, repito a mesma análise posicionando o grupo de jogadores susceptíveis de serem convocados para o Mundial 2010 em torno de dois eixos definidores dos principais factores (rendimento e experiência) que, em minha opinião, devem estar na base dessa escolha.

Racional:

Considerei que os factores determinantes para a escolha do lote final de 23 jogadores são o seu rendimento, principalmente na época em curso, e a experiência em grandes competições internacionais, com o seu carácter e ambiente muito próprios. Daí ter optado por essas duas vertentes como vectores (eixos) fundamentais que definem o posicionamento de cada jogador. Claro que haverá outras, algumas bem subjectivas outras que têm que ver com modelo e sistema de jogo, mas o que se pretende com este "mapping" é minimizar essa mesma subjectividade (dentro do possível, já se vê) e, simultaneamente, centrar a atenção naquilo que é essencial em última instância. Em termos de rendimento ponderei o facto de ser diferente ter um alto rendimento num grande clube europeu, inserido num campeonato de topo, ou em clube mais “modesto” em competições menos exigentes. No primeiro caso estarão os clubes da chamada 1ª divisão europeia e dos campeonatos inglês e espanhol e no outro clubes como o Benfica e Sporting, talvez com o FCP in between. Para a avaliação contei, para além da minha opinião subjectiva, com as análises dos jogos feitas por jornais e sites portugueses e estrangeiros.Como experiência em grandes competições internacionais, considerei principalmente as últimas fases finais de europeus e mundiais, mas também a Champions League e, em menor grau, a taça UEFA (Liga Europa), para além, embora com bem menor ponderação, da experiência em campeonatos mais exigentes ou até em grandes competições das categorias de formação.Claro que quando posiciono cada jogador em função destes eixos não estou a ser demasiado rigoroso, constituindo esse posicionamento uma aproximação. Poderá haver sempre quem diga que os jogadores A ou B deveriam estar uns milímetros mais acima ou abaixo, para a esquerda ou para a direita, mas isso é irrelevante, neste caso, para a análise que se pretende efectuar.

Posto isto, que concluir?

  1. Existe um grupo de sete jogadores (a verde escuro, situados no quadrante superior direito) que, claramente, acumulam um rendimento positivo esta época e grande experiência neste tipo de competições. Tudo leva pois a crer serão eles a constituir o “núcleo duro” da equipa titular, embora exista a incógnita Pepe.
  2. Mais três jogadores (a verde escuro “matizado”) aparecem um pouco como as alternativas mais viáveis a integrar este grupo: Simão, como uma época um pouco mais cinzenta do que o habitual, Ricardo Carvalho, se estiver em boas condições físicas, e Rolando, com uma época regular mas com menor experiência neste tipo de competições.
  3. Os restantes quatro dos jogadores que integram a metade direita do “mapping” (Moutinho, Tiago, Quim e Hugo Almeida – a verde limão) têm tido uma época que classifico de menos positiva, ou irregular, podendo os situados na metade superior esquerda (bom rendimento mas pouca experiência – a verde mais “vivo”) aparecer como naturais “challengers”.
  4. O “mapping” mostra claramente os principais pontos fracos da selecção: guarda-redes (embora Quim seja melhor posicionado), defesa-esquerdo (os “esquerdinos” estão todos posicionados no lado esquerdo do “mapping”) e ponta de lança. Não existe ninguém nestas posições incluído naquele grupo que classificámos como sendo o “núcleo duro”.
  5. Espero não me ter esquecido de ninguém relevante...

Les Femmes de Godard (2)

Brigitte Bardot in "Le Mépris" (1963)

domingo, abril 25, 2010

Frivolidades: o 25 de Abril, o cravo e a banda do casaco.

Alguém explica (talvez o protocolo do Estado...) aos excelentíssimos senhores deputados, ministros e demais figuras públicas, que uma flor (neste caso, o cravo) se usa elegantemente na lapela e não, de modo desleixado, no bolso do casaco? Não se segura? Bom, se o fato tiver sido feito no alfaiate, é muito fácil pedir para colocar uma pequena presilha no verso da “banda”, para segurar o pé da flor. Caso tenha sido comprado no “pronto a vestir”, que isto da vida está cara para todos, um pequeno “alfinete de ama”, também ele colocado no tal verso da mesma “banda”, resolve muito bem o problema - desde que, claro, não se tenha esquecido de abrir a “casa”, o que facilmente consegue com uma tesoura. E, acreditem, mesmo os que não tenham sido bafejados com o tal “físico de alfaiate” ou parecenças com o George Clooney, ficarão, por certo, um pouco menos “bimbos” e, tanto quanto possível, ligeiramente mais elegantes. Fica para o ano?

O discurso de Aguiar Branco: vem aí a política?

Que ressalta dos discursos do 25 de Abril? Sem dúvida, o de Aguiar Branco. Por citar Lénine, parafrasear Sérgio Godinho, usar cravo na lapela e, assim, se apropriar de alguma iconografia tradicionalmente identificadora da esquerda? Sim, mas isso foi apenas um meio – inteligente, diga-se - para atingir um fim: dar notoriedade a um discurso que terá sido o primeiro manifesto claramente liberal (ou neo-liberal, se quiserem) proferido na Assembleia da República, marcar o novo território político por onde se movimentará a nova direcção do PSD e demonstrar que, para o novo PSD, a tradicional dicotomia entre o carácter “progressista”, “avançado”, atribuído normalmente à esquerda e “conservador” ou “reaccionário” à direita pode vir, em algumas áreas, a sofrer a contestação do partido dirigido por Passos Coelho.
Finalmente, vem mesmo aí a política?

Bi-centenário do nascimento de Frédéric Chopin (1810-2010) - V

Idil Biret - Valsa op 70, nº 2

As cerimónias de 25 de Abril

É comum dizer-se, é verdade e o Presidente da República não deixou hoje de o lembrar, que para quem nasceu depois do 25 de Abril ou era ainda criança nessa data a liberdade, a democracia, a UE, a paz e - acrescento eu - os “charros”, o sexo e o “Interail” ou as orgias em Lloret del Mar são algo tão assumido como o ar que respiramos. Ainda bem que assim é, mas por vezes convém lembrar que este nosso mundo já foi bem diferente. Contudo, não me parece que aquela sessão solene em jeito de velório que todos os anos se realiza na Assembleia da República e cujo principal propósito é pôr alguns jornalistas a fazer perguntas idiotas aos políticos ou o desfile do PCP e “compagnons de route” na Avenida da Liberdade contribuam o que quer que seja para valorizar Abril junto dos mais novos. Em ambas as cerimónias, tudo é demasiado bafiento, pomposo, conservador ou, no caso específico do desfile, de um kitsch que qualquer – apesar de tudo – bem mais cosmopolitas Festival do Sudoeste ou “Rock in Rio” tornam ridículo e os mais novos não reconhecem como sendo seu. E têm razão, claro!

sábado, abril 24, 2010

"Dias da Música"

Nos tempos em que a Festa da Música era também “La Folle Journée”, aquela versava sempre um tema muito concreto, fosse um compositor (lembro-me de Bach e Beethoven), fosse um determinado período da História da Música, e recordo os dedicados ao classissismo vienense e ao barroco italiano. Por exemplo, a próxima edição de “La Folle Journée” debruçar-se-á sobre o post-romantismo.

