segunda-feira, agosto 31, 2009

Vitória de Setúbal: um "case study"

O Vitória de Setúbal, hoje humilhado no Estádio da Luz e cheio de problemas de sobrevivência nos últimos anos, é um excelente exemplo de um clube de futebol que cresce, atinge o apogeu e decai com a evolução do próprio meio sócio – económico em que se insere, algo que raramente a imprensa desportiva correlaciona. O clube, que nasce numa cidade, tal como a Olhão e Matosinhos do Olhanense e Leixões, ligada à pesca e às indústrias tradicionais do mar, principalmente conservas de peixe e actividade portuária, cresce e atinge o seu apogeu com a industrialização típica dos anos 60 e início dos anos 70 do século XX (construção naval, montagem de automóveis, fabrico de electrodomésticos, etc. - e construção civil para alojar os novos habitantes) e começa a sua curva descendente quando, nos anos 80, este modelo entra em decadência e com ele o distrito de Setúbal, com a adesão à então CEE. No meio de tudo isto, a liberalização da contratação, com o fim da famigerada “lei da opção”, terá também dado o seu contributo. Um “case study”...

Calendário dos debates eleitorais e hóquei em patins

O calendário dos debates eleitorais faz-me lembrar os campeonatos do mundo de hóquei em patins dos anos 50. Só interessa mesmo o último dia, o do Portugal - Espanha (ou o do PS - PSD). O que vem antes são só jogos entre segundos planos ou que servem apenas para umas "cabazadas" de entretenimento...

Les Belles Anglaises (XXXIII)



Austin Seven 2-seater Ulster (1930)

As opções da imprensa desportiva

Uma nota talvez um pouco tardia, mas ainda assim reputo de oportuna e que, portanto, não poderia deixar passar em claro.

Há uns três anos, quando da controversa e inesperada saída de Co Adriaanse do FCP, onde a sua passagem tinha sido tudo menos pacífica, esperei, pelo menos depois da poeira assente, ver publicada em algum jornal desportivo português uma grande entrevista com o, então, já ex-treinador do clube de P. da C. Seria, pensava eu, um assunto de oportunidade e um trabalho de fundo jornalístico conhecer a opinião de Co Adriaanse sobre a sua passagem desportiva por um clube ex-vencedor da Champions League, onde tinha acabado de se sagrar campeão mas onde também tinha sido vítima de alguns comportamentos incorrectos por parte dos “marginais” do costume. Nada aconteceu, não sei se por decisão de Co Adriaanse se por qualquer outro motivo. Adiante.

Este Verão, Quique Flores foi despedido do meu clube, depois de um ano em que acabaram por chover críticas sobre as suas opções desportivas e após um longo, e quiçá pouco claro, processo de despedimento. Esperei por ler ou ouvir as opiniões de Enrique Sanchez Flores sobre a sua passagem pelo SLB, as suas opções estratégicas e tácticas, e também o que tinha a dizer sobre o modo como se tinha processado o final de época e o acordo que levou à sua saída. Nada! Apenas notícias esparsas sobre o seu namoro com Orsi Féher, o sortudo!

Começo pois a pensar que ou treinador que saia de um dos chamados três grandes do futebol português faz pacto de silêncio ou as prioridades da imprensa desportiva serão bem outras, diferentes das minhas, passando, tal como nas revistas do coração, por pintar um quadro cor-de-rosa do que se vai passando nos clubes e no futebol português, onde não vale a pena agitar águas que não convenham a quem detém o poder. De qualquer forma, uma lástima.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (bonus track)

Long John Baldry - "Let The Heartaches Begin"

domingo, agosto 30, 2009

A "Festa do Avante" e o trabalho voluntário

Na sua reportagem de hoje sobre os jovens comunistas, a “Pública” pergunta a alguns voluntários da Festa do Avante porque sendo a Quinta da Atalaia propriedade do partido e realizando-se a festa todos os anos não se constrói uma estrutura mais permanente. Em resposta esses jovens respondem que tem tudo que ver com a “fuga à monotonia”, com o desejo que tudo seja diferente de ano para ano, com o apelo à criatividade.

Resposta errada, que não é contestada pelo autor da reportagem. Essa necessidade de construir tudo de raiz todos os anos, mesmo que o trabalho dos militantes e “amigos” do partido possa ser hoje em dia já relativamente acessório, tem, isso sim, a ver com o conceito da festa como fruto do trabalho gratuito e colectivo, com a imagem de militância que é necessário transmitir para o interior e exterior de um partido que não se quer confundir com nenhum outro, com uma certa superioridade moral arrogantemente assumida. Sem isso a festa perderia o conceito em que assenta e não conseguiria obter essa sua individualidade, justificativos do actual impacto mediático (como o prova a reportagem). Seria, digamos, um outro Pontal ou Chão da Lagoa com uma vertente mais artística e intelectual, um Festival do Sudoeste com uma ponta de política. Desapareceria o mito... pois claro.

10 clássicos de cine-esplanada (10)


"The Greatest Show On Earth", de Cecil B. DeMille (1952)

sexta-feira, agosto 28, 2009

Chique a valer!!!

Não sei se o rapaz joga algo que se veja. Se tem ou não futuro. Se “cabe” nos princípios e modelo de jogo de Jorge Jesus. Mas de uma coisa estou certo: o meu clube passa a contar no seu plantel, a partir de hoje, com o jogador com o nome mais “chique” da 1º Liga. Felipe Jácomo Menezes!, vejam só! Claro que o acrescento de um “de” entre os apelidos (Jácomo de Menezes) sempre ajudaria a dar ainda um pouco mais de sainete. Mas deixemos de parte esses exageros de novo-rico, que só ficariam mal a quem já tem nome com pedigree que sobeja. Felipe Jácomo Menezes: um chiquê!!!, pois então.

Summer nights music (9)

Ludwig Van Beethoven - "Quinteto para piano e instrumentos de sopro, op. 16
3º andamento: Rondo. Allegro, ma non troppo

A viabilidade do "Bloco-Central" depende da similitude de programas?

Agora que PS e PSD já editaram os respectivos programas eleitorais, multiplicam-se as análises comparativas para concluir se, das semelhanças e diferenças notadas, um governo de “Bloco Central” pode vir e ser realidade. É o caso, por exemplo, o “i” de hoje.

Disparate: existindo um acordo de princípio quanto ao regime (e esse existe), qualquer coligação resulta muito mais de um interesse político conjuntural das partes (neste caso, partidos) do que de qualquer similitude de programas. Ou será que a coligação (“Compromisso Histórico”) que “de facto” governou a Itália durante pelo menos duas décadas, entre o PCI e a Democracia Cristã italiana, teve fundamentalmente a ver com a similitude dos seus programas? E, se quisermos falar de alianças entre Estados, que dizer do Pacto Germano-Soviético de 1939?

O programa eleitoral do PSD

Façamos um pequeno exercício retrospectivo. Alguém ainda se lembra de alguma das medidas do actual programa eleitoral do PS? Penso que a resposta expontânea da maioria será “não”. E, no entanto, ele foi apenas apresentado há bem poucas semanas, imediatamente antes de todos termos ido para férias... E das tais vinte medidas do PSD de Ferreira Leite para combater a crise? Penso será desnecessário continuar e perguntar sobre o programa eleitoral de Sócrates em 2005, de Barroso antes dele ou de Guterres em 1995. Mas, deste último, muitos se lembrarão do “slogan” “razão e coração” no qual o PS condensou aquilo que levou os portugueses (aquele milhão de eleitores que normalmente decide as eleições) a “correr” com o PSD de Cavaco por considerarem o primeiro-ministro de então “arrogante”, (acusado do “quero, posso e mando, como dizia o PCP de Carvalhas) e estarem fartos do estilo, preferindo o “diálogo” prometido pela versão de Guterres de um catolicismo assistencial e soft. Também foi algo do género que levou Barroso ao poder, enfadados os portugueses com os negócios do queijo Limiano e ansiando, por isso, por mais estabilidade e, principalmente, penalizando a “fuga” daquele a quem tinham confiado o seu voto. Escusado falar de 2005, pois aí os portugueses quiseram, pura e simplesmente, verem-se livres de um governo que apenas os enchia de vergonha.

É pois este, em condições normais, o tipo de argumentos que leva esse milhão de eleitores a decidir o sentido do seu voto e não quaisquer programas eleitorais, tenham eles 40 ou 150 páginas, estes cumprindo uma missão meramente ritualística geradora de alguma ocupação mediática. É exactamente também por isso que todo o esforço do PSD tem sido centrado (diga-se que inteligentemente) na seriedade e rigor de Ferreira Leite contraposta à “ligeireza” e passados político e pessoal tidos como duvidosos e pouco credíveis do actual primeiro-ministro, a quem só os pouco avisados comprariam um carro em segunda-mão - utilizando a habitual alegoria sempre chamada para estas situações. Como afirma hoje Paulo Ferreira no “Público”, é Ferreira Leite contra José Sócrates e não o PSD contra o PS.

