quarta-feira, dezembro 31, 2014

Filme de Ano Novo (2014/15)


Falado em português

Jorge Jesus e o "meio-campo" do SLB

Sem Enzo, com Fejsa e Amorim lesionados, o melhor meio-campo que o SLB pode, de momento, apresentar será constituído por Cristante a "6" e Samaris a "8". Cristante é uma espécie de Pirlo (salvaguardadas as devidas distâncias): um jogador de excelente técnica, boa visão de jogo e capaz tanto de sair a jogar ganhando no "um para um" como de colocar com enorme precisão a bola à distância. Com ele, o SLB ganha imensas soluções na primeira fase de construção (como se diz agora). Mas tal como Pirlo, é pouco intenso e pouco agressivo, necessitando de alguém à sua frente que compense essas suas características e seja também, simultâneamente, capaz de ser algo criativo e de aparecer junto dos avançados. Samaris, um "8" ou "10" de origem mas com intensidade e características agressivas razoáveis, parece-me ser quem, de momento, mais se aproxima de tal coisa. O problema é que Jorge Jesus não abdica de procurar aquele que melhor casa  com o seu arquétipo de "6", que podemos sintetizar bum jogador como Javi Garcia. Aliás, curioso verificar que durante a "vigência" de Javi nunca Matic, hoje por hoje talvez o melhor "6" da Europa, teve oportunidades de se afirmar. 

Podemos pois acusar Jorge Jesus - e com razão - de muita coisa, mas nunca de não ser fiel às suas ideias, mesmo quando, sem abdicar do essencial, se mete pelos olhos dentro, acho, deveria procurar adaptá-las à realidade que tem à sua frente Pois é, a realidade é uma "chatice", Jorge Jesus.

segunda-feira, dezembro 29, 2014

terça-feira, dezembro 23, 2014

segunda-feira, dezembro 22, 2014

Joe Cocker (1944 - 2014) - 2

"Darling Be Home Soon" (John Sebastian) - 1970

Joe Cocker (1944 - 2014)

"With A Little Help From My Friends" (1968)

O "deve" e o "haver" do SLB de Jorge Jesus

O que o SLB de Jorge Jesus conseguiu e o que deveria ter conseguido alcançar durante durante estas últimas seis épocas em função do investimento realizado pela SAD do clube.
  1. Dois títulos de campeão nacional (até agora) - Devia ter conquistado mais um: é imperdoável para uma equipa com a dimensão do SLB perder o campeonato em casa com o GD Estoril-Praia.
  2. Uma Taça de Portugal - Imperdoável ter perdido uma segunda final contra um VSC em crise profunda.
  3. Presença em duas finais da Liga Europa - Deveria ter estado presente em três (a eliminação nas 1/2 finais pelo SC Braga é inadmissível) e ter ganho a final com o Sevilha FC.
  4. Quatro Taças da Liga - Em linha, ou até admito tivesse ganho menos uma.
Acresce um único apuramento (em cinco possíveis) para os 1/8 de final da Champions League, mas neste caso uma melhor prestação entraria em conflito com um ou mais dos apuramentos conseguidos para a Liga Europa, pelo que há que levar isso em consideração.

Já agora: há que comparar o comparável. Apenas na época de de 2008/2009 (Quique Flores) o investimento da SAD do meu clube se pode comparar com o realizado durante qualquer das épocas do consulado de Jorge Jesus.

My favourite novelty songs (5)

David Seville - "Witch Doctor" (1958)

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Friday midnight movie (113) - Hammer House of Horror (VI)

(Emitido no Reino Unido a 18 de Outubro de 1980)
Legendas em português

O modelo "Jorge Jesus" e a sua sensibilidade ao investimento

Um dos problemas que se tem verificado na era de Jorge Jesus à frente dos destinos técnicos do futebol profissional do SLB é a demasiada sensibilidade que o modelo de jogo da equipa apresenta às variações de investimento. Claro que num campeonato de longa duração o orçamento acaba sempre, em circunstâncias normais, por ter uma importância decisiva - tenho-o dito - e a classificação final reflectirá isso mesmo na maioria das épocas, mas o que tem acontecido durante estes seis anos é que os resultados desportivos têm tido alguma dificuldade em acompanhar, proporcionalmente e num sentido positivo, o esforço de investimento realizado, ao passo que qualquer pequena variação do investimento no sentido negativo se reflecte mais do que proporcionalmente nesses mesmos resultados desportivos. Digamos que se fosse possível construir um modelo matemático adequado (não se riam), para cada 1% a mais de investimento os resultados desportivos tenderiam a melhorar (por exemplo) apenas 0.2% , enquanto cairiam (outro exemplo) 1.5 ou 2% por cada quebra de 1% nesse mesmo investimento. De modo muitíssimo grosseiro, é isto, o que traduz-se em campo, por exemplo, nas demasiadas dificuldades sentidas pela equipa quando, nos jogos mais importantes, se vê amputada de dois ou três jogadores fundamentais ou nas dificuldades em manter nível competitivo aproximado de época para época ou até mesmo durante uma única época.

