sábado, julho 31, 2010

Nicolás Gaitán, processos e modelo de jogo

A contratação de Gaítán, que até pode ser um excelente jogador mas nunca poderá fazer de Di Maria, e a subsequente necessidade sentida por Jorge Jesus de ensaiar um modelo de jogo alternativo, mostram como a mudança de um só jogador é por vezes suficiente para obrigar uma equipa a rever e mudar todos os seus processos e modelo de jogo. Assim sendo, espero o SLB não sofra dissabores com aquilo que, independentemente do valor do jogador, bem pode ter sido uma contratação inadequada para os fins em vista.

Tudo isto demonstra ainda uma outra coisa: esta é a verdadeira questão-chave do SLB 2010/2011, porque mexe com a estrutura da equipa, e a não a contratação do guarda-redes Roberto Jimenez.

Chumbos...

Peço muita desculpa, mas devo ser o único português que não tem uma opinião formada sobre a questão dos “chumbos” no ensino: nunca fui professor e os meus conhecimentos pedagógicos julgo não serem suficientes para formar juízo abalizado. No entanto, diz-me o bom senso, essa coisa tão importante para o vulgar cidadão como o são as “little grey cells” para o belga Hercule Poirot, que talvez seja avisada e asisada a rejeição de duas posições radicais: aquela que defende, à semelhança do que acontecia nos meus já muito longínquos tempos de aluno do liceu nos tempos do ditador Salazar, que aluno com dificuldades é deixado a elas entregue e se não sabe “chumba” e acabou-se; e uma outra, que, de tão absurda, acredito nunca verdadeiramente tenha existido fora do arremesso político e da exploração mediática, que pretende “passa tudo minha gente”, ignorante ou não.

E se - perguntar-me-ão - para além da recusa destas posições radicais admito não ter opinião formada sobre o assunto, porque venho para aqui “mandar palpites” em vez de me remeter a um prudente e avisado silêncio? Por uma razão muito simples: espanta-me o populismo e a demagogia, a ligeireza de raciocínio e a ignorância com que um assunto tão sensível e complexo, que afecta directamente o presente e o futuro de milhões de portugueses e do próprio país, é tratado entre partidos políticos e cena mediática. Mais ainda: é que ao ler e ouvir a pobreza de raciocínio e argumentação, o primarismo dos defensores do “têm dificuldades, não sabem, chumbam”, o tal bom senso que acima invoquei quase me leva a concluir que as ministras Mª de Lurdes Rodrigues e Isabel Alçada até são bem capazes de ter razão...

quinta-feira, julho 29, 2010

História(s) da Música Popular (164)

Ohio Express - "Chewy Chewy"

Bubblegum (XV)


O último tema digno de registo dos Ohio Express e o seu segundo grande êxito foi este “Chewy Chewy”, editado em Março de 1969 e que alcançou o #15 da tabela USA. Foi o segundo tema da “recording unit” a vender um milhão de discos e representou um quase toque a finados do projecto: como quando há muito dinheiro surgem os problemas, Joey Levine resolveu “pôr-se ao fresco”, dar de “frosques, “bazar”. Uma boa oportunidade para, também aqui, deixar de parte os Ohio Express e em próximo “post” abordar aquele que foi talvez o tema mais emblemático da “bubblegum pop”. Não é difícil adivinhar...

"Lone Star"

"Lone Star", de John Sayles (1996)

O filme já passou por várias vezes na televisão e eu tive a sorte de o ver no cinema, que é onde os filmes devem ser vistos. Mas para quem não viu, “Lone Star” (“Um Corpo no Deserto” - 1996), de um quase desconhecido John Sayles, vale bem a pena. Passa hoje no Hollywood pelas 23.30h, uma hora bem honesta para estas quentes noites de Verão. Fica o aviso.

A Catalunha, toiros e touradas

Tenho para com a corridas de toiros uma relação ambivalente: por uma lado, repudio a barbaridade de se torturar e matar um toiro em público apenas para gáudio de uns poucos, por muita arte e maestria que tal coisa possa requerer – e aviso já que não sou leigo e até tenho alguns conhecimentos da “matéria”; por outro, não deixo de me sentir atraído por alguma iconografia, linguagem e folclore de algo que, quer se queira quer não, faz parte da herança cultural de alguns povos e regiões peninsulares, Ribatejo e Andaluzia à frente de todas elas. Tudo bem pesado, no entanto, valerá para mim bem mais o repúdio pela barbaridade da tortura pública do que os “pasodobles”, as mulheres, os charutos, o fado “marialva” e o léxico muito próprio das corridas e dos respectivos “escribas”, pelo que, não sendo, ao que parece, possível substituir o toiro por um “robot”, o que satisfaria os meus desejos mais profundos, vejo com simpatia o fim de tal “arte” de “correr” toiros na arena.

Serve isto de introdução para o fim das corridas em território da Catalunha, decidido pelo respectivo parlamento nacional (sim, são uma nação!). Muito mais do que uma questão relacionada com a protecção e defesa dos animais, com o confronto entre a civilização e a barbárie, e não fazendo a corrida de toiros parte da herança cultural catalã, o que está verdadeiramente em causa é uma questão de afirmação política e nacional da Catalunha contra algo que de imediato se identifica como fazendo parte da cultura de Espanha; a necessidade de afirmação de uma imagem nacional autónoma, mas também mais europeia, contra uma cultura com raízes na Espanha profunda de Castela, Estremadura e Andaluzia. No fundo, trata-se de fazer valer a arma de arremesso político mais fácil de usar e que parece estar “mais á mão”... No microcosmos de Barrancos, por exemplo, serviu para impor a decisão contrária...

Uma lição, também, para as associações portuguesas ligadas aos direitos dos animais e activistas anti-touradas: mais do que a promoção e realização de manifestações de carácter mais ou menos folclórico à porta do Campo Pequeno (não me parece as suas congéneres de Espanha ganhassem o que quer que fosse em promover algo do género junto à Maestranza...), talvez fosse bem melhor estarem atentos às oportunidades que a correlação de forças política, aqui e ali, a nível local ou regional, lhes possa proporcionar para a prossecução dos seus objectivos, crescendo a partir daí. É um conselho...

quarta-feira, julho 28, 2010

Entretenimento de Verão

  1. Sócios e adeptos dos clubes portugueses gostam de se convencer que os jogadores dos seus clubes são desejados pelos grandes do mundo, que são os melhores desse mesmo mundo.
  2. Por sua vez, dirigentes desses clubes gostam de convencer os adeptos de que, apesar dos seus jogadores serem desejados pelos grandes de todo o mundo, resistem a vender os seus passes, para alegria desses mesmos adeptos e demonstrando a excelência da sua gestão e o seu amor ao clube.
  3. Mas, na realidade, têm imperiosa necessidade de realizar valor com a venda dos seus activos, no que são acompanhados pelos respectivos agentes desportivos e fundos a que pertencem, em percentagem variável, alguns desses mesmos activos.
  4. Pronto, está criado o caldo de cultura para o entretenimento habitual do chamado “defeso”. A seriedade e o rigor do jornalismo desportivo? Esses, obviamente, que se “lixem!”

"Out of Africa" (9)



"Hatari!", de Howard Hawks (1962)

José Sócrates e o negócio PT/VIVO: "é a política, estúpido!"

Ora vamos lá ver uma coisa: depois de 75% dos accionistas da PT terem decidido vender a participação da empresa na VIVO, entre eles se contando um accionista de referência com fortes ligações ao Estado e parceiro deste em alguns negócios e projectos estratégicos (grupo Espírito Santo), difícil, senão impossível, teria sido o governo inviabilizar o negócio, frustando as legítimas expectativas de muitos accionistas e, principalmente, de alguns dos tradicionais parceiros do Estado no mundo empresarial. Este – a venda - era pois o desenlace esperado, e o processo para a ele se chegar apenas aquele que permitiu ao governo e a José Sócrates, depois de uns “arrobos” de nacionalismo serôdio e de um piscar de olhos à esquerda estatizante, evitar danos de maior nas suas parcerias estratégicas e justificar o ter accionado a “golden share” como medida para ganhar o tempo necessário às indispensáveis negociações para que a PT se mantivesse no mercado brasileiro.