Mas, claro, apesar de centrar a questão da escolha eleitoral de um futuro governo no terreno de “combate de personalidades” - aquele que mais lhe convém - não pode o PSD deixar também de tentar marcar a diferença naquelas áreas onde o governo de José Sócrates, independentemente de ter ou não razão, da correcção das políticas, gerou uma maior contestação que contribuiu para a sua imagem de “arrogância” (outra dos argumentos eleitorais que terá o seu peso), sabendo que irá ser aí, em algum ou alguns desses temas, que poderá criar um elemento adicional recordatório e diferenciador. Por isso mesmo, tenta aí construir uma ilusão de ruptura, um trompe d’oeil que uma primeira abordagem mais descuidada pode tomar por realidade: suspende a avaliação de professores e o estatuto da carreira docente (o que os “media” de imediato sublinham), mas não deixa de ter um cuidado quase subliminar de acrescentar que adoptará uma outra avaliação baseada no mérito e um estatuto de carreira diferenciador, algo do qual a Fenprof foge como diabo da cruz por isso contribuir para o fim do seu domínio no sector e os professores, na sua generalidade, consideram põe fim à doce vida do passado; reavalia o TGV e o novo aeroporto (que grande parte desse milhão de eleitores acha um desperdício porque nunca os utilizará, independentemente do seu valor estratégico que é algo que lhe passa ao lado), não nos dizendo se avaliza o disparate que é a linha de alta-velocidade Lisboa-Porto-Vigo ou algo sobre o que é efectivamente estratégico na questão do aeroporto (a sua construção por fases já está prevista e deriva apenas do bom senso): se concorda ou não com o conceito de “hub” aeroportuário, pois é isso que remete para qual o modelo de integração de Portugal na Ibéria enquanto “mercado único multinacional”. O resto ou são apenas questões (nem sempre correctas, como é o caso da taxa social única que em quase nada contribuirá para a competitividade das empresas e se arrisca a ser apenas um balão de oxigénio para prolongar a vida das inviáveis) de muito relativa importância destinadas apenas a satisfazer clientelas (casamento, IVA, pagamento por conta ou a já falada taxa social única) ou generalidades e manifestações de princípio para dar um ar composto e mais estruturado a um documento que prova o PSD percebeu o que está realmente em jogo e em torno de que questões as eleições se irão decidir.

quinta-feira, agosto 27, 2009

Os programas de "debate" desportivo e a "Máfia"

SLB e SCP deviam desvincular-se publicamente dos comentadores que os representam(?) naquelas caricaturas de programas e debates desportivos em que os chamados "três grandes" estão representados por seus adeptos ou associados (i.e. “Trio de Ataque”, “O Dia Seguinte”, “Prolongamento”). Razão? Não se combate a Máfia através do diálogo, da argumentação ou do debate de ideias. Combater a Máfia é uma questão de polícia, e julgá-la e condená-la um dever do aparelho judicial.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (19)

The Move - "I Can Hear The Grass Grow"

10 clássicos de cine-esplanada (8)



"The Adventures of Robin Hood", de Michael Curtiz e William Keighley (1938)

quarta-feira, agosto 26, 2009

Os ex-dirigentes do PS e as alianças à esquerda

Estando o PS separado dos partidos considerados à sua esquerda por duas questões essenciais, fundamentais para o modo como se encara a actualidade e o futuro do país, a da aceitação da democracia liberal como elemento estruturante da sociedade e a do regime político (arquitectura constitucional, União Europeia, moeda única, alianças internacionais, etc), só encontro uma explicação para o facto de assistir a um corropio contínuo de ex-dirigentes (e alguns dirigentes) do partido virem propor alianças preferenciais à sua esquerda: exceptuando o caso de Manuel Alegre, que todos sabemos ao que vem e a quem a desastrosa presidência de Cavaco Silva parece querer abrir caminho, posicionarem-se o mais perto possível da "pole-position" numa eventual corrida a secretário-geral no caso de uma eventual derrota de José Sócrates no próximo dia 27 de Setembro. Uma vez ganha a corrida, seria relativamente fácil livrarem-se da asneira.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (18)

Dave Dee, Dozey, Beaky, Mick & Tich - "Bend It"

terça-feira, agosto 25, 2009

A PSP do Porto nunca existiu!

Afinal, parece que o carro em que seguia Pinto da Costa, conduzido pelo seu motorista, não desobedeceu ao sinal de paragem da polícia. Segundo a PSP do Porto, foi o sinal de paragem que não foi explícito!

Se aprofundarmos a questão, a polícia ainda vai concluir que ela própria tinha transgredido, colocando-se à frente do carro sem aviso prévio de pelo menos cinco minutos em local onde isso não era permitido; que deveria ter contactado antecipadamente o Sr. Fernando Madureira e as sturmabteilung por si dirigidas a pedir a respectiva autorização; que não tinha reconhecido o Sr. Pinto da Costa e por isso irá apresentar desculpas oficiais em três exemplares dactilografados de papel timbrado da corporação; que na primeira oportunidade nomeará o Sr. Pinto da Costa como presidente honorário da corporação, o guarda Abel como comandante "honoris causa” e a menina Joana como mascote à frente da respectiva banda. Por fim, e caso isso se revele ainda necessário, irá reconhecer que nunca esteve no local indicado, que a PSP do Porto nunca existiu e tudo não passou de uma conjura organizada pela moirama sob o comando do regressado Scolari, que terá contado para tal com o apoio jurídico do malvado juiz Costa e do excomungado edil Rio.

Ah, e claro que o jornalista Prata - que é intelectual renomado - não tardará a explicar tudo de modo bem mais interessante!

Summer nights music (8)

Shankara Orchestra - Raga Hamsadhwani

Da ideologia das cores: das bandeiras aos "dress codes"

Todos, os da minha geração do baby boom do pós-guerra, crescemos aprendendo a ideologia das cores, nos símbolos e bandeiras, do encarnado proletário ao negro da luta contra a fome. Em Portugal, do azul da monarquia ao verde e encarnado republicanos. Por mim, por via de algumas origens hexagonais, também do significado da tricolor, da liberdade, da igualdade e da fraternidade, que me ensinaram desde sempre ter sido o acontecimento histórico mais importante da marcha da humanidade. Se o foi ou não pouco importa, já que o que se quer ilustrar com estes exemplos nada mais é do que essa ideologia colorida presente nos símbolos pelos quais lutamos e com os quais nos identificamos.

Que as cores do vestuário tenham também esse significado, ou mesmo uma conotação de classe, era algo que desconhecia. Aqui há uns tempos, e a propósito de “dress-codes”, escrevi por aqui que achava curioso os homens do Bloco de Esquerda o assumissem (ao “”dress-code) de modo muito estrito: na permanente ausência de gravata; naquele segundo botão da camisa tão inesteticamente apertado. Mas, concluí, também naquela horrível paleta de cores oscilando entre o “beige” e o castanho, o cinzento e o verde azeitona, tudo muito pouco contrastante e a tresandar àquilo que a minha mãe denominaria de “encardido”. Percebi então que no PCP a paleta de cores pouco diferia, com excepção – honra lhe seja feita - daquela gravata berrante, de um encarnado bem proletário, ostentada orgulhosamente por um Jerónimo de Sousa com quem, divergências à parte, apetece ir ver o “glorioso”, beber umas imperiais” e petiscar uns carapaus de escabeche. Confesso, nunca percebi a razão para tais cores “encardidas”, até porque, durante muito tempo, mais propriamente até aos anos 60 do século XX, os burgueses da cidade e os operários das fábricas pouco variavam e se distinguiam na cor taciturna dos trajes (as distinções de vestuário eram outras), pertencendo aos camponeses ricos em festa o colorido dos cromos das “Raças Humanas” da minha infância.

Finalmente fez-se luz ao ler, em um dos últimos exemplares do “Público”, que algo que muito atraía os cidadãos da extinta RDA no ocidente, mais propriamente na RFA, era, para além dos sacrossantos jeans Levi’s, a variedade de cores vivas disponibilizadas no vestuário, algo inexistente do lado de lá do muro onde o colorido se limitava á tal paleta entre os “beige” e os castanhos, o “terra-sena” e o verde tropa. A questão, claro, nada tinha a ver com a ideologia, mas, isso sim, concluí utilizando uma linha de pensamento bem marxista, com questões económicas e de produção: na fabricação em série de uma economia planificada, seria bem mais económico produzir apenas meia dúzia de cores de cada peça e, por isso, tal como a comida dos aviões não é boa nem má mas apenas desenxabida para poder ser tragável por todos, o ideal era que as cores também o fossem, dando origem àqueles tons mais ou menos “encardidos”, como se toda a roupa fosse lavada em conjunto na máquina de debotasse, o que, last but not least, também serviria às mil maravilhas para acentuar o carácter igualitário das gentes e do regime.

