sexta-feira, novembro 30, 2012

Friday midnight movie (18) - Jess Franco (I)


"Vampyros Lesbos", de Jesus ("Jess") Franco (1971)
Filme completo c/ legendas em inglês

Les Belles Anglaises (67)



 Alvis TB21 (1951)

The One & Only Rolling Stones (1/4)

Documentário da BBC (2003)

Zorrinho e a "carta-aberta"

É óbvio que Mário Soares, apesar dos demasiados "faux pas" do seu percurso recente, e alguns dos signatários da "carta-aberta" a pedir a demissão do governo (não direi todos) estão mortos de saber quais a disposições constitucionais que podem levar à demissão de um governo. Sabem também que "cartas abertas" e outras quaisquer petições do mesmo teor não estão entre essas disposições constitucionais e que o actual governo, apesar de ter chegado ao poder escudado numa conspiração presidencial e apoiado na maior fraude programática de que há memória na democracia portuguesa, continua a ter legitimidade democrática. Por isso, o que Mário Soares e os restantes signatários pretendem com esta sua acção é, pois, numa acção legítima e legal, concorde-se ou não e eu não simpatizo demasiado com tais iniciativas, minar o terreno da acção governativa, contribuir para ampliar na sociedade portuguesa a contestação anti-governamental, radicalizando-a, pressionar a acção do Presidente da República em relação ao orçamento de Estado de 2013 e ao tal corte de quatro mil milhões e, last but not least, tentar empurrar o Partido Socialista para uma oposição mais consequente. Que a direita mais radical e "tea partyana" interprete o documento à letra e reaja em conformidade, faz parte do seu ADN, que nunca primou pela inteligência nem pactuou com pensamentos demasiado elaborados. Que Carlos Zorrinho reaja de igual modo já é bem mais triste e sintomático de que vale a actual direcção do PS e do incómodo que tal "carta aberta" lhe terá causado. É que mais valia, tout simplement, ter optado por responder: "touché"!

quinta-feira, novembro 29, 2012

The best of Chess Rhythm & Blues (3)

Sugar Pie DeSanto - "Go Go Power"

A inoportunidade de uma entrevista

Perante a perspectiva de conceder ontem uma entrevista a uma estação de televisão, Passos Coelho tinha duas alternativas para demonstrar ser um político inteligente: aproveitar a oportunidade para tentar ampliar um pouco a debilitada base social de apoio do seu governo, ou pelo menos conseguir alargar o grupo dos que se assumem como mais ou menos "neutros", conseguindo demonstrar aos portugueses existir algum capital de esperança ou ténues perspectivas de prosperidade futura, ou, pura e simplesmente, ficar calado e optar por não fazer, neste momento, quaisquer declarações. Não optou por qualquer delas e afundou ainda mais os portugueses no desespero, contribuindo com essa sua atitude para mergulhar mais um pouco o país na recessão. Demonstrou, deste modo, completa  de ausência de clarividência e tacto político. Pior é sempre possível, mas foi de facto muito mau. 

quarta-feira, novembro 28, 2012

Pedro Passos Coelho: um retrato de incapacidade política

Um dia após a aprovação de um orçamento de Estado que até nas fileiras da maioria é contestado e no qual parece apenas uma parte do governo se revê, a entrevista de Pedro Passos Coelho à TVI constituía uma excelente oportunidade para este conseguir algum crédito para si e para o governo que dirige junto dos portugueses, apresentando perspectivas que pudessem diminuir o ambiente de tensão e tentassem aligeirar as nuvens negras existentes. O resultado foi exactamente o contrário: a oportunidade foi desaproveitada e nem nas hostes dos comentadores normalmente mais simpáticos para o governo, talvez apenas com excepção de um ou outro ideologicamente mais radical, Passos Coelho conseguiu obter crédito acrescido. Muito menos tal terá sido conseguido junto dos cidadãos, aos quais, isso sim, foram prometidos mais "cortes" e a eternização dos sacrifícios. Inépcia comunicacional? Não: pura e simples incapacidade política. 

4ªs feiras, 18.15h (10) - "Noir" (II)

"Panic In The Streets", de Elia Kazan (1950)
Filme completo c/ legendas em português

O "empobrecimento" veio para ficar

Para os que ainda tinham dúvidas... A redução dos salários destina-se fundamentalmente a tornar a economia portuguesa mais competitiva para que assim possa voltar a crescer? Seria demasiado estúpido, mesmo para a actual maioria governativa, já que está mais do que provado nunca poderá ser esse o caminho e os ganhos de competitividade obtidos desse modo serão pouco ou nada mais do que marginais. No fundo, trata-se tão só de diminuir o rendimento disponível das famílias e assim "encolher" o nível de actividade económica para que a redução das importações possa equilibrar as contas com o exterior. O "empobrecimento" será pois estrutural, o que significa veio mesmo para ficar.

terça-feira, novembro 27, 2012

Fado - Património Imaterial da Humanidade (1 ano)

Cecília Silva - dois fados de nome desconhecido gravados em 1929 nos estúdios Valentim de Carvalho
Nota: Cecília Silva é avó de Nuno Markl

História(s) da Música Popular (204)

Curtis Lee - "Pretty Little Angel Eyes"

The Paris Sisters - "I Love How You Love Me"

Phil Spector (IV)

Antes de chegar às Crystals e ao verdadeiro início do "wall of sound" com "There's No One Like My Baby", e ainda em 1961, Spector produziu dois êxitos, respectivamente, para Curtis Lee (#9) e as Paris Sisters (#7). No primeiro caso, "Pretty Little Angel Eyes", temos um tema muito dentro do espírito "doo wop", embora fora do âmbito dos característicos grupos do género (de qualquer modo, Spector utilizou um grupo "doo wop" de suporte - The Halos - na gravação, aliás bem audível). No segundo, com as Paris Sisters e "I Love How You Love Me", onde encontramos a assinatura de de Barry Mann, embora ainda sem Cynthia Weil, há um certo clima a "To Know Him Is To Love Him", num quase regresso às origens. Mas, como diria a Cláudia Lopes do "Mais Futebol", "o melhor ainda está para vir" no capítulo Phil Spector de "História(s) da Música Popular"

Seguro e a constitucionalidade do OE

Compreendo António José Seguro e a direcção do PS não tenham querido associar-se a alguns deputados da sua bancada no envio para o Tribunal Constitucional do orçamento de 2012: o partido tinha optado pela abstenção, o que significava não sendo o documento aprovado o "seu" orçamento também não via nele nada que justificasse uma oposição política frontal ou qualquer atitude tida por obstructiva. Já o mesmo não poderei dizer do orçamento para 2013: tendo o PS optado pelo voto contra e por uma crítica frontal ao documento, não compreendo a sua opção pelo não envio do orçamento para verificação da sua constitucionalidade. Privilegia o partido a luta política, segundo o que afirma Seguro? É uma opção correcta, louvável, até, já que esse é o terreno por excelência da luta democrática. Mas entendamo-nos: a Constituição da República é o documento político fundamental do país, elaborado, discutido e aprovado pela Assembleia da República, e o Tribunal Constitucional o orgão jurídico-político encarregue de fiscalizar da sua aplicação. Assim sendo, tenho dificuldade em entender por que razão António José Seguro abdica estender também a este terreno político o combate contra o orçamento de Estado que o seu partido se propõe travar. E, claro, desnecessário será dizê-lo, dificuldade acrescida terá também em explicá-lo aos portugueses.

segunda-feira, novembro 26, 2012

Dennis Potter's "Pennies From Heaven" (10)

"Just Let Me Look At You"

Victor Palla (7)

Capa do romance "Bastardos do Sol", de Urbano Tavares Rodrigues, nº 8 da Colecção "Autores Portugueses" da Editora Arcádia (1959-1960)

