quinta-feira, dezembro 31, 2009

"For sentimental reasons" - original doo wop classics (11)

The Five Keys - "Close Your Eyes"

Um despretensioso "post" de fim de década...

O vinho tem destas coisas... Ontem, ao abrir com bastante desconfiança a primeira de umas quantas garrafas de um singelo Cartuxa branco do já longínquo ano de 2005, guardado ou abandonado ao deus dará numa arrecadação de apartamento lisboeta com humidade a mais e temperatura “assim-assim”, dei com um vinho tão esplendoroso quanto um simples Cartuxa branco a tal pode aspirar. Para bem ou para o mal, acho, no final desta década tão pouco gloriosa, só um vinho, mesmo que despretensioso e talvez por isso mesmo, nos pode ainda surpreender...

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Anglophilia (69)

John Lobb shoes

A guerra (mesmo) aqui ao lado (42)

¡Obrero! Ingresando en la columna de hierro fortaleces la revolución.
C.N.T., F.A.I. Signed: Bauset.. A.I.D.C. Gráficas Valencia, Intervenido, C.N.T. U.G.T. Lithograph, 4 colors; 164 x 115 cm.


"In the poster, a Columna de Hierro (Iron Column) militiaman, gesturing portentously like a neo-classical orator, is calling on his fellow Anarchists to come and join the Column. "Worker!" he shouts, "Your entry into the Iron Column strengthens the revolution." The Iron Column was a Valencian militia unit that fought in the Teruel offensive during the first seven months of the conflict. In the first days of the war, the Column opened up the San Miguel de los Reyes Penitentiary and recruited several hundred of its inmates into its ranks. While a number of these recruits were Anarchists, many more feigned interest in the anarchist cause for the chance to get their hands on a rifle and indulge in some officially- countenanced aggression. In the weeks following, the Column gained a reputation as undisciplined and unpredictable, both at the front and away from it.
"
"Fiercely revolutionary, the Iron Column was against maintaining anything but the most tenuous ties to the moderate Popular Front government. Socialist prime minister Francisco Largo Caballero's call for militia reforms in September 1936 particularly infuriated the Column, which responded to the demand with mass desertions and insurrection. One historian recounts that in October 1936, "the Column abandoned the front ... and went on an expedition to Valencia spreading panic in its path. Its goal was to 'cleanse the rear of all parasitic elements that endangered the interests of the revolution.' In Valencia, it stormed hotels and restaurants, terrifying the city." At the conference of the anarcho-syndicalist trade union CNT in November 1936, an unyielding Iron Column representative told the gathering: "We accept nothing that runs counter to our anarchist ideas, ideas that must become a reality because you cannot preach one thing and practice another." Nevertheless, without the support of the CNT, whose leaders had backed the militia reforms, the Iron Column was unable to resist militarization for long. In the spring of 1937, the Column was dismantled and its members incorporated into the Eighty-Third Brigade of the Popular Army."

Copyright UC Regents 1998, All rights reserved

Os 30 pontos da Fenprof e o meu voto em futuras eleições

Segundo o “Público”, a Fenprof apresentou um conjunto de 30 pontos como indispensáveis para assinar um acordo com o Ministério da Educação. Claro que todos sabemos de antemão, sem necessidade de os conhecer, que a Fenprof nunca irá assinar qualquer acordo e, por isso mesmo, pelo menos um desses pontos será completamente inaceitável.

Tendo dito isto – o que constitui uma evidência -, eu, cidadão deste país no pleno gozo de todos os direitos civis e políticos, também me acho no direito de impor algo ao Ministério de Educação, mas como sou mais modesto contento-me com um único ponto: para tornar, mais alguma vez, a votar no PS, exijo que a ministra Isabel Alçada e o ministério que dirige acabem de vez com a chantagem da, e as cedências à, estalinista e ultra-conservadora Fenprof do sindicalista Mário Nogueira e não só a derrotem politicamente, condição essencial para qualquer reforma no sentido da melhoria do ensino público, como assumam de vez aquilo que é sua obrigação: avaliar de forma credível os professores com repercussões efectivas na sua progressão salarial, (cada um deve ganhar de acordo com o seu mérito), remunerar de forma diferenciada os professores consoante o grau de exigência das suas funções (quem leccione em turmas ou escolas problemáticas ou em zonas longínquas deve ser melhor remunerado), conceder maior autonomia às escolas na sua gestão e, dentro de parâmetros pré-estabelecidos, na selecção dos seus docentes, impor alguns critérios mínimos de disciplina nas aulas e assegurar as condições para que todos os alunos possam ter aproveitamento satisfatório sem exames “facilitistas” e com o mínimo de recurso às igualmente “facilitistas” reprovações.

Vale pouco – apenas um simples e hipotético voto futuro -, mas também muito, já que significa um dos meus principais direitos enquanto cidadão e do qual não estou disposto a abdicar: exprimir-me e votar livremente.

terça-feira, dezembro 29, 2009

Regimental Ties (5)


Royal Corps of Transport

A mudança de estratégia do Sporting Clube de Portugal

Basicamente durante toda esta década, e com especial incidência na sua segunda metade, a má gestão desportiva do SLB e a boa classificação do país no “ranking” da UEFA permitiram ao SCP adoptar uma estratégia de baixo investimento e de subordinação assumida a um FCP hegemónico, sem que isso penalizasse demasiado o clube em termos desportivos. Pelo contrário, acaba mesmo a década como o segundo clube com melhor "performance" durante a sua vigência, o que, para mal do meu "glorioso", revela o êxito das suas opções.

O “ressurgimento” e o forte investimento do SLB neste último ano, com a sensação de que uma viragem na gestão desportiva do clube pode estar em curso com reflexos nos respectivos resultados, bem como a ameaça que o SC Braga pode representar no curto prazo e o estreitamento no acesso à Champions League, obrigaram a administração do SCP a rever a estratégia a meio de uma época, algo que comporta sempre alguns riscos, lançando-se num programa de investimentos nunca visto nos últimos anos. Mas atenção: não só o SCP não apresenta a capacidade de financiamento/endividamento do seu rival SLB (e este é um dos seus problemas), como também andará muito longe da sua capacidade potencial para gerar receitas e um retorno adequado a esse investimento. O risco de, apesar do esforço actual, continuar ser o terceiro investidor e o terceiro orçamento, com todas as suas possíveis consequências ao nível dos resultados desportivos, não estará afastado, e lembremo-nos das afirmações certeiras de José Eduardo Bettencourt ao reconhecer que o seu clube “gastava de mais para ser apenas terceiro e de menos para poder ser algo mais do que isso” (cito de cor). Acresce que esta nova estratégia, em face do afunilamento actual do acesso à CL e das exigências que os adeptos por certo não deixarão de apresentar, não será mais compatível com a aliança tácita com o FCP vigente durante a década, o que obrigará o SCP, digamos, a lutar em duas, eventualmente três, frentes: SLB, FCP, SCB.

Significa isto que, embora não tendo outra alternativa estratégica na conjuntura actual, o SCP bem pode estar a dar “um passo maior do que a perna” e os seus rivais, ao “obrigarem-no” a um maior investimento (quiçá incomportável) para poder competir, podem estar, qual Ronald Reagan da “Guerra das Estrelas” perante uma URSS decadente, a forçar o seu desgaste ou mesmo futura implosão.

Link Wray & Dick Dale (8)

Dick Dale & His Del-Tones - "The Wedge"

segunda-feira, dezembro 28, 2009

"Lucy in the Sky with Diamonds (26)

Canned Heat & Iron Butterfly

O "posicionamento" do governo e o orçamento 2010

Num ano de transição entre a crise e uma retoma tímida e ainda pouco consistente para nela se confiar a 100%, muito mais importante do que nos deitarmos a adivinhar com quem o governo vai aprovar o próximo orçamento (alguém se chegará à frente, disso não tenhamos dúvidas, e não serão o PCP ou o “Bloco”) ou quais os ministérios prejudicas ou beneficiados, exercício a que os “media” costumam dar grande importância, será analisar o “balanço” (equilíbrio), tanto em termos quantitativos como qualitativos (isto é, como e onde vão incidir) entre os incentivos ao crescimento e as medidas de controle e diminuição do “déficit” e do endividamento. Será essa a verdadeira “pedra de toque” da governação e que, portanto, irá determinar o “posicionamento”, deste governo. E será, em grande parte, dessa atitude e desse posicionamento que irão depender muitos dos comportamentos das agências e instâncias internacionais face a Portugal.

Não me parecendo ajuizado em 2010, numa conjuntura ainda incerta, adoptar desde já uma atitude demasiado radical no controle da despesa, parece-me, contudo, que, perante o cenário futuro, não existirá qualquer razão ou argumentação de forte peso que justifique, perante a necessidade de diminuir essa despesa e, simultaneamente, transferir recursos para quem perdeu o emprego ou usufrui de pensões mais baixas, um qualquer aumento da massa salarial da função pública, com a possível, mas mesmo assim modesta, excepção dos salários mais baixos.