Quais as razões para esta situação? Fundamentalmente, o modelo de jogo assentar demasiado nos desequilíbrios obtidos no "um para um", nas alas, obrigando os pobres laterais a funcionarem ao estilo da anedota do "macaco e da girafa", e no facto de depender demasiado de certos lugares considerados "chave" (o nº "6", por exemplo, a capacidade dos guarda-redes para jogarem "subidos" ou do companheiro de Luisão para iniciar as transições). São lugares de grande exigência para os quais o plantel de um clube com as limitações financeiras do SLB muito dificilmente poderá proporcionar soluções em quantidade e com a qualidade exigida pelo modelo de jogo.

André Almeida e o jogo de ontem

André Almeida é aquilo que no tempo em que comecei a ver futebol "à séria" se chamava um jogador-operário. Não é um portento de técnica mas a bola também não atrapalha demasiado, é polivalente nas acções defensivas, raçudo, compreende razoavelmente o jogo, enfim, não deslumbra mas lá vai fazendo o seu papel de um suplente que pode sempre entrar na equipa sem os adeptos arriscarem um AVC de cada vez que toca na bola. Mas atenção, o que não pode é, num modelo que, nas acções atacantes, depende demasiado da profundidade nas alas, jogar a defesa-esquerdo num jogo em que se prevê o SLB venha a ter uma percentagem elevada de posse de bola e precise essencialmente de atacar. Como Gaitán - e muito bem - tem tendência para efectuar diagonais e Almeida é destro e pouco rápido a recuperar dos seus pouco eficazes, em função das deficiências do seu pé esquerdo, adiantamentos, o flanco perde profundidade e a equipa fica coxa. Ontem, sem Talisca a descair para o flanco esquerdo compensando as diagonais de Gaitán, esse mesmo flanco esquerdo só funcionou a espaços, quando Ola John por lá passou. Já na final da Taça perdida para o VSC tinha sido o mesmo e motivou mesmo problemas entre Jorge Jesus e Melgarejo (via Oscar Cardozo). Benito, que é canhoto, não é fantástico? Talvez não (gostaria de saber o que se diria se tivesse sido ele o autor do "chuto na atmosfera" que dá origem ao primeiro golo do SC Braga!), mas não será assim tão medíocre para, neste jogos (nas Antas a conversa é outra), não poder ser uma alternativa mais eficaz do que André Almeida.

Nota: tenho lido que os problemas do SLB ontem terão sido a falta de eficácia e a exibição do guarda-redes contrário. Permito-me discordar, embora tal tenha tido o seu peso: quem, em casa, sofre dois golos do SC Braga, uma equipa do primeiro quarto do futebol português, arrisca-se sempre a perder o jogo. Foi o que aconteceu.

quinta-feira, dezembro 18, 2014

Desabafo, ou Jorge Jesus nos limites da sua (in)competência

Confesso: estou farto de ser eliminado pelo Braga nas meias-finais da Liga Europa e em casa na Taça de Portugal pelo mesmo clube, de perder o campeonato em casa contra o Estoril, de perder finais da Taça de Portugal com o Vitória de Guimarães, da Liga Europa contra o Sevilha, dos sucessivos falhanços na Champions League e só não percebo, perante o investimento feito pelo clube nos últimos anos, porquê tanta condescendência para com os resultados, apenas um pouco melhor do que sofríveis face a esse mesmo investimento, apresentados pelo treinador Jorge Jesus, como se não existisse mais ninguém com capacidade para treinar a equipa de futebol profissional do clube por quatro milhões de euros por ano. Hoje foram dois erros individuais infantis e a falta de dois ou três jogadores-chave? Pois foram, e das outras vezes? 

