quinta-feira, dezembro 30, 2010

The best of SUN rockabilly (13)


Roy Orbison - "Claudette"

A propósito de "doping" e das notícias sobre o eventual envolvimento de Francis Obikwelu

Depois do debate

Ao contrário do que me foi ontem dado a assistir, não faz qualquer sentido jornalistas, comentadores e politólogos analisarem os debates políticos televisivos de forma exaustiva, percorrendo, um a um, racionalmente, todos os temas tratados e o modo como, em cada um deles, cada político se comportou face aos seu(s) opositor(es). Na realidade, não só uma enorme maioria dos telespectadores não está suficientemente informada e disponível – ou nem sequer tem formação - para elaborar esse tipo de raciocínios, como não consegue apreender e recordar mais do que um ou, no máximo, dois elementos fundamentais de cada debate, necessariamente o ou os mais relevantes para si em função dos seus interesses, personalidade, formação, simpatias ideológicas e políticas, etc. Mais ainda: um número significativo de telespectadores forma a sua opinião baseando-se apenas em questões de ordem genérica, tais como “imagem”, comportamento durante o debate, empatia e até o modo como cada político se apresenta.

Dúvidas? No tão falado debate Nixon/Kennedy, com a esmagadora vitória deste último, alguém recorda ou cita hoje em dia a substância política e ideológica do debate? Claro que não: o que vemos frequentemente recordado é a imagem de um Nixon feio, cansado e envelhecido face a um jovem, bem parecido e exuberante JFK. Foi este contraste que se tornou decisivo na eleição.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Antes do debate

É pouco mais do que irrelevante a opinião de comentadores, politólogos ou “bloggers” sobre quem ganha ou perde cada debate eleitoral. Trata-se de uma opinião que apenas veicula o próprio e que, desse modo, vale nada mais do que um voto, não obstante a influência que esse comentário possa ter nos eleitores seja susceptível de se tornar bem mais importante do que o que é expresso e discutido no próprio debate.

Bem mais correcto seria medir através de um estudo de mercado do tipo “24 hour recall” a opinião dos eleitores, inclusivamente sabendo quais os que teriam mudado o sentido do seu voto ou passado da abstenção ou voto em branco à votação em um qualquer candidato em função da respectiva prestação televisiva, mencionando as razões para tal mudança. Talvez surgissem surpresas...

Sword & Sandals (11)




"Hercules, Samson and Ulysses", de Pietro Francisci (1963)

Azenha, o FCP e o Portimonense

Parece que Carlos Azenha irá treinar o Portimonense em substituição de Litos. Não conhecendo no CV de Azenha nada que especialmente o recomende para a função, mas tendo em atenção a sua passagem pelo FCP, não posso deixar de concluír que o processo de satelização dos clubes da 1ª Liga pelo clube de S. Roque da Lameira acaba de chegar aos algarvios de Portimão. Já não é só para a passividade da LPFP que chamo a atenção (difícil seria esperar o contrário), mas também a indiferença do meu “glorioso” perante todo este processo não deixa de me espantar. Aguardemos pelos “reforços” que chegarão ao clube do barlavento na “esteira” da contratação de Azenha...

Chess Records and Chicago Blues History

terça-feira, dezembro 28, 2010

Ler Álvaro Cunhal...

Passei parte das tardes de ontem e hoje a reler, ao fim de trinta e poucos anos (a minha edição é de 1975), “As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média”, uma interessante e quase esquecida análise de Álvaro Cunhal sobre a crise de 1383-85, cujo livro andava quase perdido por casa de um dos meus filhos desde os seus tempos de liceu (o Natal também serve para estas “recuperações”). Do que li de Cunhal é talvez, em conjunto com “Rumo à Vitória” - que deve ser lido em confronto com a respectiva crítica de Francisco Martins Rodrigues “Luta de Classes ou Unidade de Todos os Portugueses Honrados” -, o seu livro mais interessante.

No primeiro caso estamos perante uma visão heterodoxa, porque marxista-leninista, sobre um dos períodos mais interessantes da História de Portugal e da Europa, que nos aguça o apetite para outras leituras mais profundas e com visões diferentes e divergentes. No segundo caso estamos perante um livro e um texto indispensáveis para compreensão da actuação do PCP e da esquerda radical nos períodos imediatamente anterior e posterior ao 25 de Abril. Não me custa recomendar ambos aos que se interessam por História e por política.

Elvis Presley, 75 anos - original SUN recordings (18 - último)

"When It Rains, It Really Pours" (William Emerson)

1. O original de Billy "The Kid" Emerson (1955).

2. A versão de Elvis Presley - gravação de Agosto ou Outubro de 1955

De Eanes a Cavaco passando por Soares e Sampaio: presidentes de "todos os portugueses"?

Pode um Presidente da República, com os poderes - apesar de reduzidos longe de o tornar num monarca constitucional moderno - que lhe confere a actual constituição e eleito por sufrágio directo e universal, reivindicar-se de ser o “Presidente de todos os portugueses”? Quanto a mim, não pode (direi mesmo que não deve, sob o perigo de paralisia da sua actuação) nem nenhum deles alguma vez o foi: desde os governos de iniciativa presidencial e a tragicomédia do PRD de Eanes, a uma outra tragicomédia das “escutas” e das posições conservadoras em matérias ditas “fracturantes” do actual Presidente, passando pela presidência anti-cavaquista de Soares e pela "dissolução" de Sampaio, os presidentes assumiram sempre um legado ideológico e foram-no sempre, se não de um uma facção contra outra, pelo menos mais de uns do que de outros, isto apesar da tentativa permanente de alargarem a sua base social de apoio principalmente nos primeiros mandatos. A prova disso é, mesmo quando reeleitos por confortáveis maiorias (Soares), nunca os seus adversários terem deixado de obter uma votação relevante.

Então de onde vem essa intenção (chamar-lhe-ia “tentação”), sempre por presidentes manifestada, de se afirmarem “de todos os portugueses"? Bom, em primeiro lugar do legado salazarista (mas também um pouco comunista, valha a verdade) do “consenso”, da “união de todos os portugueses honrados”, do horror à dissidência e ao confronto democrático. Este é, digamos assim, o “caldo de cultura” onde em primeiro lugar medra tal ideia. Mas não só: existe também, nas eleições presidenciais passadas, um momento histórico que lhe deu origem, e para isso devemos reportarmo-nos à eleição de Mário Soares em 1986. Quem viveu esse tempo de dele tem memória, sabe que ele foi talvez o último momento alto de crispação ideológica entre esquerda e direita. Para já, a última eleição em que a esquerda radical, do “poder popular”, apresentou um candidato (Maria de Lurdes Pintasilgo) com perspectivas de atingir uma segunda volta; foi, digamos, em termos eleitorais, o seu canto do cisne. Por outro lado, na “rua”, e isto apesar da moderação do candidato Freitas do Amaral, vivia-se à direita um clima de algum revanchismo, sendo a Presidência da República considerada como o último reduto que impedia a total afirmação política da facção mais direitista e radical dos vencedores do 25 de Novembro. É exactamente nesta conjuntura e para “esvaziar” esse balão de radicalismo, esse ambiente de crispação numa sociedade que preparava, com a adesão à CEE, a total normalização democrática, que Soares, após vencer uma renhida eleição disputada “casa a casa”, afasta qualquer ideia de revanchismo por parte da esquerda vencedora e apela à pacificação entre os portugueses utilizando, pela primeira vez, a expressão “serei o presidente de todos os portugueses”, e afirmando, no seu primeiro discurso após a vitória, “é a vitória da liberdade, é a vitória da tolerância”.

