quinta-feira, novembro 26, 2009

Dos "media", das pressões e da sua autonomia

Vamos lá deixar-nos de hipocrisias: enquanto houver Estado e orgãos de comunicação social existirão sempre pressões da parte daquele, qualquer que seja o governo em funções, em relação às notícias publicadas ou por publicar, traduzam-se essas pressões por facilidades de financiamento, transferência de recursos por via da publicidade ou quaisquer outras mais criativas. Independentemente de tiradas moralistas, inquéritos de e a quem quer que seja ou da transformação destes actos em arma de arremesso político à revelia do debate de propostas e ideias verdadeiramente alternativas.

É que só existe mesmo uma maneira de os orgãos de comunicação social se tornarem independentes deste ou de outro tipo de pressões, públicas ou privadas: salvaguardarem a sua autonomia financeira por via da capacidade para conquistarem e fidelizarem audiências e, assim, conseguirem também maiores receitas publicitárias. Por muita razão que tenham ao virem a público queixarem-se do Estado (e tenho poucas dúvidas que, em alguma ocasião, já terão tido razões para se sentirem por ele injustiçados), ao fazê-lo, estão simultaneamente a evidenciar algo mais: que as suas próprias fraquezas lhes não permitem uma existência autónoma e independente e que, portanto, o problema não é serem do Estado agora enteados: é o não poderem deixar de ser filhos!

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro JC

Outra solução seria o Estado privatizar muitas das empresas onde detém capitais públicos, perdendo o controlo destas e, por consequência, influência por via publicitária no chamado 5º poder.

É o caso de países, como o Reino Unido, onde a própria BBC tem um tradição de independência em relação ao poder, seja "torie" ou "labour".

Porém, o recente desastre do capitalismo neo-liberal veio, justamente, comprovar e colocar de novo a ênfase no modelo do Estado Social, para além da circunstância de as grandes as grandes empresas internacionais de "commodities" ( p.e. petróleo) serem empresas governamentais.

O que torna as privatizações inoportunas e prejudiciais da própria sociedade.(Imaginemos o que seria a Galp passar a ser totalmente controlada por italianos e a CGD por espanhóis, que fizessem destas meras sucursais das respectivas holdings).

Talvez uma prestação pública de contas publicitárias por empresas detidas ou participadas pelo Estado pudesse contribuir para uma prática mais conforme com os princípios contitucionais, salvaguardando a liberdade de expressão com a sobrevivência dos, hoje tão ameaçados, meios de comunicação tradicionais.

Com os cumprimentos.
JR

JC disse...

Bom, JR, haverá empresas que não entendo pq o Estado as não privatiza (TAP, p. ex.), mas, não sendo eu um ultra-liberal, admito que exista interesse estratégico em o Estado deter influência em outras, caso, actualmente, da energia ou das novas tecnologias. Quanto à tradição da BBC, ela é mtº diferente da que existe em Portugal, onde é inversa. Não será exportável, portanto.
Já fui mais adepto da privatização da RTP, p. ex., mas, face ao que vai por aí de tabloidização da informação, acho que a dita RTP acaba por ter, hoje em dia, um certo papel de referência, moderador.
Sobre a prestação pública das contas publicitárias, nada tenho quanto ao princípio mas veja. p. f., o que escrevi em "post" anterior: nada provaria. A avaliação de um "plano de "media" de uma empresa ou marca não se faz apenas através do conhecimento dos valores investidos e das audiências. É algo mtº mais complexo (não dá para entrar aqui em aspectos técnicos), que exigiria vir discutir em público estratégias e opções de gestão que se devem manter no interior das empresas, e que a maioria não domina, e utilizando modelos e terminologias de díficil compreensão para quem não é especialista.
Cumprimentos