Com pouca esperança... mas aguardemos.

sábado, dezembro 26, 2009

Mensagens de Natal e Ano Novo

Se números sobre as audiências das mensagens de Natal e Ano Novo das várias personalidades públicas são medidos e disponibilizados pela audiometria, seria interessante avaliar- e é possível fazê-lo – qual a percentagem da audiência efectiva que conseguiu reter e é capaz de reproduzir a linha geral de alguma dessas comunicações ou recorda alguma das ideias nelas contidas.

O Natal 2009, o casamento homossexual e o activismo católico

As bandeiras com o Menino Jesus substituíram os pais natais trepadores neste Natal de 2009. Apesar de tudo, sempre acabam por denotar alguma pequena evolução no sentido do gosto. Mas, à parte essa evolução, não consigo deixar de pensar que a esta migração ostentatória da simbologia católica das procissões do campo para as janelas do centro privilegiado da cidade, da conversão e transferência da pregação católica anticomunista de antanho dos púlpitos e dos párocos das igrejas de província para a discussão actual sobre a "dissolução" da família e dos costumes nos fóruns de opinião mediáticos, revela uma crescente perda do seu carácter popular e rural em favor de uma igreja mais intelectualizada e de um activismo protagonizado preferencialmente pelas classes altas urbanas. Sinais dos tempos e de um Papa, talvez, mas também de que os católicos, qual pequeno partido radical marxista-leninista dos anos 60 (que ambos me desculpem a comparação), tendem a reduzir-se a um grupo cada vez mais minoritário na sociedade portuguesa, compensando essa tendência com um cada vez maior activismo, pureza ideológica e produção intelectual.

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Natal 2009 (3)

J. S. Bach - Weihnachtsoratorium BWV 248 - Cantata I
Sibylla Rubens, soprano
Elisabeth Kulman, alto
Martin Petzold, tenor
Andreas Scheibner, baritono
Münchener Bach-Chor
Bach-Collegium München
Peter Schreier, conductor and Evangelist

terça-feira, dezembro 22, 2009

Hot Clube

Herb Geller ao vivo no Hot Clube (9 de outubro de 2007)
Em vez de gastar dinheiro e energias com a parolice dos aviões às cambalhotas, seria bem melhor que a CML colaborasse com o Hot Clube de Portugal - um ex-libris da cultura lisboeta - para que este possa retomar a sua actividade brevemente e, claro, em melhores condições, sem que isso signifique perder o que quer que seja do seu carácter: boa música, bom ambiente e bom whisky a preços “honestos”.

Aqui fica o solidariedade deste “blogue”.

Les Belles Anglaises (XXXVI)










Arnolt-Bristol (1954-1961)

Giallo (2)





"Sei Donne Per L'Assassino", de Mario Bava (1964)

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Os professores e a "excelência"

Segundo notícia do “Público”, o Bloco de Esquerda argumentou contra o facto de, com a aplicação do modelo de avaliação de professores proposto pela actual equipa do Ministério da Educação, apenas 25% dos professores poderem ser considerados “muito bons” ou “excelentes”. Pois a mim, ao fim de mais de três dezenas de anos de trabalho em e com empresas onde se leva a sério a formação, avaliação e classificação dos seus colaboradores, o que me espanta é exactamente o contrário, isto é, que em qualquer profissão, e mais especificamente, pelo que vejo e oiço, na dos professores, possam existir 25% de profissionais que mereçam ser avaliados com tais classificações. Se me dissessem 5% acho andariam bem mais perto da verdade!

"For sentimental reasons" - original doo wop classics (10)

The Royaltones - "Crazy Love"

Notas breves sobre uma vitória saborosa

  1. Claro que Saviola marcou o golo e Carlos Martins fez uma bela primeira parte no lugar de Aimar; aliás, sempre afirmei que, lesões à parte, é a melhor alternativa ao argentino. Também Urreta terá sido uma boa surpresa, mas, melhor ou pior, não me lembro de o ver fazer um mau trabalho sempre que é chamado. No entanto, para mim, o melhor em campo terá sido Javi Garcia, o pêndulo desta equipa. Alguém se lembra de o ter visto cometer um único erro durante todo o jogo ou de não estar no sítio certo?
  2. Uma nota para David Luiz, cuja imaturidade tantas vezes aqui tenho assinalado. Apesar de um cartão amarelo – correspondendo o árbitro a um pedido nortenho que já tem cerca de um mês - soube sempre manter longe a má exuberância e chamar apenas a boa. Mais: já depois de ter visto o cartão, soube sempre manter-se bem longe daqueles “ajuntamentos” onde não raro cabeça e o sangue sobem de temperatura. Porque não se comporta sempre assim?
  3. Uma última nota: este foi o FCP mais fraco e com menos ambição que, desde há muito, me lembro de ver na Luz.
  4. Um agradecimento aos comerciantes chineses: um guarda-chuva de apenas €4, comprado propositadamente para o efeito pelo seu baixo preço uma hora antes, protegeu da intempérie dois ferrenhos benfiquistas entre a estação de metropolitano do Alto dos Moinhos e a "revista" de segurança na entrada do estádio da Luz, onde foi deixado como manda a lei. Apenas umas centenas de metros e pouco mais de uma hora de vida útil, mas um serviço inestimável.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Os pedidos de Jorge Jesus


Júlio César foi um pedido de Jorge Jesus. Luís Filipe, César Peixoto e Weldon também. Agora é a vez de Durval. Ainda bem que Cardozo, Saviola, Luisão, David Luiz, Aimar, Coentrão, Di Maria, Ramires, Sidnei, Maxi Pereira, Javi Garcia, Rúben Amorim não foram pedidos de Jorge Jesus! Livra!

O Senhor Presidente da República e as suas incongruências

O Senhor Presidente da República diz que “não se deixa arrastar para lutas partidárias”, mas mantém em Belém o seu assessor Fernando Lima que, com a sua conivência, deixou arrastar a Presidência para o grau zero dessas mesmas lutas partidárias naquele que constituiu um dos mais vergonhosos casos da democracia portuguesa. Para já não falar da sua atitude quando da visita à Região Autónoma da Madeira, dando cobertura ao desprezo do chefe de governo da Região - eleito por um dos partidos, por sinal também o seu - pela Assembleia Regional e, desse modo, pela própria democracia e por si próprio, enquanto presidente eleito por sufrágio directo e universal de um Estado democrático.

O Senhor Presidente da República diz que não comenta o “casamento entre pessoas do mesmo sexo” mas, de seguida, ao declarar:

“A minha atenção está noutros problemas, no desemprego do país, no endividamento do país, no desequilíbrio das contas públicas, na falta de produtividade e de competitividade do nosso país”. “Eu procuro empenhar-me fortemente na união dos portugueses e nada fazer que provoque fracturas na sociedade portuguesa e, isto, porque eu sei muito bem, até como economista, que apenas através da união dos portugueses nós conseguiremos uma mais rápida recuperação económica e criação de emprego” “ É com estas últimas questões que se preocupa e não com outras” “É com os quinhentos e muitos mil” desempregados que está preocupado”

está, nada mais nada menos, e independentemente da gravidade dos problemas que aborda e do verdadeiro programa político implícito nestas suas afirmações, qual “piscar de olho” aos que, à direita, advogam a “presidencialização” do regime, a tomar como sua a argumentação dos partidos que se opõem a esse mesmo casamento homossexual, deixando-se assim embrenhar nas lutas partidárias das quais – diz – pretende afastar-se.

Mais ainda, o Senhor Presidente da República não é o ministro das finanças, é o Supremo Magistrado da Nação – uma nação democrática, note-se – e, enquanto tal, (é bom que alguém lho diga), talvez não fosse má ideia, pelo menos de vez em quando, pronunciar-se também sobre questões eminentemente políticas e dar a sua contribuição positiva para questões essenciais a um Estado de Direito, tais como a igualdade dos cidadãos perante a lei, os direitos liberdades e garantias, o acesso democrático à Justiça, o aprofundamento da democracia e dos seus valores, da liberdade e da não discriminação em função de raça, credo, orientação sexual, dos direitos das minorias, das questões da UE, etc. Mas não: o Senhor Presidente da República já demonstrou, mais do que uma vez, que tem da democracia uma visão meramente instrumental e que os atropelos democráticos o não preocupam de sobremaneira.