Significa isto que aquilo que, num primeiro momento, continha em si mesmo um valor e um objectivo meramente conjuntural, acabou por se tornar, pela sua repetição em condições já muito diversas, numa frase vazia de sentido, que nada tem a ver com a realidade e com a prática política de quem a profere. Algo que nem mesmo Soares, depois desse primeiro e necessário anúncio de descompressão política, acabou, valha a verdade e ainda bem, por levar muito a sério!

segunda-feira, dezembro 27, 2010

O "Gato Maltês" elegeu as duas figuras públicas nacionais mais sinistras de 2010. E os vencedores são...

António Martins, presidente da Associação Sindical dos Juízes


João Palma, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público

Country Life (9)









Ellingham Hall, em Suffolk, local de detenção domiciliária de Julian Assange

A ex-"Briosa" e o FCP

A contratação do treinador de futebol José Guilherme pelo clube em tempos conhecido por “Briosa” e, incluído no “pacote”, o provável empréstimo dos jogadores Ukra e Castro, vem apenas relembrar aquilo que todos já conhecíamos: a total satelização da ex-"Briosa" pelo FCP perante a indiferença da LPFP e o silêncio cúmplice dos “media” e de muitos velhos adeptos da AAC.

A acção social da Igreja Católica e a sua vertente estratégica e propagandística

Em Portugal, derrotada nas questões da IVG e do casamento entre pessoas do mesmo sexo (digamos que nem sequer ousou “ir a jogo”) e afastada do seu tradicional papel institucional pelo reconhecimento e aprofundamento da laicidade do Estado, desprestigiada internacionalmente pela revelação de actividades pedófilas de alguns dos seus membros proeminentes em países como os USA e Irlanda, a Igreja Católica portuguesa viu-se forçada pelas circunstâncias a assumir uma posição defensiva em terreno que sempre lhe foi mais favorável, onde no século XIX era mesmo quase monopolista e também onde a sua actividade é mais visível e menos questionada e questionável: a acção social, mais precisamente o ensino e a beneficência. Se no caso do ensino, embora contando com o apoio táctico e conjuntural de não-católicos como os ultra-liberais propagandistas da “liberdade de ensino” (com destaque José Manuel Fernandes, por exemplo), o papel da Igreja tende a ser cada vez mais reduzido por via da extensão do ensino público a toda a população, no caso da beneficência a crise económica tem fornecido às organizações tuteladas, directa ou indirectamente, pela Igreja Católica, ou cujos rostos mais visíveis dela se reclamam, uma oportunidade importante para uma acção de propaganda da sua actividade em favor dos “pobres” e “desfavorecidos”, em benefício – pode subentender-se das palavras de alguns dos seus responsáveis –dos marginalizados e esquecidos por um Estado tornado laico, logo, que esqueceu, abandonou ou deixou cair os valores tradicionais da solidariedade cristã. Curiosamente, também aqui, e quando a crise financeira obriga a cortes nas prestações sociais, nos encontramos perante uma aliança conjuntural tácita entre o ultraliberalismo crítico do Estado-Providência e a Igreja Católica, que vê na crise a oportunidade para passar ao contra-ataque num seu terreno de eleição, para tal contando com o apoio de alguns “media” e de personalidades de relevo como o próprio Presidente da República.

Significa isto que a actuação da Igreja Católica e de algumas organizações que dela se reclamam, na área do apoio social, não deva ser realçada e apoiada, especialmente na conjuntura actual, por todos os cidadãos, independentemente das suas opiniões, credos ou ausência destes? Nada disso, mas apenas que essa acções, de méritos indiscutíveis, não serão, na sua essência - como se calhar nada o é na vida -, completamente altruístas, ou pelo menos tão altruístas como pretendem aparentar, constituindo-se também como parte de uma acção concertada de afirmação (ou reafirmação) da Igreja Católica na sociedade portuguesa num contra-ataque lógico na sequência de um conjunto de derrotas significativas. E, tal como acontece em todas as acções onde a propaganda assume um papel de maior ou menor relevo, o exagero, nas acções efectuadas e na descrição do quadro que lhes fornece o pretexto, não deixará de estar presente e jogar o seu papel. Convém lembrá-lo àqueles que – e frequentemente com alguma razão, devemos reconhecer – não deixam de colar o selo de propaganda a toda e qualquer acção governativa.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Thomas Nast Xmas (1)

Thomas Nast: "Caught" - Girl in bed with arms around the neck of Santa Claus, who is holding a toy (1892)

"Les haricots sont pas salés" - old time cajun music (13)

Harry Choates - "Jol Blon"

SCP, Couceiro e Costinha

A entrada de José Couceiro no SCP como director-geral para o futebol (pergunto-me o que tal cargo, no seu conteúdo, terá de diferente de director-desportivo...) apenas se pode entender como uma tentativa de forçar Costinha à demissão, esvaziando as suas funções e retirando-lhe autoridade perante o grupo. Portanto, a questão fundamental sobre a qual accionistas, sócios e adeptos “lagartos” se devem interrogar é o que impede a administração do clube de, pura e simplesmente, demitir Costinha. Talvez a simples resposta a esta pergunta lhes possa explicar muita coisa.

O triste espectáculo de duas forças de segurança

O triste espectáculo dado pelo conflito entre as chefias da PSP e GNR a propósito da compra de uns quantos blindados é apenas mais uma consequência nefasta da existência de duas forças de segurança, uma civil (PSP) e outra militar (GNR), com funções semelhantes mas tuteladas por diferentes ministérios num claro incentivo à afirmação corporativa e à descoordenação operacional. Como se já não bastasse a existência de dois tipos de portugueses, os de primeira, cujo apoio e segurança é da responsabilidade da PSP, e os de segunda, com essas funções a serem atribuídas a uma força militar à boa maneira terceiro-mundista, eis senão quando os cidadãos – que sustentam ambas – ainda têm de se defrontar com zangas de comadres pagas por todos. Onde estarão o governo e os ministros respectivos? Desaparecidos sem combate, algo a que já nos habituaram.

terça-feira, dezembro 21, 2010

Os debates...

Confesso não ter ainda visto qualquer debate “presidencial”. Por falta de tempo ou oportunidade? Não, por falta de interesse: entre uma eleição decidida à partida, candidatos com pouca ou total ausência de qualidade - nenhum deles capaz de conquistar o meu voto -, conteúdo da função presidencial sem nada que justifique uma eleição por sufrágio directo e universal e a minha opção por um regime parlamentar, o que pode realmente mobilizar-me?

Anglophilia (81)





Tartan

The best of SUN rockabilly (12)


Billy Emerson - "Red Hot"

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Tiro à FIFA e à UEFA: o passatempo favorito dos jornalistas desportivos portugueses

Existe em Portugal um passatempo muito comum entre os jornalistas e comentadores desportivos que poderíamos denominar “tiro à FIFA e à UEFA”. Como pensam normalmente pouco e a maioria são impreparados - e fica sempre bem bater nos “ricos e poderosos” desde que saibam tal coisa não lhes trará consequências (a excepção é o presidente do FCP, pois pudera!) – toca a considerar, por preguiça de raciocínio ou opção apriorística, que tudo o que FIFA e UEFA fazem está mal feito. FIFA e UEFA decidem “A”? Então é porque andam apenas atrás do dinheiro. É “B”? Então é porque Michel Platini (chamam-lhe “o senhor Platini”...) quer agradar a alguém, e assim sucessivamente... No meio de tanta estupidez, esquecem que FIFA e UEFA tornaram as fases finais de Europeus e Mundiais em dois dos três maiores espectáculos desportivos do mundo, que a Champions League é um sucesso absoluto, que a Liga Europa, depois de um arranque titubeante, com este novo formato se tornou bem mais interessante e competitiva, que europeus e mundiais de jovens evoluíram extraordinariamente, etc, etc.