Se sempre tinha dado uma boa quota-parte de razão a Marx quando este afirmava que o económico é determinante em última instância, esta constatação veio corroborar dessa minha quase certeza: eis senão quando, algo que tinha apenas que ver, na sua origem, com questões de racionalização da produção - um pouco como uma lição tardia aprendida da corriqueira história do modelo “T” de Henry Ford - se tinha rapidamente transformado em bandeira ideológica e de agitada pertença de classe. Por mim, se o BE se quisesse mesmo afirmar na sua essência como pós-moderno, bem mais gostaria de ver Louçã e companheiros de cores e trajes bem garridos, multicolores e até um pouco ousados, bem ao espírito gay pride ou do saudoso flower power. Caso contrário, isto é, caso insistam nas suas actuais cores insípidas, não me parece a sua conversão ideológica possa ser levada demasiado “à séria”. Haverá, no "Bloco", sempre uma RDA de má memória que espera por nós...

10 clássicos de cine-esplanada (7)


"Carousel", de Henry King (1956)

Aimar, o macaco e a girafa

Peço desculpa pela brejeirice, mas o papel destinado pelo SLB de Jorge Jesus a Pablo Aimar faz-me sempre lembrar a velha piada de salão sobre namoro entre o macaco e a girafa, sem qualquer ofensa para nenhum dos referidos. Parece que o pobre do macaco andava feliz mas se confessava exausto, pois a girafa a todo o tempo lhe pedia “beija-me na boca, apalpa-me as mamas”! Não admira por isso que Jorge Jesus lhe tenha dado descanso, poupando-o à viagem até à Ucrânia. Quanto tempo ainda durará, para Aimar, o feliz namoro, até finalmente sucumbir de exaustão?

segunda-feira, agosto 24, 2009

"Uniões de Facto": a oportunidade de Cavaco Silva

Confesso não sentir especial apetência por ver as chamadas “uniões de facto” demasiado regulamentadas. Sim, também sei que é necessário precaver as diversas situações de vida em economia comum, daqueles que partilham custos e habitação, apoio na doença e vida de quem sobrevive. Por isso mesmo, estas situações devem obrigatoriamente ser contempladas e quem as assume protegido. Também, claro, daqueles que, fruto de uma legislação ultrapassada, não são autorizados a celebrar um contrato de casamento, como é o caso dos homossexuais, assim discriminados. Por isso mesmo, defendo o fim breve dessa discriminação.

Mas numa época em que assumir ou pôr termo a um contrato de casamento está facilitado e não coloca, e ainda bem que assim é, problemas jurídicos ou de definição patrimonial de monta (não falo dos psicológicos e sentimentais, que não têm qualquer cabimento nesta análise nem se expressam notarialmente – e ainda bem), considero que, na maioria dos casos, quem não assume contratualmente o casamento é porque não pretende assumir também, em pleno, os direitos e deveres que este contrato em si consubstancia, colocando-se, de algum modo, à sua margem. Por isso mesmo, não me parece que existindo alternativa e em nome da liberdade dos parceiros se devam quase equiparar as “uniões de facto” ao casamento, nos casos em que este é possível, embora se devam salvaguardar importantes questões de economia comum e apoio mútuos, bem assim como as referentes a educação e tutela dos filhos comuns. Não é, longe disso, uma posição conservadora (como aliás se depreende da minha posição favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo), mas sim, nos seus antípodas, eminentemente liberal.

Tendo dito isto e assim demarcado o meu território, devo assumir, interpretando-o, que o veto do Presidente da República ao recente diploma regulamentando as “uniões de facto”, exprimindo e tentando impor a sua visão conservadora do mundo e da sociedade portuguesa, como sempre o tem feito nas chamadas questões de sociedade, vai, neste momento pré-eleitoral, um pouco mais longe. Ele pretende, para além disso, demonstrar inequivocamente ao eleitorado de que lado do espectro partidário se encontra o player Cavaco Silva na disputa eleitoral que se avizinha.

O estudo da FEP, os empresários e as visitas oficiais

O “Jornal de Notícias” faz hoje eco dos resultados de um estudo da Faculdade de Economia da Universidade Porto afirmando que as empresas convidadas a integrar as viagens oficiais de Presidente da República e primeiro-ministro tiram poucas vantagens dessa participação, não aproveitando todo o potencial que poderiam proporcionar. Mais, noticia o JN, os empresários afirmam que o objectivo mais valorizado “é o estabelecimento de redes de negócios com outros participantes na visita oficial”.

Bom, não ignorando que muitos dos resultados dessas visitas não serão por vezes assim tão tangíveis, pelo menos no curto prazo, sabendo que existem mercados emergentes onde só se consegue entrar encostado ao Estado e não menosprezando o interesse dessa rede de negócios entre participantes (cabe-me perguntar para que servem as associações, mas enfim...) existe algo que os empresários convidados não podem abertamente afirmar e que no tecido empresarial português é (tem sido) de uma enorme importância, e para o qual essas visitas são feitas exactamente à medida: o estabelecimento de uma rede de contactos e negócios, até de tráfico de influências, entre os empresários e o Estado, instrumento até aqui indispensável ao desenvolvimento de ambos e na base do qual o país alicerçou o seu crescimento desde o salazarismo (pelo menos). Por isso mesmo se compreende também que da parte do Estado “não existam critérios definidos na escolha das empresas convidadas” (é outra das conclusões do estudo): ficam pois os convites ao dispor das conveniências de ocasião e da cedências às pressões do momento.

Apenas uma nota adicional: quem disser que vai mudar este estado de coisas poderá até estar cheio de boas intenções, mas seguramente estará a mentir.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (17)

John Fred And His Playboy Band - "Judy In Disguise (with glasses)"

domingo, agosto 23, 2009

Da política do caroço

Não. Não me preocupa nada a menina Patrocínio ter uma criada que lhe tira os caroços das cerejas (presumo azeitonas só coma daquelas recheadas, já sem caroço). Aliás, há de vir a descobrir, agora que é mandatária (alguém me diz para que serve?), que existem uns pequenos apetrechos para o fazer, podendo assim dispensar a criada para trabalhos mais sofisticados. Ou, pura e simplesmente, dispensar a criada, aumentando o desemprego. Por mim, sonho com o dia em que possa chegar a casa e ter alguém que me sirva uma bebida sem ter que me dar à maçada. Sem sequer ter mesmo de a pedir ou de dizer o que quero, para não falar naquele gesto de inexcedível bom gosto que constitui entregar, com ar despreocupado, sobretudo ou gabardina a quem nos recebe à entrada.

O que me preocupa mesmo neste caso dos caroços e da menina Patrocínio é algo muito mais grave: é que, sem eles (os caroços), quiçá nunca terá entrado num daqueles concursos de cuspir os ditos, tão caros às brincadeiras de férias da minha infância e que tento passar às gerações vindouras. Isso sim, e quer sejam de cereja, daquele seu ersatz ácido que dá pelo nome de ginja, de ameixa ou de alperche (estes, pela dimensão, já só ao alcance dos mais calhados nestas coisas), será uma grave lacuna na sua ainda tão curta vida. Mas desculpem-me uma pergunta: se o facto de ter uma criada que lhe tira previamente os caroços (da fruta, I mean) a desqualifica como candidata de esquerda, acham que se os cuspisse a direita se iria sentir ofendida nos seus princípios e valores e a esquerda radical a acolheria de braços abertos no seu seio?

Eis-nos pois chegados, esperemos que não definitivamente, à política do caroço. Que obviamente nada terá a ver com o caroço da política. Pelo menos, mantenho a esperança.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (16)

Otis Redding - "I've Been Loving You Too Long"

sábado, agosto 22, 2009

Summer nights music (7)

Wolfgang Amadeus Mozart - Divertimento Nº 11 em ré maior K 251

5º e 6º andamentos - Rondeau. Alegro assai - Marcia alla francese

Amsterdam Baroque Orchestra, Dir. Ton Koopman

sexta-feira, agosto 21, 2009

I Liga 2009/2010: orçamentos, equipas revelação e decepções.

Esta é a classificação inicial da Liga portuguesa (I Divisão) para a época 2009/2010, ou seja, a que se pode ordenar em função dos orçamentos (MM€) oficiais de cada clube. Para o “Gato Maltês”, os clubes bem sucedidos serão aqueles que no final do campeonato se conseguirem classificar acima desta sua posição de partida. O inverso acontecerá para os que ficarem abaixo da posição que ocupam neste “ranking” inicial.

No final da 1ª volta efectuarei a primeira análise comparativa, permitindo assim nomear quais as verdadeiras equipas revelação ou aquelas com comportamento decepcionante; ou seja, quais as bem ou mal geridas. Algo um pouco diferente, convenhamos, das análises subjectivas e empíricas habituais.

