sábado, fevereiro 28, 2009

5 capas de Vespeira (2)

Capa de Marcelino Vespeira para "Seara de Vento", de Manuel da Fonseca. Editora Ulisseia

O congresso do PS e um erro político de José Sócrates

Podemos pensar o que quisermos sobre as notícias que pretendem envolver o primeiro-ministro em negócios ou actividades ilícitas ou ilegais no passado. Ou no presente. Sobre os jornalistas, directores e editores que as promovem. Sobre os proprietários dos “media” que as veiculam: seus interesses, alegadas vinganças ou intenções obscuras. Somos livres de comprar, ver e ouvir tais suportes, de decidir não o fazer. Vivemos num país que se quer livre e onde existem leis e tribunais que protegem cidadãos, governantes ou não, o seu bom nome e idoneidade. Ou queremos que existam. Quero nisso acreditar e acho ainda é assim que acontece.

Exactamente por isso, não gostei de ouvir o secretário-geral do PS, eleito pelo país primeiro-ministro - e por muitas e boas razões que possam existir para a sua indignação (e não duvido que as haja) -, bradar contra directores de jornais e responsáveis de televisões. Confesso isso me incomodou e uma boa lição de superioridade democrática teria sido nunca o ter feito. Mesmo que tivesse querido referir-se ao caso, podia, e devia, tê-lo feito em abstracto. Ficou no ar uma amarga sensação de constrangimento, um sabor a argumento em “último ratio” de dirigente de clube de futebol em dificuldades. Qualquer coisa de “Chavista”. No mínimo, um “não sei bem o quê” de autoritarismo terceiro-mundista, de pequenez intelectual e populista.

A partir de agora, o primeiro-ministro instituiu oficialmente a dúvida legítima sobre o constrangimento da informação. Ou concedeu o beneficio da dúvida para que achemos credíveis os que falam de medo. Deu razão aos que o acusam. No limite, fez-nos – a todos – duvidar do seu bom senso político, da sua estatura de governante europeu. Como já deve ter percebido, nada terá a ganhar com isso e alguma coisa poderá estar a perder. Repito: por mim, bem gostaria de viver num país em que um qualquer ministro nunca o fizesse.

"Underdog"

Que a decisão do primeiro-ministro de se fazer representar na Cimeira da UE, onde se discutirão medidas a tomar para tentar resolver a crise económica, pelo Ministro de Estado e das Finanças, Teixeira Santos, optando pelo congresso do partido de governo e do qual é secretário-geral, sirva de tema para a “chicana” partidária é algo a que, infelizmente, já vamos estando habituados - quaisquer que sejam os partidos em causa, para que fique claro.

Que a questão seja elevada a importante tema de debate político, por parte dos comentadores habituais nos “media” também habituais, só pode provocar tristeza. Tristeza mesmo, pois se esperaria que os “media” pudessem ser algo mais do que meras caixas de ressonância de algum lixo partidário. Acredito as audiências o justifiquem, mas estão assim a contribuir para colocar os “standards” da discussão pública a um nível underdog. Depois não se queixem do atraso do país e da falta de educação do “povo”...

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

A democracia deveria funcionar assim

Existem sérias dúvidas sobre a razoabilidade do negócio de compra de acções da Cimpor, por parte da CGD, ao empresário Manuel Fino. Dúvidas não só legítimas como pertinentes em face do que é público sobre o teor desse negócio. Eu, pelo menos, tenho-as, mas devo confessar que o meu conhecimento de Bolsa e Banca – que é algum mas não aprofundado - não me permite ter dados suficientes para formar opinião. Para as esclarecer, o CDS-PP solicitou a presença do Presidente da “Caixa” na Assembleia da República, pretensão à qual a maioria deu provimento. Ainda bem. Faria de Oliveira terá assim possibilidade de esclarecer os deputados e os cidadãos sobre a compra de acções nas condições conhecidas e estes de aquilatar da oportunidade e “bondade” do negócio para o banco público e para o país, com todas as suas consequências. Também políticas, pois claro. A democracia funciona (ou deveria funcionar) assim.

Cinema e Rock n' Roll (21)


"Cherchez L'Idole" (1963)

Este é talvez o filme-arquétipo do movimento Ié-Ié, com uma intriga suficientemente idiota para ser rapidamente esquecida em favor daquilo que efectivamente importava: vender a França de Johnny Halliday, Sylvie Vartan e uma panóplia restante de vedetas para agradar aos copains e às copines do respectivo "Salut": Les Chaussettes Noires – com Eddie Mitchel (por favor, ler êdi mitchél), Les Surfs e Charles Aznavour, para impor um pouco de ordem e respeito e também agradar aos mais velhos (no filme, canta "Et Pourtant"). Ah!, e também se vendia a França do general De Gaulle, pois claro, uns anos depois de este ter arrumado a questão argelina para desgosto de muitos dos que o tinham ido buscar. Mal sabiam!...

Mas pronto, para mim e outros tantos como eu valia mesmo só para ver Sylvie Vartan, por quem todos tínhamos uma verdadeira paixão assolapada na verdura da nossa adolescência que nos impelia sempre, ou quase sempre, ao bom gosto. E, claro, ela interpretava esse canção-rainha das festas de garagem, durante a qual só mesmo as muito feias ficavam sentadas: “La Plus Belle Pour Aller Danser”, que eu e alguns mais versados na língua de Moliére resolvemos “trocadilhar” apelidando-a de “La Poubelle (trad.: caixote do lixo) Pour Aller Danser”. Mas apesar da poubelle, eram mesmo - a canção e Vartan - de partir todos os corações... O meu deve ter caído em cacos no cinema Alvalade, onde me lembro vi o filme numa sessão (chamava-se matinée) de sábado à tarde.

Curiosamente, na sequência do filme passada no Olympia podem ver-se na plateia figuras como Françoise Sagan, Juliette Gréco, Jean Marais e Marie Laforêt. Mas eu não dizia que o objectivo era mesmo vender a França?

"Noir" (4)


"This Gun Is For Hire", de Frank Tuttle (1942)

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

A beleza do futebol defensivo do Man. United

Todos nos habituámos a ver e entusiasmar com o futebol de ataque do Manchester United, de Rooney, Ronaldo, Giggs, Berbatov e tutti quanti. Gostaria, no entanto, de chamar a atenção para o rigor – porque não, a beleza - com que a equipa defende, em bloco, fechando-se harmoniosamente, mantendo sempre o seu equilíbrio nas transições defensivas e, depois, a partir desse equilíbrio defensivo, gerindo o jogo ofensivamente, quer através de transições rápidas, quer através da circulação e posse de bola. Notável e bonito de se ver. Para quem, efectivamente, gosta de futebol e sabe reconhecer o que é um grande treinador e o trabalho que está por detrás de uma equipa.

Braga e Torres Vedras: provincianismo e pobreza

Que significam os tristes episódios proibicionistas do “Magalhães” de Torres Vedras ou da reprodução do quadro de Courbet? Que existem pulsões autoritárias e censórias na sociedade portuguesa? Não me parece: não nego essas pulsões existam, mas não se expressarão deste modo. Virão mais de quem pretende que uma qualquer ditadura ou regime musculado ajudem à implementação das reformas necessárias à resolução da crise endémica da economia portuguesa, à “imaginada” falta de segurança, e essas não passarão, por certo, pelo menos preferencialmente, por atitudes deste tipo. Note-se que não me estou a referir ao “desabafo” de Ferreira Leite, apenas e nada mais do que um desabafo inofensivo de alguém politicamente inábil, mas a certas tendências populistas e securitárias que por aí se expressam, desde o OSCOT às caixas de comentários dos blogs e fóruns de opinião.

O que os episódios de Torres Vedras e Braga expressam uma vez mais é, isso sim - e não é nenhuma novidade - a incompetência e provincianismo de quem ocupa os lugares intermédios do aparelho de estado, sem formação e “mundo”, tementes a Deus, ao Diabo e a um qualquer “Gauleiter” de ocasião, num país periférico e saído há pouco da “idade agrícola”. Significam, no fundo, subdesenvolvimento, pequenez. Numa palavra: pobreza.

Moretti e "a" Mangano

Silvana Mangano em "Anna", de Alberto Lattuada (1951)

Silvana Mangano: a mesma cena em "Caro Diario", de Nani Moretti (1993)
Um cinéfilo recorda com nostalgia os dias gloriosos do cinema italiano, da Cinecittà das décadas de 50 e 60 do século XX. Ou como Nani Moretti suspira pelo passado revisitado na beleza e glamour de Silvana Mangano. O melhor é nada acrescentar e apenas ver...