Bom, agora parece que a blasfémia - vá lá saber-se porquê!? - é o facto de os terceiros classificados dos grupos da Champions League passarem para a Liga Europa, algo que não conseguem compreender... Se quisesse ser “má língua” diria que é pelo facto do FCP jogar este ano a Liga Europa, que assim se torna mais competitiva, mas como gosto pouco de teorias da conspiração e prefiro raciocínios mais estruturados aqui vai uma explicação.

Em primeiro lugar, e como disse anteriormente, a entrada dos clubes vindos da CL torna a Liga Europa mais competitiva, aumentando o interesse dos aficionados do futebol e conseguindo assim gerar maiores receitas para a UEFA e para os clubes – são os clubes de maior nomeada que dão notoriedade e trazem público para uma prova. Em segundo lugar, e até talvez mais importante, essa passagem dos terceiros classificado da para a Liga Europa permite a muitos clubes que realizaram investimentos significativos para participarem na CL mais uma hipótese de os rentabilizarem (a um outro nível, claro, mas sem caírem no zero absoluto), continuando a angariar receitas e a dispor de uma “montra” e de um incentivo para os seus jogadores. Ora esses investimentos são absolutamente necessários não só para se conseguir um maior equilíbrio na CL, como também para elevar o nível do futebol praticado na Liga Europa.

Caros senhores jornalistas, comentadores, opinadores e afins: será isto assim tão difícil de entender?

Elvis Presley, 75 anos - original SUN recordings (17)

A versão de Sammy Kaye (#1 em Novembro de 1950) de um original de Will Grosz e Jimmy Kennedy, gravado a primeira vez(?) por Francis Langford (há quem afirme ter sido por Harry Owens) em 1937

Elvis Presley - "Harbor Lights" (Will Grosz-Jimmy Kennedy)

Gravação de 4 e 5 de Junho de 1954

"Blackboard Jungle" na RTP Memória




"Blackboard Jungle" (Richard Brooks - 1955), ou "Sementes de Violência", título adoptado em Portugal, o filme que lançou mundialmente o "rock and roll", passa dia 4 de Janeiro, pelas 22.30h, na RTP Memória. Em Portugal, "Rock Around The Clock", a canção-tema do fime, interpretada por Bill Haley & His Comets, fez tal sucesso que os candidatos a comprar o disco, daqueles de 78rpm que se partiam, tiveram que fazer encomenda especial na loja Valentim de Carvalho do Chiado. Infelizmente, o exemplar que existia em casa de meus pais deu sumiço há longos anos, provavelmente partido por acção das crianças daquele tempo, nas quais me incluía, ou abandonado, por obsoleto, face à evolução tecnológica.

domingo, dezembro 19, 2010

Acabou a águia Vitória

Embora benfiquista fervoroso, confesso achava aquele espectáculo da águia Vitória deprimente. Aliás, interrogava-me sempre quando uma qualquer associação de defesa dos animais se iria rebelar, muito justamente, contra tal coisa, ou quanto tempo mais a UEFA o iria permitir nos jogos das competições europeias. Espero, felizmente, embora pareça que não pelas melhores razões, o triste espectáculo tenha terminado e também que os nossos vizinhos e rivais do SCP não se lembrem agora de soltar um leão no relvado, qual pane et circenses da era moderna. Quanto àqueles rapazes das listas azuis, lá do estádio de S. Roque da Lameira, e não tendo animal que exista, o único perigo será soltarem as sturmabteilung de um tal Madureira, mas a isso, infelizmente, já estamos todos mais do que habituados.

Les Belles Anglaises (XLIX)







Triumph Gloria (1933-1938)

Elisabetta Canalis e o Café Delta em "pastilhas"



A campanha do café Delta em pastilhas, com Elisabetta Canalis, parece ser mais um daqueles casos, em que a publicidade é fértil, de uma ideia que parece brilhante mas que, na realidade, não passará, muito provavelmente, de um desenrascanço de “chico esperto”, contentinho de si mesmo (do género: “olha como eu sou brilhante”), e que, como tal, contém em si uma série de potenciais erros que se podem revelar fatais para a sua eficácia. Expliquemo-nos...
  1. Tenho para aqui na ideia que Elisabetta Canalis não será assim tão conhecida, o que limitará a sua eficácia enquanto “endorsee” da marca. E, caso o seja, será exactamente enquanto namorada de George Clooney, o que, obviamente, remete quem vê a campanha para o Nespresso, marca líder e genérico da categoria que todos identificamos, de imediato, com Clooney.
  2. Acresce que enquanto a imagem de Clooney nos evoca uma série de ligações e emoções ligadas com as suas ideias e o cinema (digamos que Clooney é uma personalidade com “espessura” e densidade), nada disso acontece com Canalis, a não ser suscitar nos homens a expressão “é boa como o milho”. Convenhamos que não vou desmentir o óbvio, e que “para uma noite bem passada” tal qualidade não será assim tão restritiva, antes pelo contrário; mas o mesmo já não se passa quando estamos perante uma campanha de publicidade, até porque “boas como o milho” as haverá mais conhecidas, com perfil adequado e até mais baratas (em termos de “cachet” publicitário, entenda-se!).
  3. Acresce ainda que não só Bruno Nogueira me parece ser mais conhecido, em termos gerais e em Portugal, do que Canalis, como os respectivos perfis me parecem ser demasiado incompatíveis (Nogueira é mais Maria Rueff) para se exprimirem consistentemente numa mesma marca. Tal coisa poderá levar muita gente a perguntar-se “quem é a “estupendaça” ao lado do Nogueira?”, ou a Nogueira tornar-se, de facto, como único “endorsee” da marca (ignorando os consumidores o papel de Canalis), nesse caso para um “grupo-alvo” bem menos sofisticado. Se a ideia era essa, o que está lá a fazer Canalis?
  4. Ao fazer humor com o "spot" da marca líder (Nespresso), a Delta está implicitamente a reconhecer a superioridade desta e a contribuir para a respectiva notoriedade. Se a ideia é vender no "rasto", no género "me too, but cheaper", até poderá ter algum potencial. Mas é um risco... Muitos consumidores até poderão achar graça mas acabarão por comprar Nespresso.

Convenhamos que estou a falar “de fora” – desconhecendo “briefing”, objectivos, estratégia e etc e tal - o que é sempre fácil. Acresce também que continuo e continuarei fiel ao meu café de balão, ou feito naquelas pequenas cafeteiras prateadas de “ir ao lume”. E a moê-lo na altura (normalmente o Colômbia Supremo) guardando os grãos no frigorífico fechados num Tupperware. Por isso, caros Nestlé e Delta: façam favor de não perder tempo comigo. Sou mesmo um caso perdido!

sábado, dezembro 18, 2010

The Saturday Evening Post Christmas (II série - 4)

J. C. Leyendecker - "Madonna and Child"

SLB: equilíbrios

O primeiro golo do Rio Ave hoje no Estádio da Luz é demonstrativo de uma das fraquezas desta equipa do SLB, questão resolvida sem problema de maior quando o adversário é o Rio Ave ou a Naval, mas bem mais complicado e comprometedor quando o “glorioso” tem de defrontar equipas de outro patamar.

Jogando com um único “pivot” defensivo e, hoje, sem extremos que equilibrem defensivamente a equipa (Gaitán e Salvio não são esse tipo de jogadores), foi Javi Garcia que, nesse lance, se viu obrigado a vir fechar na esquerda, algo que normalmente é da responsabilidade de David Luiz. Pouco rápido, como é normal acontecer num jogador do seu tipo morfológico, viu-se batido em corrida pela rapidez do extremo do Rio Ave e, quando este centra atrasado, para uma zona que deveria ser o espaço do “pivot”, Javi, que não tem o dom da ubiquidade, obviamente não estava lá, assim deixando João Tomás à vontade para fazer o golo. Felizmente que não era o Schalke...

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Lembram-se do "site" da PGR para denúncias de corrupção?