Henrique Monteiro e a greve

Henrique Monteiro, que até foi maoísta e, nessa qualidade, integrou a redacção da "Voz do Povo" (UDP), sendo portanto de admitir tenha pelo menos "passado os olhos" pelos clássicos do marxismo, mostra-se muito admirado por apenas 20% dos portugueses alguma vez ter feito greve. Confesso o que me admira é a percentagem ser tão elevada, num país que desde o 25 de Novembro de 1975 tem uma situação democrática estável e normalizada e onde, desde o 25 de Abril, a esmagadora maioria dos cidadãos viu as suas condições de vida muito melhoradas. Esquece Henrique Monteiro que, exceptuando situações de grave ruptura, revolucionárias ou pré-revolucionárias, a greve é sempre uma questão de minorias lutando por objectivos muito concretos e tentando alcançar vantagens negociais e, assim sendo, excepto se o direito à greve for ilegal, haverá sempre grupos sociais ou profissionais que, por serem mais coesos, exercerem a sua actividade em sectores-chave ou qualquer outra razão de teor semelhante, conseguem tirar mais vantagens do recurso à paralização laboral. Como, de igual modo, haverá no lado dos empregadores sectores que, pela sua situação específica, conseguem obter para si próprios mais vantagens na sua relação com o poder. É assim que acontece nas sociedades livres e, já agora, convém também lembrar Henrique Monteiro que mesmo em situações revolucionárias de "tomada do poder", historicamente, a iniciativa e a direcção dos movimentos pertence sempre a uma minoria tida por mais "esclarecida" e "empreendedora", a chamada "vanguarda". Pretender que metade ou mais de metade dos portugueses já tivessem alguma vez participado numa greve é, portanto, uma utopia e não serve para justificar o que quer que seja.

Outra coisa, bem diferente, é debater a actualidade do recurso à greve como forma privilegiada de luta laboral, a sua capacidade para mobilizar sectores para além de algumas classes e grupos profissionais muito específicos, as suas virtualidades como forma de pressão para obter vantagens negociais, o seu papel no sindicalismo reformista e a situação dos sindicatos na actualidade. Essa é a discussão que vale a pena, muito diferente da demagogia populista de Henrique Monteiro que, embora em versão "soft", não deixa de se integrar na actual campanha que por aí vai medrando contra o democrático reconhecimento constitucional do direito à greve.  

Tudo igual na frente do campeonato? Nem por isso...

Depois da vitória do FCP ontem em Braga num jogo em que teve tudo a seu favor (um "penalty" não assinalado e um golo de muita sorte confirmaram, com e sem ironia, as previsões de Jorge Jesus), só aparentemente tudo continua igual entre os dois primeiros: o FCP já jogou e venceu SCP e SCB, este último "fora", enquanto o SLB se limitou a empatar com o SCB em casa. Com saídas próximas a Alvalade e a S. Roque da Lameira, onde também não costuma ter muita "sorte", dificilmente o meu "Glorioso" conseguirá evitar que o FCP "vire" para a segunda volta isolado no primeiro lugar. Acresce que a mais do que provável participação na Liga Europa (só um milagre o evitará) também não ajuda: a competição tem mais uma eliminatória do que a Champions League e, teoricamente, o SLB poderá ir mais longe na LE do que o FCP na CL, o que agravará o desgaste. 

Digamos que o FCP pode ter começado ontem a ganhar o campeonato... Infelizmente.

Correcção às 16.05h: o SLB jogará o próximo jogo com o FCP em "casa" e não "fora", o que pode melhorar um pouco as perspectivas se não se repetirem os resultados da duas últimas épocas.

domingo, novembro 25, 2012

Matiné de Domingo (3)


"Mädchen in Uniform", de Géza von Radványi (1958)
Filme completo c/ legendas em inglês

Alberto da Ponte: o que é verdade hoje será mentira amanhã

Digamos que achei alguma graça aos ingénuos que perante a afirmação, explícita garantia de Alberto da Ponte aos signatários de um documento "Em Defesa do Serviço Público de Rádio e Televisão", iriam ser mantidas as três rádios públicas e os dois canais de televisão, não encarando mesmo o presidente da RTP a existência de "um serviço público completo" sem essa manutenção (sic), acreditaram seria esse o desfecho mais do que provável do processo de privatização em curso, qual "golpe de teatro" de última hora. Claro que bastou um par de dias para que Alberto da Ponte confirmasse não ser só no futebol que o que é verdade hoje pode ser mentira amanhã e viesse afirmar que "não o chocava" a privatização de ambos os canais da televisão estatal. 

Um puxão de orelhas do ministro Miguel Relvas, dado entretanto? Custa-me a crer e não sou ingénuo a tal ponto: o desfecho do "dossier" RTP está definido desde o seu início e só desse modo se compreende a aceitação do cargo de presidente por Alberto da Ponte, abandonando uma confortável e financeiramente compensadora pré-reforma. Então qual a razão de fundo para tal afirmação, perante os signatários do documento? Para mim, apenas um modo expedito de "desarmar", desvalorizar, desrespeitar e até humilhar os portadores e signatários de tal petição, mostrando o seu desprezo pelas personalidades presentes e ideias defendidas através de uma afirmação que sabia ser mentirosa mas sabia também iria agradar aos seus interlocutores de ocasião. Foi a chamada "mentira piedosa" ("pois, isso é fantástico, excelente ideia, fizeram um bom trabalho" - costas voltadas, cesto de papéis com ele e numa ditadura teriam a polícia à espera na porta da rua) vinda de quem nem sequer está para se "chatear" a discutir uma proposta ou perder algum tempo com o assunto. 

Por fim, para a tal comissão "Em Defesa do Serviço Público de Rádio e Televisão" foi a demonstração clara de que o género de gente com quem está a lidar não se coaduna com ridículas "petições" e "abaixo assinados" a fazerem lembrar documentos de teor semelhante enviados a Salazar pelo e nos tempos do "reviralho". É negócio "puro e duro", que só compreende a linguagem da força e não hesitará perante nada, e cidadãos com a experiência política e de vida de Arons de Carvalho, Loureiro dos Santos ou Ribeiro e Castro já o deveriam ter aprendido. Será que aprenderam?

sexta-feira, novembro 23, 2012

Friday midnight movie (17) - Giallo (III)


"I Tre Volti Della Paura" (aka "Black Sabbath"), de Mario Bava (1963)
Filme completo c/ legendas em inglês

Ai!, o Sporting, pois...

No futebol profissional, mesmo no "assim-assim" como o português, não existe equipa ganhadora sem que o clube tenha um modelo de negócio coerente; não existe equipa ganhadora sem que o clube defina objectivos concretizáveis e uma estratégia adequada para os atingir; não existe equipa ganhadora sem que o clube defina uma conjunto planificado de acções passível de concretizar essa estratégia e atingir os objectivos definidos. Só depois vem o treinador, os princípios e modelo de jogo, o sistema táctico e uma política de recursos humanos compatível. Ora o SCP não tem nada disso: abandonou o foco na Academia e na formação, com o consequente despedimento de Paulo Bento, com o mirífico objectivo de lutar c/ o FCP e o SLB com um orçamento mtº inferior e sem capacidade para se financiar; tentou ser um segundo SC Braga com uma cultura e envolvente muito diferentes e sem estarem reunidas condições para tal; vendeu o seu capitão e melhor jogador a um dos rivais (será mesmo?) delapidando a "brand equity" do clube; tem, como disse correctamente José Eduardo Bettencourt, um orçamento demasiado pequeno para lutar pelo título e demasiado grande para ser apenas terceiro; recrutou sem critério coerente e com os maus resultados conseguidos não consegue valorizar os seus activos - e assim sucessivamente. O SCP navega num mar de equívocos e tal acaba por se reflectir na situação financeira do clube e nos resultados da sua equipa de futebol. E, para terminar, com este cenário o populismo arrisca-se a tomar conta do clube. O caldo de cultura está lá, mas muitos sportinguistas preferem falar de Vercauteren, das substituições, da "falta de empenho", dos "media", dos árbitros e sei lá mais do quê. Depois queixem-se...