Por fim, e como se tudo isto não fosse já suficientemente grave, o Senhor Presidente da República, que diz não se querer envolver nas lutas partidárias e não perde oportunidade de mostrar o seu “nojo” pela política, profissão que há trinta anos abraçou, usa e abusa dos golpes de baixa política e do cinismo e da hipocrisia característicos dos políticos medíocres nas suas declarações sobre o país. Mais ainda, essas suas críticas continuadas aos partidos e constantes apelos à unidade dos portugueses, como se todos os portugueses fossem iguais e não existisse diversidade de pensamento político, não me parece contribuam em nada para o reforço do regime democrático (sem partidos e alternativas políticas não existe democracia), engrossando, isso sim, as fileiras dos que, assumida ou veladamente, conspiram para o seu fim. Não me parece isso seja digno da Presidência da República e contribua para o prestígio do cargo que Aníbal Cavaco Silva transitoriamente ocupa, mas parece-me há muito deixaram de ser essas as suas preocupações - se é que alguma vez o foram.

História(s) da Música Popular (150)


The Beatles - "Please Mr. Postman"

"Under The Influence" - The original songs of the "British Invasion" (XXXIII)

O que há de mais interessante com as Marvelettes é que, ao contrário das Shirelles e das Cookies de “Chains” - os outros “girl groups" “cobertos” pelos Beatles - não fazem parte da “trupe” do Brill Building de NY: são, isso sim, uma descoberta de Berry Gordy, da Tamla Motown e, como o próprio nome indica, de Detroit, a “motor city”. Aliás, “Please Mr. Postman”, o primeiro tema editado pelas Marvelettes, em 1961, foi mesmo, simultaneamente, o primeiro #1 da editora que tantos haveria de conseguir nos anos futuros através de “girl groups” bem mais famosos como as Supremes e Martha & The Vandellas, cujo caminho foi desbravado, a partir desse ano de 1961, por estas mesmas Marvelettes de Gladys Horton e Wanda Young. Mas, curiosamente, e talvez porque os primeiros também podem ser os últimos, “Please Mr. Postman” foi também o único tema das Marvelettes a atingir o #1, ainda a “British Invasion” estava e estaria para chegar e ficar. De qualquer modo, apesar do som Motown já fazer aqui das suas, acho ainda há um toque não negligenciável de Brill Building a espreitar, neste primeiro tema das Marvelettes.

Quanto aos Beatles”, o tema foi incluído no seu álbum “With The Beatles”, editado em 1963 e o seu segundo. Dá então para comparar?

Link Wray & Dick Dale (7)

Link Wray - "Street Fighter"

quinta-feira, dezembro 17, 2009

A "união civil registada" do PSD

O PSD vai propor na AR uma “união civil registada para pessoas do mesmo sexo”. Parece que tal união civil registada é, em linguagem jurídica, “um instituto autónomo jurídico que consubstancia em direitos e deveres entre pessoas do mesmo sexo". Já agora, alguém me explica o que é o casamento senão uma “união civil registada”, embora, até agora, para pessoas de sexo diferente? Assim sendo, não será bem mais simples efectuar uma pequena alteração na lei já existente, eliminando a discriminação sexual, do que complicar o assunto criando uma nova lei aplicável a cidadãos de segunda? Ou a questão não será bem essa e o PSD, talvez por aceitar apenas “assim-assim” a laicidade do Estado, ainda estará a confundir o casamento civil com o sacramento católico do matrimónio?

E o prémio "país de tristes" 2009 vai para...

Ex-aequo

  • A "guerra" entre as autarquias do Porto, Gaia e Lisboa por aquela bimbalhice de "os aviões a voar e as meninas a aprender" - qual "oh, patego!, olha o balão" - a que dão o nome de "Red Bull Air Race". É que talvez não fosse má ideia preocuparem-se com outras coisas para lá do "pão e circo" e dos aviões às cambalhotas.
  • O "cházinho" oferecido por Maria Cavaco Silva às senhoras da Cimeira Ibero-Americana ou, muito pior do que isso, aquela ideia do "bolo-rainha" e do público e efusivo abraço a D. Sofia de Espanha. "Ele" há mesmo quem não tenha a noção do ridículo! Que vergonha!

The Saturday Evening Post Christmas (4)


"Doping" na RDA

Ontem, dei por mim, depois da meia noite, a ver no canal “História” um pequeno documentário sobre o “doping” na RDA. Claro que “doping” existe e existiu em muitos países, mormente nos USA (para que não me acusem já de mil e uma coisas “terríveis”...), e o velho Joaquim Agostinho bem dizia que ninguém subia os Alpes e os Pirinéus de bicicleta só a comer bifes com batatas fritas. Nem, acrescento eu, corre os 100 metros em bem menos de 10’' só à custa de compostos vitamínicos. Mas o que de mais chocante tem esse documentário é o modo como, à “boa” e velha maneira da “Solução Final”, num estado totalitário, tudo é feito de modo programado, metódico, sistematizado e, pior ainda, dirigido pelo próprio Estado e envolvendo a delação e a polícia política (Stasi). No meio de tudo isso, do modo como tudo se processou, desse universo concentracionário que parece retirado de um filme actual de ficção científica, alguns dos terríveis “efeitos secundários” apresentados no final até quase chegam a parecer um mal menor...

quarta-feira, dezembro 16, 2009

A actividade do governo e a sua ligação à estratégia do PS

Ao enviar já em Janeiro para a AR o diploma sobre o casamento homossexual (com o qual, aliás, concordo) e colocando agora e uma vez mais na “ordem do dia” a questão da regionalização (com a qual discordo em absoluto), tudo isto em conjunto com as cedências aos sindicatos na questão da educação e uma certa - digamos que – ausência sentida da actividade do governo em outras matérias onde deveria estar bem presente, José Sócrates e o PS parecem ter essencialmente um único objectivo em vista: tornar a base de apoio ao partido o mais abrangente possível para o caso de eventuais eleições legislativas já em 2010.

"Arte Popular no "Estado Novo" (14)

Mural de Carlos Botelho - Museu de Arte Popular

Tango aus Berlin (7)

Renate Müller - "Liebe ist ein Geheimnis"

Da "vontade" do eleitorado ou da sua não existência enquanto entidade colectiva

Continuo a ler e ouvir por aí afirmações (da esquerda á direita: a distribuição, neste caso, é muito democrática) de que “o eleitorado quis isto”, o “eleitorado decidiu aquilo”, etc, etc. Trocando por miúdos "para militar e loira perceberem": “o eleitorado não quis dar a maioria absoluta ao PS”, “o eleitorado quis que o PS governasse em coligação ou com apoio de outros partidos”, “o eleitorado quis uma maioria de esquerda na AR”, o eleitorado não quis “pôr todos os ovos no mesmo cesto” (esta é muito usada quando das eleições presidenciais...) e por aí fora. Sejamos claros: o eleitorado, enquanto entidade colectiva dotada de uma vontade própria homogénea, não existe. Pelo contrário: esse eleitorado é apenas um aglomerado de vontades individuais, diversas e por vezes mesmo contraditórias, e essa constitui mesmo uma das características essenciais da democracia liberal, aquela que se baseia no indíviduo e não na vontade das corporações. Muitos, talvez mesmo a maioria dos que votaram PS, teriam preferido o partido governasse sozinho, em maioria absoluta; outros em coligação ou com o apoio do BE; outros sonhariam com o Bloco Central e assim sucessivamente. Do mesmo modo que muitos dos que votaram PSD ambicionariam também a maioria absoluta ou a coligação com o CDS, assim como outros ansiariam pelo Bloco Central ou com uma Grande Coligação do centro-esquerda á direita. Quem sabe? Podíamos continuar por aí fora, mas não vale a pena.

Significa isto que tudo o que seja extrapolar dos resultados eleitorais para definir e interpretar (por quem?, com que direito?) a “real e verdadeira” vontade do “eleitorado”, do “povo”, para além do facto da soma dos eleitores, pura e simplesmente, ter dado X% dos seus votos ao PS, Y% ao PSD, Z% ao CDS, etc, com as várias consequências que isso possa ter para a formação do governo e para a governação, me parece ser perfeitamente abusivo e, até, conter em si mesmo alguns tiques e resquícios de um totalitarismo a expurgar. Interpretar a “verdadeira” vontade do “povo”? Sabemos onde isso nos leva ou, mais propriamente, todos sabemos como começa, mas nunca sabemos como acaba. E muitas, demasiadas vezes, acaba mal!

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Portugal: o reino do imaginário

Por vezes, este país mais se parece com um qualquer reino imaginário, onde tudo se passa ao contrário da vida real e, portanto, os seus habitantes se regozijam com a anormalidade e mostram o seu desconforto, por vezes mesmo a sua indignação, quando as coisas correm como é suposto acontecerem no mundo não virtual.

Sempre supus que quem contrata um advogado (empresa, instituição, pessoa singular ou colectiva) espera que ele defenda os seus interesses. De acordo com a lei, claro está, mas que, em última análise, defenda os interesses da entidade contratante que para isso lhe paga. Pois parece que em Portugal - este reino imaginário - não é bem assim ou é apenas mais ou menos e somente “todos os de vez em quando”, e o facto de um advogado contratado por uma entidade pública, em vez de defender essa mesma entidade (friso, uma vez mais, de acordo com a lei), decidir entrar em regime semelhante ao da autogestão e por isso ser negativamente avaliado por quem o contratou, com as respectivas consequências, é objecto de escândalo público.