O “site” criado pela PGR/DCIAP para denúncia de casos de corrupção e fraude recebeu, no seu primeiro mês de vida, 347 participações das quais 69 foram arquivadas, 70 eliminadas e as restantes 208 estão pendentes.

Convenhamos que para o “povo da SIC” que diariamente se escandaliza,, nos fóruns de opinião, acusando os outros, a torto e a direito, de corruptos, os resultados estarão longe de tal correspondência, até porque não só será fácil de imaginar o conteúdo da maioria dos 208 “pendentes”, como, depois do entusiasmo inicial, a tendência será para o número de queixas (posso dizer “delações”?) sofrer uma quebra acentuada.

Não ignorando que a questão da corrupção é séria, muito mais séria do que brincadeiras deste género poderiam levar a concluir, aconselho o seguinte:

  1. Ao “povo da SIC” algum tento na língua, não vá o feitiço voltar-se contra o
    feiticeiro.
  2. À PGR/DCIAP concluir que o crime de delação, pelos vistos, não compensa,e que talvez seja bem melhor começar a pensar em actuar com profissionalismo combatendo, com eficácia, a corrupção efectivamente existente em vez de se dedicar a fomentar o populismo e os mais básicos instintos de alguns, felizmente, e como se pode concluir, bem poucos.

Nota de sábado, dia 18: segundo ouvi ontem no noticiário da meia-noite da TSF, apenas uma destas queixas pendentes continha matéria susceptível de ter dado origem à abertura de um processo.

O Natal e as meias


Chega esta altura do ano (o Natal é sempre a 25 de Dezembro e não quando um homem quiser) e é habitual ler e ouvir comentadores, opinadores e jornalistas referirem-se, com ar de enfado e indisfarçável desdém, a tias e avós que, invariavelmente, lhes oferecem meias. Ingratos! Eu – e desculpem-me a intimidade - que estrago meias a uma velocidade mais ou menos semelhante à de uma estrela cadente, sejam elas as excelentes “Pantherella” (as minhas favoritas) ou aquelas de seis euros das lojas “Pedemeia”, e já não contando entre o mundo dos vivos com tias que ainda me ofereçam presentes, peço sempre a todos os santinhos do céu e diabos do inferno que algum Pai Natal, com menos imaginação, me ofereça uns fantásticos pares de meias. Muitas. Quantas mais, melhor.

Por isso, senhores jornalistas, comentadores e afins, se ficarem muito irritados com a oferta de meias, execrado presente de tias e avós pelo Natal, só não peço as enviem para este pouco humilde “blogger” porque, do modo como os vejo vestidos, não será preciso muita imaginação para concluir que as mesmas deverão ser bem horríveis, daquelas tipo “soquete” que deixam canela à vista e tudo. Mas pronto, senhores opinadores, se, por acaso, alguma vetusta tia ou avó se enganar e desconhecer o vosso proverbial mau gosto, oferecendo-lhes um belo par de meias de lã altas, já sabem para onde as deverão mandar,até porque, a juntar à vossa irritação com as meias em geral, ainda deverão achar especificamente estas como coisa de jarreta, que, para quem não sabe, era uma "liga" se lhe acrescentarmos o “eira”. Aqui, o “Gato Maltês” agradece!

"Velvet Goldmine" (7)




Grant Lee Buffalo - "The Whole Shebang"
Banda sonora de "Velvet Goldmine", de Todd Haynes (1998)

Governo PSD+CDS?

Não sei se foi quando da evocação dos trinta anos da morte de Sá Carneiro que Passos Coelho - ou alguém por ele no PSD - começou a falar com mais insistência numa coligação pós-eleitoral com o CDS, isto no caso de eleições em 2011. Mas não importa: isso aconteceu recentemente e é um dado relevante que a comunicação social não deixou de glosar. Porquê?

Bom, com uma aliança governamental com o CDS e mesmo em caso de maioria absoluta, o PSD evita cair no “efeito de tenaz” de que sofreram os dois últimos governos de José Sócrates, fruto de contestação simultânea à sua esquerda e à sua direita bem visível, por exemplo, no caso do ministro Correia de Campos - mas não só. Mais ainda, evita, num tempo futuro em que o efeito das medidas de austeridade se irá fazer sentir de modo mais duro e estando o PSD no governo, que o CDS possa, através do aproveitamento das circunstâncias e sabendo que Paulo Portas se move na demagogia populista como peixe na água, crescer à sua direita e a expensas do seu eleitorado.

Mas... Mas? É que para o PSD só será mesmo conveniente uma aliança pós-eleitoral não anunciada, e Passos Coelho e a direcção do PSD já cometeram um erro grave ao falarem de tal coisa antes de próximas eleições e do seu aftermath. Porquê? Porque tal anúncio extemporâneo irá, quase pela certa, prejudicar um possível voto útil dos eleitores de direita no PSD, sabendo estes que em caso de aliança o voto em qualquer dos dois partidos contribuirá para a formação do governo. E, claro, negociar uma aliança com Paulo Portas (olha com quem!!!) com a maioria absoluta na mão ou com absoluta necessidade do apoio do CDS são, como é bom de ver, coisas completamente distintas. Tanto como, mesmo em caso de falhanço dessa maioria por parte do PSD, coisas diferentes serão um PSD acima dos 40% e um CDS com um resultado de um dígito ou um PSD na casa dos 35% e um CDS acima dos 10%.

Já agora, veremos também o que fará o CDS entre duas tentações: a dos lugares governamentais, e tudo o que daí deriva, e a possibilidade de ficar de fora, alimentando-se com a hipótese de crescimento. Mas ensinam-nos o passado e o tradicional comportamento político dos portugueses que a segunda hipótese será porventura uma ilusão.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

História(s) da Música Popular (172)

Dave Berry - "The Crying Game" (Geoff Stephens)


The New Vaudeville Band - "Winchester Cathedral" (Geoff Stephens)

Voz de John Carter


Manfred Mann - "Semi-Detached Suburban Mr. James" (Carter-Stephens)

Carter & Lewis (III)


Mas nem só da parceria com Ken Lewis viveu a música de John Carter. Em 1966, com Geoffrey (Geoff) Stephens (por favor, lê-se djefrei stivens), compôs um dos grandes êxitos de Manfred Mann e o primeiro top 5 do grupo com Michael D’Abo como vocalista, depois da saída de Paul Jones e de os MM terem trocado a EMI pela Fontana Records: “Semi-Detached Suburban Mr. James”. E quem era esse tal de Geoff Stevens ? Bom, to make it short, foi o autor, entre outros temas, do célebre “The Crying Game”, um "hit" na voz de Dave Berry e, mais tarde, (1992) canção-tema do filme homónimo de Neil Jordan - mas também, para dar mais exemplos, de êxitos como “There’s A Kind Of Hush”, dos Herman’s Hermits e “Sorry Suzanne”, dos Hollies.

Mas Stephen cruzou-se mais vezes na vida de John Carter, já foi ele o fundador da New Vaudeville Band onde Carter, embora disfarçado com aquela voz de quem está constipado ou de quem tapou o nariz, é o intérprete principal no celebérrimo “Winchester Cathedral”, #1 nos USA e top ten no UK. Bom, no meio disto tudo... divirtam-se!

terça-feira, dezembro 14, 2010

Costinha e Sousa Cintra

Não sou um admirador de Sousa Cintra – longe disso – e também não tenho em boa conta a sua acção enquanto presidente do SCP. Mas Costinha, enquanto director desportivo do mais tradicional rival do meu “glorioso”, é apenas um funcionário do clube e, por respeito à sua entidade empregadora (que é um pouco mais do que isso: trata-se de uma instituição centenária e prestigiada dentro e fora de fronteiras) e por mais importante que seja o cargo que ocupa e relevantes as suas funções (e admito o sejam), deveria abster-se de comentários públicos sobre qualquer ex-presidente do clube que serve, mesmo que em resposta a afirmações que directamente o possam ter atingido. Alguém, no SCP, deveria lembrar-lhe que um presidente do clube é alguém que, independentemente da sua personalidade e do modo como exerceu as suas funções, representa ou representou a instituição e, por isso mesmo, quem a serve deveria obrigar-se a níveis idênticos de respeito por ambos.