The best of Chess Rhythm & Blues (2)

Jackie Brenston - "Rocket 88" (1951)

As "imagens" e o "bom senso"

Fazer depender a entrega às polícias de imagens não editadas de questões tão subjectivas como o "bom senso" ou aleatórias como a "análise caso a caso" é abrir a porta à total e completa discricionariedade e deixar a decisão ao livre arbítrio, decidindo cada um como lhe aprouver em função do caso concreto e do estado de espírito do momento. As leis do Direito são gerais e abstractas, significando isto que se aplicam a todos, sem excepção, e não distinguem casos em concreto. Ver um jornalista licenciado em Direito, como Miguel Sousa Tavares, ou o director da TSF Paulo Baldaia (DN de hoje) defenderem as decisões neste tipo de assuntos sejam baseadas no "bom senso" e nos tais casos em concreto, no mínimo, causa-me arrepios. Mas infelizmente é o que temos...  

quinta-feira, novembro 22, 2012

The best of Chess Rhythm & Blues (1)

The Four Tops - "Kiss Me Baby" (1956)

Os portugueses e a História

Os portugueses não se interessam pela sua História, ou, tirando o "sua", pura e simplesmente não se interessam por História. Para além de meia-dúzia de "clichés", pouco ou nada a conhecem. Tal não deixará de ter a ver com o baixo nível de instrução da maioria, apesar do enorme progresso registado nas últimas décadas, com uma classe média muito recente e talvez ainda com a falsificação durante muito tempo (e ainda agora, embora em menor grau) ensinada nas escolas. Só assim se compreende o esquecimento a que os "media" votaram o ano de 2011, cinquentenário da invasão do chamado "Estado Português da Índia" e do "annus horribilis" da ditadura do Estado Novo. Só assim se compreende também um certo ostracismo a que está a ser votada a excelente série documental "A Guerra", de Joaquim Furtado, em exibição na RTP1. Teriam sido o tempo e local adequados para lançar alguns debates, mais alguns depoimentos, por exemplo, de quem esteve na Índia ao tempo da invasão, de ouvir historiadores sobre os assuntos. Mas nada. Valha-nos o documentário de Joaquim Furtado (pelo caminho que isto leva, qualquer dia será apenas conhecido como sendo o pai da Catarina) e a iniciativa da RTP de o ter posto no ar a horas decentes. Mas poderia ter feito bem melhor.  

quarta-feira, novembro 21, 2012

4ªs feiras, 18.15h (9) - "Les Femmes de Godard" (III)

Anna Karina in "Pierrot Le Fou" (1965)
Filme completo c/ legendas em inglês

Chansons historiques de France (3)

Aristide Bruant pintado por Toulouse Lautrec

"Plus de Patrons" - canção anarquista (1890) da autoria do comediante Aristide Bruant e aqui interpretada, em 1968, por Marc Ogeret

O que disse realmente Bento XVI?

Ora vamos lá ver uma coisa... 

Não sendo eu nem católico nem sequer crente, e compreendendo que esta história de Bento XVI se preocupar com a vaca e o burro do presépio pode cair no ridículo e prestar-se a enorme galhofa (nada contra: é sempre bom rir com o humor inteligente e já vi por aí na net algum dele), o que disse realmente o Papa, segundo o que li no "Público", sobre a questão? Muito simples: que "a virgindade de Maria e a ressurreição de Jesus Cristo devem ser vistos como pilares da fé porque são sinais inegáveis do poder criador de Deus", ou seja - e baseando-se a religião na fé - tratam-se de dois acontecimentos não provados mas nos quais é necessário os católicos, para o serem, acreditem como elementos essenciais fundadores da sua religião. Dito em latim, como na matemática, são condições sine qua non: sem elas não existe catolicismo.

Já acrescenta Bento XIV que o facto da vaca e o burro aquecerem ou não o bebé Jesus e a estrela dos Reis Magos poder ser uma "supernova" são elementos perfeitamente acessórios, para não dizer indiferentes em termos religiosos e da fé católica, o que é bem fácil de entender: a sua presença ou existência quando do nascimento de Cristo em nada afecta a essência e os princípios fundadores da religião da qual Ratzinger é chefe.

E isto digo eu que não sou católico, nem sequer crente, mas tenho o mau hábito de tentar perceber as coisas e não me ficar pelos "soundbites". 

SLB: apesar de tudo, não me parece exista razão para grandes críticas

Claro que a única falha na carreira do SLB na fase de grupos da Champions League foi a derrota em Moscovo. Mas, ao contrário do que afirma Luís Pedro Sousa, no "Record", não foi isso que pode ter deitado tudo a perder: um empate em Moscovo teria sido um resultado normal, até mesmo um bom resultado, e pouco alteraria nas contas do grupo, não podendo o SLB perder em Camp Nou se o Celtic, como é o mais provável, ganhar em Parkhead contra um Spartak para o qual o jogo é "a feijões". A única diferença seria que o SLB poderia perder em Camp Nou se o Celtic empatasse o seu último jogo, o que não me parece seja diferença de muita monta. Aliás, o SLB conseguiu até ter vantagem no confronto com os seus adversários directos: E/V com o Celtic e D/V, com diferença de golos favorável, nos jogos com o Spartak. O problema foi mesmo a derrota do Barça em Parkhead, já que se o Celtic, como se esperava e seria normal, tivesse perdido esse jogo, o SLB estaria desde ontem apurado para os 1/8 de final da prova. Mas sobre prestações de terceiros não existe controle. De qualquer modo, e mesmo que a Liga Europa seja o destino, não me parece seja caso para grandes críticas à equipa e ao modo como foi conduzida a sua participação na Champions League deste ano, tendo em conta as saídas de Javi Garcia e Witsel.

terça-feira, novembro 20, 2012

Nursery Rhymes (11)

Hickory, Dickety, Dock"

Dylan & Byrds (3)

Bob Dylan - "It's All Over Now, Baby Blue" - do álbum "Bringing It All Back Home", editado em Março de 1965

A versão dos Byrds é de 1965 e foi obtida durante a gravação do seu álbum "Turn!, Turn!, Turn!". Seria apenas editada em 1987. Está também incluída na caixa de 3CDs (1998) que reúne os três primeiros álbuns do grupo, "Mr. Tambourine Man", "Turn!, Turn!,Turn!" e "Fifth Dimension".