Agora, com “Os Dias da Música”, decidiu-se o CCB por algo mais abstracto (“As Paixões da Alma”) ou dedicado a um instrumento: “piano”, por exemplo, num dos anos anteriores. Não me parece esta “criatividade” contribua lá muito para atrair mais público nem para a respectiva formação musical. Feitios...

sexta-feira, abril 23, 2010

Lucy in the Sky with Diamonds (28)

Cream (1969)

Les Femmes de Godard (1)

Jean Seberg in "A Bout de Souffle" (1960)

Fabian & Freddie Cannon (4)

Freddie Cannon - "Patty Baby"

Há dias em que me arrependo de não ter ido para Direito...

Ele há dias ou momentos (felizmente, poucos) em que tenho mesmo pena de não ter ido para Direito, optando por tomar a direcção da moderna cidade universitária em vez do vetusto convento da velha rua do Quelhas. É que não tendo competência técnica para julgar da justeza da sentença que absolveu Domingos Nóvoa, fico com uma estranha sensação de que, tal como os jantares de homenagem são sempre contra alguém, o mesmo parece ter acontecido com tal decisão do tribunal. Neste caso, mais do que tratar-se de uma sentença favorável a Nóvoa, parece-me bem mais uma decisão “custom made” destinada a penalizar Ricardo Sá Fernandes, Marinho Pinto e, por acréscimo, a advocacia em geral.

quinta-feira, abril 22, 2010

Mariachi (1)

José Alfredo Jimenez - "Te Solte la Rienda"

Expliquem-me... como se eu fosse muito estúpido...

Não sendo jurista, expliquem-me, por favor, senhores juristas, como se fosse muito loiro e ainda mais estúpido:

Se, de acordo com os direitos, liberdades e garantias, num estado de direito democrático, sendo constituído arguido posso ficar remetido ao meu silêncio perante um juiz ou tribunal, por que raio não me é concedido esse mesmo direito quando chamado a depor perante uma comissão de inquérito da Assembleia da República? Não estará esta, claramente, a exorbitar das suas atribuições e a violar a lei geral do país?

Por favor, digam-me que não tenho razão...

Desperdícios?... Sim, claro. Mas que tal se voltássemos aos submarinos?

  1. Para os fundamentalistas: o desperdício é algo de inerente à actividade humana, tanto maior quanto maior for a presença do homem. Numa máquina ou numa linha de produção razoavelmente automatizada e eficaz, percentagens de desperdício inferiores a 5% são comuns. Numa manufactura – penso – seriam necessariamente mais elevadas e quando se fala em serviços começam por ser dificilmente mensuráveis - e por aí fora... Isto significa que na actividade do Estado o nível de desperdício será dificilmente calculável e, se o for (ou fosse), uma percentagem de dois dígitos não me pareceria um exagero.
  2. Assim sendo, acresce que numa actividade, como a desenvolvida pelo Estado, que não produz nem parafusos nem automóveis, a redução do desperdício terá fundamentalmente que ver com a organização, racionalização e controlo de serviços (espero não estejamos a falar de papel higiénico, de "clips" ou das “luminárias” do software livre), o que, claro está, implica que se mexa na estrutura de recursos humanos: alterando, reclassificando, deslocalizando, despedindo, reformando, etc. Modificando hábitos. Exige também um estudo prévio do que e como fazer, tarefa entregue a quem o sabe e cobra bom dinheiro por isso. Mais ainda, pelo que acima se afirma trata-se de uma tarefa que poderá obter resultados, no mínimo, apenas no médio-prazo. E que a curto-prazo tem custos. Depois do rotundo fracasso que constituiu a “reforma da Administração Pública” do primeiro governo de José Sócrates, alguém quer, de facto, meter-se a tal tarefa? O objectivo é bem louvável, desejável mesmo, e aceitam-se voluntários. Que tal o Miguel Frasquilho?
  3. Diz-me a experiência das empresas e da gestão que o melhor método para diminuir o desperdício nos serviços é efectuar cortes cegos ou estabelecer plafonamentos. Acabamos por descobrir que afinal - oh! surpresa das surpresas - sempre os havia, para grande tristeza dos “atingidos” e que, na altura, muito “espernearam” perante tal perspectiva. Diz-me também essa mesma experiência que quando se trata de reduzir custos vale pouco a pena olhar para as rubricas “pequenas”. Nesse caso, estamos normalmente, perante a tal situação marxista (dos ditos irmãos e não do Karl), “much ado about nothing”. É bem preferível encarar o toiro de frente e ir where the big money is. O resto (adiamento de troca do carro de serviço, redução da verba de viagens e P. R. ou limitação do aumento salarial do porteiro, dá muito nas vistas mas de pouco ou nada vale. Digamos que “não dá a mecha para o sebo”... Ora, onde está o “big money” na Administração Pública?: transferências sociais e salários. Para além de ser socialmente injusto (o que já não é nada pouco), alguém quer ousar? Provavelmente, alguém vai ter de o fazer, pelo menos nos salários a partir dos – digamos – mil euros.
  4. De qualquer modo, e para colocar um ponto final nestas elucubrações, é possivel reduzir desperdícios na Serviço Nacional de Saúde, por exemplo, mantendo, no essencial, aquela que é, de facto, uma verdadeira “conquista de Abril”? Bom, Correia de Campos tentou-o, com o insucesso que se conhece, tendo saído, injustamente, de cena perante uma edição, contemporânea e tão reaccionária como a anterior, da Maria da Fonte oitocentista. Alguém se oferece para completar o trabalho? E há ainda a questão da sobre-prescrição dos medicamentos, em última análise uma resultante da iliteracia dos portugueses (e da cedência dos médicos), que acham bom médico é o que receita muito. Aí sim, haverá muito desperdício. Alguém quer pegar no assunto?
  5. Posto isto, em que ficamos? Ah, já sei: nos carros “topo de gama”, nas “reformas milionárias” e... nos “clips”, no papel higiénico e no “software” livre. Ou nos escritórios de advocacia, claro. Ora bem, aqui está um bom ponto. Todos sabemos como alguns políticos se movimentam entre os partidos e os escritórios de advocacia, o que não deixa de dar que pensar. Nos contractos jurídicos de consultoria existirão porventura desperdícios evidentes. Mas, uma pergunta: sabendo que os grandes fornecedores do Estado utilizam os serviços e o know how desses escritórios, existirá na Administração Pública uma estrutura de suporte compatível que torne desnecessário o Estado recorra a “outsourcing”. Não existindo, seria possível implementá-la? E com que custos?
  6. No fim de tudo... que tal voltarmos aos submarinos, “where the big money is”?

quarta-feira, abril 21, 2010

Country Life (2)





Chicheley Hall - Buckinghamshire

Dois "posts" sobre "bola": 2. Ruben Amorim e a selecção

Já perguntei uma vez aqui no “blogue” o que faltaria a Ruben Amorim para merecer uma convocação para a selecção nacional. A razão é bem simples. Sendo normalmente convocado para as selecções sub-21 e sub-23 – não sendo, portanto, um jogador sem escola e sem “percurso” - adaptou-se bem a um clube grande, mostrando-se mentalmente forte, e, não sendo um jogador “vistoso”, realizou duas épocas a um nível bastante elevado (principalmente esta última), tanto internamente como, o que é bem mais importante, na Liga Europa. Acresce que Ruben Amorim é aquilo que se chama um jogador polivalente, podendo integrar a equipa, sem notórias perdas de rendimento, tanto no lugar de defesa – direito (permitindo, por exemplo, o desvio de Paulo Ferreira para o lado esquerdo), como no de “pivot” defensivo num sistema de “duplo pivot” (sei que a selecção, jogando em 4x3x3, não adopta este sistema, por princípio, mas pode ter de o fazer durante o jogo) ou médio – ala direito num 4x4x2 alternativo, com Liedson e Cristiano na frente, por exemplo. São estas, pois, as razões da minha estranheza.