Vai uma rapidinha? - classic uptempo doo wop (8)

Clyde McPhatter & The Drifters - "Money Honey"

O que têm Portugal, o BCP e Carlos Santos Ferreira de comum com a CIA e o MI6?

Segundo o “Wikileaks”, parece que o BCP se propôs espiar para os USA no Irão em troca dos americanos fecharem o olhos a uns negóciozitos com aquele país, coisa de pouca monta. Escândalo? Bom, é como quem diz: “a cada um segundo as suas necessidades” (ou dimensão). Em 1953, os USA, pátria da democracia, organizaram um golpe de estado nesse mesmo país para depôr o governo eleito de Mohammad Mossaddegh que, entre outras coisas altamente suspeitas de “esquerdização” e sintomáticas de influência soviética, tinha nacionalizado a indústria petrolífera local, incluindo a Anglo-Iranian Oil Company, futura BP. Parece que por detrás do golpe teriam estado, para além das sempre atentas CIA e MI6 (não se excitem já os comunistas, pois do outro lado estavariam o partido Tudeh, pró soviético, e o KGB), personalidades tão democráticas, insuspeitas e prestigiadas como Dwight Eisenhower e Winston Churchill, que anos antes tinham assumido papel preponderante na vitória aliada na WWII e que, hoje em dia, todos - ou, pelo menos, os que se revêm na democracia - admiramos. O resultado foi o regresso ao poder do regime do Xá Mohammad Reza Pahlavi, que não só não consta nos anais da História como democrata digno desse nome como, para além disso, se tornou responsável pela inflação de Soraias que assola aqui o rectângulo...

De notar que isto e outras “operações” do género e de igual monta, envolvendo vários países, democracias ou ditaduras, é conhecido em todo o mundo sem que o “Wikileaks” tivesse dado para tal a mínima contribuição. Convenhamos também que, comparando as dimensões e os nomes envolvidos, não me parece alguém se vá agora preocupar muito com um tal Santos Ferreira, uma “banqueta” de nome BCP e “país à beira mar plantado”, como Portugal, que se propõem, não exactamente espiar, mas bisbilhotar umas coisas no país de Ahmadinejad. Excepto, claro está, o “jornalismo” aqui do burgo que, oh inocência das inocências, quais virgens empedernidas em noite de núpcias, t'arrenego, nem sequer sabiam como isto se fazia! (ou pelo menos tinham dúvidas...).

"Alice in Wonderland" by Sir John Tenniel (12)

"There Goes Bill"!

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Nazi Exploitation (10)




"Train Spécial Pour Hitler", aka "Hitler's Lust Train" (1977)

Tédio...

Confesso que as “revelações” do “Wikileaks” me começam a causar uma sensação de entediamento em tudo muito semelhante às do “caso” Freeport, às escutas do “Face Oculta”, aos avistamentos de Madeleine McCann, às edições do “Prós & Contras” ou ao terceiro segredo de Fátima. Com a banalização dos chamados "escândalos" - verdadeiros ou falsos - e uma comunicação social que deles vive, quase em exclusivo, não estaremos todos a correr esse risco?

Martin Scorsese's "Nothing But The Blues" (5 - último)

domingo, dezembro 12, 2010

Subsídio-extra ou estádios de futebol? E porque não eliminar ambos?

A jornalista São José Almeida, no “Público” de ontem, a propósito da decisão do governo regional dos Açores sobre o subsídio extraordinário à Função Pública:

“ Pelos vistos, não doeu muito. Apenas foi preciso decidir que o Orçamento do Estado regional açoreano desviava parcialmente verbas do subsídio de seis milhões de euros que ia dar para a construção de dois estádios de futebol privados”.

O comentário que faço é o seguinte: se foi possível deixar de subsidiar a construção dos tais estádios de futebol, isso significa que não se estava perante um projecto urgente e que, em tempo de crise, ele poderia ser adiado, sem prejuízo significativo, para ocasião posterior. Por isso mesmo, não seria possível, em quaisquer circunstâncias, poupar esse dinheiro e, simultaneamente, evitar conceder o subsídio extraordinário dos funcionários públicos açoreanos, assim diminuindo ainda mais a despesa e contribuindo para a coesão nacional e para a necessária solidadriedade institucional com o governo do partido a que Carlos César pertence?

Elvis Presley, 75 anos - original SUN recordings (16)


"Tryin' To Get To You" (Rose Marie McCoy-Charles Singleton)

O original dos "Eagles" (1954)


Elvis Presley - "Trying To Get To You" (Rose Marie McCoy-Charles Singleton)

Gravação de 11 de Julho de 1955

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Noir (13)





"Murder, My Sweet", de Edward Dmytryk (1944)

Natal em "lingerie"...

Convenhamos que Isabel Figueira, Andreia Rodrigues e Helena Coelho perdem aos pontos para Irina Sheik. Mau negócio para a Triumph, que não deveria competir no mesmo campo da Intimissimi dispondo de "armas" inferiores...

LFV, JJ e o "bê á bá" dos recursos humanos

Não sei se os jogadores deixaram de “acreditar”, se existe ou não incompatibilidade entre Jorge Jesus e os jogadores ou se o discurso do treinador “já não passa”. O que sei - e disse-o desde o início - é que me parece existir um claro desfasamento entre o perfil, discurso e percurso profissional de Jorge Jesus e o de alguns dos mais importantes jogadores do plantel, com um trajecto cosmopolita e conhecedores dos grandes palcos e do “grande futebol”. Em alguma ocasião isso haveria de se manifestar.

Responsabilidades? Indiscutivelmente de Luís Filipe Vieira, que – a ocupar-se com tal assunto, o que é questionável - deveria preocupar-se mais em escolher treinadores com um perfil compatível com o clube e o plantel e menos em contratar alguém que consigo preferencialmente se identifique. Mas isto é "bê á bá" dos recursos humanos, ou não será assim?

Martin Scorsese's "Nothing But The Blues" (4)

quinta-feira, dezembro 09, 2010

The Saturday Evening Post Christmas (II série - 3)

J. C. Leyendecker - "Christmas Stocking"

Corrupção e populismo

De acordo com os números da Organização Tranparency Internacional, revelados esta quinta-feira pelos jornais Público e o Diário de Notícias, 83% dos portugueses dizem sentir que a corrupção em Portugal aumentou e piorou, e 75 por cento, ou seja, três quartos da população, pensam que o combate à corrupção exercido pelas autoridades portuguesas é ineficaz.

Não sei se a corrupção aumentou ou regrediu em Portugal nos últimos anos nem de que modo evoluiu o combate a este tipo de crime. O que sei é que este é um daqueles estudos praticamente inúteis, pois a percepção que os portugueses têm do fenómeno tem bem mais a ver com questões como a sua notoriedade nos “media”, o conhecimento ou não de alguns casos exemplares e mais mediáticos, a crise económica, a pobreza e a desigualdade, o desemprego e, por último mas não menos importante, o seu conforto ou desconforto com o regime e dirigentes políticos, do que propriamente com a evolução real do fenómeno.

Quanto à maior ou menor eficácia do combate à corrupção, para além das questões acima referidas, todos sabemos que se trata de um crime em que é normalmente difícil produzir prova em tribunal, pior ainda quando estamos a falar de casos que envolvem alto nível de sofisticação, e também sabemos quanto as questões ligadas aos direitos, liberdades e garantias são mais ou menos descartáveis para os portugueses quando se trata de julgar os “políticos” e “os ricos e poderosos”, que é realmente do que se está aqui a falar.

