Posso até estar enganado, mas sinto existir um cada vez maior distanciamento entre uma boa parte dos cidadãos, mesmo o que vêm com simpatia e estarão mesmo dispostos em participar em acções contra este governo e a sua hiper-austeridade recessiva, e as direcções sindicais, tanto a da radical CGTP como a da negociadora UGT. E em ambos os casos porque, mesmo que existentes, não são visíveis nem palpáveis os resultados das suas acções. Aliás, mesmo que essas acções se reflictam numa posição de força negocial em sede de concertação, com resultados positivos, esses resultados são de tal modo diferidos no tempo que a maioria dos portugueses acaba por não conseguir estabelecer uma ligação causa/efeito. O que fica, portanto, e no caso das greves gerais, por exemplo, é uma realidade imediata, visível e palpável, de um país apenas afectado pela ausência de transportes e o fecho ou funcionamento a meio-gás de alguns serviços públicos, longe da imagem que a História nos transmite do que aprendemos ser uma greve geral e nada de substancialmente diferente das habituais greves da Função Pública. No fundo, um déjá vue que, pela repetição, se arrisca a perder crescentemente força e eficácia e, de seguida e como consequência lógica, a constatação de que os interesses em presença serão bem outros.
Já no caso da actuação negociadora da UGT, note-se que foi necessário a central sindical vir a terreiro agitar nervosamente a tal vitória, mais ou menos pírrica, sobre a proposta "meia-hora de trabalho para a nação" para justificar essa sua actuação negociadora. Digamos que é e foi muito pouco, se tivermos em linha de conta o autêntico tsunami que caiu de seguida sobre o mundo do trabalho em contraste com a enorme eficácia demonstrada pela manifestação de 15 de Setembro no recuo da mirabolante proposta do governo sobre a TSU. E esse tal "muito pouco" claro que não deixa também de pôr em questão, tal como acontece no caso da CGTP, o papel real e efectivo da UGT, os interesses que defende ou as contradições que a cruzam e nas quais se deixa demasiado enredar. Falta, portanto, em Portugal um verdadeiro sindicalismo reformista, autónomo e independente, capaz de representar com eficácia um sentimento cada vez maior de contestação ao "empobrecimento" e à hiper-austeridade recessiva. Ou então não falta, e terá de ser fora dele, infelizmente, que os portugueses terão de encontrar resposta para os seus problemas e aspirações. É que a História é o que é, e são razões históricas que, essencialmente, conduziram o sindicalismo em Portugal a este impasse. Com pouca esperança de mudança ou talvez mesmo sem ela.
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