Pode Queiroz vir ainda a emendar a mão? Não sei, mas se o fizer poderá estar a cometer um outro erro para corrigir o primeiro: não sendo a fase final de um Mundial propriamente um passeio no campo e, portanto, sendo a experiência internacional e de selecção um dos dois activos mais importantes para determinar quem são os seleccionáveis (o outro serão as prestações técnico - tácticas na última época, claro), não sou grande adepto de convocatórias de estreantes nestas ocasiões. Veremos o que faz Queiroz...

Dois "posts" sobre "bola": 1. O Inter-Barça, mas também o Liverpool e o Chelsea.

Quando o sorteio da Champions League ditou a hipótese de um Barça - Inter nas meias-finais, afirmei imediatamente, junto de amigos com quem costumo discutir estas coisas, que o Inter de José Mourinho seria das poucas equipas capazes de parar o “tiki-taki” catalão. Mais, disse que haveria três equipas na Europa em condições de o fazer e que uma já não existia: para além do Inter, seriam o Liverpool de Benitez e o Chelsea do ano passado, de Guus Hiddink, que só não o parou pelos motivos conhecidos e que me dispenso de recordar.

Que têm em comum estas três equipas? São, todas elas, equipas que, ao contrário do Barça onde, segundo Freitas Lobo, predomina a táctica da técnica, privilegiam a componente táctica do jogo, isto é, possuindo, tal como a equipa de Guardiola, princípios e um modelo de jogo bem definidos, são também dotados da flexibilidade suficiente para os adaptarem aos problemas colocados por cada adversário, mesmo durante o jogo, o que dificilmente acontece com a equipa catalã. Acresce que em todas elas a componente físico – atlética assume um papel relevante, permitindo-lhes jogar, indiferentemente, em pressão alta e, quando necessário, num bloco baixo, saindo em transições rápidas ou em bolas longas com idênticas hipóteses sucesso.

Que têm mais em comum estas três equipas? Como se depreende do que afirmo, três grandes treinadores, dos melhores de todos, que têm ideias bem definidas sobre o jogo e as transportam, com sucesso, para onde quer que vão.

terça-feira, abril 20, 2010

Gene Vincent & Eddie Cochran (2)

Eddie Cochran - "Twenty Flight Rock"

SCP: cuidado com as imitações...

Não sei se Paulo Sérgio é bom ou mau treinador, se poderá ou não ser “the next big thing” ou se terá o perfil adequado ao modelo de negócio que o SCP pretende implementar: o seu CV mostra até agora um percurso mediano, o futuro a Deus pertence e eu nem sequer aspiro a pitonisa e, last but not least, ainda não consegui perceber o modelo de negócio que, perante as actuais limitações financeiras do clube, está nas cogitações de José Eduardo Bettencourt e da SAD dos meus amigos “lagartos”. Defeito meu, com certeza.

O que me parece é bem outra coisa... É que, depois da caça aos, soit disant, “clones” de José Mourinho, parece ter aberto a corrida aos "ersatz" de Jorge Jesus. Razão para recomendar à SAD do SCP uma tal canção de Sérgio Godinho: “cuidado Casimiro, cuidado Casimiro, cuidado com as imitações... Oh, Casimiro”!

Uma "dica" a Passos Coelho

Passos Coelho quer mesmo poupar nos consumos intermédios do Estado, racionalizar custos e outras coisas do mesmo tipo, anunciadas ou por anunciar? Uma “dica”... Em vez de se propor iniciar um projecto de revisão da constituição que, independentemente do que dela se pense (e eu penso que tem muitas virtudes e alguns defeitos...), nada de relevante iria alterar ou contribuir para um futuro mais risonho dos portugueses, tome antes a iniciativa de efectuar uma revisão da divisão político - administrativa do país (a actual, salvo erro, vem de Passos Manuel), fundindo concelhos e freguesias que, pela sua (não)dimensão ou importância política e económica, nada justifica constituam unidades autónomas e subdividindo outras cujo gigantismo nada contribui para uma gestão racionalizada. E olhe, comece por Lisboa, convencendo António Costa e o governo a acabarem com a actual divisão administrativa em 53 freguesias, algumas com menos de 500 eleitores, criando, em sua substituição, um máximo de 15 “bairros urbanos”.

É difícil? Vai mexer com muitos interesses instalados, alguns do seu partido? Claro: não tenho quaisquer dúvidas. Mas não será também uma boa oportunidade de, por contraste, mostrar coragem política e uma intenção e ânimo reformistas que parecem já faltar ao governo e ao PS?

segunda-feira, abril 19, 2010

"i": a morte anunciada

Escrito e publicado neste "blog" a 7 de Maio do ano passado a propósito do primeiro número do "i"

"Lançar um jornal em papel num mercado em forte recessão estrutural, em que a quota de mercado só poderia ser conseguida à custa de uma concorrência com anos de fidelização, parecia ser algo contra-natura. Se nos lembrarmos da crise e de um mercado publicitário que já viu melhores dias a “coisa” parece projecto de loucos. Mas Martim Avillez Figueiredo parecia-me jornalista competente – apesar dos verdes anos – e o segmento de mercado (tiny, tiny...) era algo que poderia existir para um produto com um "posicionamento" claro: um jornal de referência menos enfeudado politicamente a um alinhamento governamental (DN) ou a um ultra-liberalismo e anti-socratismo militantes e quase tão ortodoxos como o estalinismo original de muitos dos seus fautores (“Público”). E no entanto...

A primeira coisa que parece faltar, após uma primeira e rápida leitura, é um "posicionamento" claro e consistente: faltam profundidade e artigos de opinião de gente com “peso” (excepção, talvez, para Jaime Nogueira Pinto) para ser um jornal de referência e sensacionalismo q. b. para um tablóide. Resultado: parece ser coisa nenhuma. Melhor: talvez algo que se assemelha mais a um gratuito para ler no “metro”, em cinco minutos, tipo chewing gum, mastiga e deita fora. Francamente: tive dificuldade em vislumbrar algo que me interessasse ler.

Claro que há aquela coisa de ser mais pequeno e agrafado, sem dúvida uma boa ideia. Mas é um erro de principiante vender um produto baseado em um ou mais "features" que podem ser facilmente copiados pela concorrência e não naquilo que define a sua “uniqueness”.

Desilusão!"

"When I woke up this morning" - original blues classics (27)

Leadbelly (1888-1949) - "House Of The Rising Sun"

AXN

Na passada 3ª feira o canal AXN passou um episódio da série “The Pacific” (o 5º, salvo erro), largamente por si anunciada e promovida, sem legendas. Repetiu ontem já legendado e, que eu desse por isso, sem qualquer desculpa ou justificação.

Hoje, sabendo através da informação disponibilizada pela BBC que o episódio de “Waking the Dead” (em português, “Investigação Especial”, vá lá saber-se porquê) emitido nas passadas 5ª e 6ª feira era o último da 6ª temporada, tentei certificar-me se o canal iria interromper a exibição da série, repetir episódios anteriores ou estrear a 7ª temporada, já exibida no UK. Debalde encontrei informação completa no "site" do canal, encontrando-se esta limitada á indicação, na programação geral, de um novo horário de exibição a partir de hoje. Qual a temporada ou episódio eu que me deitasse a adivinhar. Pior, o horário indicado não correspondia ao mencionado na programação de TV divulgada nas páginas do jornal “Público”. Finalmente, após pesquisa na "net", lá descobri aqui que se tratava da repetição, pelas 18.50h (a hora indicada no “Público”), do episódio 1 da 1ª temporada, presumo que aquilo a que a BBC chama “episódio piloto”. Bom, fico sem saber o horário exacto de emissão, mas como já vi e revi não estou muito preocupado. Quanto aos nunca viram a série têm aqui uma boa ocasião para tal, se acertarem com a hora de exibição. Quem já viu, faça o favor de tentar rever.