Vá lá, importam-se mesmo, por um bocadinho que seja, de sair da fábula, do reino do imaginário, das princesas e das fadas, e voltarem, nem que seja só por um instante e para verem como é, ao mundo da realidade? É que talvez desse algum jeito!...

O "Magalhães" de "nuestros hermanos"

Nas "guerras" do "Magalhães", por cá, ainda ninguém se lembrou desta.

George Romero (3)


George Romero - "Land of the Dead" (2005)

Ando há uns dias para dizer isto, mas preferi deixar passar o ruído

Devo dizer não alinho no coro de virgens ofendidas, tendo na sua base, frequentemente, nada mais do que um sentimento anti-parlamentar e anti-democrático, protestando contra o facto de Maria José Nogueira Pinto ter chamado “palhaço” a um deputado do PS e este ter respondido “já nem sei bem o quê”, mas em termos a condizer. Estamos numa discussão entre pares, numa assembleia democrática, e discussões que, por vezes, chegam a raiar o insulto pessoal são sempre possíveis num qualquer fórum deste tipo, no calor da argumentação e do debate. Prefiro isso aos falsos consensos, às “falinhas mansas”, ás negociações traficadas do tipo daquela que deu origem ao acordo sobre o endividamento madeirense. Desde que de modo não recorrente e respeitando a ordem regimental, devo dizer também prefiro um insulto, aqui e ali, como resultado de uma discussão política entre quem acredita nas suas ideias, do que horas e dias a fio perdidos em debates em que a política “pura e dura” está tantas vezes ausente.

Tendo dito isto, devo, no entanto, também afirmar que acontecimentos deste tipo nada tem a ver com os “corninhos” do ministro Pinho dirigidos ao deputado do PCP Bernardino Soares ou com os “conselhos” do primeiro-ministro dirigidos a Paulo Portas no final do último debate. Não estamos aqui já entre pares, entre iguais, mas num debate entre dois orgãos de soberania distintos (Executivo e Legislativo), um deles emanando da Assembleia da República eleita pelos portugueses e que, enquanto tal, deve merecer o respeito de todos os cidadãos e, muito especialmente e acima de todos eles, dos membros do governo que dela emana.

"When I woke up this morning" - original blues classics (26)

Leadbelly - "See See Rider"

domingo, dezembro 13, 2009

"e-escolas" e "e-escolinhas" ("Magalhães") na "Quadratura do Círculo" por António Lobo Xavier: para se perceber o que está em causa

O “Gato Maltês” anda muito “numa” de recomendar a palavra dos outros. Hoje recomenda a excelente análise de António Lobo Xavier, na “Quadratura do Círculo”, aos programas “e-escolas” e “e-escolinhas” (“Magalhães”), salientando, numa exposição clara e didáctica, os seus vícios e virtudes, qualidades e defeitos e dissecando, sem recurso a demagogia ou populismo, o modo, nem sempre correcto ou isento de fins propagandísticos, como os projectos foram geridos pelo governo.

Tudo isto perante um discurso confuso e pouco objectivo do ex-ministro Mário Lino (que me pareceu muito mal preparado) e as patéticas tentativas de José Pacheco Pereira tentando apenas, com recurso à demagogia e populismo que, infelizmente, se tornaram dominantes no PSD actual, tirar, a qualquer preço, dividendos políticos da situação, mesmo que para isso fosse obrigado a raciocínios enviesados e obtusos.

Vale a pena ver e ouvir para entender o que está em causa.

Stalag Fiction (2)

Porque não consegue o SLB "virar" os resultados?

A pergunta é: porque não consegue o SLB inverter os resultados quando o adversário marca primeiro? Independentemente de razão “psicológicas”, de estofo e maturidade competitiva, focados no “post” anterior, existe para o facto um explicação bem racional: o modelo de jogo do SLB, na base das transições rápidas pelas alas ou pelo meio por via das tabelas em que intervém Aimar, funciona muito bem quando o adversário se desequilibra e/ou desposiciona nas suas transições defensivas. Quando isso não acontece e o adversário, porque defende uma vantagem já conquistada, ocupa convenientemente aquele espaço interior entre a sua grande área e o meio campo, onde, com a tendência de Di Maria (ou Coentrão) e Ramires - mais Maxi - para jogarem pelas alas e de Garcia para se encostar aos centrais, apenas joga Aimar, com as suas limitações físicas bem conhecidas, a equipa teria de conseguir obter esse desequilíbrio e desposicionamento do adversário à custa de uma rápida e variada circulação de bola, modelo onde a equipa, por falta de rotinas mas também de jogadores com perfil para tal, se sente manifestamente mal: falha demasiados passes, é demasiado lenta e, claro, tende a perder a bola nas “cavalgadas” inconsequentes de Di Maria por terrenos demasiado povoados. Digamos que quando é impedida de jogar no seu modelo preferencial, a equipa enerva-se e parece ficar à deriva, qual peixe fora de água, e os seus jogadores mais parecem uns “patarecos” e não mais executantes de talento. Acresce também que a conquista da bola no meio-campo adversário por via da “pressão alta”, situação ideal para iniciar as transições ofensivas com o adversário desequilibrado, são também mais difíceis quando esse adversário não tem necessidade de ir à conquista do resultado e serão também cada vez mais raras ao longo da época com o desgaste de jogadores como Aimar, Cardozo e Saviola (menos Di Maria ou Coentrão), que, por muito esforço que façam, não são atletas muito vocacionados para tal actividade.

Solução? Mantendo o seu modelo de jogo preferencial e adquirido, o SLB terá de, rapidamente, melhorar o modelo alternativo de posse e circulação rápida de bola. Sem isso sofrerá certamente alguns desgostos.

sábado, dezembro 12, 2009

"Harakiri"

Braga: O SLB sofre logo de início um golo de bola parada. Vê um golo legal ser-lhe anulado e descontrola-se e desconcentra-se, entrando em picardias que lhe valem a expulsão de um jogador-chave. Resultado: perde o jogo e perde Cardozo para os jogos seguintes, o que pode ter estado na base da eliminação da equipa da Taça de Portugal.

Alvalade: Perante o SCP mais fraco dos últimos anos, uma equipa amedrontada com a hipótese de derrota assume desde o início como objectivo apenas não perder o jogo. Empata assim um jogo que poderia e tinha obrigação de ter ganho.

Olhão: Num jogo de extrema importância, que lhe permitiria, em caso do vitória, jogar em casa contra o FCP, seu adversário directo, com três pontos de avanço, o SLB sofre de início um golo de bola parada, num lance em parece não existir falta (foi critério ou erro do árbitro e por isso não o contesto). Pouco depois, com algum exagero do árbitro, fica a jogar em superioridade numérica, consegue empatar e, na perspectiva de jogar quase todo o jogo contra dez adversários, comete harakiri com a agressão de Di Maria, um jogador com muito pé esquerdo mas com muito pouco cérebro (escolhe demasiadas vezes a pior opção de jogo). A equipa enerva-se. Finalmente, consegue empatar no último minuto, mas perde, por culpa própria, Di Maria e Coentrão (David Luiz esteve por um fio...) para o jogo contra o FCP (Ramires é um contingência do jogo), o que vai fazer, em conjunto com o empate de Olhão, com que a equipa possa vir a entrar nesse jogo psicologicamente em desvantagem e ainda mais desconfiada de si própria

Falta de estofo? Imaturidade? Talvez... Eventualmente, fruto de um treinador que - ao contrário de Jesualdo Ferreira, por exemplo - parece ser muito melhor a "electrizar" a equipa do que a contribuir para a sua maturidade, força mental e concentração competitiva.

The Roulette Years (10)

The Playmates - "Beep Beep"

Noir (9)




"Strangers On A Train", de Alfred Hitchcock (1951)

quinta-feira, dezembro 10, 2009

História(s) da Música Popular (149)

The Shirelles - "Boys"

The Shirelles - "Baby It's You"
"Under The Influence" - The original songs of the "British Invasion" (XXXII)
Os “girl groups” floresceram nos USA nos anos 50 e 60 do século passado, na sua grande maioria com uma forte ligação a produtores e compositores do Brill Building. Phil Spector terá sido o “primus inter pares”, no caso dos produtores, tendo mesmo casado, para o bem mas mais para o mal, com Ronnie Bennett, depois Spector. Dos compositores que estiveram por detrás dos “girl groups” claro que Gerry Goffin e Carole King, Barry Mann e Cynthia Weil e Jeff Barry e Ellie Greenwich, talvez os mais emblemáticos do Brill Buildig, ocuparam lugar de relevo, mas também Leiber e Stoller, Burt Bacharach e Hal David e até mesmo o fantástico trio da Motown Holland (Brian)-Dozier- Holland (Edward).