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Liedson na selecção portuguesa?

aqui afirmei que existem basicamente duas condições para jogadores que não tenham tido sempre a nacionalidade portuguesa representarem a selecção nacional de futebol: uma objectiva ( que legalmente o possam fazer) e outra subjectiva, que a FPF o entenda em função dos valores que devem nortear a selecção e a sua identificação com o público apoiante. Poderá Liedson integrar ambas as condições? No que diz respeito à questão legal penso nada poderá obstar logo que as condições nesse sentido estejam preenchidas. Quanto à restante...

Liedson tem 31 anos (está na fase final da sua carreira, portanto) e chegou a Portugal já não adolescente – ao contrário de Deco e Pepe -, mas homem e jogador feito, com 26 anos. Tem, neste momento, 31 anos e apenas será cidadão português penso que daqui a alguns meses. A questão que se coloca é a seguinte: valerá a pena proceder à integração de um homem e jogador nestas condições arriscando, eventualmente, numa fase de divórcio ou pelo menos de afastamento evidente entre público e selecção, um enfraquecimento dos laços internos e com o exterior, com o público apoiante? Por muito que possa reconhecer valor ao jogador – e reconheço – e por muito que as dificuldades de preenchimento do lugar de “ponta de lança” sejam evidentes, tendo em atenção o que acima afirmei penso a resposta só pode ser negativa e, neste caso, bem compreendo as hesitações de Queiroz.

5 capas de Vespeira (1)

Capa de Marcelino Vespeira para "Cântico Final", de Vergílio Ferreira. Editora Ulisseia

História(s) da Música Popular (118)

Arthur Alexander - "Anna (Go To Him)"

Arthur Alexander - "You Better Move On"

"Under The Influence" - The original songs of the "British Invasion" (I)

No início da “década prodigiosa”, quando o "rock" da juventude inglesa invadiu a América depois de ter descoberto o seu original uns anos antes, quando este, fruto de vicissitudes várias (mortes, cansaço, álcool e drogas, integração, contra-ataque do establishment, etc, etc) se encontrava num impasse ou decadência (Holly e Valens mortos num desastre de avião, Little Richard a contas com a sua homossexualidade, Jerry Lee Lewis com um casamento “escandaloso”, Chuck Berry preso, Cochran morto em desastre de carro, Vincent em ressaca desse mesmo desastre e afogando-se em álcool, Elvis na tropa e, depois, em Las Vegas a contas com o "show-business"), quando Lennon & McCartney e Jagger & Richards ainda não se assumiam inteiramente como “marca registada” ou “assinatura de garantia”, foram os principais grupos britânicos, daquela que ficou para a História como a “British Invasion”, a recuperar alguns nomes e temas originais da música branca e negra de além-atlântico. Aliás, pouco admira que assim tivesse acontecido, pois, em época de circulação difícil de culturas e mercadorias mais tangíveis, muitos tinham descoberto, nos anos 50, o "rock" e os "blues" originais através dos discos que mais facilmente circulavam em cidades portuárias como Liverpool e Hamburgo, trazidos da América por “embarcadiços” que navegavam o mundo. Será dessas cidades portuárias, adoptado pela juventude de uma Europa mais “aberta” e “progressista” do que boa parte da América de então, ambiente forjado por uma recuperação e crescimento económicos sem precedentes no rescaldo da WWII que tinha destruído infraestruturas e valores de uma Europa que a tinha sofrido “na pele”, que o “recuperado” "rock n’ roll" e a nova cultura emergente invadirão o mundo substituindo o antigo pelo novo. É pois essa época e esses originais, que a maior parte das vezes os “não iniciados” conhecem apenas pelas "cover versions" britânicas de Beatles, Stones, Animals, Manfred Mann e tantos outros, que me proponho recuperar neste novo capítulo de “História(s) da Música Popular”.

Bom, por onde começar? Parece que - ponto assente - pelos Beatles, claro, os grandes iniciadores da “British Invasion” e o seu grupo mais importante (o que não significa o meu preferido). E, claro está – e uma vez que os Beatles apenas gravaram "singles" (deixemos de parte essa coisa híbrida dos EP’s) com originais de Lennon & McCartney – talvez pelo seu primeiro álbum, “Please Please Me”, de 1963 e pelo primeiro tema não assinado Lennon & Mccartney no alinhamento desse mesmo álbum, que por sinal começa várias vezes pela letra “A”: “Anna” (Go To Him)", um original da música negra americana de Arthur Alexander (1940-1993, Sheffield, Alabama). E, já agora, Alexander permite-nos também juntar Beatles e Rolling Stones (este sim, o meu grupo favorito) pois é Alexander o autor e intérprete original de um tema dos Stones incluído no seu álbum “December’s Children”, de 1965: “You Better Move On”. Acrescente-se que na minha discografia de Alexander existem duas versões de “You Better Move On”, ambas no mesmo CD da MCA, uma referenciada como "LP version" e uma outra como sendo a "single version". Optei por esta última, a existente no "You Tube", sem orquestra de suporte e com a bateria muito mais em evidên
cia.
Como curiosidade, diga-se que os Beatles gravaram um outro original de Alexander (embora não composição sua), “Soldier of Love”, incluído na colectânea Live At The BBC.

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

domingo, fevereiro 22, 2009

Quem é o verdadeiro candidato do PS à Câmara Municipal do Porto?


Les Belles Anglaises (XXII)







Triumph TR3 (1955-1962)

"Cinq chansons revolutionaires" (5)

Anna Marly - "Le Chant des Partisans"
O que não deixa de ser curioso é que a autora de “Le Chant des Partisans”, canção associada à esquerda e não poucas vezes aos comunistas, tenha sido uma aristocrata russa “branca”, Anna Yurievna Betulinskaya (Анна Юрьевна Смирнова-Марли), cujo pai fora executado durante a revolução de Outubro e que mudou o seu nome para Anna Marly não por quaisquer razões políticas mas por uma questão de dificuldade de pronúncia para os franceses, país onde a sua família se tinha refugiado. Esteve, claro, ligada às FFL ("Forces Françaises Libres") durante a WWII – tendo actuado para as forças aliadas – e, mais tarde, viveu nos USA tendo adquirido mesmo a nacionalidade americana. É também autora de “The Partisan”, tema gravado por Leonard Cohen e incluído no álbum de 1969 “Songs from a Room”. Morreu em 2006 e, em 1985 e assinalando os 40 anos do fim da WWII, tinha sido condecorada com a Legião de Honra pelo presidente François Mitterrand.

Uma afirmação de MFL

Manuela Ferreira Leite declarou ao “Correio da Manhã” (citada pelo "Público") ter sido “a primeira pessoa a falar da crise”. Convém que alguém diga a MFL que o facto de ter sido obrigada a recordá-lo é já de si parte do problema.

A "esperteza" do advogado Paulo Castro Rangel

Esta pouco subtil diferença, invocada pelo deputado e presidente do grupo parlamentar do PSD Paulo Rangel, entre confiança política e confiança institucional (“não se deve misturar justiça com política”; “os comportamentos ilícitos de titulares de cargos políticos, quer existam quer sejam apenas suspeitos, apenas responsabilizam individualmente quem os faz”), sob a aparência de uma lógica linear, nada mais significa, na presente conjuntura, do que uma evidente habilidade política de advogado para tentar evitar que o PSD seja “salpicado”, ou até "encharcado até aos ossos", pelos grossos pingos do caso BPN, onde os visados, apesar de membros relevantes do PSD, não detêm actualmente, ao contrário do que acontece com José Sócrates, qualquer cargo institucional do qual seja impossível a opinião pública separá-los. Ou seja, por não exercerem actualmente qualquer cargo político, qualquer dano de imagem ou acusação deduzida contra os visados no caso BPN não pode, segundo Rangel, produzir efeitos no PSD, apenas responsabilizando os próprios. O mesmo não acontece, claro, com José Sócrates, qualquer mera suspeita afectando a confiança política inseparável do cargo que ocupa. A lógica, de tão evidente, integra-se naquilo que costumo designar como “rabo escondido com gato todo de fora” e, de tão canhestra, apenas tem como consequência, pela sua evidente “chico-espertice” tratando os portugueses como parvos, contribuir um pouco mais para o desprestígio dos políticos e da política. Ou seja, de si próprio e da "indústria" que o emprega, algo que Paulo Castro Rangel deveria saber evitar.

sábado, fevereiro 21, 2009

Porque perdeu o Benfica

Para anular o ataque e meio-campo ofensivos muito rápidos e móveis do SCP o Benfica precisava de ter:

  1. Centrais e um meio-campo defensivo mais rápidos, mas quem ganha em altura, muito importante nas bolas paradas e no poder físico-atlético, perde normalmente em rapidez. Teria sido preferível Miguel Vítor em vez de Sidnei, mas é fácil falar depois do jogo.
  2. Um meio-campo capaz de fazer circular a bola, retirando a iniciativa ao SCP, mas não é esse o modelo de jogo da equipa: Yebda e Katsouranis são fundamentalmente jogadores pressionantes, de recuperação e ocupação de espaços, Reyes e Di Maria (ou Urreta) de transição rápida e Aimar não tem pulmão e capacidade física para jogar em grandes espaços. Restam Rúben Amorim e Carlos Martins, mas este ainda não revelou categoria para aspirar à titularidade. E a evidente má forma de Reyes e Suazo, bem como as intermitências de Di Maria, prejudicam em muito essas mesma transições rápidas.