Pode dizer-se o que se quiser, claro, mas temos de concordar que, tal como disse o papagaio ao ilusionista depois deste o ter feito desaparecer, “eh, pá!, essa foi bem feita!”... Quanto ao resto, “é a política, estúpido!”

segunda-feira, julho 26, 2010

Villaverde Cabral e a TAP

Há pouco, no TVI 24, depois de perorar durante mais de cinco minutos sobre a hipótese, lançada pelo governo, de privatização da TAP, Manuel Villaverde Cabral, após tecer longas considerações nas quais falou de “companhia de bandeira”, “serviços prestados aos portugueses nas rotas de África e America Latina”, “os portugueses passarem a ter de ir a Madrid para voarem para esses destinos”, etc, etc, no habitual tom catastrofista que o caracteriza, acabou por declarar que não sabia se tais rotas (África e América Latina) eram ou não rentáveis. Bom, sabendo iria, ou propondo-se comentar tal notícia, não teria sido melhor informar-se primeiro, mesmo que “à vol d’oiseau”, sobre a companhia aérea? É que ficaria a saber que as rotas de África e América Latina estão entre as mais rentáveis da companhia, o que talvez signifique que uma hipotética TAP restruturada, pós-privatização, dificilmente prescindiria de voar para tais destinos. Ou seja, se optasse por se ter informado, Villaverde Cabral evitaria fazer aquilo que se chamava, nos meus tempos de estudante, “figura de urso”!

R&B from the Marquee (3)

R&B from The Marquee
Alexis Korner Blues Incorporated - "I'm Built For Comfort" (Willie Dixon)

Queiroz...

As últimas notícias sobre o “caso” Queiroz/CNAD, incluindo a reacção do governo e da FPF, revelam que apenas uma coisa continua a ligar o seleccionador e a FPF: uma indemnização de cinco milhões. Convenhamos que é muito dinheiro; mas como se trata apenas de dinheiro, nada que justifique a sua continuidade. Claro que, assim sendo, o incidente veio mesmo a calhar. Não deixará saudades...

domingo, julho 25, 2010

O referendo na proposta de revisão constitucional do PSD

Tenho por aí ouvido (e lido) tecer enormes loas à proposta do PSD, incluída no seu projecto de revisão constitucional, para facilitar o referendo e a validação dos seus resultados, admitindo as suas decisões se tornem vinculativas mesmo que votem menos de 50% dos inscritos. Confesso a minha discordância perante tal proposta: independentemente de questões técnicas relacionadas com as centenas de milhar de "eleitores-fantasma" inscritos nos cadernos – que deverão ser corrigidas – e da desmobilização eleitoral que a não obrigatoriedade de existência de uma percentagem mínima de votantes necessariamente origina, facilitar a opção pelo referendo e, logo, por uma democracia referendária e plebiscitária numa época em que o populismo parece querer fazer o seu caminho, alicerçado num caldo de cultura que o propicia, parece-me ir ao arrepio do bom senso e constituir um enorme erro político que poderá pagar-se bem caro. Principalmente quando tal recurso aparece combinado com o reforço dos poderes presidenciais. Dá para desconfiar...

Elvis Presley, 75 anos - original SUN recordings (12)

O original de Ted Fio Rito & His Orchestra - "Blue Moon (Rodgers & Hart)

Elvis Presley - "Blue Moon" (Rodgers & Hart)
Gravação de 19 de Agosto de 1954

sábado, julho 24, 2010

O SLB depois do primeiro jogo "ao vivo"

Sem Di Maria e Coentrão - a ala esquerda da última época, a mais “explosiva” e responsável por 75% do jogo exterior da equipa - e com Gaitán que é outro tipo de jogador, na primeira parte o SLB viu-se remetido a um modelo de jogo diferente do da época passada, “obrigado” a jogar mais em posse e circulação de bola e a abdicar das transições rápidas e da largura de jogo e capacidade de desequilíbrio que essa ala esquerda lhe conferia. O fato parecia não lhe servir e viu-se uma equipa lenta e sem capacidade para abrir espaços na defesa contrária, apenas criando algum (pouco) perigo através dos remates de longe de Carlos Martins. Marcou de bola parada.

A entrada de Coentrão como que lembrou à equipa que o seu modelo de jogo é bem outro, e tal coisa valeu dois golos e outras jogadas a fazerem lembrar a época passada. Aliás, continuo a ser de opinião que Coentrão é o melhor substituto de Di Maria, mas isso coloca vários problemas:
  1. Coentrão é hoje um defesa-esquerdo de categoria internacional e a melhor opção do SLB para o lugar.
  2. Com ele nessa posição a equipa ganha uma maior agressividade e capacidade de recuperação de bola mais à frente.
  3. Adiantá-lo para extremo poderia desvalorizar aquele que é, neste momento, um dos activos mais importantes do clube (foi como defesa que se afirmou internacionalmente).
  4. Por último, o adiantamento de Coentrão colocaria a questão de onde “encaixar” Nicolas Gaitán.

Este parece-me ser o principal problema da equipa, por muito que se fale de Roberto. Por isso mesmo, parece-me ser o jogador de Vila do Conde aquele que o SLB não pode mesmo arriscar-se a perder.

Country Life (6)





Spetchley Park

sexta-feira, julho 23, 2010

The Classic Era Of American Pulp Magazines (61)


Raymond Chandler & Dashiell Hammett

Hoje, pelas 22.20h, no FOX Next - a não perder



"That Thing You Do", de Tom Hanks ( 1996)

Das próximas sondagens...

Confesso a extrema curiosidade com que aguardo os números das primeiras sondagens efectuadas após a apresentação da proposta de revisão constitucional do PSD. Uma excelente pedra de toque para aferir do que efectivamente interessa aos portugueses, em termos políticos, e da sua capacidade para avaliarem projectos de sociedade alternativos e não apenas para se exprimirem em função de questões de imagem e/ou do real concreto do seu dia a dia.

Milly Possoz e o "Estado Novo" (5 - reposição)

Ilustração de Milly Possoz para "Dia de Páscoa"
in "O Livro de Leitura da 2ª Classe (anos 50 do século XX)

quinta-feira, julho 22, 2010

Louçã e a constituição

Já ouvi hoje, na TSF, Francisco Louçã afirmar que no PS só Manuel Alegre é confiável na “defesa da constituição”. É, por um lado, a posição conservadora, de ver a constituição como “vaca sagrada” na qual é sequer proibido tocar (existem disposições constitucionais obsoletas e outras melhoráveis que podem e devem ser eliminadas ou modificadas). Por outro lado, quando existe para o eleitorado potencial do BE a possibilidade de o PS começar a ser visto como o último reduto do Estado Social, Francisco Louçã teme isso se traduza numa derrota pesada do seu partido em futuras eleições. Compreende-se...

"Empty Bed Blues" - Best of good time mommas (3)

Bessie Smith - "Yellow Dog Blues"

Viva a política!

Apesar das críticas que tenho vindo a fazer ao projecto de revisão constitucional do PSD, algo deve ser uma vez mais sublinhado em favor da actual direcção do partido: passou a discutir-se política, em vez de questões morais e relacionadas com o carácter de José Sócrates, e isso tem e terá repercussões muito positivas, a todos os níveis, na sociedade portuguesa. Fica a nota por ser de justiça salientá-lo.

quarta-feira, julho 21, 2010

O semi-presidencialismo francês e a sua génese

Para aqueles que acham ser a constituição francesa - semi-presidencialista - um exemplo a seguir (é o caso de António Capucho), lembro, uma vez mais, que a sua génese radica nos antípodas daquilo que deve ser uma democracia moderna e tem sido a tradição parlamentar europeia. A constituição francesa de 1958 (V República) nasce de um apelo messiânico a um caudilhismo “gaullista” numa França em crise política profunda motivada pelo conflito colonial argelino, em perigo de golpe de estado e à beira de uma guerra civil. Acham existe alguma semelhança?

Onde se demonstra que a lógica de Nicolau Santos é uma batata...

