domingo, agosto 09, 2009

Os cartazes do CDS e o que revelam do partido

Se o CDS quer entender uma das principais razões porque não cresce, mesmo nos piores tempos do PSD, deveria olhar e pensar sobre o conteúdo de alguns dos seus cartazes para as legislativas, já por aí afixados. É que talvez no populismo e demagogia que o seu conteúdo revelam esteja uma das explicações para o facto e para os papéis de muleta do PSD, muitas vezes para pequeno ou grande incómodo deste (maior, muito maior para este PSD dirigido pela “troika” Ferreira Leite/Pacheco Pereira, Cavaco Silva), e de competidor apenas credível para pequenos nichos do mercado eleitoral que normalmente assumiu como sendo os seus. Como pode o CDS verificar, e como os resultados eleitorais têm ao longo dos anos demonstrado e as actuais sondagens indicam, esse populismo desbragado, excepto no caso extremo da Madeira, apenas “colhe” junto de algumas franjas do eleitorado de direita e, mesmo assim, normalmente daquelas com menor peso económico, social, cultural e ideológico na sociedade.

Vem esta conversa toda a propósito de dois desses cartazes. O primeiro sobre questões de segurança, habituais no partido, apelando a um reforço do securitarismo - “porque é que os criminosos têm mais direitos com os policias?” - o segundo focando uma questão da área da economia - “É normal proteger o BPN e abandonar as PMEs?”. Debrucemo-nos sobre cada um deles... ambos tendo como grupo-alvo a população menos culta e educada do país.
  1. O CDS sabe perfeitamente que num Estado de direito democrático ninguém é considerado criminoso a não ser após prova desse crime em tribunal com sentença transitada em julgado. É um dos pilares definidores da democracia, como tal inquestionável. Consequentemente, e em função da aplicação deste princípio, nunca um polícia terá menos direitos do que um criminoso, já que este, enquanto tal, está sujeito a pena restritiva dos seus direitos de cidadania (direito à liberdade e/ou outros). Antes dessa prova, arguido e polícia são cidadãos iguais perante a lei, devendo as forças de segurança, no cumprimento do seu dever, cumpri-la e fazê-la cumprir. Claro que o que o CDS pretende aqui subentender, e que constitui um elemento de subversão do Estado democrático, é o direito à acção directa por parte das polícias perante todo e qualquer suspeito, a sua substituição, enquanto força repressiva, aos tribunais e a transformação de medidas de coacção, mormente a prisão preventiva, em norma antecipando o cumprimento de uma sentença não ditada pelos tribunais competentes. O que o CDS propõe é pois, pura e simplesmente, a castração da democracia, a tansformação das polícias em instituições à margem da legalidade. Neste aspecto, estamos conversados!
  2. Independentemente da falta de rigor da designação e da heterogeneidade da categoria (PMEs), assunto sobre o qual aqui já me debrucei e cuja consulta ouso recomendar, também sabe o CDS que ao proteger o sistema financeiro, do qual o BPN faz parte (não confundir a instituição com os ex-dirigentes envolvidos naquilo que é um caso de polícia), o Estado está a proteger as empresas, todas elas e não especificamente as grandes ou as pequenas dada a rede que formam e as complexas interdependências que entre elas se estabelecem. Está, desse modo, também a proteger os cidadãos e as suas poupanças e emprego. Que o PCP coloque em oposição as chamadas PMEs e o “grande capital”, numa simplificação grosseira que nada tem a ver com a realidade e apenas serviu, ao longo dos tempos, a teorização da sua doutrina “frentista”, tende a compreender-se. Que o CDS o faça, só revela o oportunismo e falta de seriedade habituais em quem, nos últimos tempos, quase sempre tem sacrificado a estratégia à táctica, “Le penizando” progressivamente o partido.

O que ambos estes cartazes revelam é, pois, essa tendência para a "Le penização" do partido, algo que o poderá levar em época de enorme crise a um comportamento eleitoral razoável, vizinho dos dois dígitos, mas que constitui simultaneamente o principal entrave ao seu crescimento e o enquista cada vez mais em torno da personalidade e da imagem de Paulo Portas, Este transformou-se, assim, no seu pai-tirano!

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