Tornam-se assim evidentes as razões porque a defesa andou “aos papéis” e a equipa apenas conseguiu chegar ao segundo golo através do futebol directo e de Cardozo.

The Roulette years (7)

Joe Tate - "Satellite Rock" (1958)

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Duas notas de sexta-feira à tarde

  1. O excesso de notícias, também o seu teor e conteúdo nem sempre muito claros e o facto de terem normalmente origem num número reduzido de “media”, sobre alegadas irregularidades praticadas pelo primeiro-ministro durante e antes da sua actividade governativa, acaba por ter consequências antagónicas daquelas que porventura teria como objectivo gerar. A “campanha negra”, a “perseguição”, acabam por ganhar credibilidade e o pretendido réu com facilidade passa a ser visto como vítima. Como estratégia, parece-me já provou a sua ineficácia e as mesmas acções, repetidas, tendem normalmente a produzir consequências idênticas.
  2. Mais do que apresentar vinte medidas para resolver a crise, o que é de difícil memorização pelos eleitores e reduz o impacto mediático e o “share of mind” de cada uma delas, teria sido bem mais eficaz se o PSD tivesse apresentado ao país um “conceito” , uma USP (unique selling proposition), consubstanciada num “slogan”, numa “assinatura”, que facilmente traduzisse o seu pensamento e a sua proposta de modo diferenciador. O PS de Guterres fê-lo em 1995, traduzindo essa ideia força no “slogan” razão e coração” assim atingindo directamente aquele que era visto pela maioria da população como o calcanhar de Aquiles “cavaquista”. Ganhou as eleições, como estamos recordados.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Anglophilia (57)



Welsh Corgi

AS PMEs, as quotas e Manuela Ferreira Leite

Sugerir o apoio preferencial às PMEs é o mesmo do que manifestar solidariedade para com os mais desfavorecidos ou apelar à paz no mundo: fica sempre bem mesmo quando nada mais significa do que a manifestação de piedosas intenções.

A primeira dificuldade é: como definir PMEs? Em função do volume de negócios? Do número de trabalhadores? Poderia parecer um bom princípio, mas... é suficiente? De ambos e, simultaneamente, não integrarem grandes grupos económicos? “Idem” e por serem empresas maioritariamente de capital nacional? Por serem empresas familiares? Uma história ridícula e que revela essa dificuldade: trabalhei na subsidiária portuguesa de uma multinacional líder no seu sector de actividade que recebeu financiamentos do PEDIP por ser considerada, em Portugal, uma PME!

Segunda dificuldade: uma vez ajustada a definição, é o sector homogéneo? Claro que não. Como aqui afirmei, coexistem pequenas empresas familiares, de gestão incipiente, produzindo bens de baixo valor acrescentado, sem trabalho qualificado, condenadas a prazo e empresas tecnológicas de gestão eficiente e altamente qualificada, capital intensivas, pertencentes a grandes grupos económicos ou a sectores emergentes, de enorme potencial futuro. Da economia do conhecimento. De multinacionais. Altamente competitivas em mercados exigentes. Respeitadoras do ambiente e sustentáveis. Misturar “alhos com bugalhos” só poderá levar ao descalabro e a falta de rigor nunca foi boa conselheira.

Tendo dito isto... Devem ser apoiadas de igual modo? Mesmo tendo em conta a necessidade de manter o emprego, no curto prazo, a níveis razoáveis, a resposta só pode ser uma: claro que não. Caso contrário estaríamos a financiar a ineficiência, o desperdício, a falta de qualidade e a má gestão, o passado e não o futuro. Isto é, a desperdiçar o dinheiro de todos nós, contribuintes, em projectos inviáveis.

Uma provocação em relação à questão das quotas sugeridas pelo PSD: se um ministério quiser encomendar uma campanha de publicidade deve fazê-lo a uma dessas pequenas agências de “amigos”, muitas vezes constituídas apenas para esse projecto, ou a uma outra, profissional, pertencente a um grande grupo de comunicação? E se uma autarquia quiser montar ou restruturar a sua rede informática? A quem é competente, assegura um serviço de qualidade, ou a uma pequena empresa amadora, de alguém relacionado com o presidente da câmara local?
Sim, eu sei que são pequenas provocações. Mas necessárias para chamar a atenção de que nem tudo que luz é oiro, nem tudo o que parece é. Por vezes, é mesmo o seu contrário e trará consigo consequências perversas.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

O Presidente e Manuel Dias Loureiro (capítulo II)

O Presidente da República fez em tempos saber ao país que confiava na palavra do conselheiro de estado Manuel Dias Loureiro, por si nomeado. Perante os novos factos revelados recentemente que põe em causa as afirmações do conselheiro de estado perante a Assembleia da República, os portugueses esperariam um qualquer sinal de Cavaco Silva, por pequeno e subtil que fosse, que permitisse a estes entender que o Presidente pelo menos tem dúvidas ou, até, se terá porventura enganado. Isso teria como consequência que esses mesmos portugueses pudessem continuar a confiar nas suas escolhas e opções (dele, Presidente). Pelo contrário, na ausência desses sinais os portugueses entenderão que a confiança de Cavaco Silva no conselheiro de estado Manuel Dias Loureiro se mantém. Com todas as suas consequências...

"Cinq chansons revolutionaires" (4)


Léo Ferré - "L'Affiche Rouge" (Léo Ferré-Louis Aragon)
Léo Ferré compôs a canção em 1959. Um poema de Louis Aragon, datado de 1955, que evoca um dos acontecimentos mais marcantes da resistência francesa à ocupação alemã durante a WWII. Durante anos, envolto em alguma controvérsia.

Rastreios, doenças e desenvolvimento humano

De acordo com notícia da TSF, “existem taxas de sobrevivência diferenciadas ao cancro segundo as regiões do país”. Estas serão “mais elevadas em Lisboa e Vale do Tejo”. Acrescenta a TSF que “não existe uma explicação oficial, mas tudo parece indicar que tal facto se deve à diferença entre número de rastreios”.

Acrescento eu, se me é permitido e antes que se esbanje dinheiro sem sentido, que essa diferença entre número de rastreios não terá apenas que ver com número de centros onde estes se possam efectuar e sua acessibilidade, número de médicos e centros de saúde, equipamentos, listas de espera, etc, etc. Tudo isso terá a sua importância mas não é suficiente. A questão será bem mais funda e terá, na sua base, que ver fundamentalmente com o nível de educação e conhecimento dos habitantes de cada uma das regiões. Numa doença em que a detecção precoce é fundamental e em que cada um assume nessa detecção um papel insubstituível, será com certeza possível efectuá-la com mais frequência e cuidado junto de uma população mais instruída do que numa região onde, maioritariamente, a população apresente índices inferiores de desenvolvimento humano (instrução, iliteracia, capacidade de compreensão, hábitos de higiene, etc). Aliás, falando de um modo geral, este (o índice de desenvolvimento humano) é um dos principais factores limitativos de uma maior eficácia nos serviços prestados pelo SNS. E, até, de uma melhor aplicação de recursos, inclusivé financeiros. A quem não estiver de acordo, sugiro uma visita a algumas urgências hospitalares ou centros de saúde.

A Igreja Católica e o casamento

Um amigo dizia-me um destes dias, meio a sério meio a brincar, que não percebia porque tinha a Igreja Católica que se intrometer na questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, já que não reconhece o casamento civil. Acrescentava ele que, sendo apenas casado civilmente, mais a mais com uma mulher com um matrimónio (católico, portanto) anterior, à luz da Igreja Católica viveria “amancebado”. Em pecado, portanto.

Bom, a questão deu pelo menos para nos divertirmos um pouco com a ideia dele e a mulher viverem em pecado há quase trinta anos (tantos quanto dura o casamento), mas, falando mais seriamente, disse-lhe que não teria razão. Vejamos.