Ainda a "manif" de 14 de Novembro e a violência

  1. Quem participa numa manifestação que se afasta dos objectivos que presidiram à sua convocação ou adopta comportamentos com os quais discorda, tem apenas duas coisa a fazer: em primeiro lugar, tenta fazer voltar a manifestação aos seus propósitos iniciais e a observar comportamentos com os quais se identifica; caso não o consiga fazer, resta-lhe uma alternativa se não quiser, com a sua presença, caucionar esses novos objectivos e comportamentos: abandonar a manifestação. Aliás, e segundo relato do próprio, foi este o comportamento adoptado por Daniel Oliveira e por alguns outros manifestantes. Quem ficou caucionou e deu o seu apoio tácito àquela 1/2 dúzia, uma dúzia ou poucas dezenas de energúmenos que se dedicaram a atirar calhaus, garrafas de água, sacos de tinta e etc à PSP. Ao caucionar, com a sua presença, esse comportamento ilegal e violento, sabia que se arriscava, de um lado ou de outro ou até apanhado entre dois fogos, a acabar por poder ser vítima dessa mesma violência que tacitamente apoiou. Pelo que vi nas televisões, terá sido o que aconteceu.
  2. Teria sido possível isolar os manifestantes violentos, tal como acontece com as claques de futebol, recorrendo mesmo aos tais "agentes infiltrados"? Enfim, não posso ser demasiado assertivo, mas existe aqui uma diferença importante e que deve ser salientada: no caso das claques de futebol, a violência começa normalmente por ser dirigida pelos membros de uma claque contra a outra, ou, em alguns casos, contra a propriedade de terceiros, e não directamente contra as forças policiais. No caso na manifestação do passado dia 14, a violência foi desde o início dirigida directamente contra a força policial encarregue de assegurar a ordem e a legalidade no local, o que poderia dificultar esse isolamento dos promotores da violência e colocar em sério risco a integridade física dos agentes da PSP que o tentassem fazer. Posso entender tenha sido isso que o impediu e acho, a ser assim, a PSP o deveria explicar.
  3. Poderia ter sido evitado o uso da violência policial já longe do local da manifestação e, a crer nos testemunhos, contra cidadãos que nada tinham a ver com os acontecimentos? Apesar de ter visto nas televisões caixotes do lixo a arder já ao fundo da Avenida. D. Carlos I, junto ao Largo Vitorino Damásio, o que significa que alguma violência por parte de manifestantes se estendeu a uma área vasta, não me custa a crer, já fora dos escrutínio das TVs em directo, alguns agentes da PSP tenham exagerado, o que, a ter acontecido, será condenável e denotará menor profissionalismo e menos respeito pela legalidade e pelo Estado de Direito.  
  4. Poucas dúvidas tenho, dado o historial de poucas ou quase nenhumas garantias para quem, em Portugal, tem o azar de ser detido numa esquadra pelas forças policiais, que terão existido atropelos aos direitos de alguns detidos. Fez bem, portanto, a Ordem dos Advogados em denunciar os eventuais atropelos à legalidade, e deve agir em conformidade com essa denúncia levando a sua acção às últimas consequências. O respeito pelas garantias dos detidos e o cumprimento estrito das normas legais quando e durante a sua detenção é um dos indicadores mais relevantes para se avaliar da qualidade da democracia e do grau de civilização de um país e de um povo. Convém não esquecer...

segunda-feira, novembro 19, 2012

Subsídios em duodécimos, pois claro.

Na explicitação dos "prós e contras" sobre o recebimento de um ou mais dos chamados subsídios de férias e Natal em duodécimos, existe uma questão que ainda não vi ser levantada. Independentemente de, na realidade, o que existe ser um ordenado anual, que, por razões históricas, é pago em catorze prestações, duas delas coincidindo com o Natal e as férias do trabalhador, de facto, a sua diluição mensal constitui sempre um benefício para o trabalhador. Pouca gente se apercebe que um empregado, pago mensalmente, adianta sempre dias de trabalho ao seu empregador, de um a trinta, só recebendo a sua retribuição no final de um mês de trabalho. Se em períodos de baixa inflação tal não é muito penalizador, em épocas de inflação elevada traduz-se, de facto, numa perda de valor para quem recebe um salário mensal. Durante a hiper-inflação de Weimar, por exemplo, os trabalhadores chegaram a ser pagos duas vezes ao dia para que o seu salário, ao fim de um ou poucos dias, não perdesse todo o valor. No Reino Unido, o pagamento "à semana" foi durante muito tempo prática generalizada. Ora sendo o impropriamente chamado subsídio de Natal parte integrante do vencimento e sendo pago obrigatoriamente apenas em Dezembro (normalmente tal acontece com o ordenado do mês de Novembro), quem recebe um ordenado acaba por adiantar quase todo um ano de trabalho em troca de uma parte da sua retribuição (o tal "subsídio de Natal) diferida no tempo e que poderia entretanto ter aplicado financeiramente ou gasto em condições mais vantajosas, isto é, sem ter ainda sofrido qualquer desgaste inflacionista, mesmo que diminuto. Idêntico raciocínio, com as devidas adaptações, se poderá fazer em relação ao subsídio de férias.

Claro que existem hábitos desde há muito enraizados e a integração dos subsídios nos recebimentos mensais requer adaptações do lado das famílias, pelo que um período mais ou menos longo de transição seria bem-vindo. Também me parece não ser despropositado que, sendo o pagamento em duodécimos, em termos gerais, também favorável às empresas, por questões de tesouraria, alguma liberdade negocial fosse deixada a empregadores e empregados. Mas, pelo que tentei explicar, não me parece possam existir sérias objecções de fundo, de qualquer das partes, à implementação da medida. E, last but not least, deixariam tais "subsídios" de ser vistos quase como uma "benesse", passando a ser definitivamente encarados como aquilo que efectivamente são: parte integrante do salário dos trabalhadores.

"Desfado"

Ana Moura - "Desfado"

"O fado é cultura popular. Uma sua forma de expressão musical, a única com raízes urbanas em Portugal. Por isso mesmo sou normalmente avesso a tudo aquilo que o afasta – ao fado - dessas suas raízes populares e, assim, o desvirtua na sua essência: uma sua pseudo-intectualização, efectuada tantas vezes com recurso a formas poéticas vinda de fora desse universo popular ou a algumas formas musicais com ressonâncias “jazzísticas” ou eruditas, e, pior ainda, a sua transformação em música ligeira (de que o chamado “fado-canção” é expoente), como tão bem, ou tão mal, o fizeram, para citar um exemplo bem conhecido, Carlos do Carmo e José Carlos Ary dos Santos (não estou aqui a referir-me, como é óbvio, ao Ary dos Santos excelente letrista da renovação da canção ligeira portuguesa). Caminho inverso seguiu José Afonso, por exemplo, que vindo do fado e da canção de Coimbra, uma adaptação do fado de Lisboa ao universo vivêncial dos estudantes e tricanas de Coimbra, soube efectuar a sua miscegenação com outras formas musicais populares, rurais e coloniais, mantendo-se fiel, na essência, ao lugar de onde partiu.

Um muito pequeno exemplo, actual e interessante, desta procura de miscegenação do fado com outras formas de música popular, sem portanto alienar a sua essência, podemos encontrar neste tema de Ana Moura gravado com os “Gaiteiros de Lisboa”
, “Não é um Fado Normal”. Está, claro, muito longe do abalo telúrico que José Afonso, Carlos Paredes, José Mário Branco ou, até, António Variações provocaram na música popular portuguesa (nada de confusões). Mas, à sua dimensão, é um muito pequeno e interessante exemplo que merece a pena ser apontado, inovando nas sonoridades graças ao recurso a sopros e percussão mas sem que isso ponha em causa a sua origem e características populares. Por isso mesmo, ganhou direito a divulgação neste “blog" - 
Escrito neste "blog" a 24 de Janeiro de 2010 a propósito de "Não É Um Fado Normal", de Ana Moura.

Agora, com este "Desfado", um tema composto por Pedro da Silva Martins, dos excelentes Deolinda (who else?: a assinatura é bem audível), com uma introdução instrumental que lembra algum do José Afonso mais influenciado pela cultura tropical, Ana Moura reincide até num título que, tal como em "Não É Um Fado Normal", nos remete para a essência do tema. E só podemos ficar felizes por isso. Muito bem! 

domingo, novembro 18, 2012

Maria João Rodrigues ao "Publico" sobre o modelo social europeu

Matiné de Domingo (2)