Sobre algumas das várias histórias que envolveram os “girl groups”, e também sobre alguns deles, já por aqui falei no capítulo dedicado ao Brill Building. Resta-me acrescentar que também a “British Invasion” e o seu mais emblemático grupo, os Beatles, não foram alheios ao seu fascínio e por ele se deixaram “embeiçar”. Assim, da sua discografia oficial “não póstuma” fazem pelo menos parte quatro temas originais de “girl groups”: dois das Shirelles, “Boys” e “Baby It’s You”, de 1960 e 1961, sendo o segundo da autoria de Bacharach e David (o único tema da dupla que os Beatles gravaram) e ambos incluídos no álbum Please Please Me, de 1963, “Chains”, das Cookies (1962 – Goffin e King), incluído no mesmo álbum e “Please Mr. Postman”, das Marvelettes (1961), incluído no álbum With The Beatles, de 1963.

Comecemos pois pelas Shirelles... com a surpresa de “Boys” ter sido o primeiro tema gravado pelos Beatles interpretado por Ringo.

A propósito de Medina Carreira e etc: um "post" contra o pessimismo catastrofista e para os que têm a memória curta

Quando comecei a trabalhar, entre o 25 de Abril de 74 e o 11 de Março de 75, ainda frequentava a universidade, numa empresa que integrava um dos maiores grupos económicos de então, depois nacionalizados, um número ainda significativo de directores, gestores e quadros médios das maiores empresas, com a excepção dos cargos de natureza muito técnica (engenheiros, por exemplo) não possuía uma licenciatura ou, sequer, frequência universitária. Mais, em Portugal não existiam MBAs e os portugueses que demandavam universidades estrangeiras para os frequentar contavam-se pelos dedos das mãos e frequentemente por lá ficavam, nesses países de destino. Portugueses com funções de relevo nas grandes empresas internacionais, fora de Portugal, eram talvez ainda mais raros. Uma maioria dos recém licenciados, à parte a ida à guerra colonial, nunca se tinha deslocado ao estrangeiro, exceptuando uma ou outra possível deslocação a Espanha na viagem de finalistas. Acabada a licenciatura e cumprido o serviço militar, era frequente começar a carreira profissional aos 26 ou 27 anos. As qualificações para candidatura a funcionário de um banco ou seguradora eram o antigo 5º ano de liceu (actual 9º) e para se ser vendedor, mesmo nas multinacionais de produtos de consumo, onde essa tarefa era essencial, bastava a 4ª classe e ter algum jeito, vulgo, ser simpático, afável e bom argumentador.

Se olharmos para o que se passa hoje em dia em Portugal, os cargos de direcção e administração das grandes empresas são preenchidos, praticamente na sua totalidade, por licenciados em áreas relevantes para as funções que ocupam. Muitos deles, bem como executivos e quadros médios, principalmente de idades inferiores a 45 anos, possuem MBAs, muitos obtidos em universidade de grande prestígio a nível internacional. Para além disso, um número cada vez maior de jovens portugueses viaja na adolescência, terminado o secundário, através do “interrail”, abrindo assim os seus horizontes e conhecendo outras realidades. É também comum terem frequentado uma universidade estrangeira, durante seis meses ou um ano, ao abrigo do programa Erasmus. Penso ninguém seja admitido como funcionário bancário sem uma licenciatura, o mesmo acontecendo para vendedor nas grandes empresas onde essa função é chave.

É ainda pouco? Claro que sim e falta elevar o nível educacional da grande maioria, o que demorará uma ou duas gerações pois é difícil fugir ao facto “filho de alguém instruído, com maior facilidade instruído será”. O ensino é, genericamente, medíocre? Em demasiados casos, ainda assim será e temos obrigação de ser mais exigentes; mas seria com certeza difícil acontecer de outro modo face à massificação dos anos 80. Mas também dentro de uma geração um número já significativo de jovens portugueses saberá falar e escrever num inglês razoável, talvez também em castelhano, o que actualmente não acontece. Dominará as novas tecnologias com facilidade.

Razões para preocupações no presente? Muitas, como nos dizem a Grécia e a Irlanda. Mas também consciência do caminho percorrido e de que algum já foi desbravado para quem o quiser percorrer.

The Saturday Evening Post Christmas (3)

quarta-feira, dezembro 09, 2009

Medina Carreira, o mensageiro e a credibilidade da mensagem

Existem questões em que subscrevo as opiniões de Medina Carreira; noutras nem tanto assim, mormente no seu pessimismo militante, na sua visão apocalíptica para o país e no seu quase permanente apelo ao “golpe de estado” que em nada contribuem para um debate sério e para a resolução dos problemas do país. Mas reconheço as suas opiniões – como disse, algumas certas - tiveram em tempo alguma importância no alertar de consciências e no lançamento de um debate aprofundado. Mas devo também dizer que, independentemente da razão ou não-razão que diversamente lhe assiste, da maior ou menor verdade das suas afirmações, expressões como “aldrabice e trafulhice” - referindo-se ao programa “Novas Oportunidades” -, frases como “as escolas produzem analfabetos” ou “o que é que vai fazer com esta cambada, de 14, 16, 20 anos que anda por aí à solta? Nada, nenhum patrão capaz vai querer esta tropa-fandanga”, epítetos de “mentirosos e incompetentes” atribuídos aos governantes, podem dar boas manchetes, agradar ao “povo da SIC”, engrossar o populismo reinante e o “caldo de cultura” de “fim de regime” (mas qual seria o próximo?), mas em nada contribuem para elevar o debate, atribuir a dignidade necessária a quem as profere (o próprio Medina Carreira) e, assim, credibilizar o seu autor e respectivas afirmações, como disse, algumas delas porventura certeiras. Assim, todos perdemos.

E é pena que Medina Carreira, um homem superiormente inteligente, ainda não tenha entendido isso.

Stalag fiction (1)

terça-feira, dezembro 08, 2009

Mistérios da "bola"...

Confesso que depois de muitos anos a ver futebol ainda existem factos e situações que me causam estranheza e para os quais não encontro explicação. Por exemplo: alguém me explica, de modo convincente, a razão porque Hans-Jörg Butt, guarda-redes titular do Bayern München, que hoje se apurou para os 1/8 de final da Champions League, não serviu para o “meu” SLB, raramente tendo jogado? Mistérios...

SIX-FIVE Special (3)

1. Don Lang and His Frantic 5 - "Boy Meets Girl"
2. Russ Hamilton - "I Had A Dream"

A Fundação para as Comunicações Móveis, o seu controle pela AR e as prioridades do PSD

Nada tenho contra a formação de uma comissão de inquérito parlamentar à Fundação para as Comunicações Móveis. Parece-me, até, uma excelente ideia, já que controlar e zelar pela boa aplicação dos dinheiros públicos é uma das principais funções da Assembleia da República, quaisquer que sejam o governo ou a composição da câmara. Mas tendo dito isto, faço notar duas coisas: em primeiro lugar que tudo seria bem mais eficaz se a AR pudesse receber em devido tempo, neste e em outros casos semelhantes, periodicamente e de forma normalizada (ou até ser-lhe disponibilizada “online”, pois para tal foram os deputados dotados recentemente de tecnologia apropriada: não deve lá estar só para enfeitar ou para poderem ler as notícias da "bola"...), a informação necessária, isto é, ainda a tempo de uma acção que corrija eventuais desperdícios, irregularidades ou até mesmo ilegalidades e não quando pouco já há a fazer a não ser denunciá-los “a posteriori”; em segundo lugar, lamentar que casos bem mais graves não tenham dado origem a semelhante escrutínio e que apenas a FCM ou, mais propriamente, o “Magalhães”, objecto da galhofa e do anedotário nacional pelas razões erradas (distribuir computadores pelas crianças gratuitamente ou a preços reduzidos é, na sua essência, um projecto que tem muito de positivo) e não por aquilo que deveria ter sido seriamente questionado em devido tempo, seja objecto de investigação. Mas compreende-se: o “Magalhães” é um projecto emblemático do governo de José Sócrates e a opinião publicada afecta ao PSD, aproveitando os erros e a gestão demasiado propagandística do projecto por parte do governo, foi-se encarregando de, ao longo do tempo, deitar à terra as sementes do populismo que tem presidido à imagem que do “Magalhães” construiu uma parte, talvez significativa, da opinião pública. Enquanto isto acontece, a “contra-revolução” na educação, com a entrega da sua gestão à Fenprof de Mário Nogueira, prossegue com o apoio do PSD e o "déficit" do SNS aumenta sem que o mesmo partido sequer se pronuncie. Estamos conversados...

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Mundial 2010: segundo o seu valor económico, quais as seleções que se irão apurar para os 1/8 de final?