A Igreja sempre tentou - e faz parte da sua luta pela sobrevivência - estender a sua influência a toda a sociedade, fazendo prevalecer nesta, sobre a égide da moral, os seus comportamentos e valores. Quando não o consegue ou nisso sente dificuldades, entra em “crise” - mais ou menos o que passa actualmente nos países mais desenvolvidos. Durante anos lutou contra o casamento civil. Sem sucesso, como se sabe. Depois, durante o Estado Novo, conseguiu ver reconhecida pela Concordata a impossibilidade de casamento civil para quem tivesse contraído matrimónio (católico) anterior. Apenas após o 25 de Abril (esta, de facto, uma enorme “conquista de Abril”) matrimónio e casamento civil ganharam efectiva autonomia. Agora, no caso do casamento homossexual, tenta de novo a sua “chance”, esforçando-se, uma vez mais, por tentar fazer valer e adoptar no casamento civil os valores que atribui ao sacramento do matrimónio. Sabe não será bem sucedida, mas mantém-se assim fiel aos valores que definem a sua identidade. Ganha em coerência o que perde em proselitismo. Neste aspecto, muito pouco a distingue do PCP.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Bernardo Marques (11)

Capa de Bernardo Marques para "Novo Mundo, Mundo Novo", de António Ferro

O incesto, o casamento "gay" e as "Blasfémias" de João Miranda

Ao contrário do que afirma João Miranda no “Blasfémias”, não existe qualquer semelhança entre a proibição de casamento entre pessoas do mesmo sexo e idêntica questão relativa ao casamento incestuoso. Neste último caso, enquanto situação-limite do casamento endogâmico, está em causa a saúde pública, a continuidade e fortalecimento da espécie. É evitada em qualquer reprodução animal e causa para a aceleração do processo de extinção de espécies cujo número de exemplares já é reduzido. O tabu e penalização social, a condenação moral do casamento incestuoso vem depois, como é habitual e enquanto elemento condicionador e necessário à eficácia da implementação da medida proibicionista, mas na sua base está uma causa bem material. Honestidade intelectual, precisa-se.

Óscares...

Nos meus tempos de adolescência e jovem adulto os Óscares eram algo de denegrido: a indústria contra o cinema de autor, o capital contra a arte. Ben-Hur ganhou 11, e ainda hoje o filme me irrita e conduz directamente a uma breve sonolência. Um amigo meu, para se vingar dos tais 11 Óscares, diz sempre alto e bom som que prefere a versão de 1925, de Fred Niblo e com Ramon Novarro. Confesso só a vi uma vez e via TV... “Titanic”, do ex-marido da Katherine Bigelow de “Strange Days”, igualou-o – vá lá saber-se porquê – e acho foi aí que ganhei a minha enorme embirração por Kate Winslet e a convicção de que ainda bem que o raio do navio se afundou. Só merecia!

Bom, vem este prólogo a propósito dos candidatos aos ditos cujos Óscares deste ano. Depois de já ter visto vários (outros cuidadosamente evitei), confesso a minha total e completa desilusão. Profissionalismo, sim. Métier também (também era melhor que não existisse). Mas uma total ausência de um qualquer vislumbre que ultrapasse a vulgaridade, de algo que nos diga “espera, aqui está uma ponta de talento”! Até o interessante Gus Van Sant se atola na vulgaridade. Mais: indústria, acima de tudo. Telenovelas e séries de TV de 120' acenando-nos com actores, estrelas, sem que seja possível distinguir origens e autores, de tal modo o molde nos parece sempre o mesmo. Saímos e perguntamos: “espera lá, mas de quem é o filme?”.

Lembro-me de, aqui há bem poucos anos (talvez 2006), quando me perguntavam sobre os candidatos aos Óscares responder que sim, que os melhores filmes que tinha visto nesse início de ano (“Uma História de Violência”, de Cronenberg, e “The Three Burials of Melquíades Estrada”, de Tommy Lee Jones) nada tinham que ver com eles. O ano passado ainda houve o filme dos Cohen (“No Country For Old Men”). Este ano... Bom, este ano começo a perder a esperança, e acho prefiro um Woody Allen divertido (sem mais), como Vicky Cristina Barcelona, e esquecer de vez a indústria. A bem da inteligência, claro!

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Black Mask (6)

A CML e o fecho da Ribeira das Naus

Muito bem preparado, junto da opinião pública, o fecho da Ribeira das Naus ao trânsito. Para além da informação ubíqua, ao alertar os “alfacinhas” para o pior - inclusivamente colocando António Costa na rua a dar informações e prestar esclarecimentos, o que acentuou o “dramatismo” da informação assim prestada (sim, eu sei que também teve muito de campanha eleitoral, mas igualmente cumpriu com eficácia o objectivo de criar um ambiente de “dramatização”) - a CML conseguiu com que todas as consequências um pouco melhores do que a criação de um ambiente caótico no trânsito da cidade acabassem por ser consideradas pelos cidadãos como relativamente benignas, tal era o pessimismo que envolvia o cenário aguardado.

Muito bem. Agora, esperemos os prazos se cumpram...

"Cinq chansons revolutionaires" (3)

Yves Montand - "Le Temps des Cerises"
Canção sempre associada à Comuna de Paris, ela foi, no entanto, escrita uns anos antes por Jean-Baptiste Clément. Posteriormente, seria dedicada pelo seu autor a uma enfermeira morta durante a Comuna, em 1871.

Para mim, contudo, a Comuna de Paris estará sempre mais ligada aos escritos de Marx e Engels e ao conto de Karen Blixen em que se baseia o excelente filme de Gabriel Axel “Babettes gæstebud” do que à canção que aqui trago hoje. Isso, claro está, não impede que se trate de um tema belíssimo, tocante, “émouvante” - perdoem-me que recorra ao francês tão a propósito.

Também, para mim, “Le Temps des Cerises” será sempre a voz de Yves Montand, talvez por ter sido a primeira versão que ouvi; talvez por Montand ter sido durante muito tempo associado à esquerda e esta é uma canção claramente “à esquerda”; talvez, também, por causa do “Chant des Partisans”, canção que me habituei a ouvir na sua interpretação nos tempos da ditadura. No fundo, talvez porque Montand sempre tenha sido “muito cá de casa”!

domingo, fevereiro 15, 2009

Beat (2)

"I Am 25" - a poem by Gregory Corso

With a love a madness for Shelley
Chatterton Rimbaudand
the needy-yap of my youth
has gone from ear to ear:
I HATE OLD POETMEN!
Especially old poetmen who retract
who consult other old poetmen
who speak their youth in whispers,
saying:--I did those then
but that was then
that was then-
O I would quiet old men
say to them:--I am your friend
what you once were, thru me
you'll be again
--Then at night in the confidence of their homes
rip out their apology-tongues
and steal their poems.

Que regras para a "ajuda" às empresas?

Tem sido muito criticada, e é um pouco por todo o lado "vox populli", a aparente ausência de regras claras, estritas, sobre as condições que devem presidir, em tempo desta crise, ao auxílio estatal a empresas. A lógica do “falatório” parece ser simples: porquê a empresa A e não a B?; porquê a Quimonda, o sector automóvel e não o têxtil?; porquê a empresa de um grande grupo económico e não a loja de comida feita da Dona Graciete ou o talho do Sr. Joaquim? Poderíamos continuar por aí fora... Mas, devo dizer, talvez se esteja a confundir um pensamento simples, e como tal, facilmente aceite, na sua lógica, por todos, com a simplificação de um problema, assim contribuindo para uma sua análise e compreensão deficientes. As afirmações de Paulo Portas sobre a obrigatoriedade de empresas “ajudadas” não puderem despedir integram-se neste mesmo estado de espírito e, tal como no caso da proposta de Francisco Louçã de empresas que apresentassem lucro serem proibidas de efectuar despedimentos, são um completo disparate, demagogia da mais rasteira que teria como consequência a morte pela cura em substituição de igual trágico acontecimento caso a doença se mantivesse. Dinheiro desperdiçado, pura e simplesmente, pois impediria restruturações eventualmente necessárias para assegurar a competitividade futura.

De facto, não me parece se possam estabelecer, neste caso, regras estritas, quase como um código ou um manual de instruções do estilo “check list”: empresas com mais de X funcionários, com facturação superior a tanto, inseridas nos sectores tais e tais, exportanto n% da sua produção, com y% de trabalhadores com formação superior e por aí fora. Pura e simplesmente, não me parece alguma vez tal coisa, a existir, pudesse funcionar eficazmente e no tempo útil requerido. Será com certeza impopular admiti-lo, mas parece-me que estamos perante um assunto que terá uma abordagem muito mais eficiente se feita apenas na base de alguns guidelines mais ou menos flexíveis, não abdicando, em alguns desses princípios orientadores, de questões que se prendem com a importância estratégica e estruturante das empresas e do sector em que se integram, da região em que se situam e da sua importância na coesão social local, da sua eventual vocação exportadora, da esperada competitividade futura. Digamos que muito dependente da lógica e do bom-senso, algo que tantas vezes falta a políticos e governantes e em quem, por isso mesmo, é tarefa árdua confiar. Assim sendo, um contra-senso, o que se propõe? Sem dúvida, mas em situação de dificuldade ímpar não me parecem existir opções que não passem por simples governantes se verem obrigados a transformarem-se, por vezes em aparente “contra-natura”, em respeitados “homens de estado”... Tal como, na guerra, a necessidade de sobrevivência tantas vezes cria "heróis", pois claro...