"Waterloo", de Sergei Bondarchuk
Filme completo c/ legendas em inglês

As meias-solas de José Manuel Fernandes

Bom, claro está que não vou contra-argumentar com os que pensam (pensarão mesmo?) que a crise foi essencialmente causada por todos, em média, consumirmos mais 10% do que produzíamos e que bastam alguma frugalidade e umas meias-solas para resolver, ou pelo menos aligeirar, o assunto. Os pobres de espírito lá foram abençoados por Cristo que para eles propôs o reino dos céus; e Cristo lá teria das suas razões. Além disso, há sempre aquela história, meio anedótica, de existirem dois bifes (que querem, o bife está na moda) para duas pessoas, uma delas comer ambos os bifes e, em média, cada um ter comido um. Enfim... estatística. Mas vamos lá então a coisas mais comezinhas - frívolas, se quiserem - de modo aos pobres de espírito entenderem sem ficarem demasiado baralhados e sem perderem o adquirido direito divino ao reino dos céus. E por pontos, para perceberem melhor...
  1. Não sei se sabem os pobres de espírito que solas novas nuns sapatos custam entre €35 e €40 (e não estou a falar de mandar uns Church para Northampton...). Foi quanto paguei pelas últimas no meu sapateiro, por sinal bem recomendável e sito em Lisboa num "vão de escada" da Av. António Augusto de Aguiar. Está bem de ver que mandar colocar solas nuns sapatos só se justifica para uns sapatos de boa qualidade (e se ainda estiverem em muito bom estado geral) e tais sapatos, para homem, custam sempre acima de €130/140. Pergunto-me quantos portugueses compram sapatos por esse preço e que influência tiveram na dívida. Explicarei pois aos pobres de espírito que a "enorme" maioria das pessoas, a que compra sapatos a €30/50, não manda colocar solas nos sapatos porque, pura e simplesmente..., não vale a pena. Estamos, pois, perante uma decisão racional e não perante um qualquer esbanjamento.
  2. Ah!, os remendos, ou a reutilização da roupa... Não sei muito bem a que tipo de reutilização da roupa os pobres de espírito se referem, mas espero não se estejam a referir aos remendos que se mandam colocar nos encerados Barbour... Mas vamos lá ver, um pouco mais a sério... Em primeiro lugar, pela profusão de lojas de arranjos de roupa que por aí nasceram e prosperam (e ainda bem), não me parece os portugueses não recorram à tal reutilização da roupa. Numa economia de mercado, se tal não acontecesse muitas já teriam falido e não é isso que vejo, mas bem o seu contrário. Remendos? Enfim, não estou a ver alguém, mesmo os pobres de espírito, a recomendar os portugueses voltem ao século XIX e usem fatos-macaco remendados e fundilhos nas calças. Dantes existiam a cerzideiras (e ainda algumas sobrevivem, felizmente), mas a última vez que recorri a uma, aqui há uns nove anos, tal custou-me a "módica" quantia de €100, o que, mais uma vez, só se justifica se estivermos perante um fato de muito boa qualidade e esse custa sempre acima de €500/600 (no mínimo). Mais uma vez, não me parece muitos portugueses comprem fatos a esse preço e, portanto, não mandar cerzir um buraco num fato ou numa numa peça de roupa de preço médio ou baixo será sempre uma decisão racional. É possível andar hoje decentemente vestido por pouco dinheiro, felizmente, mas parece tal não cai bem aos pobres de espírito.
  3.  Quanto aos "pequenos electrodomésticos", os pobres de espírito já experimentaram mandar arranjar um, ver quanto custa e depois verificar qual o preço de um novo na Worten ou no MediaMarket? Em termos gerais e na maioria dos casos, se não estivermos a falar de um aparelho de televisão "modernaço", os pobres de espírito verificarão facilmente que é mesmo melhor deitar fora e comprar novo, por muito que os ecologistas nos excomunguem. Mais uma decisão racional, portanto.
  4. Ah!, as luzes acesas e a avó do José Manuel Fernandes, claro. Bom, apagar as luzes que não são necessárias não é por sistema uma má decisão. Mas convém lembrar que no tempo da infância de JMF, que não será muito distante da minha, era a iluminação que contribuía, pelo menos em Lisboa, para a maior parte do consumo de energia eléctrica doméstica. Hoje, não só existem lâmpadas de baixo consumo que permitem poupar significativamente o consumo de energia destinada à iluminação, como o aquecimento e a profusão electrodomésticos contribuem bem mais para o gasto de energia eléctrica do que meia dúzia de lâmpadas. Por vezes, é muitas vezes bem melhor decisão deixar uma luz acesa do que passar o tempo a acender e apagar uma fonte de iluminação, contribuindo desse modo para deteriorar "arrancadores" e interruptores, peças frágeis. Significa isto que deixar por vezes uma luz acesa por alguns minutos não só pode não ser uma decisão que signifique esbanjamento como pode ser, também ela, uma decisão racional.
  5. Por último... Os portugueses gastam muito dinheiro em cafés, pastelarias e restaurantes. Talvez demasiado, pelo menos para os padrões norte-europeus e para o que acho seria desejável. É verdade, mas não são só os portugueses: de um modo geral tal acontece com os povos do sul da Europa e tem a ver com hábitos culturais que não estarão longe de serem potenciados por um clima propício, muitas horas de luz durante todo o ano, casas tradicionalmente pouco confortáveis, civilização urbana recente e por aí fora. Tradicionalmente, também o baixo custo dos produtos consumidos "on trade", isto é, nos estabelecimentos hoteleiros, se comparado com outros países europeus e com as respectivas médias salariais nacionais (lá está a malfadada estatística) ajudou a implantar tal realidade. Digamos que uma refeição ou um café fora de casa são mais baratos em Portugal do que na maioria dos países europeus, se comparados com os respectivos salários médios. Mas também todos sabemos, mesmo os mais pobres de espírito, que os hábitos culturais levam décadas a mudar, e os países do "socialismo real" e os que por eles se deixaram durante longos anos  "enfeitiçar" bem sabem que assim é, apesar de Gulags, Cambodjas e Grandes e Queridos Líderes os terem tentado mudar à força. Fica o aviso à actual "vanguarda" que nos governa e aos radicais, ex- dirigentes de grupos m-l da "esquerda ululante" (a expressão é de JMF), seus mais ferozes apoiantes.
E fiquemo-nos por aqui, não sem antes lembrar a JMF que cinco copos de dentes diferentes para cinco irmãos, e levado o seu raciocínio estrutural às últimas consequências, talvez constituísse um esbanjamento e talvez fosse, isso sim, mais adequado e consentâneo com a frugalidade que nos propõe usar um único copo e lavá-lo entre cada utilização. Boa?

sexta-feira, novembro 16, 2012

Friday midnight movie (16) - Sci-Fi (II)


Filme completo c/ legendas em português

Paulo Bento: um Homem é sempre um Homem


Finalmente, alguém teve a coragem de responder "cara a cara", "olhos nos olhos", às provocações e ao sarcasmo provinciano do presidente do Futebol Clube do Porto, dando uma lição de coragem e frontalidade à subserviência da comunicação social, de muitos políticos e da quase totalidade dos dirigentes desportivos. Não podia deixar passar em claro. Se um "bimbo" é sempre um "bimbo", mesmo que coberto de apitos de ouro, um Homem é sempre um Homem, mesmo que possa vir a pagar bem caro o preço de o ser. Obrigado, Paulo Bento, por nos teres lembrado disso; a nós, teus concidadãos.

Gilbert & Sullivan (13)

Gilbert & Sullivan - "HMS Pinafore"
"I Am The Monarch Of The Sea"

quinta-feira, novembro 15, 2012

António Lobo Xavier e os seus chapéus

Confesso que quando oiço ou leio António Lobo Xavier tenho sempre alguma dificuldade em saber se fala enquanto militante, ex-dirigente e ex-deputado do CDS, advogado da Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados, gestor da Sonae, administrador da Mota-Engil, sócio e ex-dirigente do FCP, director da Associação Comercial do Porto, vogal do Conselho de Administração das Fundações de Serralves e Belmiro de Azevedo ou comentador político (falta-me alguma coisa?). Não que Lobo Xavier não tenha o direito de ser isso tudo e mais ainda alguma coisa, claro que sim: felizmente vivemos num país livre e baseado na livre iniciativa empresarial. Mas, por isso mesmo, e pescando muito vagamente nas ideias de Edward De Bono - que até é maltês - acho que deveria colocar na cabeça um chapéu de cor diferente, ou até bicolor ou tricolor, consoante a a identidade que assume quando produz cada uma das suas afirmações. Não é por nada, mas apenas seria bem mais fácil para nós interpretá-lo. E que tal começar já logo à noite, na "Quadratura do Círculo"?  Neste caso pode ser encarnado, para fazer "pendant" com a logótipo da estação?

