quarta-feira, agosto 19, 2009

27 de Setembro: uma vitória do PSD corresponderá a uma presidencialização "de facto"?

Costumo dizer os amores nunca acabam sem aviso e, se procurarmos bem, encontramos no passado sempre sinais do que está para acontecer. Vem isto a propósito do mais recente entretenimento da “silly season”: a hipotética participação de assessores da Presidência da República na campanha do PSD, mais propriamente na redacção do seu programa eleitoral. Sobre a gravidade dos factos, incluindo a questão de eventuais escutas, deixo a outros a tarefa, e muitos haverá que não deixarão de chamar a atenção para a gravidade dos factos (Avillez Figueiredo, no “i” de hoje, por exemplo). Compete-me apenas lembrar, ilustrando a afirmação com que começo este texto, que já quando da campanha para o referendo sobre a IVG a família próxima do presidente tomou e tornou pública posição, abrindo um precedente na altura tido como algo “natural” e “legítimo”.

Sim, eu sei que nem Cavaco Silva é a rainha de Inglaterra nem a sua família os Saxe Coburgo-Gotha travestidos de Windsor, e não se tratou, na altura, de qualquer posição dos seus assessores, investidos estes, como de facto estão, de funções políticas claras. Mas talvez tivesse mandado o mais elementar bom-senso, ou pelo menos o mínimo bom gosto, que a sua família, conhecida que era a sua posição de princípio, se tivesse abstido de manifestações públicas numa matéria que dividia a sociedade portuguesa e na qual os valores fundamentais da democracia não estavam directamente em jogo. Existem direitos, mas também deveres, mesmo que ambos não escritos e deixados à sensibilidade de cada um. Infelizmente, há quem a não tenha, pelo menos em dose suficiente para influenciar decisivamente escolhas.

Moral da história, como nas fábulas? Direi que a 27 de Setembro estará algo mais em jogo do que escolher o governo do país e em nome de que princípios e valores este governará. Para bom entendedor, estará também em jogo se a tão desejada, por alguns, presidencialização do regime, para os próximos anos e em caso do vitória eleitoral do PSD, se fará sem recurso a uma constitucionalmente necessária revisão da lei fundamental mas apenas pela aceitação de uma situação gerada pelo resultado eleitoral. Como? Com a existência de um primeiro-ministro “de facto” (Cavaco Silva) e um outro “de jure” (Ferreira Leite). Que cada um, em consciência, faça a sua escolha.

6 comentários:

Maltez da Costa disse...

Alguém ainda tem dúvidas sobre o que vai acontecer se o PSD ganhar as eleições? Por muito mal que o PS tenha estado nos últimos quatro anos, fazendo de facto algumas asneiras, independentemente de coisas boas que também fez, se Ferreira Leite ganhar tudo se vai complicar para os trabalhadores, não só no aspecto social e aí vamos ter o PCP e o Bloco a reinar de acordo com o slogan "quanto mais pior estiver o país, mais espaço de manobra existe para estes crescerem".

Rui disse...

Obrigado!Muito obrigado!

Depois dos avisos lançados por JC e em especial pelo Sr. da Costa, que mais uma vez agradeço, já não só não tenho duvidas em quem vou votar, como também decidi ir missionariamente esclarecer aqueles que me são mais próximos, de que a unica solução será sem duvida votar Partido Socialista!!

A necessidade imperiosa da continuidade do nosso amado "Conducator" torna-se assim evidente, pois só ela permitirá a defesa clara e intransigente dos direitos dos nossos trabalhadores!

Os ataques vis e infames que alguns sectores da sociedade portuguesa querem lançar contra a nossa democracia terão os seus dias contados!

Todos alerta!

Viva Portugal! Viva o PS!

JC disse...

Que exagero, Rui, que exagero!!! Nunca disse que a democracia (mtº menos o país!) estaria em causa com a vitória do PSD. Nunca esteve e o PSD já governou por várias vezes. A questão que abordo no "post" não é essa:é a questão da presidencialização do regime através da vitória do PSD. Não sou presidencialista, e acho (já aqui o tenho defendido) que findo o mandato e período de reeleição do actual presidente, isto é, em 2015 (se não me enganei nas contas) o regime deveria passar a parlamentar. E defendo-o há mtºs anos, mesmo quando Mário Soares e Sampaio eram presidentes (os meus amigos sabem-no). Para ser claro, para o projecto que defendo para o país, penso ser actualmente um governo PS a menos má solução - só isso - o que não significa que não discorde (tenho-o repetido aqui no "blog") com mtªs das opções do partido (não sou filiado nem votei no PS nas últimas legislativas)e não tenha concordado com outros partidos ou, até, com o PR em outras oportunidades. Exemplos? TGV para o Porto e novo "hub" aeroportuário. Mais exemplos? Tibieza do governo no modo como enfrentou a contestação dos professores e necessidade de mtº maior autonomia nas escolas (pode encontrar textos aqui no "blog"). Mais exemplos ainda? Ausência de uma reforma consistente na Administração Pública.
Por favor, caro Rui, não me cole rótulos. Prezo mtº pensar pela minha cabeça. Até no futebol, sendo benfiquista assumido e militante, sou, como tem visto, o primeiro a criticar o clube quando acho merece.
Cumprimentos

JC disse...

Já agora para que não restem dúvidas:
1. Quando falo em presidencialização do regime não significa que a democracia esteja, de algum modo, em causa. O PR tem, em Portugal, legitimidade democrática (é eleito por sufrágio universal) e existem no Mundo mtºs regimes presidencialistas bem mais democráticos no seu funcionamento do que o semi-parlamentarismo português. A começar pelos USA.
2. Quando me refiro a "regime" refiro-me a regime político fundado com o 25 de Abril e aperfeiçoado c/ a revisão constitucional de 82. Não ao governo actual ou qualquer outro anterior.

Rui disse...

Caro JC,

I was pulling your leg...

Se quer que lhe diga a verdade, ainda nem decidi em quem votar ou se irei mesmo votar. O PS é mau e, apesar da algumas coisas bem feitas, outras, talvez a maioria foram mal feitas e sobretudo regadas da mais primária demagogia. O PSD é comparavel aquilo que um estudante cábula vale: ZERO!

Politicamente estou orfão à semelhaça de milhões e milhões de ocidentais que não encontram uma estrutura credivel,donde emanem ideias, com as quais se identifiquem. E, é por isso que eu acho que a democracia tem que ser reinventanda sob pena de caír de podre. Quem vai hoje para a politica? Sejamos francos: uma grande maioria de gente sedenta, que nada tem a perder, porque nunca nada teve.Daí a ganancia com que se atiram para a mesa do banquete!

Quanto a falar de
presidencialização,meu caro, se ela não está consagrada na nossa Constituição, a democracia ficaria posta em causa, pois quer você queira ou não queira, a primeira regra de um regime democrático é o respeito pela Constituição em vigor...Portanto sejamos claros : qualquer tentativa de presidencialização que não passe por uma Constituição nova,legitimamente aprovada, só poderá na pureza dos principios, ser um atentado à democracia.

Isto independentemente claro, das minhas convições, que como disse andam em permanente estado de orfandade. À semelhança também das minhas convicções benfiquistas...

JC disse...

Tem razão no que diz quanto á Constituição e o presidencialismo. Quanto ao resto, digo-lhe que estou inclinado em "deitar" (como diz o povo) no PS. Mas acha que mtº convencido? Mais ao género, "que remédio"!...
E quanto ao Benfica, daqui a bocado lá me deitarei a caminho da "Catedral". Vamos a ver...