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Republic Pictures (4)

" 1 000 Dollars A Minute" (1935)

História(s) da Música Popular (117)

Miriam Makeba - "Pata-Pata" (M. Makeba-J. Ragovoy)
Jerry Ragovoy (V)
Talvez seja uma surpresa para muitos que Jerry Ragovoy seja co-autor e produtor de “Pata Pata” (1967) o mega-êxito da intérprete e activista dos direitos humanos sul-africana Miriam Makeba (1932-2008).

Miriam viu-lhe ser retirado o passaporte sul-africano, em 1960, fruto da sua luta "anti-apatheid". Exilou-se nos USA e aí gravou os seus maiores êxitos, “The Click Song” e, principalmente, “Pata Pata”, que lhe granjeou fama mundial e ainda maior notoriedade para a sua causa. Só regressaria à África do Sul em 1990, já a pedido de Nelson Mandela, depois de em 1968 se ter visto obrigada a trocar os USA pela Guiné do ditador Sékou Touré em virtude do seu casamento e envolvimento político com Stokely Carmichael, líder dos Panteras Negras. Digamos que era o “ar do tempo”, que acaba por não afectar demasiado aquela que foi a luta da sua vida: a militância "anti-apartheid" e pelos direitos dos negros.

Participou na digressão “Graceland”, com Paul Simon, e acabou por morrer em 2008, em Itália, de ataque cardíaco após um espectáculo.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

José Luís Saldanha Sanches disse verdades inconvenientes

Algo a acrescentar ás afirmações de José Luís Saldanha Sanches, aqui e aqui.

Toda essa situação dos bombeiros voluntários, que não prima pela clareza mas por uma algo promiscua confusão de funções e fontes de financiamento, apoiada numa ideologia de exaltação das suas funções consubstanciada na denominação “soldados da paz”, que está longe – essa ideologia - de corresponder a uma realidade dos dias de hoje, tende sempre a alastrar e estender-se, como é comum nos casos em que a definição e separação de funções não é muitas vezes clara, também a outras formas de relacionamento e interligação entre a instituição e a sociedade, fomentando, sob a capa do serviço altruísta e benemerente, a emergência de zonas cinzentas e pouco ou nada escrutináveis na actividade normal das corporações em causa, razão acrescida, pois, para uma sua clarificação. Para demonstrar a razão que assiste a JLSS, basta verificar o teor dos comentários suscitados pela notícia e a reacção corporativa que gerou. À bon entendeur...

Salazar "pop star" ou a destruição do mito

Durante muitos anos Salazar foi uma figura sacralizada, à esquerda e à direita. Por cada um dos campos políticos, à sua maneira, claro. Consoantes os seus valores, como não poderia deixar de ser. Assim se ajudou também a construir o mito.

Por isso, esta actual transformação do ditador em "pop star", por muito que isso falsifique a História e certamente o fará (não me passa pela cabeça ver a série da SIC para o confirmar: o “crime” não compensa), não deixa por certo de constituir uma contribuição importante para a destruição desse mesmo mito. Embora preferisse a “desconstrução”, o que pressuporia o rigor histórico da análise o que também tem sido feito embora de forma mais recatada, não deixo de considerar essa destruição do ditador enquanto mito como sintomática de um país cuja sociedade e democracia caminham para a maturidade. Boas notícias, portanto. Apesar de tudo.

"Cinq chansons revolutionaires" (2)

"La Carmagnole"
La Carmagnole é o nome de uma canção anónima com origens no Piemonte italiano. Também o nome do casaco usado pelos "sans-coulotte", a arraia miúda, o “povo de Paris” da revolução. Mais do que uma canção de combate, ao contrário de “Ah, Ça Ira” era uma canção de festa, destinada muitos vezes a celebrar acontecimentos vitoriosos para as forças revolucionárias, mas também de punição: dançar e cantar a “Carmagnole” era muitas vezes castigo infligido, para gáudio dos revolucionários, aos inimigos da revolução, quer fossem aristocratas ou membros do clero.

A canção tornou-se popular principalmente após a prisão de Luís XVI e a tomada das Tulherias (1792), alguns dos versos referindo mesmo o massacre da guarda suíça do rei.
“Suisses avaient promis
Qu'ils feraient feu sur nos amis
Mais comme ils ont sauté
Comme ils ont tous dansé !”

Reapareceria várias vezes, com versos adequados ás circunstâncias, durante o conturbado século XIX francês e europeu.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Alice in Wonderland by Sir John Tenniel (3)

Alice taking "Drink Me" bottle

"Cinq chansons revolutionaires" (1)

Edith Piaf - "Ah, Ça Ira"
“Ah, Ça Ira”, expressão atribuída Benjamin Franklin para se referir à evolução da revolução americana, é o título daquela que é talvez a mais famosa canção da Revolução Francesa. Composta por um tal Ladré, cantor de rua, tendo como tema uma popular “contradança” (o nome vem de “country danse”) da época (diz-se que a própria Maria Antonieta a tocava no cravo), acabou por ter direito a várias versões, sendo duas delas as mais conhecidas: uma a que chamaríamos hoje de "soft-core" (a original) e outra "hard-core", ("Les aristocrates à la lanterne, les aristocrates on les pendra") adoptada pelos "sans coulottes", digamos que a “arraia miúda” da revolução.

Esta é a “hard-core”, a mais conhecida, aqui interpretada por Edith Piaf no filme de Sacha Guitry “Si Versailles m' était conté”, de 1954.

Casamento "gay": a Igreja Católica ajuda José Sócrates

Devo dizer - com o à vontade de quem fez campanha e votou pela IVG e de quem é favorável ao casamento entre pessoas do mesmo sexo com direito a constituição de família plena, incluindo a adopção - que, ao contrário do que afirma Vitalino Canas citado no “Público” de hoje, considerei e considero perfeitamente legítimo que a Igreja Católica (ou qualquer outra), utilizando todos os meios legais de que dispõe incluindo a celebração da eucaristia (peço desculpa se o meu rigor de agnóstico deixa algo a desejar), se manifeste e faça campanha (ou até “cruzada”) contra o casamento dos homossexuais. São estas as regras das democracias liberais e dos Estados laicos. Só que me parece, tal como aconteceu no caso da IVG, o resultado possa vir a ser bem o contrário do desejado, e a contundência verbal do comunicado da Conferência Episcopal tenha apenas como consequência avivar na memória dos cidadãos e voltar a colocar na ribalta política o José Sócrates reformista, que não teme as corporações nem se sujeita ás pressões. O José Sócrates “ganhador”, enfim, que bem saberá agradecer a “graça” assim recebida. E quanto a votos, todos sabemos quanto a Igreja Católica tem sido pouco persuasiva mesmo no seio do seu próprio “rebanho”...

Nota: no mínimo, de muito mau gosto, é o que se poderá dizer da foto de José Sócrates, benzendo-se, que acompanha a notícia na edição em papel do “Público” de hoje. Aliás, o jornal lembra-me cada vez mais, o título português de um filme de Gus Van Sant - que por sinal é “gay”: “Disposta (o) a Tudo”.

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Gritos...

"The Shout", de Jerzy Skolimowski (1978)
Sons também são ruídos, gritos, e existe pelo menos um filme em que o grito é tema e título.

Confesso a minha atracção e interesse pela cinematografia de Jerzy Skolimowski, desde que, há umas boas décadas, vi pela primeira vez “Deep End” num qualquer cinema de Paris. Continua a ser o meu filme favorito do realizador do muito badalado “Moonlighting”, mas agora estou a falar de “The Shout” (em português, “O Uivo”), um filme estranho, misterioso e mal amado, e daí talvez essa minha atracção adicional. Como estranho é quase sempre Alan Bates (lembram-se de “The Go-Between”?). Como bonita é sempre Susannah York. A cena, essa, quase se poderia dizer tirada de Antonioni, e não é apenas por causa do "grito". Ou, se quisermos ser mais modestos, de um qualquer mistério televisivo de Ruth Rendell, talvez por causa de “Master of the Moor” (porque será que me lembro sempre?).

Pois, gritos...