Para terminar: o AXN é um canal pago, disponibilizado através do cabo pela “ZON”. Tratar os clientes dignamente seria o mínimo exigível.

domingo, abril 18, 2010

A baliza...

Conclusão dos dois jogos mais importantes do fim de semana? A selecção nacional de futebol e Carlos Queiroz têm ali um sério problema na baliza... Nada que já não se soubesse...

Absolut album covers (9)

sexta-feira, abril 16, 2010

"Out of Africa" (3)



"Khartoum", de Basil Dearden e Eliot Elisofon (1966)

José Manuel Fernandes e a Ryder Cup

José Manuel Fernandes não é obrigado a saber de golfe e a conhecer o que é a Ryder Cup e o que representa no desporto mundial e nas audiências televisivas. Mas antes de escrever sobre o assunto, sendo um jornalista com responsabilidades e ex-director de um jornal que sempre concedeu ao golfe um lugar de merecido destaque, talvez não fosse mau, em vez de expressar a sua ignorância de forma leviana, informar-se sobre o assunto. É que, dada a relevância do evento, até nem é difícil e, para além da habitual consulta à "internet" e dos contactos a que alguém com a notoriedade de JMF certamente terá fácil acesso, sugiro para o efeito uma conversa com Rodrigo Cordoeiro, habitual colaborador do jornal nessa área. Poderia então concluir se vale ou não a pena para o país o investimento realizado. É que eu, que sei o que é a Ryder Cup e qual a sua dimensão enquanto acontecimento desportivo, vejo todos os dois anos na televisão (é bienal) e até já assisti ao vivo a uma das edições, não tenho elementos suficientes para me pronunciar com rigor e isenção... Podia ser que, com a sua investigação, JMF me pudesse dar uma pequena ajuda.


José Manuel Fernandes tem todo o direito de suspeitar das razões que levaram a comissão de candidatura portuguesa à organização da Ryder Cup a escolher a Comporta para acolher o evento em detrimento do Algarve ou de outra qualquer localização onde existam campos de golfe e hóteis de cinco estrelas. O facto, como cita, de a Comporta ser um empreendimento do grupo Espírito Santo e Manuel Pinho, com fortes ligações ao grupo, estar envolvido na decisão, é razão suficiente para que levante essas interrogações. Mas, como jornalista e comentador com responsabilidades, não seria melhor, antes de efectuar o seu julgamento definitivo e concluir da “pornografia” (as palavras são suas) do caso, investigar e indagar das razões que conduziram à decisão? Depois disso, e em função da argumentação e conclusões apresentadas, até poderíamos concluir estar José Manuel Fernandes cheio de razão. Assim, ficamos sem saber, limitando-se JMF a lançar a suspeição com o objectivo do costume. Jornalismo “pornográfico”, pois claro, o tal a que JMF já nos habituou...

Nota: Pareceu-me vislumbrar em algumas afirmações de JMF (“Mas se os protagonistas deste episódio são pessoas demasiado refinadas... ... para os lados do Taguspark os plebeus são mais sinceros...”) algum complexo e ressabiamento social. Registo, sem mais comentários...

quinta-feira, abril 15, 2010

História(s) da Música Popular (158)

1910 Fruitgum Company - "Simon Says"
Bubblegum (IX)
Claro que quando falamos de “bubblegum music” dois nomes são de imediato citados de forma expontânea: 1910 Fruitgum Company e Ohio Express. De tal forma que existem álbuns dedicados à “bubblegum music” que juntam apenas e só as duas bandas. Mas eu disse “bandas”? Bom, é assim a “modos que um suponhamos”, pois se os 1910 Fruitgum Company tinham existência mais ou menos real, embora os seus membros tenham variado, os Ohio Express eram mais uma invenção de estúdio de Jeffrey Katz e Jerry Kazenetz, ambos com nomes mais para os lados dos desenhos animados ou dos “comic books” (fazem-me lembrar Fritz the Cat) mas que eram, na realidade, os produtores da Buddah Records. Aliás, tamanha era a identificação entre as duas bandas (ou lá o que eram) que os 1910 Fruitgum Company chegaram mesmo a gravar um “cover” de “Yummy, Yummy, Yummy”, o maior sucesso dos Ohio Express. Mas isso é já outra conversa...

O que é verdade, verdadinha, é que na sequência do êxito de “Green Tambourine”, dos Lemon Pipers, a 1910 Fruitgum Company e a Super K Productions, de Katz & Kazenetz, saíram-se (Fevereiro de 1968) com este “Simon Says” (#4) – acho que baseado naquele jogo para crianças que em Portugal dá pelo nome de “o rei manda” -que, quanto a mim e apesar do #1 dos Lemon Pipers, inaugura, de facto, o período de oiro da “bubblegum pop”.

Vamos jogar?

quarta-feira, abril 14, 2010

Anglophilia (73)






The White Horse Pub (aka "The Sloaney Pony")
Parsons Green, London

Vai uma rapidinha? - classic uptempo doo wop (4)

Frankie Lymon and The Teenagers - "Why Do Fools Fall In Love"

A desorientação de um governo

Um governo de um estado laico conceder tolerância de ponto aos funcionários públicos e, por arrasto, a todos os trabalhadores para a visita do Papa só revela fragilidade, desorientação, ausência de uma linha de rumo. Pior do que isso: a tentativa de conquistar através da popularidade fácil, ao mau velho estilo do “carneiro com batatas”, aquilo que deveria atingir por via da boa governação. Conseguiu ter contra si sindicatos e confederações patronais: convenhamos que é obra!

Nota: se o meu “Glorioso” é uma religião (e disso não duvido), exijo desde já tratamento semelhante para o dia da comemoração da conquista do título!

Igreja Católica e sexualidade

Não me parece que o celibato dos padres tenha algo que ver com a pedofilia, o mesmo acontecendo com a homossexualidade. O que me parece é que uma instituição – a Igreja Católica – que tem da sexualidade uma concepção distorcida e doentia só pode mesmo atrair para o exercício do sacerdócio muita gente com problemas idênticos.

terça-feira, abril 13, 2010

SLB-SCP: pode alguém ser quem não é?

Uma primeira parte em que o SLB sofreu do síndroma de Liverpool: no pavor do contra-ataque contrário, hesitou e resolveu não assumir o jogo e impor aquela que é normalmente uma das suas mais importantes armas: uma intensidade e ritmo de jogo superiores a qualquer outra equipa da liga portuguesa. Abdicou assim da sua personalidade, o que, para todos e em qualquer circunstância, só pode dar maus resultados.

Felizmente percebeu isso a tempo...

Salários e prémios de gestores e a situação concreta de cada empresa

A propósito dos salários e prémios de gestores, cuja justeza – acho – varia caso e caso e, portanto, não é susceptível de ser discutida de modo genérico a não ser de um ponto de vista moral – e por aí não vou: já há demasiadas questões morais a intrometerem-se onde não devem -, é frequentemente apresentado como argumento, a propósito de António Mexia, que sendo a EDP, na prática, quase monopolista, o que em muitas áreas de negócio do grupo está bem longe de ser verdade, seria muito fácil a qualquer gestor mediano atingir os objectivos estabelecidos.