Voltando ao início... A corrupção aumentou ou regrediu? Não faço ideia e, dada a natureza do fenómeno, duvido alguém esteja em situação de o afirmar com rigor. Não tenho qualquer dúvida sobre o carácter pernicioso dessa mesma corrupção e sobre a necessidade de o combater sem hipocrisia e com eficácia, até porque corrupção e subdesenvolvimento costumam andar de mãos dadas. Mas o que Estado e governos não podem, de modo algum, fazer é para isso ultrapassarem os limites do Estado de Direito (ou deles “fazerem de conta”) e cederem á pressão da “rua” e da demagogia e populismo emergentes.

PS. Ouvi hoje Guilherme Oliveira Martins pedir “sanções exemplares” para crimes de corrupção. Respeito sinceramente Guilherme Oliveira Martins, mas de cada vez que oiço alguém pedir “sanções exemplares” para quaisquer tipo de crimes, fico sempre de pé atrás. Ou será que os tribunais não devem sempre julgar com isenção e independência e aplicar as leis com rigor e de acordo com a matéria provada em cada caso?

Martin Scorsese's "Nothing But The Blues" (3)

quarta-feira, dezembro 08, 2010

FCP, SLB e a hipótese de fusão das ligas nacionais: duas posições distintas

Uma das bases em que tem assentado a estratégia que conduziu o FCP à hegemonia do futebol português tem sido a do fortalecimento do clube à custa do enfraquecimento global da indústria. Quer dizer: para conquistar títulos e assim se fortalecer internamente, partindo daí para algumas relevantes conquistas extra-muros, o FCP, subvertendo a normal concorrência através de actividades que lançaram a suspeição sobre a respeitabilidade global do negócio (actuação junto de árbitros, suspeita de manipulação de resultados, domínio do dirigismo desportivo por meios nem sempre lícitos e transparentes, satelização de políticos, clubes e treinadores, etc, etc) acabou certamente por fazer não só com que muitos espectadores se afastassem dos estádios e dos televisores, como por banir da indústria muita gente com capacidade para a dirigir com competência e a conduzir por caminhos bem diferentes dos actuais.

Por esta razão. e também por ter na sua base uma ideologia que não lhe permite crescer significativamente muito para além das suas fronteiras regionais, o FCP será o clube português que mais se oporá à fusão de ligas nacionais ou à criação de uma Liga Europeia, que possa vir a substituir as ligas nacionais, condição de sobrevivência da indústria e do aumento de competitividade dos principais clubes em Portugal, principalmente do único que, perante um certo declínio do SCP e sua subalternização estratégica face ao FCP, tem neste momento verdadeira dimensão nacional e capacidade de expansão fora das fronteiras: o SLB.

Aimar

Com demasiada frequência me convenço não ver os mesmos jogos da maioria da crítica desportiva. Acontece que leio em “A Bola” e o “Record” rasgados elogios à actuação de ontem de Pablo Aimar, tido como o menos mau dos benfiquistas e apelidado de “el Mago” e coisas do género. Mas o que eu vi (confesso: ontem fiquei-me pela TV) foi um Pablo Aimar demasiado enredado num futebol miudinho, de pequenas tabelas, sempre pelo centro do terreno, sem amplitude nem dimensão e, por isso, a esbarrar na defesa do Schalke e acabando quase sempre com o jogador no chão (sem falta) ou perdendo a bola.

Convenhamos que muitas vezes funciona contra Olhanense e Paços de Ferreira. Mas contra uma equipa europeia, mesmo de 2ª linha como é o Schalke, tal futebol é manifestamente inadequado.

Ecce Homo!

Alexandre Lacazette (Porreiro, pá!)

terça-feira, dezembro 07, 2010

Quem de nove tira um e mesmo esse é guarda-redes...

Depois de ter contratado Kardec, Airton, Eder Luís, Fábio Faria, Gaitán, Jara, Salvio e Rodrigo (esqueci algum?), todos eles sem qualquer impedimento físico, o SLB começou o decisivo jogo de hoje com apenas com um jogador, Roberto - e mesmo esse num lugar muito específico -, contratado nos dois últimos períodos de transferência, Janeiro e defeso de 2010. Algo que deveria levar os responsáveis do clube a analisar a sua política de contratações, ou, indo mais fundo e dizendo de outro modo, a sua estratégia de recursos humanos.

Quanto ao resto, nada a acrescentar ao que tenho afirmado.

Saucy (2)


Martin Scorsese's "Nothing But The Blues" (2)

Solidariedade, governos e cidadania

Nos últimos tempos, algumas organizações da chamada “sociedade civil”, muitas delas ligadas, directa ou indirectamente, à Igreja Católica (o “Banco Alimentar Contra a Fome” é apenas a mais conhecida), têm desenvolvido acções de relevo no auxílio aos mais pobres e marginalizados. Sem dúvida, algo de meritório, se saúda e merece o aplauso, divulgação e contribuição de todos nós. Dentro das minhas possibilidades, tenho-o feito.

No entanto, parece começar a generalizar-se pouco a pouco na sociedade portuguesa a perigosa convicção, à qual a opinião veiculada pela ideologia ultra-liberal não é alheia, de que essa deverá ser ou tenderá a tornar-se a matriz dominante. Não deve nem poderá ser assim. Cabe fundamentalmente ao Estado, através dos governos centrais, regionais e autárquicos, definir políticas que evitem mais cidadãos caiam em situação de pobreza e marginalidade e, sempre que isso não for, de todo em todo, possível, definir e implementar os mecanismos necessários para que possam viver, não só com dignidade, mas também com a parcela de liberdade e autonomia possíveis numa situação de dependência extrema. A existência e actividade dessas instituições ligadas à “sociedade civil”, por muito meritória e louvável que possa ser a sua actividade (e sem dúvida que o é), deverá ter sempre um carácter complementar e/ou supletivo, e quanto mais relevante for o seu papel maior será a convicção de que todos nós, que em democracia elegemos quem bem ou mal nos governa, acabámos também por falhar um pouco.

À margem do "Wikileaks": verdade e transparência

Um das características da actual onda populista, tendo na sua base a democratização da informação surgida com as novas tecnologias, é a exigência de total transparência da vida pública e política, o estabelecimento do primado da “verdade” (seja lá o que isso for) como norma. A esses, convém notar, em primeiro lugar, que nenhuma organização, por mais democrática que possa ser, pode funcionar sem uma clara definição, no seu seio, de níveis de informação e conhecimento autorizados e, em segundo lugar, que está longe de ser verdade que uma total transparência do Estado e o primado da tal “verdade”, a nível das relações políticas, funcione sempre, ou até numa maioria de casos, em benefício do “povo” ou da maioria dos cidadãos. O mundo e a História estão cheios de exemplo elucidativos, nada sendo necessário acrescentar. A alternativa à opacidade das ditaduras não é, portanto, num Estado democrático, a total e indiscriminada transparência, a ilusão de uma verdade total e absoluta, totalitária, à disposição de todos, mas o primado da lei e uma correcta e legal definição dos tais níveis de informação e do modo como ela deve circular - ou não – publicamente, em função dos seus conteúdos e objectivos.