Scolari e o Chelsea F. C.: "mismatching", riscos e caprichos de um outrora simpático clube de Fulham Road

O “casamento” Scolari/Chelsea F.C. foi de facto um contrato de risco. Para Scolari? Não me parece: depois de José Mourinho ter sido despedido após duas épocas bem sucedidas e únicas na História do clube e de Avram Grant ter sofrido o mesmo destino por John Terry ter escorregado ao marcar um "penalty" na final da Champions League, Scolari sairá com o prestígio intacto e um saco cheio de libras (pena a desvalorização, não é, Filipão?), algo que com certeza equacionou ao aceitar o "enlace". Para o Chelsea sim, pois nunca se compreenderam muito bem as razões que estiveram na base da contratação de alguém cuja experiência como treinador de clube se limitava a uma passagem já longínqua pelo muito específico campeonato brasileiro sem, a esse nível, qualquer vivência no primeiro mundo futebolístico europeu e sabendo que a gestão de selecções é bem outra coisa. Mais ainda, de alguém cujas “strenghts & weaknesses”, que o tornaram no homem certo para o lugar de seleccionador de Portugal no período em que exerceu o cargo, nunca o aconselhariam para o emprego oferecido.

O que fica a descoberto neste caso - se isso ainda fosse necessário e acho não o é – é que o Chelsea F. C. e a sua “gestão”(???) não são nada que se deva levar demasiado a sério, mas sim algo que se enquadra bem melhor no campo dos caprichos. Um dia, os adeptos do que em tempos era um simpático clube de Fulham Road lá terão de acordar do sonho, tornado então pesadelo.

The Roulette years (6)

Joe Jones - "You Talk To Much"
Roulette #3 (1960)

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

António Capucho e o "bonapartismo gaullista" (leia-se, "cavaquista")

António Capucho, presidente da Câmara Municipal de Cascais e antigo líder parlamentar do PSD, apoiante de Ferreira Leite, vem defender mais poderes para o Presidente da República, no sentido da transformação do regime num semi-presidencialismo à “francesa” em que o PR escolhe ele próprio o primeiro ministro. No fundo - e para além de querer alterar as regras a meio do jogo no sentido que mais convém ao partido a que sempre pertenceu, o que demonstra o estado de desespero a que chegou - sabendo como, quando e porquê nasceu a V República francesa, o que Capucho propõe é, nada mais, nada menos, do que um "bonapartismo gaullista" sem a tradição democrática francesa, o que, conjugado com a “redução drástica” (sic) do número de deputados (proposta também sua), afastando da representação institucional muitos sectores políticos, conduziria Portugal a um regime mais ou menos “fechado” e autoritário, caricatura de qualquer democracia moderna e progressiva. Mais ainda, a uma situação que se poderia facilmente tornar socialmente explosiva, forçando a respectiva “musculação”.

Seria bem mais pertinente, parece-me – e como aliás sempre tenho por aqui defendido –, que após o período de reeleição do actual presidente (não me parece justo alterar regras a meio de um qualquer jogo, mesmo que sejam a “bisca” ou o “7 e ½”) se caminhasse no sentido de um regime parlamentar clássico, à semelhança do que acontece na grande maioria das mais antigas democracias europeias, monarquias ou repúblicas. Isso sim, constituiria um sintoma de maturidade e maioridade democráticas e não uma qualquer tentativa de um também envergonhado regresso ao passado.

Tarzan (3)


"Tarzan Escapes" (1936)

domingo, fevereiro 08, 2009

Uma questão de "altura"

No dia 13 de Abril de 2007 escrevia aqui que um dos problemas do Benfica era ter uma equipa demasiado baixa, o que já se não usava em alta competição e era algo pouco ou nada mencionado pela medíocre imprensa desportiva portuguesa. O SLB corrigiu o problema e, hoje e durante todo o campeonato, tem sido possível verificar a contribuição da “altura” para os resultados da equipa, principalmente a importância que adquire o facto de possuir dois médios bons cabeceadores, algo muito raro no futebol português.

Ainda e sempre as traduções...

“Claret” é a palavra que os ingleses usam para designar o vinho tinto da região de Bordéus. A sua tradução correcta não é, pois, “clarete” – conforme vi ontem na legendagem da série “Piece Of Cake", exibida na RTP Memória -, que em português tem outro significado (ao contrário do “rosé”, este feito com uvas tintas em que o contacto do mosto com as películas é limitado, normalmente elaborado com mistura de castas tintas e brancas), mas sim “vinho de Bordéus”, ou “Bordéus”, ou, pura e simplesmente, “vinho tinto”, consoante o contexto e a frase.

Já agora, a palavra (“claret”) também designa a cor que em português se denomina “cor de vinho” (ou “bordeaux”).

Willie Dixon's Blues Dixonary (15)

Bo Diddley - "You Can't Judge A Book By Its Cover" (Willie Dixon)
Bo Diddley - Vocals & Guitar
Jerome Green - Maracas
Frank Kirkland - Drums
Gravação de 1962

A Convenção do "Bloco" e os despedimentos

Do primeiro dia (sábado) da Convenção do “Bloco de Esquerda” retive do discurso de Francisco Louçã - professor de economia – a ideia, aliás muito aplaudida pelos ??? (será convencionistas?), propondo que as empresas que apresentassem lucros ficassem impedidas de efectuar despedimentos. Ideia bizarra e inaplicável, claro, já que não só penaliza as empresas mais competitivas, com melhor gestão e que fizeram a tempo o seu “trabalho de casa”, como impede que estas se preparem ainda melhor para enfrentar o futuro, quer “emagrecendo”, se e quando necessário, quer substituindo trabalhadores e quadros por outros mais qualificados e adaptados às funções, mantendo padrões de competitividade elevados.

Como resultado, se o remédio fosse aplicado a sociedade e a economia portuguesas não morreriam da doença (o desemprego e a falta de competitividade das empresas) mas certamente de tal “cura”. E se decidissem deixar-se de fantasias?

sábado, fevereiro 07, 2009

Soviet ads (1)

Ricardo Quaresma não tem nada a provar?

O jogador profissional de futebol Ricardo Quaresma começou mal o seu compromisso com o Chelsea F. C., ao declarar na conferência de imprensa da sua apresentação que nada tem a provar. Têm-no, e sabe-o bem. Tem de demonstrar que, ao contrário do que aconteceu no Barcelona, no Inter e na selecção portuguesa, é capaz de jogar consistentemente ao nível mais elevado.

Aliás, fico sempre pasmado quando oiço profissionais de uma qualquer área, mesmo quando têm um passado de sucesso, afirmarem alto e bom som que nada têm a provar. Não é verdade: todos temos de provar diariamente que estamos à altura dos desafios que se nos colocam, e só as nossas prestações, nesse mesmo dia-a-dia, poderão demonstrá-lo.

"Expresso": uma notícia lamentável como resposta a uma (não) argumentação lamentável

O que acho, por vezes, espantoso é o modo como os jornais, mesmo os “de referência” - se é que a categoria ainda existe - tomam os leitores por parvos (e muitos deles bem o merecem). Veja-se esta notícia do “Expresso”:

“Dois ex-funcionários das empresas de Manuel Pedro e Charles Smith garantiram ao Expresso que grande parte da documentação dos escritórios sob suspeita no caso Freeport foi eliminada um dia antes das buscas da PJ de Setúbal, a 9 de Fevereiro de 2005.”

1ª pergunta: Qual a credibilidade desta fonte? Quais as funções que os referidos funcionários desempenhavam? Porque saíram da empresa e em que condições? Qual o seu relacionamento com os seus empregadores, agora "ex"? Porque só agora se manifestam?

2ª pergunta: Foi eliminada grande parte da documentação dos escritórios sob suspeita. Sabendo que isso - eliminação de material de arquivo obsoleto - é algo comum acontecer nas empresas, existe algum indício ou garantia de que essa documentação estava, de algum modo, relacionada com o negócio Freeport, ou tratar-se-á apenas de algo circunstancial?

Continua a notícia:

“A destruição dos documentos foi, segundo as mesmas fontes, ordenada por Manuel Pedro, o consultor português para a aprovação do projecto de outlet em Alcochete, indiciando que estaria a par da operação policial”

1ª pergunta: Manuel Pedro foi o consultor português para a aprovação do projecto Freeport, mas era também um dos sócios da empresa. Nessa qualidade não tinha total autoridade para decidir da destruição de arquivos ou outro material da empresa que poderia nada ter que ver com o caso ou com a visita da PJ?

2ª pergunta: Qualquer prova de corrupção ou ilegalidades envolvendo personalidades do Estado, tais como membros do governo ou dirigentes da autarquia, estaria devidamente guardada nos arquivos da empresa, para quem a quisesse facilmente consultar?

Acho que é suficiente, cabendo, no entanto, perguntar se face a uma eventual ausência de provas por ausência de delito não será melhor urdir desde já uma justificação que mantenha para sempre a suspeita. Se assim for, digamos que me resta dizer que a teoria da cabala terá aqui uma resposta ao seu nível: lamentável. Pura e simplesmente lamentável.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Oposição em "outsourcing"

Ao contrário do que afirma o Blasfémias, não é apenas o facto de existir a possibilidade pós-eleitoral de um governo Bloco Central que justifica a ausência de crítica do PSD no “caso” Freeport. Como também não o é o facto de podermos – eventualmente - estar perante um situação repetida ou repetível em e com outras situações e organizações partidárias. A velha história dos telhados de vidro...
Tudo isto poderá ter alguma relevância, é verdade, mas o que fundamentalmente conta é que existem determinadas formas de fazer oposição que são bem mais credíveis e/ou eficazes quando a sua execução é deixada a terceiros, aparentemente fora do campo visto como de mera luta partidária. Digamos que se trata de oposição em outsourcing...