1º FCP - 40M
2º SLB – 30M
3º SCP – 22.5M
4º SCB – 9M
5º Marítimo – 7M
6º V. Guimarães – 6.9M
7º Nacional – 5M
8º Rio Ave – 4M
9º União Leiria – 4M
10ºCFB – 3.7M
11º AAC - 3.6M
12º P. de Ferreira – 2.5M
13º V. Setúbal – 2.5M
14º Naval 1º Maio – 2.4M
15º Leixões – 2M
16º Olhanense – 1.2M

"Smoke ban" uns tempos depois

Ontem, chegado o intervalo do Benfica-Vorskla Poltava, feito aquele gesto normal de me levantar da cadeira e olhar em volta, reparei que alguém, não muito longe, fumava um cigarro (é permitido fumar nos estádios de futebol). Primeira surpresa: reparei que alguém fumava, coisa impensável há dez ou quinze anos. De imediato, colocado perante essa minha própria surpresa de reparar em actividade em tempos tão corriqueira, olhei em volta, tentando mesmo vislumbrar o longínquo cimo da bancada onde me encontrava e os sectores que me ladeavam. Mais ninguém fumava. Eu, que de tabaco só me atrevo a um recatado charuto de vez em quando e sempre que me sinto em paz com o mundo, os deuses e a “vidinha” - o que não é nada fácil acontecer -, exultei e lembrei-me da polémica quando da aprovação da actual lei do tabaco. Talvez fosse bom que alguns dos seus mais exaltados críticos relessem o dito e o escrito e se enchessem de vergonha. E, já agora, aprendessem algo.

10 clássicos de cine-esplanada (6)


"Shane", de George Stevens (1953)

quinta-feira, agosto 20, 2009

Les Belles Anglaises (XXXII)









Vale Special (1932-1935)

Só treinadores portugueses na Liga? Sim, e o outro lado das coisas?

Comentadores e jornalistas desportivos exultam com o facto de todos os treinadores da 1ª Liga serem portugueses, atribuindo-o à evolução e melhoria de qualidade dos mesmos. Não o contestarei, já que nada prova esta tese ou o seu contrário, embora com a notável excepção de José Mourinho nenhum treinador português tenha tido sucesso relevante, nos últimos vinte anos, no futebol do 1º mundo. Mas, digamos que, no mínimo, esta constatação não parece ser sólido argumento demonstrativo da tese apresentada.

Entretanto, proponho que viremos as coisas um pouco up side down e tentemos também ver o seu contrário. E se a inexistência de treinadores estrangeiros, alguns deles, no passado, responsáveis por saltos qualitativos importantes no futebol português, se devesse, isso sim, à pouca capacidade deste para atrair treinadores de qualidade do 1º e, vá lá, 2º mundos futebolísticos, seja fruto da incapacidade de praticar condições salariais atractivas ou da condição periférica e pouca visibilidade do seu campeonato (ou de ambas)? E se isso tivesse como consequência o enquistamento do futebol que por aqui se pratica e resultasse numa sua ainda maior “periferização”?

Conselho aos jornalistas e comentadores da “bola”: talvez seja melhor começarem a pensar um pouco antes de opinarem... ou pelo menos a verem o outro lado das coisas. "Bute lá" experimentar?

Summer nights music (6)

Wolfgang Amadeus Mozart - Divertimento Nº 11 em ré maior K 251
4º andamento - Menuetto (Tema con Variazioni)
Amsterdam Baroque Orchestra, Dir. Ton Koopman

quarta-feira, agosto 19, 2009

27 de Setembro: uma vitória do PSD corresponderá a uma presidencialização "de facto"?

Costumo dizer os amores nunca acabam sem aviso e, se procurarmos bem, encontramos no passado sempre sinais do que está para acontecer. Vem isto a propósito do mais recente entretenimento da “silly season”: a hipotética participação de assessores da Presidência da República na campanha do PSD, mais propriamente na redacção do seu programa eleitoral. Sobre a gravidade dos factos, incluindo a questão de eventuais escutas, deixo a outros a tarefa, e muitos haverá que não deixarão de chamar a atenção para a gravidade dos factos (Avillez Figueiredo, no “i” de hoje, por exemplo). Compete-me apenas lembrar, ilustrando a afirmação com que começo este texto, que já quando da campanha para o referendo sobre a IVG a família próxima do presidente tomou e tornou pública posição, abrindo um precedente na altura tido como algo “natural” e “legítimo”.

Sim, eu sei que nem Cavaco Silva é a rainha de Inglaterra nem a sua família os Saxe Coburgo-Gotha travestidos de Windsor, e não se tratou, na altura, de qualquer posição dos seus assessores, investidos estes, como de facto estão, de funções políticas claras. Mas talvez tivesse mandado o mais elementar bom-senso, ou pelo menos o mínimo bom gosto, que a sua família, conhecida que era a sua posição de princípio, se tivesse abstido de manifestações públicas numa matéria que dividia a sociedade portuguesa e na qual os valores fundamentais da democracia não estavam directamente em jogo. Existem direitos, mas também deveres, mesmo que ambos não escritos e deixados à sensibilidade de cada um. Infelizmente, há quem a não tenha, pelo menos em dose suficiente para influenciar decisivamente escolhas.

Moral da história, como nas fábulas? Direi que a 27 de Setembro estará algo mais em jogo do que escolher o governo do país e em nome de que princípios e valores este governará. Para bom entendedor, estará também em jogo se a tão desejada, por alguns, presidencialização do regime, para os próximos anos e em caso do vitória eleitoral do PSD, se fará sem recurso a uma constitucionalmente necessária revisão da lei fundamental mas apenas pela aceitação de uma situação gerada pelo resultado eleitoral. Como? Com a existência de um primeiro-ministro “de facto” (Cavaco Silva) e um outro “de jure” (Ferreira Leite). Que cada um, em consciência, faça a sua escolha.

Summer nights music (5)

Wolfgang Amadeus Mozart - Divertimento Nº 11 em ré maior K 251
3º andamento - Andantino
Amsterdam Baroque Orchestra, Dir. Ton Koopman

Ainda o tal "MMS"...

O meu habitual leitor VdeAlmeida repescou esta pérola do “site” do MMS (Movimento Mérito e Sociedade), o partido concorrente às eleições legislativas cujo cartaz analisei no “post” anterior: “A vitima terá uma palavra a dizer na pena a aplicar ao seu agressor”.

Sobre o conceito de Estado de Direito Democrático de tal partido, do seu respeito pela lei e pela independência do poder judicial e a proposta de transformar vítimas em algozes, não será necessário acrescentar mais nada. Mergulhemos pois alegremente na idade das trevas!

Infelizmente, é esta a alternativa que nos propõe uma significativa maioria daqueles que criticam o regime e as suas imperfeições nas caixas de comentários e fóruns de opinião. É esta a alternativa de muitos dos que, em nome de uma certa pureza ética e virgindade política, criticam o regime, não no sentido do seu aperfeiçoamento e aprofundamento democráticos, de uma sociedade mais aberta e mais justa, mas de um “regime novo”, de um “Portugal Regenerado” fundado no nojo à política e aos princípios democráticos. Sob a capa do que é novo, eis-nos de volta ao reaccionarismo totalitário da Europa dos anos vinte do século passado. A democracia dar-lhes-á no próximo dia 27 de Setembro a resposta que bem merecem.

terça-feira, agosto 18, 2009

É ofensivo, anti-democrático, racista e não tem graça


Este cartaz do MMS já contém em si algo de ofensa democrática, de sugestão de partido único, de ódio à política à boa maneira salazarista. Bons ou maus, os candidatos que o MMS pretende eliminar, enviando-os para a Cochinchina, crismada de Conchichina (já lá iremos), isto é, propondo o seu degredo ou ida para o exílio em terra inóspita e longínqua, à boa maneira do século XIX ou das velhas ditaduras europeias, são votados por milhões de portugueses e, mal ou bem, têm governado o país em democracia há 35 anos. Apesar de tudo, um dos mais longos períodos de progresso, prosperidade e paz que este país já atravessou (e é bom que, em tempos de crise, isso não seja esquecido).

Mas não se fica o tal MMS por aqui, pelo seu desejo de envio de políticos adversários, que têm merecido a confiança de milhões de portugueses, para o degredo dos trópicos. Como se o seu ódio à democracia não fosse suficientemente grave, junta-lhe o MMS o mais puro e claro racismo, tratando a Cochinchina, de facto uma das regiões da antiga Indochina francesa actualmente parte do Vietnam, como se de uma colónia de antanho se tratasse, enquanto tal destinada, sem opinião escutada dos seus habitantes, a receber todos aqueles que um partido com pretensões a único considera indesejáveis para a “potência colonizadora”. Porque não para Angola ou para Timor? Apenas porque pretende ter graça?

Claro que o tal MMS acaba por perceber o que fez e ter alguns problemas de consciência. Por isso, decide transformar a Cochinchina em “Conchichina” (explicando o facto no seu “site”, o que só piora as coisas como quem diz um palavrão e pede desculpa a seguir), pensando que todos os portugueses são estúpidos o suficiente para aceitarem a diferença(?) ou alarves para se permitirem a gargalhada. Pelo que vejo em algumas caixas de comentários, muitos o serão. Mas as próximas eleições irão por certo provar que muito menos do que aqueles que o tal MMS desejaria. E, estou certo, não irei ouvir nenhum dos cinco líderes mencionados sugerir o envio para o degredo dos dirigentes adversários. Só me poderei congratular com isso!

