Façamos um pequeno exercício retrospectivo. Alguém ainda se lembra de alguma das medidas do actual programa eleitoral do PS? Penso que a resposta expontânea da maioria será “não”. E, no entanto, ele foi apenas apresentado há bem poucas semanas, imediatamente antes de todos termos ido para férias... E das tais vinte medidas do PSD de Ferreira Leite para combater a crise? Penso será desnecessário continuar e perguntar sobre o programa eleitoral de Sócrates em 2005, de Barroso antes dele ou de Guterres em 1995. Mas, deste último, muitos se lembrarão do “slogan” “razão e coração” no qual o PS condensou aquilo que levou os portugueses (aquele milhão de eleitores que normalmente decide as eleições) a “correr” com o PSD de Cavaco por considerarem o primeiro-ministro de então “arrogante”, (acusado do “quero, posso e mando, como dizia o PCP de Carvalhas) e estarem fartos do estilo, preferindo o “diálogo” prometido pela versão de Guterres de um catolicismo assistencial e soft. Também foi algo do género que levou Barroso ao poder, enfadados os portugueses com os negócios do queijo Limiano e ansiando, por isso, por mais estabilidade e, principalmente, penalizando a “fuga” daquele a quem tinham confiado o seu voto. Escusado falar de 2005, pois aí os portugueses quiseram, pura e simplesmente, verem-se livres de um governo que apenas os enchia de vergonha.
É pois este, em condições normais, o tipo de argumentos que leva esse milhão de eleitores a decidir o sentido do seu voto e não quaisquer programas eleitorais, tenham eles 40 ou 150 páginas, estes cumprindo uma missão meramente ritualística geradora de alguma ocupação mediática. É exactamente também por isso que todo o esforço do PSD tem sido centrado (diga-se que inteligentemente) na seriedade e rigor de Ferreira Leite contraposta à “ligeireza” e passados político e pessoal tidos como duvidosos e pouco credíveis do actual primeiro-ministro, a quem só os pouco avisados comprariam um carro em segunda-mão - utilizando a habitual alegoria sempre chamada para estas situações. Como afirma hoje Paulo Ferreira no “Público”, é Ferreira Leite contra José Sócrates e não o PSD contra o PS.
Mas, claro, apesar de centrar a questão da escolha eleitoral de um futuro governo no terreno de “combate de personalidades” - aquele que mais lhe convém - não pode o PSD deixar também de tentar marcar a diferença naquelas áreas onde o governo de José Sócrates, independentemente de ter ou não razão, da correcção das políticas, gerou uma maior contestação que contribuiu para a sua imagem de “arrogância” (outra dos argumentos eleitorais que terá o seu peso), sabendo que irá ser aí, em algum ou alguns desses temas, que poderá criar um elemento adicional recordatório e diferenciador. Por isso mesmo, tenta aí construir uma ilusão de ruptura, um trompe d’oeil que uma primeira abordagem mais descuidada pode tomar por realidade: suspende a avaliação de professores e o estatuto da carreira docente (o que os “media” de imediato sublinham), mas não deixa de ter um cuidado quase subliminar de acrescentar que adoptará uma outra avaliação baseada no mérito e um estatuto de carreira diferenciador, algo do qual a Fenprof foge como diabo da cruz por isso contribuir para o fim do seu domínio no sector e os professores, na sua generalidade, consideram põe fim à doce vida do passado; reavalia o TGV e o novo aeroporto (que grande parte desse milhão de eleitores acha um desperdício porque nunca os utilizará, independentemente do seu valor estratégico que é algo que lhe passa ao lado), não nos dizendo se avaliza o disparate que é a linha de alta-velocidade Lisboa-Porto-Vigo ou algo sobre o que é efectivamente estratégico na questão do aeroporto (a sua construção por fases já está prevista e deriva apenas do bom senso): se concorda ou não com o conceito de “hub” aeroportuário, pois é isso que remete para qual o modelo de integração de Portugal na Ibéria enquanto “mercado único multinacional”. O resto ou são apenas questões (nem sempre correctas, como é o caso da taxa social única que em quase nada contribuirá para a competitividade das empresas e se arrisca a ser apenas um balão de oxigénio para prolongar a vida das inviáveis) de muito relativa importância destinadas apenas a satisfazer clientelas (casamento, IVA, pagamento por conta ou a já falada taxa social única) ou generalidades e manifestações de princípio para dar um ar composto e mais estruturado a um documento que prova o PSD percebeu o que está realmente em jogo e em torno de que questões as eleições se irão decidir.
É pois este, em condições normais, o tipo de argumentos que leva esse milhão de eleitores a decidir o sentido do seu voto e não quaisquer programas eleitorais, tenham eles 40 ou 150 páginas, estes cumprindo uma missão meramente ritualística geradora de alguma ocupação mediática. É exactamente também por isso que todo o esforço do PSD tem sido centrado (diga-se que inteligentemente) na seriedade e rigor de Ferreira Leite contraposta à “ligeireza” e passados político e pessoal tidos como duvidosos e pouco credíveis do actual primeiro-ministro, a quem só os pouco avisados comprariam um carro em segunda-mão - utilizando a habitual alegoria sempre chamada para estas situações. Como afirma hoje Paulo Ferreira no “Público”, é Ferreira Leite contra José Sócrates e não o PSD contra o PS.
Mas, claro, apesar de centrar a questão da escolha eleitoral de um futuro governo no terreno de “combate de personalidades” - aquele que mais lhe convém - não pode o PSD deixar também de tentar marcar a diferença naquelas áreas onde o governo de José Sócrates, independentemente de ter ou não razão, da correcção das políticas, gerou uma maior contestação que contribuiu para a sua imagem de “arrogância” (outra dos argumentos eleitorais que terá o seu peso), sabendo que irá ser aí, em algum ou alguns desses temas, que poderá criar um elemento adicional recordatório e diferenciador. Por isso mesmo, tenta aí construir uma ilusão de ruptura, um trompe d’oeil que uma primeira abordagem mais descuidada pode tomar por realidade: suspende a avaliação de professores e o estatuto da carreira docente (o que os “media” de imediato sublinham), mas não deixa de ter um cuidado quase subliminar de acrescentar que adoptará uma outra avaliação baseada no mérito e um estatuto de carreira diferenciador, algo do qual a Fenprof foge como diabo da cruz por isso contribuir para o fim do seu domínio no sector e os professores, na sua generalidade, consideram põe fim à doce vida do passado; reavalia o TGV e o novo aeroporto (que grande parte desse milhão de eleitores acha um desperdício porque nunca os utilizará, independentemente do seu valor estratégico que é algo que lhe passa ao lado), não nos dizendo se avaliza o disparate que é a linha de alta-velocidade Lisboa-Porto-Vigo ou algo sobre o que é efectivamente estratégico na questão do aeroporto (a sua construção por fases já está prevista e deriva apenas do bom senso): se concorda ou não com o conceito de “hub” aeroportuário, pois é isso que remete para qual o modelo de integração de Portugal na Ibéria enquanto “mercado único multinacional”. O resto ou são apenas questões (nem sempre correctas, como é o caso da taxa social única que em quase nada contribuirá para a competitividade das empresas e se arrisca a ser apenas um balão de oxigénio para prolongar a vida das inviáveis) de muito relativa importância destinadas apenas a satisfazer clientelas (casamento, IVA, pagamento por conta ou a já falada taxa social única) ou generalidades e manifestações de princípio para dar um ar composto e mais estruturado a um documento que prova o PSD percebeu o que está realmente em jogo e em torno de que questões as eleições se irão decidir.
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