Ontem à noite, na SIC Notícias, Nicolau Santos salientava a injustiça que, segundo ele, constituía o facto de os cidadãos com maiores rendimentos acabarem por pagar duplamente saúde e educação: através dos seus impostos e dos custos de acesso ao ensino e cuidados de saúde privados, a que maioritariamente recorriam. Esquece, ou omite, Nicolau Santos alguns factos, como veremos de seguida.

  1. Em primeiro lugar, que os impostos têm uma função redistributiva, isto é, quando cada cidadão os paga não está apenas a financiar os serviços públicos a que, em média, se espera que aceda ao longo da sua vida, mas os de toda a sociedade e, principalmente, daqueles que auferem menores rendimentos e, por isso mesmo, com pouco ou nada podem contribuir para esse mesmo financiamento. É uma questão de solidariedade nacional.
  2. Em segundo lugar, que todos podem aceder aos serviços públicos disponibilizados, em iguais circunstâncias, e que preferir os serviços privados é apenas uma questão de opção, aliás legítima numa sociedade democrática e baseada na livre iniciativa. Pois, dir-me-ão, mas o ensino público e os cuidados de saúde disponibilizados pelo Estado são genericamente deficientes. Bom, essa está longe de ser uma verdade universal e insofismável, dependendo das circunstâncias: eu próprio, consoante essas mesmas circunstâncias, já recorri a ambos na educação dos meus filhos e nas poucas vezes em que, felizmente, tenho necessitado de alguns (também poucos) cuidados de saúde. Mas um outro exemplo. O Estado – e muito bem - subsidia largamente os transportes públicos com o dinheiro dos impostos de todos os portugueses. No entanto, um número significativo, senão mesmo uma maioria destes, desloca-se com frequência, na sua liberdade de escolha, utilizando transporte próprio privado. Alguém se lembra - Nicolau Santos, por exemplo - de aplicar aqui a mesma lógica? Claro que não, porque os transportes públicos, ao contrário do que sucede com o ensino e a saúde, não são (ainda?) sectores atractivos para o investimento privado.
  3. Mas ainda há mais... Partindo do principio - absurdo - de que o ensino público e os cuidados de saúde prestados pelo Estado são sempre, em quaisquer circunstâncias, maus ou, no mínimo, deficientes (já vimos que nem sempre isto corresponde à verdade), porque será que os sectores políticos onde Nicolau Santos se integra - aliás, numa espúria aliança com os "idiotas úteis" do PCP e BE - se revelaram sempre tão diligentes no ataque a quem, nos últimos anos, mais pugnou pela sua melhoria efectiva, reformando-os, racionalizando-os, reorganizando-os e libertando-os de custos excessivos e desnecessários? Sim, estou a falar de Correia de Campos e Maria de Lurdes Rodrigues, e a partir de agora talvez tudo fique bem mais claro.

Les Belles Anglaises (XLIII)










Jaguar E2A (1967)

O PSD, os poderes presidenciais e o "golpe" Palma Carlos

No fundo, a proposta de reforço dos poderes presidenciais integrada no projecto de revisão constitucional apresentado pelo PSD de Passos Coelho nada mais é do que um retorno às origens desse mesmo PSD e ao que ficou conhecido para a História como o “golpe” Palma Carlos (ou da Manutenção Militar – 13 de Junho de 1974) quando Sá Carneiro, com o apoio do sector “spínolista” das Forças Armadas e ao arrepio do previsto no programa do MFA (eleições para uma Assembleia Constituinte), tentou plebiscitar o general abrindo caminho à tal solução “caudilhista” agora, em parte, recuperada.

As consequências de tal trapalhada política são conhecidas e foram desastrosas: o feitiço acabou por se virar contra o aprendiz de feiticeiro e a esperada derrota do golpe abriu caminho a Vasco Gonçalves e ao reforço da chamada “esquerda militar”, no MFA, ligada ao PCP.

Será que o PSD nada aprende com os seus erros ou estará como Dr. Strangelove: volta e meia não consegue evitar os tiques do passado?

"Velvet Goldmine" (3)

Placebo - "20th Century Boy"
Banda sonora de "Velvet Goldmine", de Todd Haynes (1998)

terça-feira, julho 20, 2010

O desafio do PS

O enorme desafio que o PS tem pela frente nos próximos dias é o de ser capaz de responder à proposta de revisão constitucional do PSD sem demagogia, sem qualquer resquício do conservadorismo dos partidos “soit disant” à sua esquerda, mas com firmeza e realismo da defesa do Estado Social e da social-democracia possíveis neste século XXI. É mais do que desejável esteja à altura, pois só ele o pode fazer.

O PSD e o despedimento individual: um país "hire & fire"?

Algo que permite normalmente distinguir as boas das más empresas é o cuidado posto no recrutamento, selecção e formação dos seus colaboradores. Também, claro está, nos salários e regalias sociais oferecidas face às médias do sector. Fácil de entender: as empresas são formadas por pessoas e ter os melhores e mais empenhados profissionais e oferecer-lhes estabilidade aumenta exponencialmente as possibilidades de sucesso, permitindo-lhes crescer e fortalecerem-se e, assim, remunerar melhor accionistas e trabalhadores para além de possibilitar um empenhamento mais activo no meio envolvente. Por isso mesmo, aquilo que o jargão anglo-saxónico designa normalmente como empresas “hire & fire” (contrata e despede) é sempre olhado de soslaio e com desconfiança pela sociedade e pelo mercado.

Tendo dito isto, e sabendo que em Portugal o despedimento colectivo está já facilitado o que permite o normal, desejável (numa economia de livre iniciativa) e sempre necessário ajustamento das empresas às variações estruturais dos mercados, percebe-se mal o afã colocado pelo PSD, na sua proposta de revisão constitucional, na liberalização do despedimento individual. Em boa verdade – e não entrando aqui em linha de conta com questões de ordem social, o que não significa esquecer a sua relevância - em vez de premiar as boas empresas, incentivar as boas práticas de gestão e valorizar os recursos humanos, a proposta do PSD de Passos Coelho vai exactamente no sentido contrário: ao fomentar o modelo “hire & fire”, premeia, de um modo geral, as más empresas e todos aqueles para quem, erradamente, os recursos humanos estão no degrau mais baixo das suas preocupações enquanto gestores e empresários. Coloca-se, pois, nos antípodas da modernidade e do progresso, fomentando o imobilismo e o retrocesso em vez da necessária restruturação do tecido empresarial.

segunda-feira, julho 19, 2010

"The Ghost Writer"

Confesso alguma perplexidade para com o entusiasmo de alguma crítica perante “Ghost Writer”, o último filme de Roman Polansky. Bem vistas as coisas, trata-se apenas de um “thriller” escorreito e entretido, que vale o preço do bilhete – também menos do que isso não seria expectável. Ou será que o cinema já chegou ao ponto de um “thriller” escorreito e entretido, mais a mais de um cineasta que já nos deu muito melhor, dos mais antigos “Repulsa” e “Cul de Sac” aos recentes “Bitter Moon” e “Death and the Maiden”, passando por “Chinatown” para só falar dos meus favoritos, ser razão para hossanas?

Bom, talvez a crítica tenha achado este seu filme razão bastante para uma homenagem em tempos difíceis para o realizador, ou então para um ajuste de contas com Tony Blair, a guerra do Iraque e George W Bush. Talvez...

Mas é apenas um “thriller” escorreito e entretido, nada mais. “And that’s all folks”...

Fado - Património Imaterial da Humanidade (4)

Madalena de Melo

Passos Coelho e as suas ideias abstrusas

Tal como aconteceu com outras ideias abstrusas (ou devo dizer “obnóxias”?) do tipo “tributo solidário” ou “Conselho Superior da República” (ainda alguém se lembra?), a proposta de reforço dos poderes presidenciais avançada (ou será “recuada”?) por Pedro Passos Coelho tem apenas um objectivo: sendo popular em alguns sectores do “povo da SIC” e dos profissionais dos “fóruns de opinião” e sabendo o seu proponente não ter tal proposta quaisquer condições para sequer iniciar o seu caminho, angariar alguns votos que lhe permitam subir nas sondagens e, assim, reforçar o seu poder negocial face ao governo e ao PS naquilo que é realmente importante, isto também o ajudando a credibilizar-se no partido e fora dele. O problema é se um dia destes já ninguém o leva a sério...