"Les uns par les autres" - os melhores "covers" de temas tornados famosos pelos seus autores (14)

"Working Class Hero" - o original de John Lennon incluído no álbum John Lennon/Plastic Ono Band (1970)

A fantástica versão de Marianne Faithfull incluída no álbum "Broken English" (1979)

quarta-feira, novembro 14, 2012

4ªs feiras, 18.15h (8) - "Les Femmes de Godard" (II)

Brigitte Bardot in "Le Mépris"
Filme completo c/ legendas em castelhano

Cavaco Silva e a greve geral

Cavaco Silva perdeu hoje mais oportunidade de se afirmar como Presidente de todos os portugueses, coisa que, na realidade, nunca lhe terá passado pela cabeça ser. Em vez de afirmar que a Presidência da República é um orgão de soberania e como tal não faz greve, afirmando-se numa posição de equidistância face à greve geral e aproveitando para dar uma merecida lição a juízes e magistrados, Cavaco Silva, ao explicitar estava a trabalhar, optou por um dos lados em confronto. Digamos que é uma posição de governo, de executivo, que não potencia em nada o poder moderador constitucionalmente atribuído à Presidência da República e o papel político que poderia desempenhar em situação de crise. Enfim... é o que temos, e apenas o que estranho é ver algumas personalidades que reputo respeitáveis e de perfil democraticamente impoluto apelarem sistematicamente a uma maior intervenção política do actual Presidente. Não devem estar bem a ver...

O futsal

Confesso não entender lá muito bem o entusiasmo de muitos portugueses pelo futsal  e pelo seu campeonato do mundo, mais a mais disputado num país tão pouco óbvio para dar chutos numa bola como o é a Tailândia. Para mim, para além de desporto suburbano por excelência, disputado por equipas com nomes  curiosos como Freixieiro e Fundação "não sei das quantas", futebol de salão (é esse o seu verdadeiro nome) é mais divertimento do que desporto, ligado, como está nas minhas memórias, aos jogos entre oficiais e sargentos, quando estava na "tropa", ou aos que disputava, salvo erro às 4ªs feiras, contra equipas de operários da fábrica de uma das empresas onde trabalhei. No caso da tropa, trocávamos sempre de guarda-redes com a equipa de sargentos, e assim lá se conseguiam equilibrar os jogos - rijamente disputados, está bem de ver; já no caso mais recente, nós, os "white collars", já trintões ou a roçar os "quarentas", levávamos sempre que contar do pessoal da fábrica, bem mais novos, melhor preparados e - porque não dizê-lo? - motivados para ganhar aos "betinhos" e "senhores doutores". Mas, em ambos os casos o problema era alinhar sempre na equipa "hierarquicamente superior", na qual era suposto bater forte e feio sempre que possível. Boas recordações são muitas, na mente e no físico, principalmente no meu joelho direito que ainda hoje não raramente dá sinal da má vida de antanho. Divertimento? Claro que sim, e muito. Mas, e peço por tal coisa as devidas desculpas, ninguém me consegue convencer que aquilo é desporto. E a prova é que nem sequer sei os resultados do meu "Glorioso", que até acho tem uma equipa.    

Reflexão em torno da greve geral

Posso até estar enganado, mas sinto existir um cada vez maior distanciamento entre uma boa parte dos cidadãos, mesmo o que vêm com simpatia e estarão mesmo dispostos em participar em acções contra este governo e a sua hiper-austeridade recessiva, e as direcções sindicais, tanto a da radical CGTP como a da negociadora UGT. E em ambos os casos porque, mesmo que existentes, não são visíveis nem palpáveis os resultados das suas acções. Aliás, mesmo que essas acções se reflictam numa posição de força negocial em sede de concertação, com resultados positivos, esses resultados são de tal modo diferidos no tempo que a maioria dos portugueses acaba por não conseguir estabelecer uma ligação causa/efeito. O que fica, portanto, e no caso das greves gerais, por exemplo, é uma realidade imediata, visível e palpável, de um país apenas afectado pela ausência de transportes e o fecho ou funcionamento a meio-gás de alguns serviços públicos, longe da imagem que a História nos transmite do que aprendemos ser uma greve geral e nada de substancialmente diferente das habituais greves da Função Pública. No fundo, um déjá vue que, pela repetição, se arrisca a perder crescentemente força e eficácia e, de seguida e como consequência lógica, a constatação de que os interesses em presença serão bem outros. 

Já no caso da actuação negociadora da UGT, note-se que foi necessário a central sindical vir a terreiro agitar nervosamente a tal vitória, mais ou menos pírrica, sobre a proposta "meia-hora de trabalho para a nação" para justificar essa sua actuação negociadora. Digamos que é e foi muito pouco, se tivermos em linha de conta o autêntico tsunami que caiu de seguida sobre o mundo do trabalho em contraste com a enorme eficácia demonstrada pela manifestação de 15 de Setembro no recuo da mirabolante proposta do governo sobre a TSU. E esse tal "muito pouco" claro que não deixa também de pôr em questão, tal como acontece no caso da CGTP, o papel real e efectivo da UGT, os interesses que defende ou as contradições que a cruzam e nas quais se deixa demasiado enredar. Falta, portanto, em Portugal um verdadeiro sindicalismo reformista, autónomo e independente, capaz de representar com eficácia um sentimento cada vez maior de contestação ao "empobrecimento" e à hiper-austeridade recessiva. Ou então não falta, e terá de ser fora dele, infelizmente, que os portugueses terão de encontrar resposta para os seus problemas e aspirações. É que a História é o que é, e são razões históricas que, essencialmente, conduziram o sindicalismo em Portugal a este impasse. Com pouca esperança de mudança ou talvez mesmo sem ela.

terça-feira, novembro 13, 2012

História(s) da Música Popular (203)

Bo Carter - "Corrine Corrina" (1928)


Ray Peterson - "Corinne Corrina"

Phil Spector (III)

Talvez Ray Peterson seja mais conhecido pelo inenarrável "tear jerker" "Tell Laura I Love Her", que chegou a #7 nos USA e, na versão de um tal Ricky Valance (não confundir com Ritchie Valens), a #1 no UK. Mas foi com um "cover" de "Corrine Corrina", um "blues original de Bo Carter na interpretação desse mesmo Ray Peterson, que Phil Spector alcançou o seu primeiro êxito como produtor, no final de 1960 e início de 1961 (#9 nos USA). Digamos que também não estamos na presença de algo notável e que o "wall of sound" que tornou Spector rico e célebre (e também um pouco louco) ainda tinha que esperar outra oportunidade. Aliás, aqui para nós, só quando Spector decide inventar as Crystals é que o "wall of sound" fará a sua triunfante entrada em cena, com "There's No Other (Like My Baby)". Mas essa é já outra história. Ou melhor, é mesmo História.  

segunda-feira, novembro 12, 2012

Strange Tales (1)

"O único caminho possível"?

Haja alguém que explique a Pedro Passos Coelho que democracia é escolha e, por isso, em democracia, ao contrário do que afirma o primeiro-ministro, nunca existe um "único caminho possível". Até poderemos um dia chegar à conclusão ser este - o empobrecimento - o caminho menos penalizador para o país, para a maioria dos portugueses, mas estes são livres de o escolher entre as alternativas que se lhes apresentam. Por exemplo, até poderiam escolher sair do euro, abandonar a União Europeia, querer o tal "governo de esquerda" proposto pelo BE, que seriam situações limite que não defendo; mas estas escolhas seriam tão legítimas como o "único caminho possível" que Passos Coelho aponta. Ou será que estamos de volta ao velho "slogan" de "a pátria não se discute"?

Nota: se "este é o único caminho possível", para quê partidos políticos, eleições, pluralismo informativo, debates, sindicatos e associações patronais? Para enfeitar, qual berloque natalício, uma ditadura "de facto"?

The Big Easy (7)

Irma Thomas - "I'd Rather Go Blind"

"Tonta", Isabel Jonet?