Sugestões de Verão (que não se arrependem)

Recomendar leituras de Verão em época multimédia seria não só demasiado déjà vue como, principalmente, demasiado redutor. Por isso, à míngua de motivos de interesse para um post num dia relativamente ocupado (não, não me interessam nada as especulações sobre uma presidência eventualmente “escutada”, o que só serve para atestar a menoridade política de quem a ocupa), aqui vão algumas sugestões para as férias que poderão ser obtidas em diversos suportes.

Tenho aproveitado para rever (pela 5º vez!) “Brideshead Revisited”, não conseguindo evitar que o último episódio continue a deixar-me com um nó na garganta. Altura agora para me apetecer ler o romance original de Evelyn Waugh, do qual existe uma tradução portuguesa editada pela Relógio de Água (€20). Estou bem curioso e acho estou agora preparado para a ler, ao mesmo tempo que irei recordando as imagens de Irons, Diana Quick (muito melhor do que bonita), Anthony Andrews e do Castle Howard.

Revisões por revisões, a primeira de uma das minhas séries favoritas, na memória desde o início dos anos noventa quando passou na RTP2. Chama-se “The Camomile Lawn” (ignoro qual o título com que passou em Portugal e não existe edição portuguesa) e recebi-a agora via Amazon. Duas curiosidades: Claire Bloom é comum a estas duas séries (era Teresa Marchmain em “Brideshead...”) e Rebecca Hall, estrela, a par de Scarlett Johanssen, no “Vicky Cristina Barcelona” de Woody Allen, é, ainda com apenas 10 anos, a jovem Sophy de “The Camomile Lawn”. Veremos se a revisão da série me remete para o desejo de leitura do romance de Mary Wesley, do qual acho não existe edição portuguesa.

Ao género “quem comprou estes comprou também”, lembro-me de sugerir “The Go-Between” de L. P. Hartley (existe uma tradução portuguesa, mas o original lê-se com facilidade) ou de Joseph Losey, este com a lindíssima Julie Christie no seu esplendor.

Reparo bem que todos eles têm o seu quê de trágico, pouco adequado à estação que se quer “silly”. Bom... mas o Natal é ou não sempre que um homem quiser (frase que, aliás, detesto...)?

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (15)

Love Affair - "Everlasting Love"

segunda-feira, agosto 17, 2009

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (14)

Sir Douglas Quintet - "She'a About A Mover"

O 2º trimestre ou de como mais vale um pardalito na mão...

Uma economia que cresce ou diminui o seu ritmo de decrescimento é sempre, na actual conjuntura, uma boa notícia. Excepto para o PCP e a CGTP, que não podendo negar as evidências colocam em causa a honestidade estatística.

Um valor de desemprego em progressão é sempre, nas actuais circunstâncias, uma má notícia, não negando neste particular o PCP e a CGTP a validade dos números. Uma questão de conveniência, pois claro.

Mas tal como numa empresa em expansão do seu volume de negócios é essencial verificar de onde vem esse crescimento - se de novos produtos, se de melhor comportamento dos existentes e do seu “core business”, se de novos mercados em expansão ou do aumento da quota de mercado nos existentes, se de novos clientes conquistados ou do desenvolvimento dos negócios com os existentes, etc, etc – para definição ou correcção de estratégias de negócio, também ao nível macro-económico não é indiferente saber o que faz a economia decrescer a menor ritmo ou o desemprego aumentar. Sabê-lo pode transformar as boas notícias em “não tão boas” ou as más em “nem assim tão más”.

Será por isso conveniente saber de onde vem a tão falada recuperação da economia portuguesa no 2º trimestre deste ano. Das exportações? Do mercado interno? Neste caso do consumo das famílias ou do Estado? Da preparação da actividade sazonal do Verão? Gerado por empresas competitivas em sectores da economia do conhecimento? De novas encomendas (porventura esporádicas) dos sectores tradicionais? Da construção? Idem em relação ao agravamento do desemprego, sendo curial saber onde foi originado e que grupo etário ou sexo ele mais atingiu. Determinar se tem origem em muitas pequenas empresas ou em um número restrito de grandes, qual o grau de formação escolar e/ou profissional dos atingidos, etc, etc.

Só a partir desta análise será possível ter uma visão que nos possibilite uma ideia mais precisa do que se poderá vir a passar, do futuro que virá (e mesmo assim...). Até lá, digamos que a cena internacional dá para não sermos demasiado pessimistas e que José Sócrates irá a votos ainda sem os números do 3º trimestre. Digamos que não é bem um faisão, nem sequer uma perdiz. Apenas um pequeno pardal que, sejamos justos, também fez algum esforço por agarrar.

10 clássicos de cine-esplanada (5)


"Around the World in 80 Days", de Michael Anderson (1956)

Acabou a pré-época

Pois, quando acaba a pré-época e o espaço começa a ficar ao preço do caviar beluga, quando os adversários jogam com os sectores muito recuados num bloco que não é baixo mas baixíssimo, quando a intensidade de jogo aumenta, a coisa fia mais fino. Foi isso que fez um Marítimo a jogar com a cores da região: bloco baixo, dando o meio-campo ao SLB o que anulou a sua principal arma - as transições ofensivas rápidas – e deixou Aimar a pregar no deserto; pouco espaço e pouco tempo para Cardozo e Saviola (este eclipsou-se pelo buraco do ponto, sem poder atlético para aquelas vidas), coisa que obviamente eles não adoram; obrigatoriedade da defesa do SLB subir e sabe-se que não são rápidos o que expõe a equipa às bolas longas.

Claro que quando isto acontece a sorte vem sempre em socorro de quem defende (e veio muitas vezes), quase sempre aparece um guarda-redes em jogo de engate e alguns golos são evitados como por milagre. Mas – a propósito de milagres – conhecendo Jesus o futebol português (não é este um dos seus activos?) porque jogou com David Luís em vez de Shaffer tendo do outro lado Rúben Amorim, que dá menor rapidez e profundidade ao flaco do que Maxi?

Nota: vi o jogo na Sport TV (5ª irei ao estádio), canal que é pago e não é barato. Assim sendo, porque insiste em ter os piores comentadores? Carlos Manuel é patético.

domingo, agosto 16, 2009

Summer nights music (4)

Wolfgang Amadeus Mozart - Divertimento Nº 11 em ré maior K 251
2º andamento - Menuetto
Amsterdam Baroque Orchestra, Dir. Ton Koopman

sábado, agosto 15, 2009

Summer nights music (3)

Wolfgang Amadeus Mozart - Divertimento Nº 11 em ré maior K 251
1º andamento - Allegro molto
Amsterdam Baroque Orchestra, Dir. Ton Koopman

quinta-feira, agosto 13, 2009

Planteis melhores ou piores do que no ano passado?

Algo que muitos críticos e jornalistas desportivos ainda não entenderam é que, quando se fala de um clube, não existem melhores ou piores planteis em abstracto, em teoria, mas sim em função de uma ideia, de princípios e de um modelo de jogo definidos. Também em função da adaptação dos jogadores a um ambiente, a uma direcção técnica, da conjugação de personalidades que podem bem ser compatíveis em conflito, integrando e gerindo esse mesmo conflito no comportamento do grupo. Por isso é ver por aí em “sites" e jornais, debates na TV, comparações entre planteis, o do ano transacto e o deste, tentando tirar daí quaisquer conclusões. Trabalho de charlatanice, pois claro.

Querem um pequeno exemplo de um jogador do meu clube? Yebda foi no ano passado um jogador de grande utilidade. Não é um “pivot” defensivo posicional, mas mais um número oito ou seis e meio, com tendência para avançar no terreno, percorrendo grandes espaços, desposicionando-se. Como a equipa jogava num modelo com um duplo “pivot” defensivo (ele e “Katso”, na maior parte das vezes) e com os sectores longe uns dos outros, era fundamental um jogador desse tipo, que avançasse e percorre-se muito espaço para fazer a ligação, e pouca importância isso teria em termos defensivos pois “Katso” fazia as compensações (ou Miguel Vítor, que sendo o central mais rápido podia jogar mais à frente).

Este ano, com os sectores juntos, pressão alta e um único “pivot”, Yebda parece um peixe fora de água, perfeitamente deslocado num modelo para o qual não está talhado e mostrando alguma dificuldade em interpretar os princípios definidos. É um jogador pior do que no ano anterior? Não será, mas quase tudo o resto é diferente e lhe é estranho.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (12)

Crazy Elephant - "Gimme Gimme Good Lovin'"

Anglophilia (63)






Castle Howard

quarta-feira, agosto 12, 2009

Ódio de classe...