O "professor Marcelo" ou a "política contada às crianças e ensinada ao povo"

O comentário político de ontem de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a proposta de revisão constitucional apresentada por Pedro Passos Coelho constitui um bom exemplo dos vícios de que normalmente enfermam as suas intervenções enquanto analista político.

  1. Em primeiro lugar, tudo se resume demasiado à espuma dos dias e dos acontecimentos; tudo é demasiado conjuntural e apenas analisado numa questão de oportunidade, numa óptica de curto-prazo. O reforço dos poderes presidenciais, no sentido proposto por PPC, empobrece ou enriquece a democracia? Que repercussões tem no equilíbrio de poderes, na vida partidária, na importância da AR? Que reflexos pode ter no funcionamento do aparelho de estado, nas estruturas sociais, no modelo de sociedade e no seu funcionamento? Aproxima-nos ou afasta-nos das outras democracias europeias? Não importa: é apenas uma questão de “timing” e oportunidade.
  2. Em segundo lugar enferma dos vícios de quem tem uma agenda política própria, de quem é e continua a ser, acima de tudo, um político no activo. Neste caso, um “cavaquista” confesso dando conselhos a PPC em função desse seu posicionamento político e dos pressupostos que poderão vir a facilitar a reeleição de Cavaco Silva.

Mas ninguém poderia esperar outra coisa, pois não? É um género de “a política contada às crianças e ensinada ao povo”...

domingo, julho 18, 2010

A pré-época do SLB: primeiras impressões

Pergunta depois destes primeiros jogos de pré-época – que valem o que valem – sem Di Maria e com Gaitán: um SLB menos explosivo, menos nervo, talvez não tão rápido nas transições mas mais inteligente e culto, com maior capacidade de posse e circulação rápida de bola? Ainda é cedo para concluir, até porque faltam Coentrão e Maxi nas alas por onde a equipa sai muitas vezes a jogar, mas é uma possibilidade. Veremos se terá confirmação.

Tarzan (9)



"Tarzan and the Amazons" (1945)

Sobre a proposta de revisão constitucional do PSD - ou os genes do caudilhismo e da menorização partidária

Sempre afirmei neste “blogue” a minha convicção de que o actual sistema semi-presidencialista, com a dupla legitimidade democrática resultante da eleição do Presidente da República por sufrágio directo e universal, continha em si mesmo os genes da instabilidade política ou de uma falsa estabilidade. Este primeiro mandato de Cavaco Silva tem-no confirmado. Primeiro, com o tristíssima episódio do ataque do PR ao governo utilizando as alegadas escutas a Belém. Depois, com o actual impasse que resulta da manutenção em funções de um governo minoritário e em quase paralisia, mantido artificialmente pelo PR apenas para não prejudicar a sua reeleição com a convocação de eleições legislativas antecipadas.

Sempre afirmei também considerar as soluções presidencialistas, num país como Portugal e numa UE em que se contam como excepções, como tendencialmente menos democráticas e portadoras dos genes do caudilhismo, advogando, em contrapartida, uma clara evolução do regime no sentido do parlamentarismo aproximando assim o país do sistema político vigente nas democracias europeias mais avançadas (a França, por razões muito particulares ligadas com o Gaullismo, é excepção).

Tendo dito isto, fácil concluir que considero a proposta de revisão constitucional apresentada pelo PSD, que advoga a possibilidade do PR demitir o governo sem dissolução da AR e/ou recusar a indicação de um primeiro-ministro por parte do partido vencedor (um autêntico poder de veto sobre a legitimidade democrática do poder executivo), como um grave retrocesso democrático (Santana Lopes tem aqui toda a razão), desvalorizando, de facto, as eleições legislativas (todos sabemos que embora em termos constitucionais se estejam a eleger deputados, de facto, trata-se da escolha de um primeiro-ministro) e colocando os partidos e a vida partidária sob a tutela e subordinação presidenciais (haveria a tentação destes proporem como candidatos a primeiro-ministro personalidades que mais facilmente saberiam ter o acordo de Belém).

Claro que a proposta, com os anticorpos que está a gerar no PSD e a impossibilidade da sua consideração pelo PS, não tem quaisquer condições para vir a ser sequer discutida em sede própria. Mas é facto demasiado grave que o presidente de um dos partidos-chave do arco constitucional e normal candidato à governação, mais a mais, alguém que se pretende apresentar como liberal, proponha aquilo que, de facto, se traduz numa subversão da democracia e na menorização da autonomia de todos os partidos, entre os quais, e em primeiro lugar, aquele a que preside.

sexta-feira, julho 16, 2010

Alarvidades à portuguesa

Na TSF existe agora, durante o tempo de Verão, uma pequena rubrica denominada “Onda da Rádio” onde se pretendem divulgar algumas praias, fluviais ou marítimas, menos conhecidas por todo o país. Um serviço útil, nada a dizer em desfavor do conceito do programa ou do modo despretensioso e leve como é apresentado.

Bom, mas hoje, logo pela manhã, ao ouvir tal rubrica por acaso, a minha atenção foi despertada por algo que me pareceu mais do que insólito, talvez mesmo aberrante. Ao descrever uma praia fluvial do concelho de Penela e as “facilidades” postas à disposição dos utilizadores, alguém falou do restaurante de apoio e das apetecíveis “iguarias” que disponibilizava. Quais? “Polvo à lagareiro”, cabrito da serra”, “costeletas de javali”, “bacalhau assado”. Ora toma!, aqui está a ementa mais adequada a um dia de praia, seja ela fluvial ou marítima. Mas queriam o quê? Umas bem portuguesas saladas frias como “meia desfeita”, de atum com feijão frade ou de frango ou coelho desfiado? Vá lá, até uns carapauzinhos de escabeche, já que para alimados estamos bem longe das praias algarvias? E, para não falar de bem afamadas saladas da estranja, que português acha sempre esquisitas, que tal umas sanduíches, em bom pão de centeio, do verdadeiro queijo do Rabaçal ali da zona, o que é feito com mistura de leites de ovelha e cabra e não o sucedâneo que por aí se vende com o mesmo nome? Nada disso: toma lá com o “polvo à lagareiro” ou o cabritinho que é mesmo o que apetece num dia de calor à beira de uma praia. E se possível regado com "tintol"!

E se, durante ou depois do banho, tiverem uma paragem de digestão e forem desta para pior a culpa é do governo, do Estado, do INEM, do SNS, que o cabritinho lhes soube mesmo muito bem e do javali nem se fala.

Pois é, a modernidade não é só o "Magalhães"!

R&B from The Marquee (2)

R&B from The Marquee
Alexis Korner's Blues Incorporated - "I Wanna Put A Tiger In Your Tank" (Willie Dixon)
Vocal: Cyril Davies

quinta-feira, julho 15, 2010

O "discurso" de Jorge Jesus

Alguém se importa de mandar calar Jorge Jesus? É que de cada vez que fala os meus cabelos arrepanham-se, e não fora a minha estrutura de benfiquista ser à prova de tudo e todos, incluindo dos discursos de JJ, já o meu coração teria sofrido de alguns momentos de arritmia sem ser por um golo falhado por Cardozo ou uma saída em falso do Roberto.

PSD no debate sobre o estado da Nação: diagnóstico sem terapia?

Ninguém de bom senso, independentemente da área política pela qual nutra maior simpatia e com a qual possua maiores afinidades ideológicas, poderá negar genericamente razão as estas afirmações de Miguel Macedo, líder da bancada do PSD, proferidas hoje no debate sobre o estado da nação. O problema é que Miguel Macedo não é comentador nem analista político, muito menos apenas um cidadão eleitor interessado e esclarecido. Miguel Macedo é dirigente destacado do principal partido da oposição - que tem vindo a liderar as sondagens e poderá mesmo vir a formar em próximas eleições maioria absoluta com ou sem o seu parceiro habitual de coligação - partido esse que se posiciona habitualmente como a única alternativa ao PS na governação.