Foi transmitida durante o fim de semana por alguns comentadores e um "animador televisivo" habitué das noites de domingo a ideia de que Isabel Jonet, enfim, não seria mais do que uma "tonta", sendo que o que verdadeiramente importava era a acção positiva do Banco Alimentar Contra a Fome, por si dirigido. Não negando a acção positiva, até mesmo importante, da instituição Banco Alimentar, nada mais errado.

Em primeiro lugar, porque, a não ser que esteja afectada por grave e acelerada decadência das suas faculdades intelectuais, quem se licenciou em economia por uma universidade prestigiada e valorizada, como o é a Universidade Católica de Lisboa, não pode ser uma completa "tonta", ao ponto de, por muitas dificuldades de comunicação que possa evidenciar, não ter a noção do que diz. Acresce que é reincidente e, entre duas entrevistas, teve  mais de um ano para pensar e corrigir o que achasse conveniente. Em segundo lugar, as afirmações de Isabel Jonet, principalmente aquelas, bem mais graves, que atacam directa e expressamente os fundamentos do Estado Social e que constam duma sua entrevista à TSF, não fazem mais do que exprimir a ideologia e valores dominantes nos sectores ultra-liberais mais radicalizados, de uma espécie de "tea party" saloio de ascendência marxista-leninista cujos arautos mais destacados serão os jornalistas José Manuel Fernandes e Helena Matos e que tem aconchego preferencial no "blog" Blasfémias. Por alguma razão veio dessa espécie de "vanguarda" a defesa mais acalorada e ideologicamente estruturada de Isabel Jonet. Por último, e conforme aqui afirmei, o Banco Alimentar Contra a Fome, nascido como ideia e prática meritórias e de utilidade indiscutível mas apenas aceitável como complemento a um Estado Social tão abrangente e eficaz quanto possível, acaba assim por transformar a instituição num bastião onde se alicerça o poder mediático, político e ideológico de Isabel Jonet e do ultra-liberalismo mais reaccionário, com risco e prejuízo evidente do fortalecimento daquela que deveria constituir, e tem constituído, a actividade principal do Banco Alimentar. 

"Tonta", Isabel Jonet? Não estaremos antes, alicerçado e ao abrigo de uma actividade meritória que a resguarda, na presença de mais um ataque ao Estado Social e ao que ele representa de conquista civilizacional? A resposta está implícita.

domingo, novembro 11, 2012

Um "fretezito" jornalístico

Claro que a chanceler Angela Merkel irá utilizar a sua visita a Portugal como acção de propaganda interna tendo em vista as eleições do próximo ano. Em em termos europeus tentando demonstrar a sua estratégia é a correcta. Nesse aspecto, irá tecer com certeza rasgados elogios ao comportamento do governo português e ao "sucesso" dos resultados obtidos até aqui pelo programa de ajustamento. Aliás, isto tem sido glosado em vários tons pelo comentário político e, por isso mesmo, o que aqui afirmo nada tem de original. Mas, também não menos claro, o governo português, perante a mais do que provável contestação de rua e posto perante críticas em tom crescente de oposição, "opinion makers" e cena mediática ao modo como tem actuado junto das instituições e poderes europeus, não deixará também de aproveitar a ocasião para demonstrar "urbi et orbi" as vantagens de ser um bom aluno, "atento, venerador e obrigado". Isto é, de que o modo como tem actuado acaba, no fim, por trazer as devidas compensações.

É nesta estratégia que se insere esta notícia sobre possíveis investimentos de empresas alemãs em Portugal (oxalá fosse verdade!...), cuja única e exclusiva fonte é o presidente da AICEP e que, segundo o próprio, não passam mesmo de vagas manifestações de intenção. Tal não impede, contudo, o "Jornal de Negócios" de titular com grande destaque: "Bosch, AutoEuropa e Continental Mabor querem investir em Portugal". Jornalismo? Enfim, um "fretezito" ao governo de ocasião dá sempre algum jeito e, no fim, também demasiadas vezes compensa. 

Matiné de Domingo (1)


"Captain Scarlett", de Thomas H. Carr (1953)
Filme completo c/ legendas em português

sábado, novembro 10, 2012

De Louçã a Jonet: duas notas sobre a política de fim de semana

  1. Foi a todos os títulos lamentável, mesmo tendo em conta o ambiente "comicieiro", o discurso de ontem de Francisco Louçã na abertura da Convenção do Bloco de Esquerda. Optar por um discurso radical, comparando Angela Merkel a um pirata e a sua visita a uma operação de rapina, mesmo discordando das suas opções políticas (e eu discordo maioritariamente delas), é, para além de uma ofensa desnecessária a um governante de um país civilizado, desenvolvido e democrático, parceiro de Portugal na União Europeia, um monumental erro político num momento em que no país e na Europa cresce em várias áreas políticas, da esquerda radical à direita conservadora, o apoio a soluções alternativas ao "empobrecimento" e à super-austeridade recessiva. Mas, claro, sobre o radicalismo do Bloco de Esquerda e a sua incapacidade para lançar pontes e procurar consensos, já devíamos estar todos vacinados.  
  2. Correm na "net" petições de sinal contrário pedindo a demissão ou a continuidade da Isabel Jonet na direcção do Banco Alimentar Contra a Fome. A minha posição de desacordo face às afirmações políticas e ideológicas (sim, é disso que se trata) de Isabel Jonet é conhecida, o que não me impede de considerar tais petições como mais um sinal preocupante de uma certa e bem visível infatilização da política nos tempos mais recentes. Nada disto ajuda à dignificação da política.  

Friday midnight movie (15) - Giallo (II)

"Operazione Paura" (aka "Kill Baby, Kill"), de Mario Bava (1966)
Filme completo c/ legendas em português

sexta-feira, novembro 09, 2012

A Loja Real convida para o evento de amanhã na 21 pr Concept Store.


British Beat Before The Beatles (4)

The Drifters (depois, Shadows) - "Jet Black" (1959)

Isabel Jonet e o seu "negócio"

Ao defender o "empobrecimento" e ao atacar o Estado Social, Isabel Jonet está "apenas" a fazer o que qualquer accionista ou gestor de empresa privada faria: a defender e a tentar fortalecer o seu "negócio", a sua actividade, mesmo que, neste caso, sem imediatos intuitos lucrativos. É que se a economia e o Estado Social conseguirem cumprir com todas as suas funções e não existirem portugueses pobres ou estes se tornarem numa minoria irrelevante, instituições como o Banco Alimentar Contra a Fome extinguem-se, uma vez que a ausência de "mercado" tornaria desnecessária a existência de instituições com  semelhante "objecto social". O que Isabel Jonet tem feito, mesmo que sub-conscientemente, com as suas mais do que infelizes declarações é precisamente tentar fazer crescer o seu "source of business", essencial para o desenvolvimento da instituição a que preside e, consequentemente, para o crescimento do poder político e social da sua directora, que neles se baseia. No fundo, Isabel Jonet limita-se a prosseguir ferozmente os seus interesses, deixando a nu quais as intenções que, em última análise, a movem na sua actividade. Estamos pois perante uma verdade ferozmente nua, embora coberta por um muito pouco diáfano manto de solidariedade, em vez de fantasia...

quinta-feira, novembro 08, 2012

The Satellite/Stax records story (10)

Nick Charles - "The Right Girl" (1961)

"Very light" revisited

A história é conhecida de todos: em 1996, durante a final da Taça de Portugal, no Jamor, um espectador, adepto do SLB, matou casualmente, através do lançamento de um "very-light", um adepto do SCP que assistia ao jogo na bancada do lado oposto. Condenado a cinco anos de prisão, quatro por homicídio involuntário e um por tráfico de droga, evadiu-se, foi recapturado e acabou finalmente por cumprir a totalidade da pena a que fora condenado. Pois acontece que ontem, durante o jogo SLB - Spartak, foi novamente detido por ter arrancado uma cadeira da bancada e com ela agredido um polícia. A pergunta que deixo é a seguinte: certo, cumpriu pena e agora é um cidadão livre - e ainda bem que assim é. Mas como é possível permitir a alguém com este registo frequentar um estádio de futebol decorridos apenas escassos  meses após a sua libertação? Não será possível à direcção do meu clube tomar uma atitude em relação a este adepto (espero não seja sócio), impedindo-o de frequentar as instalações do clube? Ficam as perguntas.