No fundo, duas premissas estão na base da tal exigência de “verdade” e “transparência” totais, ambas, apesar das aparências em contrário, conduzindo ao totalitarismo e à opacidade de sociedades não-democráticas: por um lado, a já habitual crítica indiscriminada aos políticos e à política, comum a todo e qualquer populismo em busca do caudilho, do homem providencial que “ponha isto tudo na ordem”; por outro, e de um modo mais selectivo, o ataque daqueles que, situando-se, soit disant, à esquerda do PS e dos socialismos e social-democracias europeias, aspiram a uma substituição estatizante dos regimes baseados na livre iniciativa e organizados em torno da democracia liberal.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

De Sócrates a César, ou da filosofia ao império

Como se já não bastassem as contradições manifestadas em recentes declarações públicas de muitos ministros e o silêncio comprometedor de alguns outros que que deveriam ter falado, contribuiu mais para o enfraquecimento e descrédito do actual governo e do primeiro-ministro José Sócrates a decisão do socialista Carlos César quanto à compensação dos funcionários públicos açoreanos do que os tão propalados e exagerados três milhões de grevistas do passado dia 24, ou a actividade da oposição durante as últimas semanas. Razão tinha Churchill ao afirmar que os inimigos estão sempre dentro do próprio partido e os outros nada mais são do que simples adversários políticos.

Pois é, caro primeiro-ministro: não se pode esquecer que se Sócrates é nome de filósofo da Antiguidade, César transporta consigo a memória dos respectivos imperadores e, com ela, a ambição de dirigentes futuros.

Martin Scorsese's "Nothing But The Blues" (1)

domingo, dezembro 05, 2010

Regimental Ties (10)

Worcestershire and Sherwood Foresters Regiment Tie

"The Worcestershire and Sherwood Foresters Regiment (29th/45th Foot) was an infantry regiment of the British Army, part of the Prince of Wales' Division. It was formed in 1970 through the amalgamation of two other regiments:

* The Worcestershire Regiment (29th Regiment of Foot / 36th Regiment of Foot)
* The Sherwood Foresters (Nottinghamshire and Derbyshire Regiment)
In August 2007, the regiment was renamed as the 2nd Battalion, Mercian Regiment (Worcesters and Foresters)."

Não é melhor decidir já que foi atentado?

Confesso não fazer a mínima ideia se Sá Carneiro, Amaro da Costa e restantes passageiros e tripulantes do avião que os vitimou morreram em virtude de atentado, avaria mecânica do Cessna ou azelhice dos pilotos, e assim ficarei até que indiscutível prova produzida por autoridade imparcial e competente decida, inequivocamente, num sentido ou noutro. Confesso também o assunto me merece um interesse muito relativo, não perdendo sequer escassos minutos da minha vida a pensar ou discorrer sobre tal coisa. E, claro, escusado será dizer que não tenho convicções, nem me parece isto seja tema onde tal coisa tenha algum interesse ou, pior ainda, “faça fé”. Mas devo acrescentar entendo que os que estão ou estiveram perto, pessoal e/ou politicamente, das duas personalidades políticas então desaparecidas tendam, por razões emocionais e pelos dividendos políticos que poderiam advir de uma morte não acidental, a fazer prevalecer a tese do atentado, tivesse ele como objectivo o então primeiro-ministro (primeira tese), o ministro da Defesa (tese posterior) ou quem quer que fosse a bordo.

Mas o que já entendo mal é que o Estado português, depois de seis ou sete comissões de inquérito parlamentar (que, infelizmente, neste como em outros casos, todos sabemos valem o que valem – muito pouco ou nada), não sei quantas investigações oficiais com recurso a peritos internacionais ou tidos como tal e decorridos 30 anos sobre o acontecimento, se prepare, a pedido dos que querem fazer o país acreditar na tese do atentado do mesmo modo que o Tribunal do Santo Ofício a todos obrigava a crer nos dogmas da Santa Madre Igreja, para gastar mais tempo e dinheiro dos contribuintes em mais uma comissão de inquérito que valerá, uma vez mais, aquilo que valeram as anteriores: destaque mediático para algumas personalidades, com o ubíquo Ricardo Sá Fernandes à cabeça, e como resultado credível e indiscutível muitas dúvidas ou coisa nenhuma .

É preciso reduzir a despesa pública, o número de deputados, etc, etc? Talvez não fosse mau começar a reduzir a despesa por aqui e a tentar não ocupar os que elegemos para São Bento em assuntos inúteis.

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Na volta da "Catedral"

Regressado há pouco da “Catedral”, confesso houve várias coisas que não entendi hoje no meu “SLB:

  1. Em primeiro lugar, tendo Pablo Aimar treinado de forma condicionada durante toda a semana, porque não jogou Carlos Martins no seu lugar. Aliás - e peço desculpa pela “heresia” - confesso preferir a equipa com Martins em vez de Aimar, pois aquele introduz maior agressividade e poder atlético naquela zona do terreno e, last but not least, é mais jogador de passe do que de condução de bola - e para “levar” a bola Saviola, Gaitán e Sálvio são jogadores de sobra.
  2. Em segundo lugar, o que andou Gaitán a fazer em terrenos interiores durante toda a primeira parte, fugindo de dar profundidade e verticalidade ao lado esquerdo e atrapalhando aqueles a quem competia jogar pelo meio (Aimar, Cardozo, Saviola). Foi por auto-recriação ou alguém o mandou jogar assim?
  3. Em terceiro lugar, a substituição ao intervalo deveria ser Gaitán por César Peixoto, adiantando Coentrão, e não por Carlos Martins (este deveria ter jogado de início no lugar de Aimar). Com esta substituição (Martins foi jogar na direita por troca com Amorim), a equipa continuou coxa e mal estruturada.

Enfim, nem sempre tudo está bem quando acaba bem...

Vão-se Qatar! A FIFA? Não os jornalistas e dirigentes aqui da paróquia

Talvez lembrar aos que criticam a entrega da organização do Mundial 2022 ao Qatar por causa das temperaturas de 40º que já ouvi a mesma ladainha quando o campeonato se disputou nos USA, que essas condições extremas verificadas então em algumas das cidades onde se disputaram jogos estiveram na base de desenvolvimentos importantes em diversas áreas do treino e medicina desportiva e que, falando do Qatar, este país se propõe construir estádios dotados de sistemas arrefecimento. Mais: para os que criticam a entrega da organização ao Qatar “porque sim”, porque têm petróleo, porque têm dinheiro, perguntar se por acaso acham que o futebol teria atingido o grau de desenvolvimento, perfeição e espectacularidade que apresenta hoje em dia - disputado por atletas quase perfeitos, excelentemente preparados e equipados, jogado em recintos confortáveis - sem dinheiro, muito dinheiro? Lembrar ainda que o país (Qatar) se propõe desmontar os estádios construídos e enviá-los para países onde sejam mais necessários, e que o calor e o dinheiro irão permitir aquilo que será, por certo, uma notável evolução tecnológica na arquitectura e condições de utilização dos recintos destinados à prática do futebol, o que fará com que os estádios portugueses construídos para o Euro 2004 pareçam tão antigos como a Grande Pirâmide ou um Zigurate da época de Nabucodonosor.

O que acho espantoso, verdadeiramente espantoso nos comentários de uma boa parte da imprensa e dirigentes desportivos aqui da paróquia, é que o progresso do futebol, para tais sapiências, parece reduzir-se à aplicação das novas tecnologias à arbitragem. Dois comentários. Em primeiro lugar, não sei porque fazem tanto finca pé nas novas tecnologias: como grande parte passa os programas a analisar os erros e pretensos erros de arbitragem, ficariam rapidamente desempregados. Em segundo lugar: então e para as novas tecnologias já não é preciso dinheiro?

Moral da história? Ainda bem que FIFA e UEFA não seguem os conselhos desta gente!

História(s) da Música Popular (171)


Brenda Lee - "Is It True?" (Carter & Lewis)

Herman's Hermits - "Can't You Hear My Heartbeat" (Carter & Lewis)

Carter & Lewis (II)

Pois dizem as más línguas – as boas não sei o que farão... – que a colaboração de Carter & Lewis com o Jimmy Page músico de estúdio terá continuado nos anos seguintes, já no período que se seguiu a Carter Lewis & The Southerners. Fundamentalmente, estou a falar de dois temas, um que foi um enorme sucesso do outro lado do Atlântico e outro que nem tanto assim.