Por isso mesmo, tendo feito estas afirmações através de um dos seus dirigentes mais responsáveis e que nos habituou a uma imagem séria e credível, o que significa estarmos perante uma posição oficial do partido devidamente estruturada e ponderada, seria lógico que o PSD tirasse dela as devidas consequências. Sem isso, estamos uma vez mais no terreno da retórica parlamentar pura e simples, algo que compromete ainda mais a apreciação que os cidadãos fazem dos políticos e da Assembleia da República e discurso que se habituaram a rejeitar.

Independentemente da área política em que preferencialmente nos situemos – repito - manter um governo em situação de “faz de conta”, jogando no “status quo” na actual conjuntura e sabendo que, em alternativa, poderá oferecer ao país um governo sólido e estável, não me parece ser algo que o PSD possa defender com argumentos solidos e que não sacrifiquem alguma da credibilidade que, segundo as sondagens, soube nos últimos meses angariar junto dos portugueses.

Milly Possoz e o "Estado Novo" (4 - reposição)

Ilustração de Milly Possoz para "A alegria de saber"
in "O Livro de Leitura da 2ª Classe" (anos 50 do século XX)

Onde, a propósito da "balbúrdia" mediática causada por simples vitória numa etapa do "Tour", se fala da ausência de resultados do desporto português

Aproveitando o meu “post” de ontem sobre o (quanto a mim) despropositado destaque dado a uma vitória do ciclista português Sérgio Paulinho numa etapa da Volta a França em bicicleta, algo que desde 1903 já deve ter sido alcançado por uns milhares de ciclistas (ciclistas franceses coleccionam um total de 655 vitórias em etapas, belgas 454 e por aí fora), e tendo Portugal já alcançado, aqui e ali e até com alguma constância, resultados de relevo em modalidades como o futebol, o judo e o atletismo (o hóquei em patins não tem qualquer expressão), interrogo-me sempre sobre o porquê da ausência de classificações com algum relevo em modalidades onde me parece, assim visto de fora, nada justifica um enorme atraso. E não me estou a referir a títulos europeus e mundiais, mas a classificações, digamos, dentro de uma mediania aceitável para um país que é membro da UE há mais de vinte anos e será, mais coisa menos coisa, o menos rico dos países ricos, com infraestruturas desportivas que julgo adequadas e cresceram exponencialmente nos últimos 20 anos. Exemplos? Ora aqui vão alguns, não valendo a pena falar mais do ciclismo, uma modalidade tradicionalmente popular no país...

  • Seria absolutamente expectável que um país como Portugal visse alguns (poucos, não sou muito exigente) dos seus nadadores (a natação é modalidade com alguma tradição no país) estarem presentes com alguma regularidade entre os melhores dezasseis (1/2 finais) de competições como os JO ou Europeus e Mundiais da modalidade. Infelizmente os resultados aproximam-se quase sempre da eliminação nas primeiras séries. Dantes era a falta de piscinas... Agora o que será? Falta de água para as encher? Um desastre.
  • Outro exemplo. Haverá alguma forte razão para tenistas portugueses, masculinos e femininos, não alcançarem resultados que lhes permitam, pelo menos a ½ dúzia deles, andarem regularmente pelos primeiros 30 ou 50 lugares dos rankings ATP e WTA? Frederico Gil é actualmente 85º e acima dele, para além de jogadores de grandes potências desportivas, encontramos sérvios, croatas, austríacos, um letão, chilenos, cipriotas, ucranianos, uzbeques, cazaques, até um colombiano e por ai fora. Alguém explica tamanha pobreza numa modalidade que já não é mais considerada “cara” e “de elite”?
  • Ah!, qualquer coisa de semelhante diria do golfe, num país que já deve ter quase cem campos de norte a sul e concorre à organização da Ryder Cup. Muitos campos significam muitos “caddies” e todos sabemos que alguns dos melhores golfistas mundiais começaram por aí. Acresce que pelo facto do golfe ser praticado a nível amador por muitos executivos e gestores, de grandes empresas, não me parece ser extremamente difícil conseguir patrocínios para que um ou outro jovem mais talentoso possa vir a ter condições de progresso, se delas necessitar.

Claro que não se espera que Portugal tenha muitas chances no ski, “bobsleigh” ou hóquei no gelo, mas a ausência de resultados nas modalidades que acima cito, como exemplo, penso apenas poderá reflectir uma deficiente gestão dos recursos existentes, o que deveria ser revisto sob pena desses investimentos serem canalizados para outros sectores do desporto onde provem ser mais rentáveis. Ou então, caso sejam julgados ainda insuficientes para que se alcancem resultados aceitáveis, deverá esse investimento ser reforçado com prejuízo de outras áreas desportivas desde que, assim, possa vir a existir razoável garantia de sucesso.

Mas, para já, uma pergunta: alguém explica?

quarta-feira, julho 14, 2010

Provincianismo...

Confesso a minha incomodidade e desconforto perante o (acho) excessivo destaque dado pelos “media” e alguma blogosfera aqui do rectângulo à vitória de um português numa etapa da Volta a França em bicicleta. Que raio, eu sei que é a Volta a França, mas já não estamos (ou estaremos ainda?) nos tempos provincianos do “allez Tino”, nem sequer era Alpe d’Huez, o Tourmalet ou o Aubisque, o contra-relógio decisivo, mas uma normal etapa, igual a tantas outras, e vencê-la algo que é normalmente encarado com alegria contida por um qualquer ciclista, seja ele português ou de qualquer outra nacionalidade, para mais integrado numa equipa de topo e já medalha de prata olímpico como é o caso de Sérgio Paulinho.

E, depois de olharmos para o lado de lá da fronteira e vermos campeões da Europa e do Mundo de futebol, vencedores de torneios do Grand Slam, da Volta a França, do Masters de Augusta, do Mundial de F1 e o que ainda mais estará para vir para além do que agora não me lembro, alguma contenção não deixaria de demonstrar que o bom senso e a noção das realidades ainda não abandonaram de vez este país.

É que a modernidade não é só o “Magalhães”, caraças...

R&B from The Marquee (1)

R&B from The Marquee
Alexis Korner Blues Incorporated - "Early In The Morning"

terça-feira, julho 13, 2010

Apesar de tudo...

  • Apesar dos valores baixos, um crescimento económico para este ano de 0.9% sempre é superior às previsões do governo (0.7%). Claro que as previsões para 2011 apontam para um crescimento inferior ao previsto (0.2% vs 0.5%), mas as previsões a curto-prazo, até porque, neste caso, integram já alguns valores reais, são sempre mais fiáveis, o que nos permite alguma esperança para o que possa vir a acontecer de positivo no próximo ano.
  • O contributo da procura interna para o crescimento no próximo ano será negativo devido à retracção dos consumos público e privado, o que, podendo indiciar menor rendimento disponível, também pode significar menor endividamento e maior poupança. Também que as medidas de contenção orçamental poderão estar a surtir algum efeito.
  • As exportações podem crescer 5.2% este ano e 3.7% no próximo, o que significa que as empresas, em termos gerais e abstractos, se estão a aguentar razoavelmente em termos de competitividade externa.

É pouco? Pois é, mas muitos esperariam bem pior...

Para os que ainda acreditam em histórias de amor...

... Para esses, aqueles que pensam que a abdicação de Eduardo VIII e o seu casamento com Wallis Simpson nada mais foi do que uma linda história de amor em que um rei trocou o trono pelo coração de uma plebeia americana, o "Gato Maltês" recomenda a leitura do nº de Fevereiro da revista "Historia Y Vida". Ah!, e que o facto de estar escrita em castelhano não sirva de desculpa!...
Nota: a revista vende-se na Livraria Barata a troco de pouco mais de €3. Também pode consultá-la AQUI

Jornadas Parlamentares: um desastre

Depois de umas disparatadas Jornadas Parlamentares do PS em que tudo se resumiu a algumas afirmações patrioteiras de um nacionalismo serôdio, um ataque descabelado a um mal definido neo-liberalismo do PSD e uns apelos envergonhados a um impossível e, mais do que isso, indesejável entendimento à esquerda, o PSD ficou com o campo aberto para, em encontro semelhante, conseguir marcar a diferença. Pura ilusão! Embalado pelo canto da sereia da subida nas sondagens, o PSD cedeu à tentação do populismo anti-regime , dos fóruns de opinião e da notoriedade mediática. Saiu-lhe o tiro pela culatra, já se vê.