Quando leio o que esquerda e direita radicais têm escrito, quase monopolizando a discussão(?), sobre aquilo (a história da bandeira monárquica) que, como fait-divers, não deveria merecer mais do que um sorriso cúmplice idêntico ao que se esboça quando da traquinice engraçada de uma criança, mas a quem compete dar uma reprimenda ao jeito de “pronto, isso não se faz e se tornas a repetir vais de castigo”, aquilo que sinto não é vontade de debater ideias (embora debater a questão do regime, neste momento, equivalha mais ou menos a discutir o sexo dos anjos), mas um profundo e empedernido - recalcado, mesmo - ódio de classe que vai muito para além da ideologia ou da natureza do Estado. É a incompatibilidade entre valores, formas de vida e de expressão, repelência epidérmica entre dois mundos que vivem no mesma dimensão sem nunca se tocarem: os “betinhos” e os “pés-descalços” da rua. Só esse tanto ódio e divisão classista assumidos, que nos remete para a primeira metade do século XX, justificará que se perca tão facilmente o sentido de humor.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (11)

The Equals - "Baby Come Back"

10 clássicos de cine-esplanada (4)


"Ivanhoe", de Richard Thorpe (1952)

terça-feira, agosto 11, 2009

3 questões 3 sobre Cristiano Ronaldo e a selecção

  • 1ª questão: pode a selecção nacional de futebol - toda a sua estrutura (direcção, equipa técnica, jogadores) - suportar e integrar no seu seio alguém que, independentemente da sua vontade, parece só virá nas grandes ocasiões?
  • 2ª questão: comporta o modelo de negócio em que Cristiano Ronaldo se insere, no Real Madrid, que possa jogar ao seu melhor nível, ou mesmo a um nível acima da sua média, quando representa a selecção nacional portuguesa?
  • 3ª: Em função disso e da celeuma levantada com este caso de uma alegada gripe, deve o cargo de capitão da equipa continuar a ser entregue a Cristiano Ronaldo?

Veremos como a FPF resolve o assunto, estando certos que muito do sucesso da selecção portuguesa nos próximos anos dependerá do modo como o souber gerir.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (10)

The Walker Brothers - "First Love Never Dies"

segunda-feira, agosto 10, 2009

A ignorância histórica do "31 da Armada" (mas lá que teve graça...)

"Hino da Carta" - Hino Nacional de Portugal de 1834 a 1910 (ver letra aqui)
O “golpe de mão” da bandeira protagonizado nos Paços do Concelho da capital pelo 31 da Armada teve graça e, acho, não ofende. Resolvam pois lá o problema da ilegalidade com uma multa simbólica ou algo do género. Eu sei que não é bem a mesma coisa, mas também já pintaram a águia do meu clube de verde às riscas e limitei-me a soltar uma boa gargalhada.

Mas algo eu não perdoo aos meus colegas da "blogosfera": a ausência de conhecimentos históricos. De facto, o hino da monarquia não é a “Maria da Fonte”, que nunca foi Hino de Portugal e até foi adoptado pela república como saudação às entidades oficiais, mas sim o “Hino da Carta”. Para quem se quer afirmar como monárquico, trata-se de um erro de palmatória a revelar ignorância bem primária sobre o passado da pátria.

Aqui fica a correcção e a verdade histórica reposta, com a sugestão ao 31 para estudarem um pouco antes da próxima “partida”. Como dizia alguém: “apoiado pela ideia; porra para a gramática”! Mas lá que teve graça...

Os candidatos arguidos - república de cidadãos ou de juízes?

Caso existisse uma lei que limitasse a candidatura a deputado ou autarca de cidadãos constituídos arguidos por alegado crime cometido no exercício das suas funções enquanto políticos, Manuela Ferreira Leite não teria sido obrigada a tomar a decisão política de incluir ou excluir António Preto das listas de candidatos do seu partido às legislativas deste ano. O mesmo se passaria em relação a Helena Lopes da Costa. Veria assim Ferreira Leite transitar do âmbito do político, que é o seu, para o âmbito judicial essa decisão, o que, desresponsabilizando-a, inviabilizaria a avaliação da sua capacidade e coerência política, nesta área, por parte dos cidadãos.

Independentemente de achar inconstitucional e anti-democrático limitar por lei os direitos políticos de quem ainda não foi condenado com trânsito em julgado da respectiva sentença – tal como já aqui afirmei - penso ser muito melhor assim, remetendo para os cidadãos, através do voto, o julgamento e avaliação do trabalho de quem se propõe representá-los. É que esses mesmos cidadãos podem sempre dizer que não, e escolher outros, e essa - a liberdade de escolha e a responsabilização dos eleitores - constitui a verdadeira essência da democracia.

Beat (6)

"Yes" - a poem by Lawrence Ferlinghetti
Yes
And we stood about
up in Central Park
dropping coins in the fountains
and a harlequin
came naked among
the nursemaids
and caught them picking their noses
when they should have been
dancing

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (9)

The Troggs - "With a Girl Like You"

domingo, agosto 09, 2009

Anglophilia (62)

Argyle socks

O SLB, os guarda-redes e os "penalties"

Infelizmente, sendo todos eles de categoria mediana, não posso considerar nenhum dos três guarda-redes do meu clube muito superior aos restantes dois. Pessoalmente, prefiro Moreira, já que pouco vi jogar Júlio César, mas aceito perfeitamente quem opte por Quim.

O problema dos guarda-redes em Portugal tem muito a ver com os princípios de jogo dominantes: joga-se pouco em cruzamentos para a área e domina-se mal a técnica de remate de longa distância; por isso, preferem-se guarda-redes mais baixos, mas também mais ágeis e rápidos nas bolas rasteiras e chutadas de perto. Em jogos contra equipas que não perfilhem estes princípios, normalmente estrangeiras, o problema torna-se complicado. No meu clube, por exemplo, os dois guarda-redes estrangeiros melhor sucedidos foram Michel Preud’homme e Robert Enke, em termos morfológicos atípicos quando comparados com o “modelo” dominante na Europa do guarda-redes com mais de 1,90m.

Tudo isto vem a propósito do facto de Quim ter ontem defendido “não sei quantos penalties” e ter sido arvorado pela crítica em super guarda-redes – que está longe de ser – apesar de umas três saídas em falso, de arrepiar”, durante o jogo contra o A. C. Milan. A pergunta que logo fiz no estádio e agora aqui repito é a seguinte: quantos "penalties" decisivos vai ter Quim de enfrentar durante a época? Dois, três? Qual a probabilidade de um guarda-redes defender um "penalty"? Baixíssima, certamente.

Assim sendo, pode esse ser um elemento de primordial importância na escolha de um guarda-redes para uma época? A resposta, obviamente, é não e, se Quim for o escolhido, na base dessa escolha terão de ter estado razões com índices de ponderação bem superiores. Apesar das parangonas...

Os cartazes do CDS e o que revelam do partido

Se o CDS quer entender uma das principais razões porque não cresce, mesmo nos piores tempos do PSD, deveria olhar e pensar sobre o conteúdo de alguns dos seus cartazes para as legislativas, já por aí afixados. É que talvez no populismo e demagogia que o seu conteúdo revelam esteja uma das explicações para o facto e para os papéis de muleta do PSD, muitas vezes para pequeno ou grande incómodo deste (maior, muito maior para este PSD dirigido pela “troika” Ferreira Leite/Pacheco Pereira, Cavaco Silva), e de competidor apenas credível para pequenos nichos do mercado eleitoral que normalmente assumiu como sendo os seus. Como pode o CDS verificar, e como os resultados eleitorais têm ao longo dos anos demonstrado e as actuais sondagens indicam, esse populismo desbragado, excepto no caso extremo da Madeira, apenas “colhe” junto de algumas franjas do eleitorado de direita e, mesmo assim, normalmente daquelas com menor peso económico, social, cultural e ideológico na sociedade.

Vem esta conversa toda a propósito de dois desses cartazes. O primeiro sobre questões de segurança, habituais no partido, apelando a um reforço do securitarismo - “porque é que os criminosos têm mais direitos com os policias?” - o segundo focando uma questão da área da economia - “É normal proteger o BPN e abandonar as PMEs?”. Debrucemo-nos sobre cada um deles... ambos tendo como grupo-alvo a população menos culta e educada do país.
  1. O CDS sabe perfeitamente que num Estado de direito democrático ninguém é considerado criminoso a não ser após prova desse crime em tribunal com sentença transitada em julgado. É um dos pilares definidores da democracia, como tal inquestionável. Consequentemente, e em função da aplicação deste princípio, nunca um polícia terá menos direitos do que um criminoso, já que este, enquanto tal, está sujeito a pena restritiva dos seus direitos de cidadania (direito à liberdade e/ou outros). Antes dessa prova, arguido e polícia são cidadãos iguais perante a lei, devendo as forças de segurança, no cumprimento do seu dever, cumpri-la e fazê-la cumprir. Claro que o que o CDS pretende aqui subentender, e que constitui um elemento de subversão do Estado democrático, é o direito à acção directa por parte das polícias perante todo e qualquer suspeito, a sua substituição, enquanto força repressiva, aos tribunais e a transformação de medidas de coacção, mormente a prisão preventiva, em norma antecipando o cumprimento de uma sentença não ditada pelos tribunais competentes. O que o CDS propõe é pois, pura e simplesmente, a castração da democracia, a tansformação das polícias em instituições à margem da legalidade. Neste aspecto, estamos conversados!
  2. Independentemente da falta de rigor da designação e da heterogeneidade da categoria (PMEs), assunto sobre o qual aqui já me debrucei e cuja consulta ouso recomendar, também sabe o CDS que ao proteger o sistema financeiro, do qual o BPN faz parte (não confundir a instituição com os ex-dirigentes envolvidos naquilo que é um caso de polícia), o Estado está a proteger as empresas, todas elas e não especificamente as grandes ou as pequenas dada a rede que formam e as complexas interdependências que entre elas se estabelecem. Está, desse modo, também a proteger os cidadãos e as suas poupanças e emprego. Que o PCP coloque em oposição as chamadas PMEs e o “grande capital”, numa simplificação grosseira que nada tem a ver com a realidade e apenas serviu, ao longo dos tempos, a teorização da sua doutrina “frentista”, tende a compreender-se. Que o CDS o faça, só revela o oportunismo e falta de seriedade habituais em quem, nos últimos tempos, quase sempre tem sacrificado a estratégia à táctica, “Le penizando” progressivamente o partido.

