Não. Não me preocupa nada a menina Patrocínio ter uma criada que lhe tira os caroços das cerejas (presumo azeitonas só coma daquelas recheadas, já sem caroço). Aliás, há de vir a descobrir, agora que é mandatária (alguém me diz para que serve?), que existem uns pequenos apetrechos para o fazer, podendo assim dispensar a criada para trabalhos mais sofisticados. Ou, pura e simplesmente, dispensar a criada, aumentando o desemprego. Por mim, sonho com o dia em que possa chegar a casa e ter alguém que me sirva uma bebida sem ter que me dar à maçada. Sem sequer ter mesmo de a pedir ou de dizer o que quero, para não falar naquele gesto de inexcedível bom gosto que constitui entregar, com ar despreocupado, sobretudo ou gabardina a quem nos recebe à entrada.
O que me preocupa mesmo neste caso dos caroços e da menina Patrocínio é algo muito mais grave: é que, sem eles (os caroços), quiçá nunca terá entrado num daqueles concursos de cuspir os ditos, tão caros às brincadeiras de férias da minha infância e que tento passar às gerações vindouras. Isso sim, e quer sejam de cereja, daquele seu ersatz ácido que dá pelo nome de ginja, de ameixa ou de alperche (estes, pela dimensão, já só ao alcance dos mais calhados nestas coisas), será uma grave lacuna na sua ainda tão curta vida. Mas desculpem-me uma pergunta: se o facto de ter uma criada que lhe tira previamente os caroços (da fruta, I mean) a desqualifica como candidata de esquerda, acham que se os cuspisse a direita se iria sentir ofendida nos seus princípios e valores e a esquerda radical a acolheria de braços abertos no seu seio?
Eis-nos pois chegados, esperemos que não definitivamente, à política do caroço. Que obviamente nada terá a ver com o caroço da política. Pelo menos, mantenho a esperança.
O que me preocupa mesmo neste caso dos caroços e da menina Patrocínio é algo muito mais grave: é que, sem eles (os caroços), quiçá nunca terá entrado num daqueles concursos de cuspir os ditos, tão caros às brincadeiras de férias da minha infância e que tento passar às gerações vindouras. Isso sim, e quer sejam de cereja, daquele seu ersatz ácido que dá pelo nome de ginja, de ameixa ou de alperche (estes, pela dimensão, já só ao alcance dos mais calhados nestas coisas), será uma grave lacuna na sua ainda tão curta vida. Mas desculpem-me uma pergunta: se o facto de ter uma criada que lhe tira previamente os caroços (da fruta, I mean) a desqualifica como candidata de esquerda, acham que se os cuspisse a direita se iria sentir ofendida nos seus princípios e valores e a esquerda radical a acolheria de braços abertos no seu seio?
Eis-nos pois chegados, esperemos que não definitivamente, à política do caroço. Que obviamente nada terá a ver com o caroço da política. Pelo menos, mantenho a esperança.
2 comentários:
Caro JC,
Confesso que ando desligado da pequena vida politica, como já deixei claro, para ter que evitar as pastilhas para o enjôo... Assim sendo tive que me socorrer do Google para saber quem era a menina Patrocinio pois fiquei com curiosidade em decifrar a sua prosa.
Depois de ler um artigo do jornal azul & branco Publico, e de ter visto algumas entusiasmantes fotografias da prezada menina, não percebo o seu comentário. Quer você pôr esta delicadeza frágil a cuspir alarvemente caroços? Disgusting, my dear!
E, quem lhe disse, que ao limite e caso a menina quizesse (que não quer)entrar em tais concursos, não o pudesse fazer com caroços previamente extraídos e escovados por uma competente criada ou por um dedicado valet de chambre?
Quanto à utilidade dos mandatários: acho que ela é comparavel à grande maioria dos prefácios...não servem para nada, mas faz parte... noblesse oblige...
A terminar: muito obrigado por ter empregue a palavra criada e não empregada! É que eu ainda tenho a sorte de ter quem me pegue no capote e me prepare um gin tónico, comme il faut...Não terei o direito de pernada...mas não faz mal, pois são muito feias!
Abraço
Impagável comentário, meu caro Rui.
Abraço
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