Bom, como disse, não me vou pronunciar sobre o caso em concreto, mas apenas aproveitar o facto para vincar que, em termos gerais, se trata de um raciocínio falacioso. Os objectivos estabelecidos para qualquer empresa e para os seus gestores de topo, e outros, têm sempre em linha de conta (ou devem ter) as condições concretas em que a empresa opera, quer internas, quer externas, neste último caso ao nível dos mercados e das variáveis macro-económicas. Serão, portanto, sempre muito diferentes entre si os objectivos estabelecidos para empresas que operam em situações de mercado díspares (é costume ver citadas a EDP e a CP, como exemplos extremos) ou, até, para uma mesma empresa em conjunturas macro-económicas diferentes. Assim sendo, e vincando mais uma vez não me pronunciar sobre o caso concreto que tem dado origem à discussão, não me parece faça qualquer sentido contestar salários e prémios com base em tal argumentação.

Já agora: também não me parece seja tida como boa a argumentação apresentada salientando o facto de algumas dessas empresas serem comparticipadas pelo Estado ou este ter nelas uma palavra determinante enquanto accionista, assistindo-lhe um certo dever de “reserva moral”, digamos assim. Em muitos desses casos, trata-se de empresas onde o Estado convive com accionistas privados, alguns deles internacionais, e em muitas das suas áreas de negócio estratégicas operando em mercados externos altamente competitivos e concorrenciais. Mais ainda: se o Estado tem nelas uma palavra importante isso acontece, frequentemente, porque se tratam de áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento do país - e cito, por exemplo, as novas tecnologias ou as energias alternativas. Há pois que ter também cuidado quando se fala em afastar o Estado dos negócios e analisar, caso a caso e antes de meter tudo no mesmo saco da ideologia, a justificação para essa presença.

Como disse, existem certamente bons argumentos para defender ou contestar os salários e prémios dos gestores; o que não pode acontecer é deixarmos de ter em atenção os diversos casos concretos ou deixarmo-nos levar, na sua contestação ou defesa, pela demagogia ou apenas por questões de ordem moral. Aí, temos a caldo entornado.

Fabian & Freddy Cannon (3)

Fabian - "Like A Tiger"

segunda-feira, abril 12, 2010

Salários de gestores e ideologia

Não, não vou falar sobre o salário e prémios de António Mexia: o assunto é demasiado complexo para ser tratado com o populismo e demagogia que têm presidido à maioria das análises sobre o tema, existindo boas razões para argumentar em seu favor ou desfavor. Há por ai já demasiado ruído...

Quero apenas chamar a atenção para o seguinte, em termos gerais e abstractos: os altos salários e prémios de executivos e gestores das grandes companhias revelam, hoje em dia, aquilo que se pode chamar um desajustamento ideológico entre o caldo de cultura que os gerou e o ambiente social actual. No fundo, no auge daquilo que se convencionou chamar, numa generalização talvez abusiva, “capitalismo neo-liberal”, esses salários e prémios tinham também para o exterior, para a sociedade, uma função ideológica, ajudando a comunicar e tornar dominante um determinado conceito de vida que mitificava e colocava o empreendorismo financeiro e a capacidade de enriquecer e gerar dinheiro com dinheiro como elementos fulcrais e exemplares de uma nova ordem social triunfante, gerada pela derrota da União Soviética na guerra fria. A crise económica e financeira de 2008/09, embora não colocando em causa o capitalismo e a sociedade liberal, veio, pelo menos, pôr em causa esse modelo nos seus aspectos mais extremistas, trazendo consigo uma certa desmistificação da capacidade de gerir, pelo que esses salários e prémios perderam essa sua função ideológica e aparecem agora como algo desajustado, fora de época, uma excrescência de um passado que conduziu à crise e ao descalabro social.

É exactamente este desfasamento que coloca na ordem do dia um assunto pelo qual ninguém se interessaria há meia dúzia de anos...

Country Life (1)






Elton Hall (Cambridgeshire)

Pedro Passos Coelho: um tributo pouco solidário

A ideia de pôr os desempregados a tratar dos velhinhos, das crianças e das florestas (até ver, a isto se resume, por enquanto, o “tributo solidário” proposto por Pedro Passos Coelho), numa espécie de “serviço cívico” ou “dias de trabalho para a nação” à boa maneira soviética, transformando o Ministro de Trabalho num Pina Manique do século XXI, parece nada mais constituir, felizmente, do que um soundbyte destinado a fazer manchetes e, indo ao encontro dos sentimentos e ódios mais mesquinhos e primários dos sectores mais iletrados da sociedade portuguesa, ao estilo “vai trabalhar malandro”, conseguir a rápida subida nas sondagens necessária à credibílização de PPC.

Em primeiro lugar, e para quem se apresenta como liberal, fazer de desempregados e beneficiários de prestações sociais uma espécie de exército de mão de obra forçada parece-me mais consentâneo com um qualquer regime totalitário do que com um estado democrático, europeu e desenvolvido, do século XXI. Acresce que uma medida deste tipo em vez de fomentar a solidariedade entre os portugueses e a coesão social, pressuposto em que se baseiam as democracias modernas mais progressivas onde vigora o welfare state, arrisca-se a, sob uma aparência “solidária”, ter o efeito exactamente contrário, penalizando ainda mais quem já sofre o anátema da exclusão social, os mais pobres dos pobres.

Em termos práticos, e considerando que só quem nunca lidou de perto com situações de desemprego, nas famílias ou nas empresas, pode pensar que o objectivo de 99% dos desempregados não é a rápida reinserção no mercado de trabalho (e aí sim, poderão aperfeiçoar-se mecanismos a ela conducentes), única situação que lhes permite a não marginalização e empobrecimento a prazo relativamente curto, não se percebe em que termos uma medida deste tipo contribuirá para tal desiderato. Pior, sendo o trabalho um bem escasso, tal medida arrisca-se ainda a contribuir para um agravamento do desemprego, uma vez que não se vislumbra como os desempregados, no exercício do tal “tributo solidário”, possam vir a ocupar cargos não disponíveis através da normal oferta de emprego no mercado, por muito desqualificado que este possa ser. Acresce também que a maneira mais imediata de viabilizar um projecto do tipo proposto por PPC (“tributo solidário”) seria através do Estado (não se entende como possa PPC impor aos privados a admissão de alguém, mesmo nestas condições), principalmente das autarquias já de si as maiores empregadoras em muitas das regiões mais atingidas pela escassez da oferta de trabalho e onde o sindicalismo radical tem mais força. As consequências, evidentes, são fáceis de prever...

Por último, deixo uma pergunta a PPC: e em termos de produtividade? Qual seria a produtividade de quem não queria estar onde está (provavelmente também onde não o queriam), a fazer o que não suporta e para o qual não está preparado nem tem vocação? Não tenderia a constituir-se muito mais num potencial elemento de desestabilização do que num activo com algum valor? Ou o objectivo é só e apenas castigar quem, pelo desemprego e marginalização, já tem castigo de sobra?

Voltemos ao princípio: tentar subir nas sondagens para se credibilizar interna e externamente é certamente um objectivo legítimo, e o “tributo solidário” – espero - não passará disso mesmo. Mas se PPC me permite um conselho, é ainda melhor que o faça sem agir como aprendiz de feiticeiro, brandindo uma arma que, no futuro, só pode voltar-se contra si mesmo.

domingo, abril 11, 2010

Elvis Presley, 75 anos - original "SUN" recordings (8)

"I'm Left, You're Right, She's Gone" - um tema de Stan Kesler e Bill Taylor.