O que ambos estes cartazes revelam é, pois, essa tendência para a "Le penização" do partido, algo que o poderá levar em época de enorme crise a um comportamento eleitoral razoável, vizinho dos dois dígitos, mas que constitui simultaneamente o principal entrave ao seu crescimento e o enquista cada vez mais em torno da personalidade e da imagem de Paulo Portas, Este transformou-se, assim, no seu pai-tirano!

sexta-feira, agosto 07, 2009

Summer nights music (2)

Georg Friedrich Händel (1685-1759) - "Music for the Royal Fireworks"
2. Bourrée
3. La Paix
4. La Réjouissance
5. Menuet I-II

Mais rigor, s.f.f.

Ao contrário do que oiço, leio e vejo por aí, SCP, SLB e Nacional não vão disputar o “play-off” de acesso à fase de grupos da Champions League e da Europa League. Os três clubes vão disputar, isso sim, o “play-off” de acesso a ambas as competições (tout court), que se iniciam com a disputa da sua fase de grupos. É bom que não haja confusões.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (7)

The Bee Gees - "Words"

quinta-feira, agosto 06, 2009

Da "Volta a Portugal"

Nunca segui muito de perto o ciclismo, apesar de me correr pelo corpo 25% de sangue da França, essa verdadeira pátria do único desporto “em que a besta puxa sentada” (ocorre-me que também no remo!). Muito criança era quando me chegavam os ecos de Alves Barbosa e adolescente e jovem adulto lá acompanhava um pouco mais de perto a odisseia de Joaquim Agostinho, o verdadeiro português emigrante do salazarismo, pobre e ignorante mas do mais vale quebrar que torcer, relatada por Carlos Miranda nas páginas do que era então “A Bola”. Depois disso, bem me poderiam perguntar pelo nome do vencedor da Volta a Portugal que o mais certo era responder que deveriam estar a gozar comigo. É que nem as participações (devo dizer, que sempre achei contra-natura) do meu “glorioso” me obrigaram a mudar de atitude.

E o que me levou então a mudar essa atitude? O trabalho, ou melhor, o dinheirinho, pois claro, ganho não com o suor do meu rosto mas com as “little grey cells” do meu cérebro, qual Poirot (sem modéstia) destas coisas da vida das marcas e das empresas.

Bom, há alguns – poucos – anos, já na era da João Lagos Sports e por via de uma minha ligação profissional a um dos patrocinadores, lá me coube enfronhar a sério no assunto e acompanhar, no ar condicionado de um VW Golf que a vidinha não está para calores, a Volta a Portugal em dois anos consecutivos, não sem que antes disso, e entre projectos, estratégias e “powerpoints” vários, não tivesse dedicado algumas tardes de veraneio a ver, na TV, o Tour, para melhor tentar compreender como tudo se fazia – ou deveria fazer - num patrocínio de um desporto como o ciclismo.

Devo dizer do Tour fiquei adepto, e lá continuo fiel à TV, sempre que posso, em algumas das etapas decisivas. E da Volta? Bom, aqui a “coisa fia mais fino”.

Para já, convém dizer que exceptuando no final de algumas etapas em zonas onde o ciclismo tem implantação tradicional (Oliveira de Azeméis, Feira, talvez Fafe e pouco mais) e nas etapas da Torre e da Srª da Graça, a Volta a Portugal quase não tem público, quer ao longo da estrada quer nas chegadas. Lembro-me que fiquei desapontado por em chegadas a cidades da dimensão de Coimbra ou Beja estarem, se tanto, 500 pessoas. Isto é tão mais importante quanto falamos de um desporto que é, na sua essência, uma actividade comercial. Também porque sem público não há festa e sem festa não existe espectáculo, já que no ciclismo “ao vivo” o espectáculo estritamente desportivo dura segundos.

Claro que, deste modo, nem todo o profissionalismo reconhecido à Lagos Sports consegue operar milagres na angariação de patrocinadores – e sem estes não há dinheiro e sem dinheiro não há ciclistas. A Volta a Portugal vivia muito do espectáculo levado à porta de casa, e hoje a TV leva os grandes espectáculos desportivos mundiais a casa de cada um. Na comparação, a Volta a Portugal fica a perder e o que se passa não será muito diferente de vermos hoje pavilhões onde se disputam jogos de basquete, hóquei em patins ou andebol positivamente ás moscas. E mesmo estádios onde se joga o futebol da I Liga! É a concorrência.

Por outro lado, Portugal evoluiu. Quando dantes a passagem da caravana ciclista era motivo de festa e nas cidades e vilas de partida e chegada (dizem-me) quase tudo girava à sua volta, hoje os portugueses têm ao seu dispor um sem número de alternativas, desde a televisão aos bares e discotecas, festivais de Verão, piscinas municipais, praias fluviais e carro para passear. Felizmente!, devo dizê-lo, apesar de todos os problemas. E o país rural, aquele que deixava a enxada para vir ver passar os ciclistas, também desapareceu, tanto como o ciclismo que “sprintava” por um presunto e um garrafão de azeite local! O ciclismo é, hoje, um desporto “high tech”, onde esta tecnologia se conjuga com uma sofisticada medicina desportiva, principalmente nas áreas da dietética, cardiologia, aeróbica (peço desculpa pela eventual falta de rigor) e outras que não recordo ou nessa mesmo em que estão a pensar.

Exactamente por isso, ao ver no Telejornal a reportagem da 1ª etapa deste ano, corrida na zona central de Lisboa (porque não antes a zona nobre de Belém?), não fiquei surpreendido com a ausência de público e o relativo fiasco. Num sábado, domingo ou feriado, sem “mirones”, teria sido mesmo bem pior. Como acontece no hóquei, basquete ou andebol, o ciclismo irá ser cada vez mais remetido para a “província”, principalmente para as pequenas cidades e vilas onde existe tradição e afición. Aí poderá talvez ser rentabilizado, já que Portugal não é a França, onde o ciclismo sempre foi desporto nacional de eleição, Lisboa não é Paris, nem a Avenida da Liberdade os Champs Élyseés ou os Restauradores a Place de la Concorde - e o Palácio Foz o Louvre! É a vida...

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (6)

American Breed - "Bend Me, Shape Me"

quarta-feira, agosto 05, 2009

O Barça, o SCP e o "Entre 10"

O “Entre 10”, porventura o mais inteligente e interessante “blog” totalmente dedicado ao futebol (embora eu discorde deles muitas vezes!), põe em confronto os modelos de formação do Barça e do Sporting Clube de Portugal (piada fácil de “lampião”: nome completo não vão pensar estou a referir-me ao de Gijón!) vincando que no primeiro caso (Barça) se formam jogadores de modo contextualizado, isto é, para a equipa principal tendo em conta um estilo e modelo de jogo comum a todo o clube e no segundo caso (SCP) isso não acontece. O “Entre 10” reconhece mesmo que no caso do Barça os jogadores assim formados (e/ou formatados) só conseguirão explorar todo o seu potencial no clube, reconhecendo também que a ausência deste modelo no SCP limita o aproveitamento integral dos jovens jogadores vindos da formação.

Pois é, tem razão o “Entre 10”, mas esquece algo essencial: é que no Barça, não necessitando o clube de “arredondar” o orçamento com receitas extraordinárias provenientes da venda de jogadores, o objectivo essencial é mesmo “abastecer”, fortalecendo-a, a equipa sénior do clube, enquanto no SCP, se esse objectivo é também considerado, a realização de mais-valias com a venda de alguns desses activos é condição indispensável à sobrevivência do clube! Claro que não convirá muito que apenas no clube os jogadores oriundos da formação expressem todo o seu potencial. Prejudicaria – e bastante – o modelo de negócio, não acham?!

Summer nights music (1)

Georg Friedrich Händel (1685-1759) - "Music for the Royal Fireworks"
1. Abertura

O que nos pode dizer realmente o processo de escolha dos candidatos do PSD?

Difícil é não ver dedo de José Pacheco Pereira no processo de escolha dos candidatos a deputados do PSD. Diria mais, ambas as mãos.