Em função do valor dos direitos económicos dos 25 jogadores mais utilizados durante a fase de qualificação, que em princípio deveria reflectir o valor futebolístico aproximado da respectiva equipa, as seleções apuradas para os 1/8 de final do Mundial 2010 seriam as seguintes:

Grupo A: França e Uruguai.
Grupo B: Argentina e Nigéria.
Grupo C: Inglaterra e USA ou Argélia.
Grupo D: Alemanha e Sérvia.
Grupo E: Holanda e Camarões.
Grupo F: Itália e Paraguai.
Grupo G: Brasil e Portugal.
Grupo H: Espanha e Suíça.

De notar que, de acordo com este critério, a Espanha é a equipa mais valiosa, o mesmo acontecendo com o grupo G, de Brasil e Portugal, sendo a seleção portuguesa a sétima mais valiosa.

À semelhança do que já anunciei para a Liga portuguesa, comparando os orçamentos das equipas com a respectiva classificação no final da primeira volta e no final do campeonato, efectuarei essa mesma comparação no Mundial, após a fase de grupos. Ficaremos assim com uma ideia sobre quem excedeu ou esteve abaixo do seu valor potencial.

Ver aqui os valores em causa.

Pipes & Drums (1)

The Saturday Evening Post Christmas (2)

domingo, dezembro 06, 2009

O financiamento do Serviço Nacional de Saúde

Ora aqui está um assunto que deveria levar a oposição a questionar o governo de uma forma séria e responsável, se ainda lhe sobrar tempo depois do permanente “saltitar” de “escândalo” em “escândalo”. E se me refiro ao PSD, aponto principalmente o dedo ao PCP e BE, já que sendo o Serviço Nacional de Saúde, de facto, uma “conquista de Abril”, estes dois partidos deveriam estar na primeira linha da sua defesa. E essa mesma defesa não significa convocar manifestações de cada vez que se tenta a sua racionalização, como aconteceu de forma populista e demagógica durante o consulado de Correia de Campos, mas sim obrigar o governo a tomar medidas para tornar o SNS sustentável, mesmo que isso signifique que quem o pode fazer se veja obrigado a pagar um pouco mais pelos serviços prestados. Significa obrigar o governo a prestar contas e a apresentar soluções em termos de racionalização de custos e de alternativas de financiamento, mantendo a respectiva equidade e a possível justiça social.

Um exemplo: as taxas moderadoras de internamento nunca me pareceram ser uma solução muito justa e o seu peso no financiamento do SNS era mínimo. Mas faz algum sentido aboli-las, como aconteceu agora com aplauso geral, sem procurar uma solução alternativa que evite a diminuição da correspondente receita, por mínima que seja? Outro exemplo: como é possível evitar o desperdício de medicamentos e meios de diagnóstico prescritos, não só porque os médicos tendem, com demasiada frequência, a prescrever em excesso, como também porque não é raro sobrarem medicamentos no final do tratamento? Penso que foi o CDS que levantou em tempos a questão das unidoses; como tem evoluído o assunto? Ainda outro exemplo: as despesas aumentaram em 5.3% entre Janeiro e Setembro, num período de baixíssima inflação ou de aumento de preços negativos. É até bem possível que isso tenha justificação, mas o governo terá de o demonstrar. Vai fazê-lo? Já agora, a Assembleia da República, na sua comissão de saúde, recebe regularmente (por exemplo, com carácter trimestral) “reporting” normalizado sobre as contas e funcionamento do SNS?

Fico a aguardar respostas...

As capas de Cândido Costa Pinto (62)

Capa de CCP para "Investigação Perigosa", de Frank Gruber, nº 59 da "Colecção Vampiro"

O que Cristiano Ronaldo ainda não percebeu...

Cristiano Ronaldo, a propósito da sua expulsão no jogo de sábado com o Almeria, assume que falhou porque “é humano”. Alguém terá de lhe explicar que isso não é verdade: os seus rendimentos, privilégios e estatuto colocam-no a um nível a que esse tipo de falhas, desculpáveis à grande maioria dos humanos, não lhe podem nem devem ser desculpados. Enquanto não perceber tal coisa não crescerá mais nem amadurecerá como profissional e como homem.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Paulo Portas líder da oposição

Hoje, no debate quinzenal na Assembleia da República, Paulo Portas assumiu-se de facto, e uma vez mais, como o verdadeiro líder da oposição e o único que, na realidade, pretendeu discutir política e colocar ao governo questões pertinentes. À parte ter-se deixado enredar naquela dispensável “peixeirada” final, e concorde-se ou discorde-se das suas opções, o que é normal e desejável em democracia, esteve muito bem no seu papel. Saúde-se.

Anglophilia (68)









The Duffle Coat

Carvalhal e Liedson (mas também Moutinho)

Digo eu – que gosto de dizer coisas – que o SCP tem dois jogadores que, por provas dadas ao longo de várias épocas, possuem qualidades e categoria futebolística acima da mediania: João Moutinho e Liedson. Isto, apesar das promessas de um Miguel Veloso, até agora mais desejos da imprensa desportiva e da direcção financeira do clube do que realidades de “jogo jogado”.

Tendo dito isto, seria inteligente e mandariam o bom senso e as regras da boa gestão que Carlos Carvalhal, chegado ao clube, tentasse definir os princípios e construísse o modelo e sistema de jogo da equipa com base nestes dois jogadores, potenciando as suas qualidades e disfarçando o melhor que pudesse os seus pontos mais fracos, que todos os têm. Até porque, num caso pela sua idade (Liedson) e noutro pelas suas características (Moutinho), são ambos jogadores que não se antevê possam vir a abandonar o clube no curto prazo.

Carvalhal, ao arrepio do que acima afirmei, parece ter decidido de modo diverso e antagónico, atirando o pobre Liedson às feras no circo da área e colocando Moutinho quase como um segundo “pivot” defensivo. O resultado está já à vista: Liedson, que mesmo quando não marca chateia que se farta a defesa adversária (basta ter visto os últimos jogos da selecção e o jogo contra o SLB para o comprovar) já entrou em rota de colisão com o treinador. Como benfiquista, agradeço a Carvalhal, em época natalícia, a graça concedida. A ambos, Liedson e Moutinho, passo a informar que, caso queiram, o meu clube terá sempre à sua espera um lugar à medida dos seus desejos, perfis e ambições: no primeiro caso, ao lado de Cardozo, como opção a Saviola; no segundo, alternando com Aimar. É só quererem.

O actual PSD m-l e o seu radicalismo de raiz pequeno-burguesa

É comum ler e ouvir a analistas e sociólogos que os portugueses, o povo português, toleram bem, e até se gabam da pequena corrupção, a que se passa ao nível do seu bairro ou rua, dos seus “pares” desde que também dela beneficiem, e apenas a grande corrupção (aquela a que não têm acesso, acrescento eu) é por eles penalizada. Não sei se será bem assim, tendo em conta o modo como, sem hesitar, dão o seu voto político a cidadãos com investigações criminais em curso, alguns já com condenações na 1ª instância. Mas como isso se passa fundamentalmente a nível autárquico, quero acreditar que tal corrupção ainda poderá caber na noção de vizinhança ou bairro e, por isso, levar-me a concluir que o que o “povo da SIC” demonstra não é a sua condenação dos corruptos, mas o seu ódio aos que identifica como “ricos e poderosos”, num país ainda com desigualdades demasiado evidentes, com muita gente a viver no limiar da pobreza e, principalmente, com memórias ainda demasiado vivas de uma ruralidade paredes meias com a miséria do “pé descalço”. Também com muita iliteracia e ignorância a fomentar ódios novos ou a ressuscitar facilmente os antigos, num país onde, demasiadas vezes com razão, se identificam os “ricos e poderosos” como grupo resultante de favorecimentos vários e práticas proteccionistas, sem capacidade ou vontade para devolverem à sociedade uma parte, por pequena que fosse, dos que esta lhes generosamente lhes facultou. Talvez porque, também para eles, essas memórias de pobreza sejam ainda demasiado evidentes e dessa imagem se queiram esquecer.

Mas atenção: não se trata, pelo menos nos dias de hoje, de um genuíno “ódio de classe”, à boa maneira bolchevique da “classe contra classe”, “proletariado vs burguesia”. Nada disso e, apetece-me quase dizer, antes assim fosse: basta verificar a perda de influência do PCP nos meios industriais e operários, fruto da terceirização da organização do trabalho e da sociedade, para entendermos que não é isso que está em causa. Do que estamos em presença é, isso sim, de um radicalismo pequeno-burguês de cariz reaccionário, com características que podemos encontrar na génese dos movimentos nazi-fascistas dos anos 20 e 30 do século passado. E, curiosamente, é no PSD, neste PSD m-l de Pacheco Pereira e Ferreira Leite (a ordem dos nomes não é arbitrária), no PSD que já foi o de um “cavaquismo” gerador de uma cultura nova-rica que criou, tantas e tantas vezes, “ricos e poderosos” de última-hora e nas margens da ética, quando não mesmo da lei, que vamos encontrar uma tentativa de representação, a nível partidário, desse radicalismo de projecção totalitária. Arvorando a “verdade” e a “moral” como programa político, fazendo da tentativa de atropelo às mais elementares normas do Estado de Direito regra de actuação, falando no parlamento na “figura jurídica do crime de perigo... e do pré-crime”, é aí que o PSD se está a colocar a nível de representação política; é essa – digo eu – a verdadeira “deriva conservadora” de que fala a sua ex-dirigente Paula Teixeira da Cruz.