Manuel Vilaverde Cabral, no seu tradicional discurso um pouco redondo e atabalhoado que já nem os seus colegas de comentário político na TVI 24 ("Roda Livre") me parece levarem muito a sério, desde há muito não perde oportunidade para propagandear as suas opções anti-regime e os apelos ao Presidente da República para a subversão constitucional. Luís Campos e Cunha, com a sua proposta de um parlamento em aritmética variável consoante a percentagem de votos em branco, demonstrou, com esta sua in(ter)venção, a inépcia política que, certamente, terá estado na base da sua passagem meteórica pelo governo PS. Por último, Hernâni Lopes, ministro das finanças do melhor governo de Portugal de que retenho memória, cometeu a “gaffe” de propor uma redução de 15% nos salários da função pública, o que deve ter feito gelar o sangue dos parlamentares do PSD e, além de tudo mais, se revela tremendamente injusto: uma coisa é diminuir a massa salarial da função pública, em termos globais, penalizando os maus funcionários, outra, bem diferente, é diminuir os salários de todos os funcionários públicos, competentes e incompetentes, independentemente da respectiva avaliação e desempenho.

Digamos que com tantos tiros nos pés, as Jornadas Parlamentares do PSD correram sérios riscos de se transformar num daqueles hospitais(?) de má memória da Guerra Civil Americana.

"Velvet Goldmine" (2)

Shudder To Think - "Hot One"
Banda sonora de "Velvet Goldmine", de Todd Haynes (1998)

segunda-feira, julho 12, 2010

Espanha: um Estado multinacional

Curioso que o novo campeão do mundo e a selecção deste Mundial com maior sentido colectivo, de equipa, seja simultaneamente o país mais assumidamente plurinacional na actual Europa e onde as tensões independentistas são mais evidentes.

História(s) da Música Popular (163)

Ohio Express - "Down At Lulu's"


Bubblegum (XIV)

Not much to say sobre o “follow up” de “Yummy, Yummy, Yummy”. O “single” (“Down At Lulu’s”/”She’s Not Comin’ Home”) foi editado no mesmo ano de 1968 e ficou-se por um bem mais modesto #33 do US Hot 100, ficando aquém do mágico número de um milhão que constituía um género de “pedra de toque” do mega-êxito da época. Mas estavam lançadas as bases do sucesso da “recording unit” (ou seja, da “invenção”) de Joey Levine e o segundo êxito de um milhão de discos vendidos viria ainda nesse ano. Por aqui, fica para próximo “post” sobre a “bubblegum pop”.

Depois do Mundial...

Quem, como acontece comigo, tenha tido a oportunidade de conhecer algumas das dezenas de escolas de futebol existentes por esse país fora e onde crianças, a partir dos 5/6 anos e equipadas a rigor (chuteiras, caneleiras e tudo isso), jogam futebol em relvados sintéticos percebe como e porque o futebol mudou. Quem, como acontece comigo, por ligações familiares e/ou de amizade tem oportunidade de acompanhar alguns jogos e torneios onde equipas dessas escolas participam percebe melhor o que está na base dessa mudança. Aí, nessas equipas e nesse futebol e sob a direcção de um treinador, aprende-se desde muito cedo como se joga integrado numa equipa estruturada, como cada elemento e a própria equipa se devem posicionar nas várias situações de jogo, qual a função de cada um dentro da equipa e quais o movimentos colectivos que essa mesma equipa deve realizar. Aprende-se também a conhecer o adversário e as suas movimentações, a corrigir defeitos e a potenciar qualidades. Este futebol, onde cada criança é também um aluno, onde a iniciativa individual é coordenada com o colectivo, substituiu o futebol de rua, “o do muda aos cinco e acaba aos dez”, onde o “mais habilidoso”, o primeiro a ser escolhido, quase era suficiente para, por si só, ganhar um jogo e onde todos corriam para onde ia a bola.

O reflexo dessa base de aprendizagem pôde ver-se neste Mundial no futebol mais colectivo praticado pelas principais equipas, no apagamento do “craque” que por si só quase tudo costumava decidir, no equilíbrio defesa/ataque de equipas como a Alemanha, a Holanda e a Espanha, no fim do futebol-samba e nos diferentes princípios de jogo que o Brasil tem vindo, cada vez mais, a apresentar desde os nos 90 do século passado (antes de 94, com o tal futebol-samba, esteve 24 anos sem nada ganhar). Penso que a melhor prova do que afirmo é o contraste entre o futebol acéfalo e desequilibrado da Argentina, de um Maradona que terá sido talvez o último e, simultaneamente, o máximo expoente do futebol de rua, e o modelo de uma selecção de Espanha paradigma do novo futebol com escola, onde o equilíbrio entre o colectivismo e a iniciativa individual, a racionalidade e o improviso quanto baste, a defesa e o ataque (como raramente perde a bola e os seus jogadores não entram em correrias a equipa quase nunca se desposiciona defensivamente), atinge a quase perfeição.

Tenho visto e lido por aí que o eclipse do “craque” individualista, à Maradona, tem a ver com o facto das equipas jogarem “à defesa”. É apenas meia verdade. As equipas defendem melhor porque os seus jogadores, na sua maioria, já não aprenderam no futebol de rua, onde o colectivo e as preocupações defensivas são inexistentes. E o eclipse do “craque” tem a ver com duas questões muito simples: aprendem mais cedo os movimentos da equipa e o modo como nela integrar as suas acções, rentabilizando-as, e também desde muito cedo vêm ser corrigidos os seus excessos por equipas que, fruto de movimentos aprendidos quase desde o berço, cada vez menos se desequilibram defensivamente. Por mim, que não sou saudosista e sempre preferi Bobby Charlton a Maradona (desculpem a heresia), o Ajax de Johan Cruyff ao tão insensado Brasil de 82, e apesar de não ser um incondicional do “tiqui taca” e preferir o, quanto a mim, futebol mais entusiasmante e menos monocórdico de uma Alemanha de Müller, o futebol é hoje em dia um jogo muito mais evoluído técnica e tacticamente e, por isso mesmo, também bem mais aliciante.

domingo, julho 11, 2010

Amsterdam às 15.40h de hoje

Amsterdam às 15.40h de hoje junto a um dos seus canais
Foto exclusiva enviada por MMS pelo correspondente local do "Gato Maltês"

"House of Cards"

"House of Cards" (BBC - 1990)

A trilogia, produzida pela BBC e excelentemente protagonizada por Ian Richardson, “House of Cards, “To Play the King” e “The Final Cut”, baseada no romance de Michael Dobbs, é talvez a melhor série de ficção política alguma vez produzida para televisão (pelo menos das que tenho conhecimento), onde o cinismo, a hipocrisia e a ausência de quaisquer princípios atingem o grau máximo de sofisticação. Em Portugal foi emitida, salvo erro, por um dos canais da SIC (a uma hora estúpida), pelo People & Arts e pela BBC Prime, embora pense não terá sido vista por muita gente nem se terá tornado muito popular.

Agora, o “Gato Maltês” descobriu que o DVD respectivo se encontra à venda na Amazon britânica por umas módicas £11.93, ou seja, pelo custo de dois bilhetes de cinema. Terá com certeza legendas em inglês, o que ajuda a quem tem menos “ouvido” para o idioma de Shakespeare, mas infelizmente não conheço uma edição portuguesa. Contente-se com esta, sendo desnecessário dizer que estamos perante algo, mais do que recomendável, que seria criminoso não ver.

Eu, ficaria mal comigo próprio se, perante tal oportunidade, não deixasse aqui o meu testemunho.