De facto, estão lá bem explícitos alguns dos temas que ele mais tem glosado e algumas das soluções que mais tem defendido nos últimos, mas também em remotos, tempos: o afastamento das listas de candidatos de quem contesta a linha oficial do partido (citou, a esse propósito, a “coerência” de Manuel Alegre) e a luta de muitos e bons anos contra as estruturas do partido e aquele que tem sido o seu modelo, digamos que tradicional ou clássico, de funcionamento: de tráfico de pequenas e grandes influências, do arregimentar de “seguidores”. Não haverá quem, na ocasião, se decida a lembrar os antecedentes políticos de JPP e ouse falar de “purga”. Talvez, mas esta, a existir, parece-me mais mera consequência e menos objectivo principal de quem sempre tende a colocar a política no “posto de comando”, como tem sido teimosamente o seu caso. De qualquer modo, diz muito mais todo este processo sobre o que possa vir a ser a prática política de um futuro e eventual governo do PSD, do modo como o partido irá funcionar em seu apoio, do que qualquer lista de candidatos em qualquer um distrito do país ou mesmo, e até certo ponto, o tão esperado e desejado programa eleitoral do partido.

Claro que o PS irá aproveitar toda esta divisão e cizânia pontual nas hostes da principal oposição para, no curto prazo, atacar o seu opositor e suscitar alguma algazarra nos “media”. É compreensível que assim seja e até desejável que o faça, cumprindo bem o seu papel. Mas se estivesse no lugar das estruturas dirigentes do partido (PS), tratava também de tomar os ecos da noite de ontem como um sinal do que aí vem em caso de sua futura derrota. E ficaria preocupado... tal como os muitos daqueles que têm vindo a acusar o partido de José Sócrates de arrogância e autoritarismo na governação.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (5)

Shocking Blue - "Venus"

terça-feira, agosto 04, 2009

Moutinho e o meio-campo do SCP

Se existe algo que não entendo naquele estereotipado e pouco dinâmico, demasiadas vezes excessivamente lento nas transições, meio-campo em losango do SCP é porque não ocupa João Moutinho o seu vértice mais avançado. Tendo boa técnica, capacidade de “drible” quanto baste e boa noção da organização da equipa e do futebol enquanto jogo colectivo - também boa capacidade de remate - a sua dinâmica e capacidade de dar intensidade ao jogo e rotação à equipa, também o saber pressionar e lutar pela posse da bola, bem poderia contribuir para dar maior velocidade, variedade e dinâmica nas transições ofensivas ao colectivo, para além de aumentar a capacidade de ganhar a bola mais à frente, agora que Derlei se foi e sabendo que Matias, e antes dele Romagnoli, não são para isso muito vocacionados. Se fosse treinador do SCP era isso que faria.

Mistérios que talvez os meus amigos sportinguistas me ajudem a resolver...

"Blogs", comentários e as listas do PSD

Interessante é notar o número excepcionalmente elevado de "blogs" que "linkaram" as notícias do “Público” sobre o processo de composição das listas do PSD de candidatura às legislativas. No mesmo sentido caminha o número de comentários na versão “on-line” do mesmo jornal. Penso, no caso do PS ter-se-á passado algo de semelhante.

Não é bem política, é coscuvilhice!

10 clássicos de cine-esplanada (2)



"Oklahoma", de Fred Zinnemann (1955)

Arguidos, condenados e candidatos

Quando os direitos, liberdades e garantias definidores de um Estado de direito democrático estão em jogo, é bom que não se fique calado. Sejamos claros: apenas sentença jurídica transitada em julgado que o impeça pode limitar a candidatura de cidadãos a cargos políticos, desde que todas as outras condições exigíveis estejam preenchidas. Por isso mesmo, nada pode impedir Isaltino Morais ou qualquer outro cidadão constituído arguido, pronunciado, acusado ou condenado (peço desculpa de eventual menor rigor mas não sou jurista) de se candidatar a uma autarquia ou a um lugar de deputado, neste último caso, desde que um partido aceite incluí-lo nas suas listas.

Algo diferente é um partido ou grupo de cidadãos determinar incompatibilidades para a sua candidatura por essa organização, tal como Luís Marques Mendes o fez – e muito bem -, mas essa é uma decisão estritamente política que apenas a eles compete e diz respeito. Em última análise, compete aos eleitores decidir, com o seu voto, e à justiça julgar. Quando a moral, com a inerente hipocrisia, tende a substituir-se a critérios que deveriam ser apenas políticos e jurídicos, é caso para dizer que algo vai mal para a democracia e para a liberdade.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (4)

The Association - "Never My Love"

segunda-feira, agosto 03, 2009

Isaltino e o "povo da SIC"

Algo convém não esquecer no dia da condenação em 1ª instância de Isaltino Morais e no preciso momento em que caixas de comentários de "blogs", "sites" de informação e jornais “on-line” serão com certeza inundadas dos habituais insultos do “povo da SIC” sedento do sangue dos “ricos e poderosos” mas sempre com a memória curta, demasiado curta: quem elegeu Isaltino Morais durante mandatos sucessivos, com mais do que confortáveis maiorias, foram os eleitores, cidadãos portugueses residentes ou recenseados no concelho de Oeiras, ao que dizem, o concelho com maior número de licenciados no país. Foram eles, todos eles, que também foram hoje julgados e condenados. Tenham vergonha!

Não sabiam? Quem elege constantemente para seu presidente alguém com o perfil do autarca de Oeiras - tal como quem elegeu Hitler só poderia esperar algo de parecido com o genocídio e o holocausto - alguma vez pôde imaginar o resultado seria diferente ou se preocupou muito com o que, hoje, foi dado como provado?

Já agora. Se o julgamento teve condenados teve também um vencedor e espero ninguém o esqueça. Chama-se Luís Marques Mendes e foi o mais competente presidente do PSD dos últimos anos.

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (3)

Len Barry - "1, 2, 3"

Beat (5)

"On Burroughs Work" - a poem by Allen Ginsberg
The method must be purest meat
and no symbolic dressing
actual visions & actual prisons
as seen then and now.

Prisons and visions presented
with rare descriptions
corresponding exactly to those
of Alcatraz and Rose.

A naked lunch is natural to us,
we eat reality sandwiches.
But allegories are so much lettuce.
Don't hide the madness!

sábado, agosto 01, 2009

As virtudes públicas da menina Amaral Dias

Na vida normal, a das pessoas comuns, é vulgar clubes de futebol aliciarem jogadores de equipas adversárias para mudarem de emblema. Todos os anos isso acontece e é anunciado nas páginas dos jornais, constituindo novela de entretenimento do defeso e fonte lucrativa da imprensa desportiva. Aliás, em muitos países, como no Reino Unido, existe até regulamentação que estabelece as respectivas normas legais.

Na vida normal, a das pessoas comuns, é prática no mercado empresarial as organizações aliciarem trabalhadores da concorrência para uma mudança de emprego, sejam directores, executivos, quadros, técnicos ou meros executantes. É bom que isso aconteça, pois esse é um dos modos de progressão na carreira e na sociedade e também de premiar os mais competentes e que mais se distinguem nas suas profissões. Também de promover as melhores empresas e de as fazer progredir. Está assumido que a confidencialidade é norma a ser seguida nesse tipo de assuntos e nunca ninguém pôs em causa tais procedimentos.

Na vida normal, a das pessoas comuns, as vedetas da rádio e TV, também muitos jornalistas da imprensa, mudam frequentemente de patrão. Em Portugal, da SIC para a RTP, de alguma destas para a TVI, desta para qualquer das outras e "ipso facto, vice-versa e paralelamente". As revistas do “coração” fazem mesmo disso capas e preenchem páginas intermináveis com tais “mexericos”. Nunca vi ninguém vir a público reclamar, ficar escandalizado ou queixar-se à entidade patronal com a qual tem contrato. Ou, vamos lá, à sempre tão propensa ao ridículo ERC.

No entanto, na vida “anormal”, preenchida pelos políticos que são gente de excelsas virtudes, direi mesmo candidatos a virgens vestais ou com direito a futuro lugar na santidade quiçá com ajuda adequada junto do Espírito Santo por intervenção do Sr. cardeal Saraiva Martins, estas práticas, aceites na sociedade, são repudiadas aos gritos de “vade retro, t’arrenego, satanás” e a menina Amaral Dias não é capaz de guardar delas o seu sacrossanto dever de confidencialidade. Normalmente, eu, cidadão comum que vivo uma vida normal, começo por desconfiar de gente assim, que gosta de alardear em público tão excelsas virtudes. Vícios privados? Espero bem que sim, pois, como pessoa comum e como tal condenada às profundezas do inferno, partilhá-lo com a visão, mesmo que fugaz e esporádica, da menina Amaral Dias sempre contribuiria para me amenizar as duras penas.

10 clássicos de cine-esplanada (1)

" The Flame and the Arrow", de Jacques Tourneur (1950)

"Sealed with a kiss" - 20 garage party hits (1)

Procol Harum - "A Whiter Shade Of Pale"