Nada de demasiado novo ao cimo da terra, apetece-me dizer. Esta pulsão reaccionária, radical à direita, pequeno-burguesa, tão visível, entre Sá Carneiro e Cavaco Silva, no tradicional culto do chefe providencial e no anseio sebastianista de um novo e regenerador do partido, sempre fez parte integrante do PSD. Talvez seja oportuno também recordar que foi, em parte, devido a esse radicalismo autoritário, no caso protagonizado por Sá Carneiro, que ficámos a “dever” a ascensão de Vasco Gonçalves a primeiro-ministro, quando daquilo que ficou para a História conhecido como “golpe” Palma Carlos – ou da Manutenção Militar. A política “centrista” do PS de José Sócrates, a crise financeira mundial e o subsequente desespero pela perspectiva de anos na oposição nada mais fizeram do que abrir caminho para que essa pulsão se pudesse tornar hegemónica. Curiosamente, agora que, em maioria apenas relativa, tanto PS e governo precisavam de um PSD diferente daquele que, embora indirectamente, “ajudaram” a construir.

The Saturday Evening Post Christmas (1)

quinta-feira, dezembro 03, 2009

SIX-FIVE Special (2)

1. Petula Clark - "Baby Lover"
2. Cleo Lane & Johnny Dankworth - "What Am I Going To Tell Them Tonight"?
3. Jimmy Lloyd - "Ever Since I Met Lucy"
4. Joan Regan - "I'll Close My Eyes"

"Bet & Win": qual "media" escolherá o PSD para divulgar as "escutas"?

Depois de sabermos do interesse do PSD, pela voz de Ferreira Leite, em divulgar as escutas a José Sócrates, o magno problema que se deve colocar à resolução da direcção do partido, neste momento, não será a contra-revolução no ensino, feita com o seu beneplácito, a questão do desemprego, do “déficit”, do investimento público, dos acordos salariais para a FP e outras questões políticas de menor interesse para o país, mas, isso sim, qual o “meio” escolhido para tal divulgação. Colocando de parte, por motivos de credibilidade, o “Jornal do Crime” ou até mesmo o “24 Horas”, partindo do princípio que Balsemão é pessoa demasiado séria e respeitada para deixar o seu grupo editorial envolver-se facilmente em algo que consubstancia um crime grave (violação do segredo de justiça numa questão envolvendo o primeiro-ministro), colocado de parte o grupo de Joaquim Oliveira, não me parecendo queira o “Público”, na sua era pós José Manuel Fernandes, envolver-se em tais esconsos meandros, estando a TVI posta em sossego e, porventura, devendo favores ao poder, restam o “Sol” e o “Correio da Manhã”. Nenhum deles é de credibilidade ou reputação intocáveis - longe disso - mas, nunca tendo visto um porco a andar de bicicleta, já vi, pelo menos, Mário Crespo entrevistar Felícia Cabrita sobre as “escutas”. Digamos que não é o “Euromilhões”, mas é um bom segundo prémio!

Ainda o enriquecimento ilícito

Vamos lá partir do princípio que os eventuais corruptos são mesmo muito estúpidos e que os bens adquiridos ilicitamente ficam mesmo em seu nome e não dos filhos, da prima, da ex-mulher, da sogra, dos padrinhos, do Bobby e do Tareco e assim sucessivamente. Vamos lá mesmo considerar que são muito ignorantes e não sabem da existência de paraísos fiscais e outras mil e uma maneiras de ocultar o seu património - acho não existirão corruptos assim, pelo menos “ricos e poderosos”, como diz o “povo da SIC”, mas vamos lá utilizar o método de redução ao absurdo.

Mas - e como oiço e leio frequentemente darem como exemplo bens de evidente ostentação – que acontece se não forem suficientemente burgessos para, em vez de mansões com “janelas à la fenêtre”, carros de “alta cilindrada” (é este o termo, não é?) e iates para a Jamaica, preferirem coleccionar arte - comprada no estrangeiro, por exemplo, para o anonimato correr menores riscos - para terem em casa e a bom recato, serviços completos Companhia da Índias, colecções de antiguidades, relógios de oiro, sapatos por medida no John Lobb ao ritmo de vários pares por mês (são €2 500 por cada par, no mínimo), passear com a família à volta do mundo em 1ª classe (a verdadeira, não essa “choldrice” da executiva...) com estadas em hoteis de luxo, etc, etc, ou seja, coisas menos tangíveis para quem não distingue um Jackson Pollock de um desenho da minha neta mais velha que está no jardim de infância ou não tem acesso à privacidade de uma casa particular? E, já agora, se resolver ser mecenas?

Admitindo tão brilhantes deputados e juristas tenham pensado em tudo isso, agradeço me esclareçam – a mim, que não sou jurista – o que fazer nos casos supra e semelhantes ou, caso contrário, vou acabar por pensar que tudo é feito apenas com o intuito de “epater le bourgeois” e o objectivo não é mais do que prender meia dúzia de “ricos e poderosos” de 3ª classe (tipo “sucateiro” Godinho) e exibi-los, de preferência numa jaula, para gáudio das multidões, enquanto aguardam imolação em auto de fé, com direito a descrição em livro de Saramago e tudo.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Link Wray & Dick Dale (6)

Dick Dale & His Del-Tones - "Nitro"

Rui Moreira, David Luiz e o "Trio de Ataque"

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre para que servem aqueles pseudo-programas de análise futebolística em que personalidades públicas travestidas de comentadores peroram durante cerca de duas horas, 90% desse tempo a falar dos árbitros e dos penalties por marcar, teve ontem, no “Trio de Ataque” (RTP N), mesmo assim o menos degradante de todos eles, uma resposta concludente: uma das suas utilidades é pressionar árbitros e condicionar jogadores. Neste caso foi o portista Rui Moreira que, aproximando-se o SLB-FCP, resolveu condicionar o comportamento desportivo e técnico do jogador benfiquista David Luiz tentando, simultaneamente e por via de pressão exercida sobre os árbitros para sancionar a sua conduta através da amostragem de cartões, afastá-lo desse jogo.

Sem dúvida inteligente; mas não me parece ser este o tipo de programas e o padrão de comportamentos que competem ao serviço público de televisão divulgar.

As grávidas de Elvas...

Segundo reportagem do “Público” de hoje, 90% das grávidas de Elvas dão preferência ao Hospital Universitário Materno-Infantil de Badajoz para os partos, embora lhes sejam facultadas alternativas em Évora e Portalegre. Alguém se lembra ainda do populismo desbragado de 2005, da histeria patrioteira e do “mata que é castelhano” de quando do fecho da maternidade de Elvas?

Tenham vergonha das tristes figuras que fazem!

terça-feira, dezembro 01, 2009

Absolut album covers (7)

1º de Dezembro: estes nacionalistas são uns exagerados...

Interrompo o feriado para esclarecer Pedro Lomba (no “Público” de hoje) que em 1580, quando da união das coroas ibéricas com Filipe II, Portugal não foi propriamente invadido. Não só Filipe II, neto de D. Manuel I e filho de Isabel de Portugal (filha primogénita de D. Manuel I e de Maria de Aragão), era legítimo herdeiro do trono de Portugal, como a única “batalha” travada, junto à ribeira de Alcântara, não foi mais do que uma pequeníssima escaramuça entre tropas do Duque de Alba e um grupo “ad hoc” de combatentes portugueses arregimentado por D. António, Prior do Crato, filho bastardo do infante D. Luís (neto de D. Manuel I por via bastarda, portanto) e, como tal, sem legitimidade dinástica.

Estes nacionalistas ou são uns exagerados ou, apenas, pura e simplesmente desonestos. Quero acreditar na primeira.

segunda-feira, novembro 30, 2009

A entrevista de António Barreto ao "i" e o desaparecimento de Portugal

“Estamos à beira de iniciar um percurso para a irrelevância, talvez o desaparecimento.”, afirmou António Barreto ao “i.