TAP: governo e sindicatos: dois níveis de responsabilidade

Há uma diferença entre a intransigência dos sindicatos da TAP, que dificilmente contribuirá para alcançarem os objectivos que pretendem, e o radicalismo ideológico deste governo, que insiste numa privatização à "trouxe-mouxe" que tende a transformar um processo que teria tudo para ser relativamente pacífico num género de conflito "classe contra classe": quem tem de pedir satisfações aos seus sindicatos sobre o modo como têm actuado e a conformidade dessa actuação com os objectivos propostos são os trabalhadores neles filiados e, em última análise, todos os colaboradores da TAP. Quem tem e deve pedir explicações ao governo eleito da República sobre o modo como tem conduzido um processo que descambou numa despropositada luta de galos são todos os portugueses. Estamos perante responsabilidades qualitativa e quantitativamente diferentes - um governo responsável perante os cidadãos e sindicatos responsáveis perante os seus filiados - e baralhar as questões, colocando-as no mesmo nível ou responsabilizando preferencialmente os sindicatos, apenas serve para branquear a incompetência governamental na condução do processo.

Note-se: não estou com isto a aligeirar as responsabilidades sindicais em todo este processo (que as têm), mas o nível de responsabilidades que os cidadãos devem exigir a cada uma das partes envolvidas terá que ser sempre, pela natureza diversa de ambas, muito diferente. O que me parece é que, por razões diferentes e até opostas, a "requisição civil" acabará por ser a solução pretendida por ambas as partes, o que irá lançar a companhia no caos e levar o governo a meter-se num "molho de brócolos" do qual também não sairá ileso.  

My favourite novelty songs (4)

Sam The Sham and The Pharaohs - "Wooly Bully" (1965)

quarta-feira, dezembro 17, 2014

4ªs feiras, 18.15h (103) - "Sword & Sandals" (X)

"Hercules" (aka "Le Fatiche di Ercole"), de  Pietro Francisci (1958)
Filme completo c/ legendas em português

Um artigo ignorante do "Expresso" sobre a Igreja Anglicana

Talvez alguém no "Expresso" devesse explicar à ignorante autora deste artigo que a fundação da Igreja Anglicana não se deveu a nenhum "capricho" de Henrique VIII, nem a um qualquer seu devaneio "amoroso" (desde quando os Reis do século XV/XVI casavam por amor?), mas constituiu, isso sim, uma arma política importante na luta de Inglaterra e do seu Rei contra as potências continentais dominantes, católicas e aliadas do Papado, França e Espanha. É por esse motivo que Clemente VII, e embora a Igreja Romana nunca tenha mostrado demasiados pruridos em anular matrimónios quando tal lhe convém, nunca autorizou o divórcio de Catarina de Aragão. Também é sintomático que Maria ("Bloody Mary"), única filha de Catarina e Henrique e que antecedeu Isabel I no trono, tenha tentado restaurar, à custa de perseguições religiosas que lhe valeram o "cognome, a obediência a Roma durante o seu curto reinado (5 anos). É pois a política, e não o amor!

My favourite novelty songs (3)

The Detergents - "Leader Of The Laundromat" (1964)

terça-feira, dezembro 16, 2014

O deputado Amorim, Pinto da Costa e José Sócrates

Para além do já habitual e tristíssimo cabotinismo do deputado Abreu Amorim, algo que já não espanta mas o torna indigno do lugar que ocupa como representante dos portugueses, há duas coisas que me preocupam nesta sua histérica intervenção, embora perceba terá tido um fim de semana indigesto:
  1. Finalmente, alguém próximo da direcção do clube  e com elevadas responsabilidades políticas assume que a presidência de Pinto da Costa no FCP tem sido, na sua essência, um lugar de intervenção política; uma espécie de papado, eleito por conclave azul e branco, tendo como súbditos uma corte de políticos (ministros, deputados, autarcas, etc), juízes e magistrados que lhe prestam vassalagem.
  2. Chegar à conclusão - e isto nada tem que ver com a presunção de inocência de José Sócrates, que se mantém inalterada - que tive um primeiro-ministro que, pelos vistos, se tornou amigo de semelhante pessoa, gente pouco ou nada recomendável. Teria sido bem melhor, para a saúde democrática, tal nunca tivesse acontecido.

My favourite novelty songs (2)

Napoleon XIV - "They're Coming To Take Me Away, Ha, Haaa!" (1966)

A TAP: do abstracto ao concreto

Sou, desde há muitos anos, defensor em abstracto da privatização da TAP, não me parecendo existam, nas condições em que se tem vindo a transformar o transporte aéreo, razões de fundo para manter a TAP nas mãos do Estado. Isto, independentemente da possibilidade ou impossibilidade legal do Estado poder injectar dinheiros públicos na companhia ou de tal privatização fazer ou não parte do "Memorando de Entendimento", terreno por onde tem grassado a maior demagogia.