Bom, em 1964, Brenda Lee, já no período menos interessante da sua carreira (digo-o eu...), gravou em Londres, sob a égide do produtor Mickie Most (trabalhou com os Animals, Donovan, Herman’s Hermits, Yardbirds e mais um ror de gente), um tal tema “Is It True?”, da autoria de Carter & Lewis. Francamente, comparado com as canções que fizeram o sucesso de Little Miss Dynamite, nada de especialmente relevante, excepto o facto de Jimmy Page se fazer ouvir. Adiante, pois... já que Page, como músico de estúdio e com um pouco do meu exagero, é quase ubíquo nas gravações dos grupos ingleses deste período.

Mas falando de Mickie Most, diferente foi o que aconteceu com “Can’t You Hear My Heartbeat”, um outro tema escrito por Carter & Lewis e gravado em 1965 pelos mancunians Herman’s Hermits de Peter Noon, também com a colaboração da guitarra de Page, que chegou a #1 nos USA.

Pois qui ficam os dois temas e... judge for youselves... Please!

Salário mínimo

Confesso a fraqueza: há assuntos sobre os quais tenho dificuldade em que seja o racional e não o emocional a formar a minha opinião. Mas quando estamos a falar de um aumento de €25 mensais para quem ganha €475, seja, €0.8333... /dia, mesmo em plena crise conhecida, poderá ser de outra forma e haverá argumento racional que resista?

quinta-feira, dezembro 02, 2010

Frivolidades, ou o "azul marinho"

Confesso nunca ter entendido muito bem porque existe em português uma cor a que se dá o nome de "azul marinho". Que eu saiba, nem o mar se apresenta sempre azul, aos nossos olhos, como, mesmo quando o vemos dessa cor, pode ter tonalidades várias. Ou será que se resolveu trocar o género a "navy blue" (azul da marinha) que assim terá passado à categoria LGBT? Sinais dos tempos?

The Saturday Evening Post Christmas (II série - 1)

"The Cazalets" (24 - final)

"The Cazalets" - BBC (2001)

And the winner is... Russia (e faz todo o sentido...)

Se um dos objectivos principais da FIFA, nos últimos anos, tem sido o fomento do futebol no terceiro-mundo e em países relativamente periféricos – e tem-no conseguido com grande sucesso, acrescente-se -, a vitória da candidatura russa para a organização do Mundial 2018 faz todo o sentido: a Rússia nunca organizou um Europeu ou Mundial, necessita de desenvolver infraestruturas para o Mundial 2018 que ajudarão ao fomento do futebol na Federação (aliás, foi isto que esteve na base da atribuição, pela UEFA, do Euro 2004 a Portugal), tem enorme potencial futebolístico, alguns dos seus clubes, financiados pelos novos-ricos do pós-URRS, têm vindo a (re)afirmar-se nas competições europeias e a sua selecção, nos últimos tempos com resultados débeis, necessita de um impulso que a traga para a ribalta do grande futebol. Por último, politicamente, a organização do Mundial poderá ajudar a aproximar a Rússia do centro europeu e promover uma sua maior integração no ocidente.

Em contrapartida, Espanha e Portugal são países futebolisticamente maduros (tal como a Inglaterra, a Bélgica e a Holanda), com resultados de sucesso obtidos pelos seus clubes e selecções, com infraestruturas já construídas (em Portugal em excesso – faltam, no entanto, estádios modernos de pequena dimensão - e com Espanha a necessitar de remodelar alguns dos seus estádios ou construir outros) e com enorme entusiasmo pelo futebol em todo o seu território, bem visível nas escolas de futebol, a funcionar em instalações de qualidade, espalhadas um pouco por toda a Península. Politicamente, são democracias sólidas inseridas nas principais instituições europeias e mundiais. Em função disto, seria dificilmente expectável e até mesmo pouco aceitável qualquer outra decisão.

O que se perde? Para mim, uma excelente oportunidade de aprofundar ainda mais a cooperação entre os dois países e as várias nações ibéricas, dando, talvez para sempre, um pontapé no anti-castelhanismo provinciano ainda demasiado dominante em alguma elite portuguesa. Mas, francamente, ganhou o futebol.

Urban Lavender Christmas Style

Ernâni Rodrigues Lopes (1942-2010)

Cavaco Silva devia mandar erigir-lhe uma estátua (e outra a Mário Soares).

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Alienigena

No programa da TSF “Jogo Jogado”, da passada 2ª feira, o comentador João Rosado afirmou que a candidatura conjunta Portugal/Espanha à organização do Mundial 2018 “não faz qualquer sentido” já que Portugal poderia ser, individualmente, um candidato à organização de um Mundial. A pergunta que deixo é a seguinte: esta gente vive em que mundo? No mesmo em que eu vivo não é com certeza!

The Roulette Years (13)

Dave "Baby" Cortez - "The Happy Organ"

"The Cazalets" (23)

"The Cazalets" - BBC (2001)

Sá Carneiro

A RTP apresentou ontem - não sei se em repetição - mais um documentário, com cenas ficcionadas, sobre a morte de Sá Carneiro. Sobre o documentário, acrescento foi mais uma contribuição para a hagiografia do líder fundador do PPD do que propriamente uma peça jornalística interessada em contribuir para a análise e conhecimento mais profundos de um período agitado da vida recente do país. Centrado nos depoimentos dos que lhe são mais próximos, apenas com as excepções de Eanes e Mário Soares, mais adversários conjunturais do que opositores políticos “de fundo”, sem qualquer intervenção de quem se tem dedicado recentemente ao estudo desse período histórico, a peça, nas suas cenas ficcionadas, chega ao cúmulo de nunca mostrar a cara do actor que interpreta Sá Carneiro (foca apenas um seu reflexo no vidro do avião fatal), um pouco como acontecia com Jesus Cristo em algumas produções da Hollywood de antanho. Conversados, pois.

Mas todo este arrazoado serve fundamentalmente de introdução para duas questões de natureza política que, baseando-me numa passagem do documentário, gostaria de salientar: a concepção de democracia de Sá Carneiro e os seus erros políticos. Quando Sá Carneiro, no rescaldo do 25 de Novembro, faz afirmações na RTP implicitamente pedindo a ilegalização do PCP ou, numa interpretação muito minimalista, pelo menos a sua marginalização política, demonstra, em contraste com Melo Antunes, não só uma noção de democracia claramente restritiva (um dos valores fundamentais da sociedade democrática reside em aceitar no seu seio os próprios inimigos), como labora num enorme erro político: sem uma integração do PCP e da esquerda radical, de pleno direito, no Estado democrático, dificilmente o caminho seguido na construção de uma democracia liberal e de uma sociedade aberta e tolerante se teria efectuado sem sobressaltos de maior e sido tão bem sucedido.

Digamos, enfim, que nada disto é novidade. Se no activo de Sá Carneiro se pode contabilizar a sua intervenção na “ala liberal” da ditadura de Caetano (de onde, no entanto, saiu derrotado, note-se) e a coragem da atitude assumida na sua vida pessoal e afectiva, a sua intervenção no chamado “golpe da Manutenção Militar”, o seu apoio declarado ao caudilhismo Spínolista e a candidatura de Soares Carneiro à Presidência da República – para não falar no seu exílio durante o PREC, justificado por questões de saúde – são suficientes para demonstrar a essência do seu projecto político e os demasiados erros cometidos no percurso.

Mas entende-se o objectivo dos seus: tendo chegado tarde à luta democrática e não tendo, por isso, o passado político de luta contra o regime de Soares ou Cunhal (Sá Carneiro nem sequer era a personalidade mais carismática da “ala liberal” caetanista, cedendo o passo a Miller Guerra, Balsemão e Pinto Leite), a infelicidade da sua morte acabou, finalmente, por dar à sua área política a oportunidade de construção do herói e mito de que sempre tinha carecido.