"Sword & Sandals" (3)

"Goliath and the Sins of Babylon" de Michele Lupo (1963)

História(s) da Música Popular (116)

Long John Baldry - "Stay With Me Baby" (Ragovoy-Weiss)

Jerry Ragovoy (IV)

Pois para além de “Try (Just a Little Bit Harder)” ter tido mais sucesso na versão de Janis Joplin do que na sua, o outro problema de Lorraine Ellison chama-se “Stay With Me”, aka “Stay With Me Baby”, um sucesso bem maior na interpretação dos Walker Brothers, pelo menos na Europa já que os WB nunca foram tão bem sucedidos no seu país de origem, os USA, do que na sua versão original. Esta nunca ultrapassou o #64 na pop chart e o #11 na tabela de R&B, enquanto a versão dos WB, de 1967, chegou ao #26, mesmo assim longe dos #1 para “Make It Easy On Yourself” e “The Sun Ain’t Gonna Shine Anymore”, os maiores sucessos de Scott Engel, Gary Leeds e John Maus, um exemplo de que ninguém é profeta na sua terra.

Falta de conseguir o original de Lorraine (confesso não o ter nem estar disponível no "You Tube" e isso também acontece) fica a bem conhecida versão dos Walker Brothers e uma outra do Long John Baldry, também de 1967, mais conhecido pelo tema “Let The Heartaches Begin” mas, originalmente, um dos nomes incontornáveis do panorama dos "blues" britânicos e do "Marquee Club", onde muito de bom do pop/rock das ilhas (Rolling Stones, por exemplo) começou.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Esclarecimento de Fernanda Câncio

A propósito deste post, a jornalista Fernanda Câncio teve o cuidado de me esclarecer que é alheia e repudia qualquer exploração e aproveitamento da sua imagem e vida privada, para fins políticos, por parte dos “media”. Aqui fica a devida nota.

The best of SUN rockabilly (4)

The Miller Sisters - "Ten Cats Down" (1957)

Se fosse adepto da selecção portuguesa ficaria aterrorizado!

Confesso que se fosse grande adepto da selecção portuguesa de futebol olhar para a lista de convocados me aterrorizaria. Entre dois guarda - redes sem experiência internacional relevante (principalmente, Eduardo), uma defesa sem um lateral – esquerdo de raiz, um meio – campo “rodas baixas” e sem poder físico e de choque composto por um Deco fora de forma e a acumular jogos medíocres pelo Chelsea, um Moutinho apenas um bom jogador para consumo interno (mesmo assim, o único com alguma consistência de jogo), um Tiago a recuperar de uma lesão depois de uma época anterior penosa, dois jogadores internacionalmente medianos como Meireles e Maniche (este em fim de carreira) e um desconhecido Eliseu, e um ataque com Cristiano Ronaldo em má forma e sem um ponta – de – lança de categoria, trataria de vender a alma ao Diabo - caso ele a quisesse comprar, do que duvido.

E não está aqui – pelo menos, neste caso – implícita alguma crítica a Queiroz, já que embora se estranhe a ausência de Bosingwa e Meira, a falta de uma oportunidade a Ruben Amorim e as bizarrias Eliseu, Gonçalo Brandão, Duda e, pasme-se, Orlando Sá, não vejo muito mais para onde se pudesse ter voltado.

Talvez seja mesmo altura para a imprensa desportiva portuguesa "cair na real"...

O contra-ataque mediático de José Sócrates

“Flash”, “Lux” e “Vip” (falta a “Caras” do grupo Balsemão, claro) comandam o contra-ataque mediático de José Sócrates no “caso” Freeport. Exactamente em terreno semelhante àquele em que este foi fundamentalmente colocado: no do populismo e das emoções, dirigido para onde ele poderia fazer mais “mossa”, junto das chamadas “classes populares”. Neste contra-ataque jogam papel fundamental as mulheres de José Sócrates, a mãe e Fernanda Câncio, até aqui reservando-se um lugar discreto, principalmente esta última.

Quem ainda se permite duvidar da importância de uma boa estratégia de comunicação pode bem começar a converter-se. Chapeau!!!

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

A música em Kubrick (11)

Wolfgang Amadeus Mozart - "Idomeneo re di Creta". Marcha do 2º acto.
Das 22 óperas que Mozart escreveu, “Idomeneo re di Creta” (1781), libretto de Gianbattista Varesco e aquela que é frequentemente considerada como a sua primeira ópera de “maturidade”, ocupa exactamente o lugar nº 13 e antecede aquela que é a primeira, por ordem cronológica, das suas óperas mais conhecidas e representadas: “Die Entführung aus dem Serail” (“O Rapto do Serralho”), composta no ano seguinte. Só cinco anos depois (1786) WAM compõe aquela que é talvez a sua ópera mais conhecida e também, arrisco, mais popular: “As Bodas de Figaro”.

Kubrick utiliza a marcha do seu 2º acto em “Barry Lyndon”, e no CD da respectiva banda sonora é apenas mencionado “With kind permission of EMI records” - sendo, portanto, desconhecida a interpretação. Socorri-me, por isso, da minha gravação, também ela da EMI, com a Glyndebourne Festival Orchestra and Chorus e com Lucille Udovick no papel de Elettra, um pouco diferente da utilizada por Kubrick, esta última apenas uma versão orquestral. Aqui fica, com a nota de que, se não estou errado, é a única presença de Mozart na cinematografia de Kubrick.

A "onda" Freeport e o sentimento de "segurança"

A “onda" Freeport - tal como a “onda de incêndios”, de “criminalidade”, etc, etc - pode, indiscutivelmente, provocar danos na imagem do primeiro-ministro e do governo – e assim parece acontecer embora de forma não demasiado dramática -, mas, simultaneamente, contribui para agravar um sentimento de insegurança, entre os eleitores, que poderá gerar o efeito contrário ao pretendido, isto é, reforçar o statu quo, sinónimo de segurança, num momento em que por via da crise económica e financeira mundial, do desemprego generalizado, do medo do desconhecido, poucos gostarão de ver os problemas considerados "fulcrais" afectados por questões que arriscam a ser vistas como sendo marginais e perturbadoras do combate à crise. Ora, quer se queira quer não, esse statu quo - principalmente depois de alguns “tiros no pé” do Presidente da República - neste momento, tem um nome, José Sócrates, e só algo demasiado grave que quebre esse “pacto de segurança” tácito entre ele e os eleitores poderá alterar as perspectivas eleitorais. Algo que a oposição deverá ter em conta...

Les Belles Anglaises (XXI)










Jaguar "E" Type (1961-1974)

terça-feira, fevereiro 03, 2009

"Il Ballo"

"Il Gattopardo", de Luchino Visconti (1963)

Talvez por causa da primeira valsa das noivas, em que o pai “entrega” a filha ao noivo agora marido, um baile é sempre excelente metáfora fílmica para uma transição de poder. Não sei foi usada antes ou tornou a ser utilizada depois como tal metáfora na História do cinema, mas por certo nunca antes ou depois assumiu a mesma notoriedade, a mesma carga política, o mesmo encanto – já agora, a mesma duração. Até porque nunca mais teve Claudia Cardinale, “esta” Claudia Cardinale. Também Lampedusa e também Verdi, como o Verdi do "Trovatore" teria o “Senso”.

Devo dizer que não sou especial admirador da operática Verdiana; prefiro o seu “Requiem” e na ópera o seu contemporâneo Wagner, um dos meus génios de cabeceira e tenho tão poucos. Como também não sou de Brükner, e nunca vi e ouvi ambos, Verdi e Brückner - o Brückner de “Senso” –, tal como também Mahler, tão bem e tão a propósito como em Visconti. Mas também, devo dizer, que nunca como em Visconti vi tão bem filmada uma gloriosa decadência e aqui também me lembro de “La Caduta Degli Dei”, que também um dia transportarei comigo para o outro mundo ou, maiscerto, mundo nenhum.

Pois aqui está um pequeno excerto desse mais famoso baile, de um filme ("Il Gattopardo") que tive a rara felicidade de rever não há muitos anos reposto no Nimas, que isso de “cinema em casa” é bem mas para outras “fitas”.

Ah, a valsa! Pois é a “Valsa Brilhante” de Giuseppe Verdi, claro.

O "momento Chavez" do futebol português...