Amsterdam há cerca de 1/2 hora

Imagem de uma rua de Amsterdam cerca das 14 horas de hoje
Foto enviada via MMS pelo correspondente local do "Gato Maltês"

"Out of Africa" (8)


"The African Queen", de John Huston (1951)

sexta-feira, julho 09, 2010

Onde se fala da Holanda e da Espanha; mas também de Mourinho, Hiddink, Drogba, Milito e tudo o mais de que o futebol precisa

Oiço e vejo por aí demasiado que para vencer a Espanha será necessário disputar-lhe o meio-campo, pressionando mais à frente, e não jogar em bloco baixo quase ao bom estilo “double decker”. Tenho dúvidas... Porquê? Porque, até hoje, as equipas que vi serem mais eficazes contra o “tiqui taca”, seja ele o da “roja” ou do “blaugrana”, foram o Chelsea de Gus Hiddink, só afastado da final das Champions League por uma arbitragem inacreditável, e o Inter de José Mourinho (para já não falar, a um outro nível, da Suiça do Mundial), todos utilizando o mesmo modelo de jogo: o tal bloco baixo, entregando a posse de bola à Espanha/Barça, e passe longo para um ponta-de-lança - muitas vezes também para as costas da defesa - combinando técnica e poder atlético suficientes (Drogba/Milito) para, sozinho ou apenas com um apoio (Lampard/Sneijder), ser suficientemente expedito para resolver o assunto. O erro da Alemanha foi ter tentado copiar este modelo sem um “ponta de lança” adequado (Klose é um jogador de último toque, um Pauleta com melhor jogo aéreo) e com Müller ausente. Que fará a Holanda?, que não tem um ponta-de-lança com essas características mas tem Robben, Sneijder e Van Persie (também Van Bommel e Van der Vart)... Esta será a chave do jogo.

Grindhouse Effect (10)


SCUT: algumas sugestões ao governo sobre preços, isenções e descontos

Ao fim de algumas semanas de negociação sobre o modo de pagamento ou não pagamento das SCUT, incluindo oportunos descontos e bónus, opiniões de autarcas (sobre estes são dispensáveis adjectivos) aproveitando a oportunidade para os seus 5’ de fama, governo a mostrar que não tem rumo (já não falo em estratégia, que será coisa desconhecida), tudo isto sob o comando dos “régisseurs” José Sócrates e Passos Coelho dando entrada aos artistas de um modo que me fez lembrar a célebre “Tourada” de Ary dos Santos (“entram guizos, chocas e capotes...” ... “entram espadas chifres e derrotes”), o “Gato Maltês”, depois de em tempos ter tentado acrescentar algo sério à discussão, não poderia deixar de se pronunciar sobre o assunto da única maneira hoje possível. Assim sendo, deixa aqui algumas sugestões sobre o modo como devem ser portajadas.
  1. Carros de matrícula espanhola ou suspeitos de transportarem castelhanos ou espiões a soldo pagam sobretaxa em chamadas obrigatórias para números da rede fixa da PT.
  2. Portugueses que se tenham manifestado contra a presença de jogadores naturalizados na selecção têm um desconto de 50% (sinal dos tempos...).
  3. Os empresários “patriotas”, “democratas” e “anti-fascistas”, tais como Joaquim Oliveira e quejandos, ficam isentos de pagamento. O governo irá organizar lista adequada.
  4. O seleccionador Carlos Queiroz fica isento de pagamento acima do paralelo 40 e paga uma sobretaxa de 50% a sul do mesmo.
  5. O presidente de câmara que conseguir falar mais alto no “Prós & Contras” da “Drª Fátima” fica isento de pagamento até ao fim do mandato. A partir daí terão direito a descontos consoante o nível de decibéis, de 99% a 1%. A própria “Drª Fátima” irá medir o nível de ruído e apresentar lista ao governo. Nota: o “major” fica proibido de participar por ter caído no caldeirão da poção mágica da EPAM quando ainda era cadete maçarico.
  6. Militantes do PCP e BE ficam proibidos de utilizar as SCUT, excepto quando circulem em transporte colectivo a caminho das “manifs” da CGTP ou para assobiar o primeiro-ministro numa inauguração. O governo considerou que no meio de tanto folclore sobre como portajar as SCUT já não tem autoridade para descriminar quem o imite.
  7. Paulo Portas e Santana Lopes terão um desconto de 25% se apresentarem justificativo de terem ido ao alfaiate a Madrid ou comprar brilhantina a Badajoz, respectivamente.
  8. Por fim, João Cravinho e António Guterres (os da “boa ideia") vão directamente para a cadeia sem passarem pela casa da partida e sem receberem os dois contos a que teriam direito.

Já agora, e para terminar: depois de tão brilhantes ideias, o “Gato Maltês” espera ter direito a isenção vitalícia.

quarta-feira, julho 07, 2010

As horas extraordinárias...

Duas notas sobre esta notícia:

  1. Os trabalhadores dos hospitais têm todo o direito a receber a remuneração acordada contratualmente como pagamento das horas extraordinárias efectuadas a solicitação da sua entidade patronal - e nunca esse pagamento pode ser convertido em “folgas”, “horas livres”, “géneros” ou o que quer que seja.
  2. Tendo dito isto, pasmo que, a serem verdadeiras as afirmações do representante da Frente Sindical da Administração Pública, José Abraão, existam trabalhadores com “oitenta e cem horas extraordinárias a haver” – logo, efectuadas -, o que é perfeitamente sintomático da indigente gestão dos hospitais em causa (as horas extraordinárias devem ser isso mesmo – extraordinárias), transformando o trabalho extra em normalidade e o seu pagamento num complemento salarial permanente.

Paga o contribuinte, pois claro!

The best of SUN rockabilly (9)

Carl Mann - "Pretend"

"Mata que é castelhano"...

Já neste “blogue” o tenho afirmado, quando em tempo de crise emergem os nacionalismos. O derradeiro e mais reles de todos eles é o anti-castelhanismo, herdeiro da ditadura franco-salazarista e das bandeirinhas portuguesas e espanholas actuais que marcavam, mascarando o seu significado, os locais das guerras do passado entre os reinos de Portugal e Leão e Castela, com ou sem o mais tardio Aragão. E que tal a reconquista de Olivença, para mostrar que “somos homens”?

Espero o PSD se consiga manter sempre fiel a estas afirmações de Miguel Relvas...

O que a transferência de Moutinho revela sobre o FCP

Ao pagar pelo passe de João Moutinho um valor superior ao seu valor de mercado, e tal como aconteceu com a frustrada tentativa de desviar Jorge Jesus do SLB há poucas semanas, o FCP e, principalmente, o seu presidente, para além do enfraquecimento dos clubes rivais, não têm fundamentalmente em vista a melhoria qualitativa da sua equipa e do seu plantel. O objectivo fundamental destas acções é antes, acima de tudo e qual macho alfa envelhecido tentando impor-se a uma matilha que já tem dificuldades em controlar, uma tentativa gratuita de reafirmação de um poder que, no campo e fora dele, lhes tem vindo a fugir nos últimos tempos.

Sintoma de decadência de ambos, pois claro...

terça-feira, julho 06, 2010

Milly Possoz e o "Estado Novo" (3 - reposição)


Ilustração de Milly Possoz para o poema "O Lavrador", de Afonso Lopes Vieira.

in "Livro de Leitura da 2ª Classe" (anos 50 do séc. XX)

Que tem o filho de Cristiano Ronaldo a ver com a concessão do direito de adopção a casais homossexuais?

Quem se opõe à adopção de crianças por casais homossexuais, principalmente as organizações religiosas ultraconservadoras, costuma argumentar que toda e qualquer criança precisa de uma referência feminina, a mãe, e outra masculina, o pai. Eu, que não encontrei até ao momento, nessa ou em outra argumentação, razões suficientemente fortes para negar esse direito a casais constituídos por duas pessoas do mesmo sexo e a crianças a necessitar de uma vida familiar onde possam encontrar razões para serem mais felizes, acho contudo que a argumentação de quem defende tal proibição, embora contrária à minha, é suficientemente razoável e estruturada para merecer uma discussão séria e rigorosa.

Já o que acho mais estranho é o facto de não ver essas pessoas, tão preocupadas com a família a que chamam tradicional ao ponto de restringirem a ela a capacidade de adopção, manifestarem qualquer preocupação pelo facto de um homem poder ter um filho com recurso a uma “barriga de aluguer”, negando à criança assim gerada qualquer conhecimento, convivência e participação na sua educação da sua mãe e família materna, e, por motivo da vida pessoal e profissional do pai ser incompatível com um acompanhamento diário da criança, pelo menos de muito perto, ser entregue para educação, ao fim de um par de semanas de vida, a uma avó e, vamos lá, tias e/ou outros familiares e amigos.