Bom, tenho grande respeito pessoal e intelectual por António Barreto, mas será exactamente isso que me leva a considerar que Barreto, num momento de rara fraqueza, apenas terá pretendido, com esta boutade (nada mais é do que isso), garantir um título que levasse os portugueses a ler a sua entrevista, onde existem análises e afirmações bem mais estruturadas e interessantes. Como Barreto, enquanto sociólogo, bem sabe, as sociedades e civilizações nascem, evoluem, atingem o seu apogeu e, eventualmente, acabam por entrar num período de decadência e desaparecer, dando lugar a outras. Entre guerras, dramas, luta política, catástrofes, vitórias e derrotas, desastres e cometimentos de excepção... É assim a História do nosso mundo e assim aconteceu com o antigo Egipto, os impérios romano e otomano, o comércio fenício, o apogeu da civilização mediterrânea, os Incas e os Aztecas, os grandes impérios europeus do século XIX e por aí fora. Um dia, o homem, até mesmo nosso próprio planeta extinguir-se-ão. Acenar, pois, com a irrelevância portuguesa (não terá sido já mais irrelevante no passado dos séculos XVIII e XIX do que é hoje enquanto membro da UE e da zona euro?), talvez com o seu desaparecimento (quando? como? anexado pela Espanha? incluído no horizonte de uma possível decadência da civilização ocidental?), dito assim, como o afirma António Barreto, algo aí ao entreabrir da porta, pode ser de facto chamativo (e a entrevista merece leitura), mas (e que me desculpe Barreto) não será muito honesto, muito menos rigoroso (e Barreto habituou-nos ao rigor) e, até, reputo, a puxar ao demagógico, contribuindo assim para encorajar a onda populista que por aí vai grassando, em vez de conduzir a uma análise rigorosa dos problemas e ao caminho para a sua resolução.. E, caro António Barreto, de si não esperamos isso: estamos habituados a esperar sempre o melhor. Culpa sua, claro.

Link Wray & Dick Dale (5)

Link Wray - "Jack the Ripper"

domingo, novembro 29, 2009

Da verde Irlanda...

Seria interessante que governo e partidos da oposição dedicassem algum do seu mui precioso tempo a pensar nisto. E, já agora, que os "media" e o "povo da SIC" deixassem por momentos de saltitar de "escândalo" em "escândalo" e dedicassem algum espaço e tempo, no primeiro caso, ou os cinco minutos de fama concedidos pelos fóruns de opinião, no segundo caso, para pressionarem governo e partidos da oposição a reflectirem e tomarem medidas para que por cá o caso se não repita. Por último, talvez não fosse também nada má ideia que alguns comentadores e políticos, antes de se precipitarem ao apontar e/ou copiar casos de sucesso efémero, analisassem esses casos com maior seriedade.

SIX - FIVE Special (1)

1. Jim Dale - "Sugar Time"; "The Train Kept A-Rolling"
2. The Ken-Tones - "The Gipsy In My Soul"
3. Desmond Lane - "Midgets"

Algo que não me sai da cabeça...

Como benfiquista, o que me tem mantido irritado desde ontem é a convicção de que raramente o meu clube terá encontrado um Sporting tão fácil de vencer em Alvalade e que isso só não terá acontecido porque o SLB esteve todo o tempo com medo de perder.

sexta-feira, novembro 27, 2009

A LPFP, as forças policiais e os "jogos de alto risco"

Talvez fosse chegada a altura da LPFP, responsável pela organização dos campeonatos profissionais de futebol em Portugal, chegar a um acordo com as forças policiais para evitar este triste espectáculo de, em vésperas de jogos importantes, estas virem a público com aqueles patéticos comunicados de “jogo de alto risco”, com “não sei quantos efectivos destacados”, etc, etc, que em nada contribuem para a segurança do evento, para a pacificação dos adeptos ou para dar garantias aos cidadãos e famílias que, em festa, se querem deslocar ao estádio para participarem no espectáculo. Antes pelo contrário, desnecessário dizer, pois contribuem para estabelecer um clima de quase guerra civil sem qualquer conexão com a realidade vivida.

Assegurem pois, com discrição e eficiência – ou seja: com profissionalismo - a segurança dos cidadãos e a normal realização do evento nas áreas sob a sua responsabilidade e deixem-se de fanfarronices e de atitudes auto-progagandísticas, perfeitamente a despropósito. Mais ainda quando os presidentes de SLB e SCP já vieram a público, em conjunto com a CML, dar um excelente exemplo de comportamento aos adeptos de ambos os clubes.

É fartar, vilanagem...

Fico a aguardar o dia em que o "Público" passe a citar o "Diabo" ou o "Jornal do Crime". Quanto ao conteúdo da notícia aguardo (?) a sua análise pelo Jadnovista oficial do regime.

Link Wray & Dick Dale (4)

Dick Dale & His Del-Tones - "Misirlou"

Ministro Vieira da Silva: a verdade inconveniente

Vieira da Silva terá ou não razão ao falar de espionagem política no caso das escutas ao primeiro-ministro; mas parece já não restarem dúvidas de que existe uma agenda política, já muito pouco escondida, na actuação da magistratura. Mas Vieira da Silva cometeu dois erros fatais ao falar publicamente daquilo que ele pensa ser a tal “espionagem política”: em primeiro lugar, ao intrometer-se no terreno da magistratura, cometeu um claro atentado contra a separação de poderes, um dos pilares fundamentais do Estado de Direito; em segundo lugar, com o pretexto de defesa da sua honra, deu oportunidade a que a própria magistratura, derradeira garantia dos direitos e liberdades dos cidadãos, ao questionar PGR e STJ e ao propor, em última análise, a divulgação das escutas, secundando PCP e PSD, também o fizesse, o que é gravíssimo e inaceitável mas deixa a Vieira da Silva o ónus de causador primeiro de tal grave acto.

Moral da história? Talvez seja esta a oportunidade para pensarmos que, ao contrário do que diz a vox populi, nem sempre é defensável que os políticos digam ao povo a verdade.

quinta-feira, novembro 26, 2009

Dos "media", das pressões e da sua autonomia

Vamos lá deixar-nos de hipocrisias: enquanto houver Estado e orgãos de comunicação social existirão sempre pressões da parte daquele, qualquer que seja o governo em funções, em relação às notícias publicadas ou por publicar, traduzam-se essas pressões por facilidades de financiamento, transferência de recursos por via da publicidade ou quaisquer outras mais criativas. Independentemente de tiradas moralistas, inquéritos de e a quem quer que seja ou da transformação destes actos em arma de arremesso político à revelia do debate de propostas e ideias verdadeiramente alternativas.

É que só existe mesmo uma maneira de os orgãos de comunicação social se tornarem independentes deste ou de outro tipo de pressões, públicas ou privadas: salvaguardarem a sua autonomia financeira por via da capacidade para conquistarem e fidelizarem audiências e, assim, conseguirem também maiores receitas publicitárias. Por muita razão que tenham ao virem a público queixarem-se do Estado (e tenho poucas dúvidas que, em alguma ocasião, já terão tido razões para se sentirem por ele injustiçados), ao fazê-lo, estão simultaneamente a evidenciar algo mais: que as suas próprias fraquezas lhes não permitem uma existência autónoma e independente e que, portanto, o problema não é serem do Estado agora enteados: é o não poderem deixar de ser filhos!

História(s) da Música Popular (148)

David Ackles - "Road To Cairo"

Julie Driscoll (C/ Brian Auger & The Trinity) - "Road To Cairo"
"Under The Influence" - The original songs of the "British Invasion" (XXXI)
Não me lembro quando descobri David Ackles: o “Em Órbita”, a quem tanto devem os devotos, onde me incluo, já tinha passado à sua fase de música antiga e barroca quando da data de saída do meu álbum de descoberta de Ackles, “American Gothic" (1972), e o resto perde-se-me na memória dos tais tempos ou, mais prosaicamente, na falta dela. Mas o que é facto é que lá cheguei (a Ackles) e ali conservo, no bom e velho vinil, esse seu álbum, o terceiro e, aliás, o único que possuo. Curiosamente, gravação e edição inglesas, com produção de... Bernie Taupin, esse mesmo, o que sempre conhecemos ligado a Elton John. Ackles (Illinois, 1937-1999) é aliás muito pouco conhecido, mesmo entre os “maluquinhos” destas aventuras da música popular, embora nomes como Elvis Costello e Phil Collins clamem a sua influência. Em Portugal quantos reconhecerão a sua existência?

Bom, de qualquer modo só mais tarde descobri ser Ackles o autor de um tema emblemático, embora já tardio, da “British Invasion”, na interpretação de Julie Driscoll com Brian Auger & The Trinity, todos eles, mais Long John Baldry com quem tinham partilhado os anteriores “Steampacket”, herdeiros da tradição britãnica dos “blues” e R&B. O tema chama-se “Road To Cairo”, esse sim, um clássico do velho “Em Órbita” dos anos 60, e terá sido gravado em 1968. Pois aqui ficam o original de Ackles e o "cover" de Driscoll.