Mas tendo dito isto, e passando agora ao concreto, que é o que mais interessa, tenho as maiores reservas para com "esta" privatização, não só pelo péssimo registo de privatizações apresentado por este governo (na verdade, e maioritariamente, vendas ao Estado Chinês e à cleptocracia angolana de sectores estratégicos da economia nacional), como pelo perfil dos compradores que até ao momento se perfilam para a transportadora. 

Face a este meu dilema, não vou, portanto, cerrar fileiras com os "falcões" do governo contra os sindicatos da TAP, que defendem, como aliás é legítimo e lhes compete, os seus postos e condições de trabalho. Mas também não irei "rasgar as vestes" pelos que juram e tresjuram pelo papel indispensável da TAP nas salvação da pátria ou da "portugalidade", seja lá o que isso for. Mas lá que olho com enorme desconfiança e criticismo para o que se está a passar, tal é coisa que não posso deixar de afirmar. Além do mais, parece-me o governo e os seus "falcões" mediáticos estarem a tentar transformar este assunto num braço de ferro ideológico, o que nada favorece uma decisão sensata e afasta aqueles, como é o meu caso, para quem a privatização da TAP nunca seria um campo de batalha. Mas claro que vendo aqui, na luta anti-sindical em que transformou o negócio da TAP, uma boa hipótese de vitória, o governo nunca hesitaria em travar esta batalha, mesmo que com o habitual recurso à demagogia mais rasteira do tipo "os emigrantes coitadinhos que não podem vir passar o Natal com os seus". Esqueceu-se o governo de quem os mandou emigrar. 

segunda-feira, dezembro 15, 2014

My favourite novelty songs (1)

The Royal Guardsmen - "Snoopy Vs. The Red Baron" (1966)

FCP - SLB: dois erros "não forçados", eis a diferença

Confesso que ontem, após o final do jogo do meu clube e apesar da infinita alegria que o resultado me causou e quase me fez esquecer uma sempre inoportuna gripe (que continua), a minha primeira reacção foi "não jogámos nada e ganhámos com alguma sorte mas sem grandes aflições". Hoje, tendo dormido (mal, graças à febre) sobre o assunto e lido o que dizem os jornais, que fazem grandes elogios à "táctica" de Jorge Jesus, pouco mais acrescento ao que pensei ontem, excepto que vi uma equipa com as virtudes e defeitos habituais dos jogos "fora" da Champions League (haverá aí, pelo menos, alguma coerência), talvez defendendo num pouco melhor, e que, sem ter criado uma única oportunidade de golo, aproveitou da melhor maneira (essa a sua principal virtude) dois "erros não forçados" do adversário. Mas como alguém me dizia a seguir ao jogo, fartos estamos nós de chegar às Antas e perder jogando bem. Sem dúvida.

Nota: foi a equipa de Jorge Sousa a melhor em campo, o que também demonstra que "a tradição já não é o que era."

sexta-feira, dezembro 12, 2014

Friday midnight movie (112) - Hammer House of Horror (V)

(Emitido no Reino Unido a 4 de Outubro de 1980)
Legendas em português

*"Novelty songs" à portuguesa (7)

Hermínia Silva - "Vou Dar de Beber à Alegria" (1968)

Porque sobe o PS nas sondagens?

Porque é que o PS sobe nas intenções de voto apesar do "caso Sócrates"? Bom, o que até agora a sondagem nos diz não é conclusivo, mas os índices de popularidade alcançados por António Costa e as respostas positivas ao modo como este geriu a crise provocada pela prisão do ex-primeiro-ministro parecem indicar que tal subida está bastante ligada à imagem que António Costa soube construir para si mesmo, juntamente com a extrema "fulanização" em que caiu a política em Portugal. De facto, Costa tem sabido construir para si uma imagem que está nos antípodas dos "políticos de plástico" que associamos a Durão Barroso,  José Sócrates, Passos Coelho e António José Seguro (ou Blair, ou Sarkozy), usando para tal, com a propósito, o seu lugar de presidente da CML e o facto de ter nascido numa família na qual a política e a cultura andavam e mãos dadas; conseguiu construir para si uma imagem de cidadão comum, mas, correspondendo isso ou não à realidade, projectando simultâneamente uma densidade política e cultural  que é raro encontrar nos líderes políticos da actualidade. De alguém que está na política mas "não é como os outros".  