Gravação de 10 de Março de 1955 editada como "B" side do seu 4º "single"

Passos Coelho: algum ar fresco a aguardar consistência

Com a direcção de Ferreira Leite o PSD tinha um conceito, uma ideia-força: a “verdade” e a “asfixia democrática”. Verdade seja também dita que bem mais no campo da moral do que no da política e ancorado num estilo inquisitorial: uma fatal conjugação de factores que, no século XXI, só poderia levar, como levou, ao descalabro.

Agora, Passos Coelho parece querer reconduzir o partido aos caminhos da política, o que efusivamente se saúda. Mas se do conteúdo do seu discurso resulta evidente essa saudável tentativa de corte com o passado recente do primado da “moral”, também ainda custa a vislumbrar um nova ideia-força consistente, um conceito mobilizador no campo da política: o Conselho Superior da República não passa de um soundbyte, como tal destinado a viver um ou dois dias e apenas nos títulos mediáticos, e a revisão constitucional, mesmo não tocando no equilíbrio de poderes, muito longe de ser uma prioridade, não só está dependente de terceiros e terá assim que contar com a boa vontade daqueles a quem politicamente tal coisa não convém, colocando-se Passos Coelho nas mãos do PS, como se parece demasiado com obsessão de principiante, seja ele político ou marketeer com necessidade de dar nas vistas mudando a embalagem.

Posto isto, o que fica? Alguma retórica liberal - o futuro dirá se destinada a algo mais do que marcar território e piscar o olho a trend setters da comunicação social – e, de modo bem mais consistente, uma clara mudança no pessoal político e no estilo do líder. Digamos que ajuda, entra algum ar fresco. Mas manda a cautela e o bom senso ficar na expectativa.

Ricardo Salgado na TSF

Realismo, pragmatismo e uma clara noção das opções políticas fundamentais. Simultaneamente, uma das mais contundentes críticas às utopias ultra-liberais e aos arautos do finis patriae. Para perceber o país e a política, concordâncias e discordâncias à parte, vale bem mais a pena ouvir Ricardo Salgado, talvez a personalidade mais influente do país, do que um conjunto de analistas, politólogos, comentadores, jornalistas e “ofícios correlativos”.

sábado, abril 10, 2010

Pensamento do dia...

A sucessão de congressos do PSD parece estar a causar nos portugueses o mesmo efeito que os “escândalos” que envolvem José Sócrates: já ninguém lhes liga nenhuma.

Tango aus Berlin (10)

Julian Fuhs Orchestra. Vocalista: Leo Monosson - "Leiber kleiner Eintänzer"

sexta-feira, abril 09, 2010

"Black Mask" (11)

Liverpool - SLB: tão normal como a selecção portuguesa perder com a Alemanha, a França ou a Itália

Claro que Jorge Jesus podia ter dado a titularidade a Quim, mas não nos esqueçamos que a sua saída em falso no jogo contra o S.C. Braga só não custou ao SLB a vitória porque a execução técnica do jogador adversário se revelou ainda mais medíocre. Claro que podia ter jogado com a defesa habitual, mas as demasiadas perdas de bola de David Luiz nas suas saídas para o ataque e as jogadas adversárias a que elas dão origem perdoam-se a nível interno, mas são fatais a nível do grande futebol. Claro que a fragilidade física de Aimar é bem disfarçada pela sua inteligência de jogo nos jogos contra o Paços de Ferreira ou o Leixões, mas hoje o jogo era contra o Liverpool, não era? E que dizer da lentidão de Cardozo (como no andebol, não poderia entrar só para as bolas paradas?), da sua ausência de pé direito e das suas deficiências técnicas no jogo aéreo? Do outro lado estava Fernando Torres, não era?

Pois é, já na Luz a coisa só se compôs por via de uma expulsão exagerada e agora, situação agravada por menos um dia de recuperação, ficou bem patente a diferença de ritmo, de consistência, de velocidade, de rigor e de poder físico-atlético entre uma equipa que disputa e Premiership para ser campeã e outra que é líder da liga portuguesa. Mas em 2006 ganhou-se, não foi? Claro, quando se joga com as linhas muito recuadas, em bloco baixo, e se tem na frente jogadores como Fabrizio Miccoli e o Simão dos bons tempos a coisa às vezes até resulta, tal como o Paços de Ferreira ou o Leixões por vezes podem vir ganhar à “catedral”. O problema é quando o “modelo” obriga a jogar no campo todo... Mas, como tudo tem duas faces, talvez seja também esse o motivo porque a equipa de Koeman não foi campeã e a de Jorge Jesus está a um passo de o ser. Oxalá...

Perdeu-se com o Liverpool, pois claro. E depois? Tão natural como a selecção portuguesa perder com a Alemanha, a Itália ou a França. Admiração é quando se consegue ganhar!...

PS. Já agora, um pouco menos de espalhafato de Jorge Jesus no “banco” também não se coadunaria melhor com o “posicionamento” de um clube como o SLB?

quinta-feira, abril 08, 2010

Que quer a direcção do SCP?

Aqui há uns anos o SCP tinha uma estratégia realista: sanear financeiramente o clube e, consequentemente, limitar o investimento na contratação de novos jogadores, privilegiando a formação. Para isso contratou Paulo Bento, ex-treinador dos juniores, e, com ele, beneficiando dos erros de gestão do SLB e da “colagem” ao FCP, conseguiu ser o segundo clube em títulos na primeira década do século. Em função dos recursos disponíveis, e para mal do meu “glorioso”, objectivo cumprido.

Agora que o renascimento benfiquista e o estreitamento do acesso à Champions League puseram em causa tal estratégia, parece procurar novo treinador (o costume...), mas o que me parece ser prioritário para a nova direcção dos meus amigos “lagartos” é começar por pensar e definir o que quer para o clube e partir daí para tudo o resto. E o que a direcção de JEB quer para o SCP parece que ainda ninguém percebeu. Ou melhor, todos já percebemos: quer competir com o SLB e o FCP. O problema é que, com recursos financeiros e capacidade de endividamento bem menor, limita-se a ter dificuldade em encarar e admitir perante sócios e adeptos essa impossibilidade!
Assim, vai-se entretendo e entretendo-os...

"Rock, Rock, Rock!" (6)

"Rock, Rock, Rock!"

Um filme de Will Price (1956)

quarta-feira, abril 07, 2010

À atenção dos senhores deputados e jornalistas: Miguel Pais do Amaral na Comissão de Ética da AR

  • Tenho ouvido e lido sobre a má preparação dos deputados intervenientes nas audições da Comissão de Ética sobre “liberdade de expressão”. Eu próprio já o afirmei. Acrescento agora, depois de ter ouvido integralmente e com atenção a audição a Miguel Pais do Amaral, que o problema é bem maior: trata-se da mediocridade e incompetência revelada pela maior parte dos deputados, pelo menos no que tem a ver com este tema de discussão, bem como o seu completo desconhecimento sobre o modo como funciona o mundo dos negócios e das empresas. Por vezes, parecem mesmo viver e actuar num mundo paralelo, virtual, que me soa estranho e com regras próprias, tendo perdido qualquer noção do que é a realidade do mundo e da vida. Outras, como no caso do deputado do PCP, as questões e o modo como são colocadas chegam a roçar a infantilidade e o ridículo.

    Espero os senhores deputados, e também os jornalistas, tenham aprendido algo com as respostas e o comportamento de Miguel Pais do Amaral.