O futebol português – e José Pacheco Pereira que me desculpe por lhe pedir emprestada a expressão – teve hoje o seu “momento Chavez”. Passámos todos a saber que para o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol, constituído por mui ilustres e doutos juristas (nem poderia ser de outro modo), a “linguagem popular e do desporto” (sic) prevalece sobre a linguagem técnico-jurídica. Resta saber quem define e o que se pode assumir como “linguagem popular e do desporto”, se as “transições ofensivas” de Luís Freitas Lobo, a expressão gestual de Fernando Seara no “Dia Seguinte”, os “unhs”, “unhs” de Luís Filipe Vieira, o “Cântico Negro” declamado pelo presidente do FCP ou o léxico colorido dos expontâneos da “Liga dos Últimos”. Venha pois o respectivo código onde possa ser devidamente oficializada e condensada. E, claro está, espero que a partir deste momento a FPF substitua a palavra treinador por “mister” em toda a sua comunicação e documentos oficiais.

Se a decisão faz jurisprudência...

The Roulette Years (5)

The Edsels - "Do You Love Me" (1959)

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

"Piece of Cake" na RTP Memória

"Piece Of Cake" (1988)
A partir da próxima sexta-feira, dia 6 de Fevereiro, pelas 22h, a RTP Memória repete “Piece of Cake" (em português, “Os Heróis da Esquadrilha”), uma das melhores séries (ITV) de ficção da WWII. Narra a vida e acção de uma esquadrilha de “caça” da RAF e dos seus pilotos no início da guerra e durante a Batalha de Inglaterra. A não perder. Pode ver os dias e horários das exibições aqui.

Fica um excerto.

"Noir" (3)




"Where The Sidewalk Ends", de Otto Preminger (1950)

Ricardo Quaresma e a gestão de José Mourinho

A contratação de Ricardo Quaresma foi um acto de gestão inteiramente da responsabilidade de José Mourinho. Um acto de gestão de enorme risco só compreensível à luz de uma qualquer lógica situada à margem de uma mera análise “custo/benefício esperado”. Não o digo agora, mas a minha apreciação - de curioso interessado no fenómeno do futebol - sobre o jogador, foi por aqui, em devido tempo, várias vezes expressa. O que se passa agora com o rendimento de Quaresma não é, pois, nada que não se revelasse previsível.

Por muito que sejam os resultados desportivos o objectivo último de avaliação de um clube de futebol e daqueles que o dirigem, o trabalho de José Mourinho, mais a mais em época de crise financeira em que os recursos se tornaram ainda mais escassos, não poderá deixar de ser também julgado e avaliado por este tipo de decisões. Dele e de qualquer dos seus colegas-treinadores de outras equipas de topo. Será assim cada vez mais no futuro.

A crise e as PME

A crise financeira e económica trouxe para a ordem do dia as chamadas “pequenas e médias empresas” (PME) concedendo-lhes uma visibilidade e uma oportunidade únicas para aumentarem o seu poder reivindicativo em função do número de postos de trabalho que representam e da sua aparente fragilidade que os pode facilmente pôr em risco. No entanto, dizem-me teoria e experiência que o sector está muito longe de se poder considerar homogéneo, isto é, enquadrável numa categoria que se poderia caracterizar, a traço grosso, por empresas familiares, de gestão incipiente ou pouco rigorosa, antiquada, demasiado centralizada na figura do “patrão” e sem pessoal qualificado, com dificuldades de crédito (a montante) e de acesso aos mercados em condições de competitividade (a juzante). Mais, usando uma terminologia cara ao PCP (aliás, penso que esta definição pouco rigorosa de PME tem origem ou foi desenvolvida no PCF dos anos 60, preparando o caminho para o Programa Comum da Esquerda), sector (as tais PME) vivendo espartilhado, em termos de proveitos e capacidade de desenvolvimento, pelo “grande capital”.
Se este “quadro” poderá ajudar a caracterizar muitas delas, existe um largo número que dele está bem longe: não só possuem uma gestão moderna e eficiente, com pessoal qualificado, como desenvolveram know how avançado no seu sector de negócio e acesso e conhecimento aprofundado dos mercados em que operam. Mais ainda, operam em pequenos segmentos e nichos altamente competitivos e a sua existência e desenvolvimento não só não é espartilhado pelo “grande capital” (ou “capital monopolista”) como o seu crescimento e lucratividade depende quase exclusivamente - também ele - do sucesso das grandes empresas e dos grupos económicos.

Tendo dito isto, isto é, que existe ouro e pechisbeque e que convém saber muito bem de quem se fala quando nos referimos a PME, devo dizer que não comungo da histeria anti-Banca que parece por aí começar a grassar (e não só nas associações do sector) pelos altos juros cobrados e dificuldades de obtenção de crédito por parte das ditas PME. Em primeiro lugar – e como disse – há que saber muito bem de quem se fala e não confundir o lombo com o cachaço: estou certo essa dificuldade não será universal no sector e muito dele foi sobrevivendo apenas á custa do crédito barato e fácil, em função dele em tempo de vacas gordas adiando a reconversão ou a extinção; em segundo lugar, ter bem presente que nunca na História dos nossos dias o dinheiro foi bem tão escasso e que não compete aos bancos substituírem-se à Santa Casa da Misericórdia emprestando a quem não tem condições de eficácia para, a prazo, garantir o seu retorno ou minimizar o risco de incumprimento. Mais ainda: não me parece que o Estado – o sacrossanto Estado – possa dedicar-se, mesmo em época de crise e desemprego, a tentar salvar o que, não tendo salvação, nem sequer, ao contrário da Quimonda ou do sector automóvel - aqui citados como mero exemplo - possui assinalável valor estratégico ou emblemático.

Peço desculpa se estou a entrar no mundo do “dog eat dog”, e não é popular o que afirmo. Mas é mesmo assim: também no Titanic e em todos os mega-desastres se dá prioridade às mulheres e às crianças. Não por qualquer sentimento de compaixão ou caridade; mas porque são elas que podem assegurar a continuidade da espécie, o objectivo derradeiro da humanidade.

domingo, fevereiro 01, 2009

"Doo Wop" - a poem by John Updike (1932 2009)

Does anyone but me ever wonder
where these old doo-wop stars you see
in purple tuxedos with mauve lapels
on public-television marathons
have been between the distant time when they
recorded their hit (usually only one,
one huge one, that being the nature of doo-wop)
and now, when, bathed in limelight and applause,
the intact group re-sings it, just like then?

They have aged with dignity, these men,
usually black, their gray hairdos still conked,
their up-from-the-choir baby faces lined
with wrinkles now, their spectacles a-glimmer
upon their twinkling eyeballs as they hit
the old falsetto notes and thrum-de-hums,
like needles dropped into a groove,
the groove in which both they and we are young again,
the silent years skipped over.

Who knows
what two-bit gigs and muddled post-midnights
they bided their time in? And when at last
the agitated agent’s call came through
—the doo-wop generation old enough
and rich enough by now to woo again,
on worthy telethons this time around,
nostalgia generating pledges—why
was not a weathered man of the quartet
deceased or otherwise impaired? How have
they done it, come out whole the other side,
how did they do it, do it still, still doo

"Milk"

De Gus Van Sant recordo sempre um interessante e já longínquo “To Die For” e uns recentes e excelentes “Paranoid Park” e “Elephant”, este último a remeter para o baú das curiosidades que nada têm que ver com o cinema o “Bowling For Columbine” do cabotino Moore. Por isso, dele espero sempre um pouco mais e melhor do que este panfleto do movimento LGBT (Van Sant é homossexual), “Milk”, algo que já vimos dezenas de vezes no cinema americano, umas vezes melhor outras pior, bastando substituir os activistas e o activismo gay por uma ou outra qualquer comunidade minoritária, ou nem tanto assim, em luta pelos seus justos direitos e reivindicações. Resta-nos, como positivo, que Van Sant, sendo gay, consegue fazer um filme sobre a luta dos homossexuais sem ser um filme homossexual ou sobre a homossexualidade (o filme podia ter sido dirigido por um realizador “straight”), e também sem optar pelo caminho do exorcismo dos seus fantasmas, o que nem sempre acontece e basta ver Almodovar.

No final da sua crítica no Y da passada sexta-feira, Vasco Câmara, que tece enormes elogios ao filme, pergunta-nos se alguém ainda consegue dizer que “Milk” é um filme convencional. Depois do que aqui escrevo, a minha resposta só pode ser positiva: sim, é um banal e convencional panfleto político, embora, como quase todos os panfletos políticos, justo cheio de boas intenções. O que não chega para se tornar grande cinema, claro.

Nota: Sean Penn será com certeza um sério candidato ao Óscar para melhor actor. Está lá tudo para o catapultar...

Sebastião Rodrigues (4)

Capa para a revista "Almanaque" (Setembro -?- de 1960)