Será essa imagem suficiente para ganhar eleições? Depois de parecer ter superado a "prova Sócrates", tudo leva a crer que sim, mas o verdadeiro desafio - esse - começará no dia em que entrar em São Bento ou na Gomes Teixeira, quando for obrigado a demonstrar em situação muito difícil a sua capacidade política para governar.

quinta-feira, dezembro 11, 2014

*"Novelty songs" à portuguesa (6)

Max - "31"

Ainda Mário Soares e um artigo de Carlos Gaspar

Vale a pena ler este artigo de Carlos Gaspar no "Público". Permito-me apenas acrescentar dois pontos:
  1. Foi o facto da luta política contra as tentativas hegemónicas do Partido Comunista ter sido dirigida por Mário Soares que permitiu ao PS crescer e tornar-se um partido-charneira da democracia portuguesa, apesar de todas as contradições que tal trouxe para o partido e ainda hoje estão reflectidas na sua composição e comportamento. A nova e velha direita (talvez até mais aquela do que esta) não perdoam tal coisa.
  2. Foi também o facto da transição democrática ter tido Mário Soares e o PS como principais protagonistas que permitiu ao regime evoluir para uma democracia liberal, centrada nos partidos políticos (incluindo o PCP, de pleno direito) e no parlamento, e não para um qualquer bonapartismo messiânico, centrado em Spínola e mais ou menos autoritário, como aliás foi proposta de Sá Carneiro e do então PPD naquilo que ficou conhecido como "tentativa de golpe da Manutenção Militar", ou de Palma Carlos. Um triste episódio que ambas as direitas, a velha e a nova, têm tentado convenientemente esquecer e que acabou por nos legar o "gonçalvismo".

quarta-feira, dezembro 10, 2014

4ªs feiras, 18.15h (102) - Woody Allen (I)

Filme completo c/ legendas em castelhano

O triste espectáculo de Salgado e Ricciardi

Devo talvez pertencer a uma minoria de portugueses que não gostou mesmo nada de assistir ontem ao triste espectáculo de ver dois banqueiros insultando-se e lavando roupa suja em público, embora em momentos separados, na Assembleia da República. Sou dos que pensam o comportamento dos banqueiros, a quem damos a guardar e a gerir o nosso dinheiro, tal como o dos juízes e médicos aos quais confiamos o julgamento que nos pode privar da liberdade e a nossa saúde e bem-estar, se deve pautar por valores de sobriedade e discrição - já para não falar de honestidade - o que nunca será impeditivo do apuramento da verdade quando irregularidades possam ter sido cometidas. Aliás, o "mood & tone" dos depoimentos de ontem de Salgado e Ricciardi acabou por se tornar em argumento de peso para aqueles que, na esquerda radical, são de opinião "serem os bancos demasiado importantes para estarem nas mãos dos banqueiros". Se calhar, nunca nenhum deles terá pensado nisso, o que só vem agravar a situação. 

terça-feira, dezembro 09, 2014

*"Novelty songs" à portuguesa (5)

Maria Clara - "Ó Zé Aperta o Laço" (1954?)

Empréstimos, partilha de direitos económicos e a tal "verdade desportiva"

Sempre manifestei neste "blog" a minha discordância para com o empréstimo de jogadores entre clubes que disputam a mesma competição. Reafirmo o que disse: falseiam a verdade desportiva, dão azo a suspeições e, no limite, até pode acontecer um clube consiga formar uma equipa competitiva sem gastar um cêntimo, criando, ou agravando, uma situação de desigualdade extrema. Cria, inclusivamente, um cenário potenciador de situações de dependência e chantagem intoleráveis, transformando alguns clubes em verdadeiras equipa "B" ou satélites. Aliás, num cenário em que é possível colocar jogadores a "rodar" utilizando para tal clubes europeus, disputando campeonatos mais competitivos, esta situação de empréstimos a outras equipas concorrentes só se compreende inteiramente se considerarmos o potencial de distorção da livre concorrência, em favor dos clubes "grandes", que ela consubstancia e ao qual os clubes mais pequenos, que no fundo competem "num outro campeonato" (o da "descida") aderem com entusiasmo. Do mesmo modo, sou de opinião, e por motivos idênticos, igual proibição se deveria estender a clubes que partilham os direitos económicos de um ou mais jogadores cedidos a um deles. Ponto final.