SLB - Spartak: Jesus geriu bem o jogo

Ontem, Jorge Jesus foi inteligente, mesmo quando as coisas não lhe saíram bem. Sem confiança num meio-campo improvisado, duvidando ele pudesse pegar no jogo, preferiu jogar com Rodrigo e Lima, confiando que o recuo do primeiro pudesse compensar a tal falta de confiança que tinha num meio-campo também ele com alguma previsível falta de jogo vertical e poder atlético. Mas, claro, existe a tal lei do "cobertor" e sem Cardozo faltava presença na área, até porque Ola John, ao contrário de Nico Gaitán que gosta de caminhar para o golo, é mais extremo à moda antiga. 

Como cedo se viu que, afinal, o meio-campo dava conta do recado (André Almeida jogou "certinho", Enzo Pérez encheu o campo e o Spartak não era nenhum papão - como conseguiu o SLB perder em Moscovo?), Cardozo entrou logo ao intervalo e, com ele em campo, até Ola John (uma espécie de um tal JJ - Jacinto João - que jogou no VFC - Setúbal - no início dos anos 70 do século passado) viu ali a sua oportunidade. Geriu bem o jogo, Jorge Jesus, embora o Barça nos tenha traído. Mas isso já não é responsabilidade sua.

quarta-feira, novembro 07, 2012

4ªs feiras, 18.15h (7) - "Les Femmes de Godard" (I)


Jean Seberg in 
Filme completo c/ legendas em português

"Cavaco garante que não cederá a pressões"

Quem diz, como Cavaco Silva, que "não cede a pressões" ainda não entendeu o que é governar, principalmente em democracia. É que governar é exactamente o contrário disso: é avaliar os interesses em jogo; saber movimentar-se por entre eles; ceder a uns e não ceder a outros, conforme a força de cada um e a essência do que está em jogo; agir no sentido de procurar e conseguir equilíbrios e, por fim, avaliar e decidir tendo em atenção essas mesmas pressões e as forças em presença. Quem "não cede a pressões" acaba como uma qualquer estrutura demasiado rígida durante um temporal: não abana e por isso desmorona-se. Mas, claro, fica sempre bem dizer que não se cede a pressões, o "povo da SIC" e dos fóruns de opinião gosta e "lá vamos cantando e rindo" que o "nosso" Presidente é gente séria que "não cede a pressões". Poupem-me...

As televisões portuguesas e as eleições americanas

Muito má a cobertura das eleições americanas nas televisões portuguesas. Ausência de "foco" nos resultados e projecções (aquilo que realmente interessava) e, de entre estes, nos Estados decisivos; confusão entre previsões, projecções e resultados reais, incluindo a não indicação da percentagem de votos já escrutinada em cada Estado; alguns "pivots" desconhecendo, no fundamental, algumas questões básicas do sistema eleitoral americano (uma tal Débora Henriques, da SICN, chegou a ser patética e acabou salva por Rui Oliveira e Costa); ausência de resultados das eleições para o Congresso; comentadores mal preparados ou desinteressados e, na SICN, tempo interminável perdido com o correspondente em Israel e com o embaixador americano em Lisboa, que, como é óbvio, não quis ser comentador político. Por fim,  aquela ideia de incluir o painel da "Quadratura do Círculo" pareceu-me perfeitamente deslocada naquelas circunstâncias. Valeu o excelente trabalho da CNN, mas nem todos os portugueses têm obrigação de pagar para ver televisão nem de saber inglês.

terça-feira, novembro 06, 2012

Stalag Fiction (10)

 documentário de Ari Libsker
"Voice over" em castelhano

Gaspar e o capitão Haddock


Anunciar vão ser efectuados cortes de quatro mil milhões de euros em Fevereiro é como a "pescada": antes de ser já o era. Isto é, antes de serem efectuados, o seu próprio anúncio, diferido no tempo, já está a tornar a medida ainda mais recessiva por criação de expectativas negativas e desincentivo ao consumo futuro. Vítor Gaspar que vá perguntar aos comerciantes o que pensam vão ser as suas vendas de Natal, já de si penalizadas pelo corte do respectivo subsídio e pelo anúncio do "enorme" aumento de impostos em 2013, e talvez eles lhe respondam com uma daquelas imprecações, por vezes onomatopeicas, do velho capitão Haddock. Depois queixe-se, qual piegas, de que se sente ofendido.

Janis Martin, Barbara Pittman e Wanda Jackson (9)

Wanda Jackson - "Stupid Cupid"

O governo, a democracia e os apelos sebastianistas ao Presidente da República

Não deixo de achar curiosos os apelos sebastianistas e de índole messiânica dirigidos ao Presidente da República para que demita o governo e o substitua por "uma coisa em forma de assim", seja tal coisa um "governo de salvação nacional", de "iniciativa presidencial" ou lá como lhe quiserem chamar. No fundo, tratar-se-ia de verdadeiro golpe de estado, de uma espécie de intermezzo ditatorial "franquista" (do português João e não do galego Francisco) cem anos depois, em que os portugueses, em vez de tomarem democraticamente nas suas mãos o destino do país, sacudiriam a água do capote e diriam a Cavaco Silva, tido como uma espécie de "pai ou salvador da pátria", "toma lá e agora resolve".

Bom, deixando de lado que este é, de facto, o governo que Cavaco Silva colocou no poder (embora lhe tenha falhado Ferreira Leite), depois de aberta e persistentemente ter conspirado contra o de José Sócrates, nos últimos tempos com a colaboração do Governador do Banco de Portugal, convém lembrar aos mais distraídos que o governo não é constitucionalmente responsável perante o Presidente da República e, portanto, demitir o governo corresponderia assim a uma espécie de golpe de estado palaciano ou, no mínimo, a uma leitura enviesada da Constituição. Estranho, portanto, assistir a tais apelos vindos de gente com indiscutíveis pergaminhos democráticos, apenas porque este governo lhes não convém. A mim também não e, contudo, não me verão embarcar em tais aventuras ou enveredar por esses caminhos.

Tendo dito isto, como se pode ultrapassar a situação e forçar a queda de um governo que foi legitimamente eleito pelo voto dos portugueses? Cavaco Silva dissolver a Assembleia da República partindo do princípio que a legitimidade governamental está em causa por o primeiro-ministro ter mentido de forma descarada aos portugueses pode ser considerado subjectivo (os mais atentos perceberam cedo ao que vinha Passos Coelho), abriria terrível precedente e também todos sabemos não é caso virgem, embora a dimensão actual da mentira tivesse excedido bastante o registo do razoável, se é que o termo é admissível. Não me parece, portanto, seja motivo para tal coisa. Já bem diferente seria Cavaco Silva invocar o descalabro das políticas governamentais, mas com o país sujeito e condicionado por uma intervenção externa e sem garantias de governo estável saído das eleições (e o PS foge delas "a sete pés"), só um louco, coisa que Cavaco Silva não é, o faria, até porque, como disse no parágrafo anterior, este é, para todos os efeitos, "o seu" governo. Resta, portanto, forçar o governo à demissão por pressão popular, dificultando e impedindo, de modo legal e legítimo, não violento, a aplicação do seu programa usando para tal fim a acção popular e dos partidos políticos (da oposição, mas não só), dos sindicatos, associações patronais e de cidadãos, "lobbies" e grupos de pressão, opinião pública e publicada. Através, no fundo, da acção democrática dos portugueses tomando em mãos o seu destino e forçando eleições antecipadas. Utopia? Nem por isso: em ultima análise, foi essa acção que já levou o governo a recuar na implementação de algumas das suas insensatas medidas, das quais a mais emblemática terá sido a redução da TSU. Parece-me ser este o único caminho, e também o mais democrático.