    Vale a pena ver com atenção.

Fabian & Freddy Cannon (2)

Freddy Cannon - "Tallahassee Lassie"

Um "manifesto" politicamente canhestro

Por um momento, deixemos de lado os “lobbies”, os negócios e as teorias da conspiração. Não porque não possam ser relevantes; mas apenas por comodidade de raciocínio. Vejamos então a “coisa” apenas de um ponto de vista político. Assim sendo, o tal "manifesto" contra as energias renováveis até pode parecer uma boa ideia para quem se não revê no actual estado de coisas: tenta abrir uma nova frente de luta contra o governo, lançando a dúvida numa matéria onde este é visto como tendo sido bem sucedido, constituindo mesmo uma das áreas emblemáticas e unanimistas da sua actuação, e aproveita bem um momento de fraqueza do governo (tem tido momentos diferentes?) em que este tem sido obrigado a constantes cedências, quer a sindicatos (professores, pilotos da TAP e lá chegaremos aos enfermeiros), quer à oposição (PEC, grandes obras públicas, etc).

No entanto, penso que os seus mentores ficaram de tal modo deslumbrados com a ideia que se esqueceram de algo fundamental: em política há que ter em primeiro lugar atenção à correlação de forças e essa não parece nada favorável aos proponentes nem susceptível de alteração no curto-prazo. Em primeiro lugar porque o assunto, ao contrário dos temas de corrupção, de salários dos gestores, disciplina nas escolas ou mesmo de grandes investimentos públicos, é demasiado pouco atractivo e, para já, nada mobilizador para o “povo da SIC”; em segundo lugar, porque diferentemente de outros temas dos quais a direita e a esquerda radical têm feito causa comum, este, dada a simpatia de que as questões ecológicas gozam à esquerda (mas não só), é insusceptível de o conseguir; em terceiro lugar porque o assunto, quer se queira quer não, tresanda a opção nuclear, coisa cuja contestação é bem capaz de unir para aí uns 75% dos portugueses e de fazer crescer exponencialmente a popularidade de um primeiro-ministro e de um governo que se lhe oponham, mesmo que este se chame José Sócrates. E, como disse, e por comodidade de raciocínio, resolvi deixar de fora os aspectos integrados no chamado “business as usual”, coisa nada despicienda para a avaliação do cidadão comum.

Tendo dito isto, que prova então tal "manifesto"? Pouca habilidade e visão políticas por parte dos seus subscritores, o que não é nada de que todos já não suspeitássemos. Digamos, pelo lado positivo, que pelo menos se passou a discutir política em vez da "verdade". Nada mau, claro, tendo em vista o passado recente; mas, já agora, seria bem melhor que a oposição do lado direito (Mira Amaral foi um destacado apoiante de Passos Coelho) o procurasse fazer directamente, dispensando os intermediários.

terça-feira, abril 06, 2010

Exploitation (17)

"Nudes, Inc." (1965)

O FCP e os seus objectivos no campeonato: estratégia e táctica

Depois da desastrada arbitragem de Artur Soares Dias no S. C. Braga - V. Guimarães da passada sexta-feira, tenho visto por aí escrito que o interesse do FCP, talvez tentando alijar uma responsabilidade por tal arbitragem que ninguém, directamente, lhe atribuiu (quem tem má consciência...), reside, antes de mais, na perda de pontos pelo S. C. Braga, para que o clube possa aceder a um lugar (2º) que lhe permita disputar o acesso à Champions League. Não será bem assim. Esse é um objectivo apenas táctico, que lhe permitirá arrecadar receitas que têm sido habituais nos últimos anos, ser mais atractivo para possíveis contratações e ter uma “montra” que lhe permita realizar mais-valias com a venda de alguns activos. O objectivo estratégico do FCP (e as estratégia prevalece sempre sobre a táctica) é, até ao limite do possível, evitar que o SLB seja campeão, colocando assim em causa a estratégia seguida por este, os investimentos realizados e evitando que um possível título possa ser início de um período consistente de domínio no futebol português. Obviamente que isto passa, para já, pela possibilidade do S. C. Braga, um claro aliado do clube de Pinto da Costa, conseguir ir mantendo a pressão sobre o SLB. Por favor, ninguém é assim tão estúpido!

Post Scriptum - Um dia mau toda a gente tem e já vi o meu “glorioso” ser por vezes goleado. Mas ouvir e ler alguém como Bruno Prata, defensor dos interesses da SAD do FCP na comunicação social, dizer, depois da incompetência demonstrada por Soares Dias, ser este uma das grandes esperanças da arbitragem portuguesa, dá pelo menos para desconfiar e valer a pena estar atento ao que possa vir a acontecer no futuro.

Fabian & Freddy Cannon (1)

Fabian - "Hound Dog Man"

segunda-feira, abril 05, 2010

Submarino ao fundo?

Sabendo como funcionam os mercados com uma estrutura oligopolista do lado da oferta e em que cada transação movimenta milhões (como o são, por exemplo, o mercado de algum equipamento militar, mas também dos grandes aviões comerciais - para só citar alguns), muitas vezes correspondendo a efectivação ou não de apenas um negócio à viabilidade ou falência de uma empresa ou “cluster”, devo dizer que o que menos me preocupa no caso do negócio dos submarinos ou da compra de outro equipamento militar pelo governo português é a existência ou não de alegada corrupção. Pois que se investigue, se alguém disso for capaz com custos proporcionais (a investigação custa dinheiro) à sua mínima hipótese de sucesso. E ponto final.

Tendo dito isto, o que me preocupa, fundamentalmente, e constitui a questão-chave deste negócio, é saber como o Estado e os governos gerem o dinheiro dos contribuintes, o que se traduz, neste caso, por conhecer, ponto por ponto, o racional, a lógica que presidiu e está na base de se terem investido cerca de mil milhões de euros do dinheiro dos contribuintes em dois submarinos destinados à Marinha de Guerra portuguesa. Repare-se que não questiono a sua necessidade (percebo pouco ou nada de questões de defesa nacional), muito menos ponho em causa a obrigatoriedade ou interesse do país em cumprir com as suas obrigações militares nas estruturas onde se integra. Mas tendo em atenção que os recursos são sempre escassos (e neste momento escassíssimos) e qualquer decisão de investimento tem sempre na sua base uma grelha de opções, com prioridades associadas - ou seja, investir em dois submarinos significa deixar de investir em outras áreas, civis ou militares – seria indispensável, para avaliar da sua bondade, fosse do conhecimento dos portugueses em que elementos (de natureza económica e militar) baseou o governo de então essa sua decisão e que razões levaram os governos seguintes a mantê-la. Ou seja, como uma decisão deste tipo não será com certeza baseada em questões subjectivas e do tipo “acho que ou penso que”, que se tornassem públicos os relatórios e os ministros da defesa dos vários governos justificassem as suas opções. Sendo todos nós – contribuintes – os accionistas das forças armadas, convenhamos que seria o mínimo a que deveríamos ter direito para confiar nos gestores que elegemos.

Ainda o Conselho de Justiça da FPF

José Manuel Meirim, especialista em direito desportivo, no “Público” de hoje.

“Fica a ideia de que o CJ funcionou na seguinte lógica: a decisão do CD da LPFP não faz sentido, é desproporcional e injusta; se assim é, determinemos a sanção justa e, depois, construiremos um caminho para lá chegar”.

Depois do que aqui afirmei, é sempre reconfortante ver um jurista credenciado na especialidade comungar dos nossos pontos de vista.