Claro que a pergunta a fazer é a seguinte: quem tem mais e melhores condições para educar e acompanhar a vida de uma criança e proporcionar-lhe um crescimento feliz e saudável? Um casal homossexual, feminino ou masculino, que preencha os requisitos normalmente exigidos para adopção, ou alguém nas condições descritas no segundo parágrafo? Ou será que o problema de quem nega aos casais do mesmo sexo o acesso à adopção nada tem que ver com os direitos dessas crianças mas, isso sim, com a velha e relha discriminação da homossexualidade?

segunda-feira, julho 05, 2010

Estado e PT: comer o bife duas vezes

Uff!... Vamos lá ver se nos entendemos...

Não está nem nunca esteve em causa o valor estratégico para o país da participação da PT na VIVO. Como também não o está o da EDP e da GALP (ao contrário do que acontece com a TAP, por exemplo). O que, quanto a mim, está em causa é o Estado querer comer o bife duas vezes, ou seja, ter privatizado a(s) empresa (s) e querer agora continuar a decidir sobre ela(s). Se existe um interesse estratégico – e isso parece evidente - , o Estado, quando da respectiva privatização, deveria ter mantido na(s) empresa(s) uma participação suficiente para lhe conceder poder decisório. Ponto final.

The Roulette Years (11)

Bruce Bruno - "Venus In Blue Jeans"

O caso João Moutinho, os contratos e a atitude dos clubes

Algo que o “negócio” João Moutinho vem relançar é o modo como muitos jogadores profissionais com contratos de médio/longo-prazo com um clube, contratos esses assinados de livre vontade e que, normalmente, são considerados positivos para ambas as partes quando da sua assinatura, forçam a respectiva ruptura quando já não lhes interessa cumpri-los. Foi assim – lembro-me – quando Miguel decidiu trocar o “meu” SLB pelo Valência e assim é agora com Moutinho.

Postos perante a hipótese de recuperarem algum do valor investido com o jogador ou de conseguirem realizar uma mais-valia significativa e a alternativa de o atleta ficar sem jogar até ao final da vigência do seu contrato, desvalorizando-se enquanto activo, os clubes têm optado por ceder à chantagem de jogadores e empresários. Se no curto-prazo tal pode parecer decisão sensata, no médio/longo prazo acaba por colocar os clubes numa posição extrema de vulnerabilidade face aos caprichos dos seus atletas e aos cantos de sereia de empresários e rivais.

Se a existência de contratos plurianuais no desporto profissional, mais especificamente no futebol, constitui uma resposta lógica e necessária para a estabilidade de uma relação profissional entre a entidade que contrata e o jogador contratado, para a gestão de um clube, por um lado, e de uma carreira, por outro, colocando ambos ao abrigo de imponderáveis e dos caprichos do curto-prazo, o método da “birra” acaba por colocar em causa o racional que está por detrás desta lógica, tornando-a descartável. Clubes e atletas deverão, pois, tirar daí as devidas conclusões sobre o que efectivamente lhes convém.

Um país que parece não o ser para gente séria

A ministra Ana Jorge aconselhou na passada semana os portugueses a substituírem o “fast food” por uma boa sopa feita em casa. Estas afirmações da ministra, às quais eu acrescentaria a substituição da “meia de leite” e do “croissant” comido no café da esquina por um pequeno almoço caseiro digno desse nome, foram proferidas num contexto de enunciação da necessidade de recorrer a métodos preventivos e continuados no combate à obesidade (evitando a cirurgia) e de medidas que permitissem às famílias diminuir os seus gastos com a alimentação beneficiando, simultaneamente, a qualidade desta.

Pois algo tão útil e evidente, quer fosse dito pela ministra da saúde quer, por exemplo, pela médica Isabel do Carmo ou outra qualquer das vozes autorizadas no assunto, em vez de saudado foi feroz e selvaticamente (é o termo) atacado pela esquerda radical - a mesma que não perde ocasião de verberar as cadeias multinacionais de “fast food” - e por milhares de comentários deixados em “blogues” e “media” on –line pelo "povo da SIC"

De facto, por vezes parece que este país não é mesmo para gente séria...

sábado, julho 03, 2010

Moutinho e a "brand equity"

Se o analisarmos de um ponto de vista puramente financeiro, e a crer nos 11 milhões anunciados, a venda do passe de João Moutinho ao FCP até pode ser considerada um bom negócio para o SCP: o jogador estava contrariado, fez uma má época, desvalorizou-se enquanto activo ao não ter sido convocado para o Mundial e, convenhamos, é um bom jogador, competente a nível nacional, mas mediano em termos europeus. No entanto, do ponto de vista da "brand equity" de uma instituição como o SCP o negócio parece-me aproximar-se perigosamente do desastroso.
Aguardam-se reacções em conformidade por parte da "rua" e de alguns notáveis sportinguistas.

Country Life (5)









Burghley House

sexta-feira, julho 02, 2010

Brasil-Holanda

Quando se joga com um duplo “pivot”, um deles tem de soltar-se quando a equipa inicia os seus processos ofensivos. Por exemplo, quando o “meu” SLB jogava desse modo era normalmente a Katsouranis que competia a missão, embora na época de Quique Flores Yebda também o fizesse com algum a propósito - embora sendo jogadores muito diferentes.

No Brasil, com Felipe Melo e Gilberto Silva, dois jogadores posicionais e, fundamentalmente, de recuperação de bola, como é? Saem pelas laterais, com Bastos e Maícon em transições rápidas, dir-me-ão. Não chegou... Primeiro porque Van Bommel é mais inteligente do que uma equipa brasileira toda junta e sabe que espaços deve preencher quando a equipa tem ou não tem a bola, não se dedicando apenas a acertar nos adversários, muito menos a cometer erros infantis; segundo porque o Brasil, pelo menos neste momento, não tem na frente ninguém tão desequilibrador como Sneijder e Robben.

Está explicado?

Catch the Wave (4)

The Lively Ones - "Misirlou"

Seleccionador ou director-técnico?

O tal "projecto estruturante" de Queiroz, permanentemente invocado por alguns dos seus indefectíveis como Freitas Lobo e Rui Santos, ameaça tornar-se na cortina de fumo que tenta esconder um futebol decepcionante, um grupo que parece carecer de liderança e resultados que, enfim, lá vão cumprindo os serviços mínimos.

Sejamos claros. Queiroz, independentemente de todo o trabalho meritório que tenha realizado ou possa vir a realizar na FPF, é, em primeiro lugar, o seleccionador nacional, e é sobre o modo como desempenha este cargo e não o de um hipotético director-técnico da Federação que deve ser, fundamentalmente, ser avaliado.

quinta-feira, julho 01, 2010

"Et Dieu Créa... Bardot"

Brigitte Bardot in "Et Dieu Créa La Femme", de Roger Vadim (1956)

Fado - Património Imaterial da Humanidade (2)


Maria do Carmo ("Alta") -
"Os Beijos São Como As Rosas"

José Sócrates e a utilização da "golden share"

Ao fazer uso da “golden share” no negócio PT/Telefónica, o governo e José Sócrates piscaram o olho à sua esquerda e à esquerda do seu partido, sabendo que a decisão, a breve prazo, do Tribunal de Justiça da UE tornaria o seu gesto pouco mais do que quixotesco, deste modo salvaguardando o seu tradicional bom relacionamento e “partnership” com alguns dos accionistas.

Espero que daqui a alguns dias, quando, segundo tudo leva a crer, o Tribunal decidir pela ilegitimidade do acto, José Sócrates não caia no erro demagógico de fazer recair sobre Bruxelas os custos de uma eventual impopularidade dessa decisão. Até pode acontecer que, a curto prazo, isso lhe valha alguns votos à esquerda; mas, certamente, com custos acrescidos para o modo como muitos portugueses sentem o projecto europeu como sendo o seu e para aqueles que sempre viram no PS o partido mais consequentemente defensor da ideia de Europa.

É que se demagogia já costuma pagar-se caro, tentar esconder demagogia com igual dose do mesmo veneno corre sérios riscos de se tornar dose mortal.