sexta-feira, julho 16, 2010

Alarvidades à portuguesa

Na TSF existe agora, durante o tempo de Verão, uma pequena rubrica denominada “Onda da Rádio” onde se pretendem divulgar algumas praias, fluviais ou marítimas, menos conhecidas por todo o país. Um serviço útil, nada a dizer em desfavor do conceito do programa ou do modo despretensioso e leve como é apresentado.

Bom, mas hoje, logo pela manhã, ao ouvir tal rubrica por acaso, a minha atenção foi despertada por algo que me pareceu mais do que insólito, talvez mesmo aberrante. Ao descrever uma praia fluvial do concelho de Penela e as “facilidades” postas à disposição dos utilizadores, alguém falou do restaurante de apoio e das apetecíveis “iguarias” que disponibilizava. Quais? “Polvo à lagareiro”, cabrito da serra”, “costeletas de javali”, “bacalhau assado”. Ora toma!, aqui está a ementa mais adequada a um dia de praia, seja ela fluvial ou marítima. Mas queriam o quê? Umas bem portuguesas saladas frias como “meia desfeita”, de atum com feijão frade ou de frango ou coelho desfiado? Vá lá, até uns carapauzinhos de escabeche, já que para alimados estamos bem longe das praias algarvias? E, para não falar de bem afamadas saladas da estranja, que português acha sempre esquisitas, que tal umas sanduíches, em bom pão de centeio, do verdadeiro queijo do Rabaçal ali da zona, o que é feito com mistura de leites de ovelha e cabra e não o sucedâneo que por aí se vende com o mesmo nome? Nada disso: toma lá com o “polvo à lagareiro” ou o cabritinho que é mesmo o que apetece num dia de calor à beira de uma praia. E se possível regado com "tintol"!

E se, durante ou depois do banho, tiverem uma paragem de digestão e forem desta para pior a culpa é do governo, do Estado, do INEM, do SNS, que o cabritinho lhes soube mesmo muito bem e do javali nem se fala.

Pois é, a modernidade não é só o "Magalhães"!

4 comentários:

ié-ié disse...

Ah! Ah! Também ouvi esse programa! Mas o que me espanta é o "polvo à lagareiro". Terras do interior com peixe como "especialidade" é que me espanta. Nem sequer pensei no "pesado" das ementas para esta altura do ano que tu referes.

É como o bacalhau em Sejães que tu tão bem conheces. Como é possível?

Ou uma chanfana em Sesimbra...

Não dá a bota com a perdigota, né?

LT

JC disse...

Eu acho que a história do polvo nas terras do interior será parecida com a do bacalhau. Quer dizer, o polvo (aviso desde já que não gosto e nem lhe toco) era seco ao sol e, acho, tb salgado (ainda se vende assim naquelas lojas da R. do Arsenal)como forma de o conservar e transportar para terras do interior. E tb era barato, logo comida de gente pobre. Não li nada s/ o assunto e, como sabes, a parte portuguesa (a da minha mãe) da minha família é de Lisboa há mtªs gerações, pelo que não tenho qualquer experiência "do campo". Mas parece-me este racional fazer algum sentido. Para além disso faz-me alguma confusão o que os portugueses comem e bebem ao almoço em dias de trabalho. Para mim, tal coisa arrumava-me para o resto do dia.
Bom fds

gin-tonic disse...

Caros:
Ou é comida ou não é comida
Isso de "comidas leves" ou comidas "pesadas" é um neo-liberalismo que conduz a algo nada recomendável.
Aqui no tasco da rua , no sábado, o preto do dia era "Mão de Vaca com Grão".
Agora vão perguntar aos trabalhadores da "Rebel", e outros, que lá comem, se eles querem uma coisinha leve, uma saladinha assim. não sei bem como.
Quem é que depois montava os andaimes da "Rebel"?
Claro, que eu sou um primitivo, mas um "cabrito da serra" frente a um rio, uma garrafinha de espumante, um charuto a finalizar,
é algo que me leva a lamentar não estar por ali... ou ter dinheiro para...
Um bom resto de domingo, amigos

JC disse...

Um grande abraço para ti, Gin-Tonic.E mão (ou pé) de vaca, de vitela ou de porco é coisa proscrita aqui por estas bandas.