Os escândalos de pedofilia e o combate político

Curioso na discussão que se tem gerado nos “media”, com especial incidência na "blogosfera", sobre os casos de pedofilia que envolvem a igreja católica é o facto de as suas duas vanguardas ideológicas opostas (vamos chamar-lhes assim) tenderem a ser constituídas fundamentalmente por não crentes: de um lado, a esquerda laica mais radical, muito polarizada em torno do “Bloco de Esquerda”, e, do outro, a direita ultra-liberal, ex-estalinista, neo-fascinada por Ratzinger e, na era de e pós W. Bush, pelo papel das religiões - neste último caso, o artigo de José Manuel Fernandes no “Público” de 6ª feira constitui peça relevante. Nada que possa constituir objecto de estranheza: estes são os sectores (ambos emergentes) que mais têm animado e quase monopolizado o combate político e ideológico nos últimos anos, encontrando aqui apenas mais um pretexto e um novo campo de batalha.

sábado, abril 03, 2010

Boorman na RTP2

"Deliverance", de John Boorman (1972)
Para variar dos “Quo Vadis” e “Ben-Hur”, ou melhor, para ajudar cuidadosamente a evitá-los embora aquela cena com um vitelo esquelético na arena como se fora toiro bravo seja suficiente para rever o primeiro e rir como se terá rido Salvação Barreto, feito “stunt”, perante tal coisa, recomendo hoje John Boorman na RTP2. Enfim, parte dele, pelo menos, já que, como “Excalibur é um pouco “ame-o ou deixe-o” e eu sou dos que o deixa, recomendar mesmo, recomendo “Deliverance”, um dos meus filmes de culto e que revejo vezes sem conta. Não direi seja o meu “Johnny Guitar”, mas...

Aliás, faça o seguinte: veja “Deliverance” e, depois, veja ou reveja “Apocalypse Now” (Coppola) e “Southern Comfort” (Walter Hill), aquilo a que costumo chamar a minha trilogia de filmes “up the river” - embora no último caso o rio seja metafórico.

É à uma da manhã? De facto; mas se fosse um pouco mais cedo até poderia ter outras coisas para fazer e estamos na “Quaresma”...

Les Belles Anglaises (XL)







MG J (1932-1934)

As redes sociais e as empresas - ou os "fretes" do "Público"

A utilização de uma rede social (“Facebook”) por parte de trabalhadores da TAP para criticar a empresa veio, ao que parece, lançar em Portugal – onde gosta de se discutir o sexo dos anjos e andar às voltas de um qualquer tema como o cão sobre si próprio antes de se deitar - a discussão sobre tal assunto. Inutilmente, como aqui o disse, já que o código de conduta e comportamentos exigíveis pelas empresas aos seus funcionários, definido por códigos próprios e/ou pelas leis gerais do país, aplica-se a qualquer situação, não necessitando de adaptações específicas e bastando a aplicação do bom senso. Aliás, basta ver nesta notícia como uma empresa onde nada é deixado ao acaso, como a Coca-Cola, ignora olimpicamente a questão, já não falando da Caixa Geral de Depósitos e da TAP que, sendo grandes empresas nacionais, é suposto regerem-se pelas “melhores práticas”.

Mas, claro, como há sempre um jurista disponível para vender a sua “expertise” e alguém disposto a fazer-lhe o frete, o “Público” de hoje lá avança em sub-título, contradizendo o essencial do corpo do artigo e as afirmações de representantes das três empresas citadas, que “a informação que circula nas redes sociais pode destruir a reputação de uma empresa” (gostaria de saber de onde o “Público” e a jornalista Ana Rita Faria retiraram essa conclusão e, já agora, que dêem exemplos do que afirmam). A resposta está no corpo do artigo, onde aparece o tal jurista de serviço, neste caso o advogado João Laborinho Lúcio, a dramatizar a questão do modo mais adequado a vender essa sua “expertise”, afirmando que “a existência de códigos de conduta que estabelecem as obrigações do trabalhador quanto à utilização das redes sociais dá mais segurança à entidade patronal, permitindo que, em caso de violação daqueles deveres, esta inicie mais rapidamente um processo disciplinar, que pode chegar ao despedimento com justa causa”. Ou ainda acrescentando que “as empresas devem assumir uma vigilância activa em relação à sua reputação e uso da marca nas redes sociais".

Claro que, honra lhe seja feita, o advogado Laborinho Lúcio está apenas atento à sua oportunidade de negócio, face a uma realidade emergente. Demonstra que é esperto e empreendedor, o que é louvável. Já o mesmo não direi de um jornal que já foi de referência e que, neste caso, constrói uma notícia a partir do nada apenas para servir de suporte promocional a alguém que teve uma boa ideia. Quanto às empresas, do que conheço daquelas onde o profissionalismo e a gestão de recursos humanos são levados “a sério” e não se resumem à "abertura de processos disciplinares" - e como se deduz das afirmações dos profissionais referidos no artigo – estão atentas e, sem complicações ou legislação adicional desnecessária, mas com bom senso q.b e experiência acumulada, estarão perfeitamente à altura para lidar com o assunto. Aliás, a TAP já o provou.

sexta-feira, abril 02, 2010

Hymns (7)

The Choir of the Abbey School, Tewkesbury - "The Day Thou Gavest Lord Is Ended"

quinta-feira, abril 01, 2010

SLB-Liverpool

Em meia dúzia de linhas...

Pois o meu “glorioso” pareceu-me uma equipa demasiado nervosa, pouco rigorosa e desconcentrada, até provinciana, muito “excitadeca” e pouco racional, tudo o que não se deve ser contra aquelas equipas “chatas” e rigorosas de Rafa Benitez que parecem sempre saídas da playstation. Valeu que o árbitro exagerou na expulsão de Babel (deve ter percebido e compensou ao não expulsar Insúa, com um segundo amarelo, no primeiro penalty), que marcou muito o jogo, obrigando Benitez, como é seu timbre, a recuar as linhas e entregar Torres á sua sorte.

Vamos lá ver o que dá em Anfield...

História(s) da Música Popular (157)


The Lemon Pipers - "Green Tambourine"

Bubblegum (VIII)

Curioso, curioso nesta história da “Bubblegum pop” é que acaba por ser um tema "paredes-meias" com o psicadelismo o primeiro a atingir o #1 nas "charts". Nada de estranhar, se tivermos em conta corria o ano de 1968 e o ano anterior tinha inaugurado a era dos “summer of love”. Curioso, também, que o tema tenha vindo do Brill Building, via Paul Leka e Shelley Pinz; mas nada de espantar sabendo que era lá o centro do negócio da “pop music” e, por isso mesmo, havia que estar atento às modas emergentes e tendências sociais.

Pois o tema que inaugura a idade de oiro da “bubblegum music” chama-se “Green Tambourine” e foi gravado não por nenhuma das duas bandas mais emblemáticas do estilo-género, os Ohio Express ou os 1910 Fruitgum Company, mas por uns rapazes que existiam mesmo, até tinham pretensões a ser músicos “à séria” e se chamavam Lemon Pipers - que, por sinal, e oh! coincidência, tinham vindo do estado de Ohio. E, claro, a editora foi a Buddah Records, a mesma dos Ohio Express e da 1910 Fruitgum Company, para não variar.

Pois, que mais há a dizer? Bom, muito pouco, nestas coisas do “mastiga e deita fora”. Apenas ouvir e divertirmo-nos, enquanto tem cor, é doce e faz uns balões mesmo a preceito.

Tarzan (8)


"Tarzan's Desert Mystery" (1943)