Tendo dito isto, devo acrescentar duas coisas:
  1. Proibir os jogadores emprestados de actuarem contra as equipas "emprestadoras" apenas se limita a criar mais uma situação de desigualdade, o que agrava o problema e nada resolve.
  2. Proibir legalmente qualquer limitação à utilização de jogadores emprestados não tem qualquer efeito prático, pois, "no fim do dia", tudo depende de decisões da equipa técnica e dirigente dos clubes destinatários, o que não pode ser controlado nem contestado.
  3. Por fim, um problema adicional: um jogador actuando pelo clube "A" pode até não ter qualquer ligação contratual aos clubes "B", "C" ou "D", nem sequer partilha de direitos económicos expressa contratualmente, mas existir um qualquer acordo (dito, "de cavalheiros"), extra contratual, que estabeleça parâmetros para a sua utilização, o que também se torna impossível de controlar pela LPFP ou qualquer outra entidade reguladora.
Que fazer, então? Bom, penso que a proibição de empréstimos ou de partilha de direitos económicos entre clubes cujas equipas disputem as mesmas competições daria pelos menos um sinal de moralização e seria um bom começo. Mas sendo realista, tal iria também traduzir-se numa proliferação dos tais "acordos de cavalheiros", o que significa que a situação, por muito que se barafuste nos "Trios de Ataque" e quejandos, é, basicamente, irresolúvel.

sexta-feira, dezembro 05, 2014

Friday midnight movie (111) - Hammer House of Horror (IV)

 (Emitido no Reino Unido a 11 de Outubro de 1980)
Legendas em português

*"Novelty songs" à portuguesa (4)

Lina Maria - "O Gato da Madame"

José Sócrates e as "Cartas da Prisão"

Tenho as maiores dúvidas sobre qualquer eficácia da estratégia "Cartas da Prisão" adoptada por José Sócrates. E por duas razões fundamentais:
  1. Obrigado ao segredo de justiça, não pode José Sócrates pronunciar-se sobre o processo nem contestar os indícios que levaram à sua detenção, tendo de limitar-se a afirmações genéricas sobre a política e de crítica ao sistema de justiça. Ora sendo, neste momento, parte interessada, quaisquer suas afirmações serão sempre analisadas e julgadas sob essa perspectiva, sendo que afirmações e análises de juristas, comentadores e jornalistas sobre essa matéria serão sempre vistas como bastante mais distanciadas e independentes - logo, mais eficazes.
  2. José Sócrates foi primeiro-ministro durante mais de cinco anos, quatro deles governando com maioria absoluta. Poderá sempre perguntar-se o que fizeram os seus governos durante esse tempo para alterar, no sentido correcto, o funcionamento da justiça nas áreas (e refiro-me apenas a estas) agora - e bem - postas em causa. E não me parece seja fácil uma resposta convincente da parte do antigo primeiro-ministro. 
Podemos considerar que, encontrando-se em prisão preventiva, poucas ou nenhumas alternativas restam a José Sócrates, excepto o remeter-se ao silêncio. Verdade, mas não só o silêncio é por vezes muito eficaz, como a sua ausência pode assumir conteúdos diversos daqueles que têm sido expressos nas cartas enviadas de Évora. Provavelmente não estamos perante uma questão de forma, mas apenas de conteúdo.

quinta-feira, dezembro 04, 2014

O SLB e a formação

Será desnecessário repetir - já o tenho dito - que nenhum clube consegue ganhar títulos e dominar competições, mesmo que internas mas de forma sustentada, fundamentalmente com recurso a jogadores oriundos da formação. Mas tendo dito isto, devo dizer que me parece perfeitamente razoável, depois dos muitos milhões investidos no Seixal em infraestruturas e recursos humanos, aspirar, num futuro próximo, a ter num plantel de 25/26 jogadores quatro a cinco oriundos da formação. O problema é que até agora, com a possível excepção de André Gomes, não me parece ter sido possível ao centro de estágio do meu clube produzir um único jogador capaz de o fazer, seja ele português ou oriundo de Taipé ou do Burkina Faso.  Pior ainda: olhando de vez em quando para alguns jogos da equipa B, também não vislumbro por lá alguém capaz de o fazer. Isto, claro está, se as exigências não forem muito diferentes das dos últimos anos e espero elas sejam ainda um pouco maiores.

Quanto a Jorge Jesus ser o treinador indicado para este projecto, não vou entrar nessa discussão: já aqui o afirmei que, independentemente dos resultados que venham a ser conseguidos internamente durante esta época, Jesus já mostrou as qualidades e defeitos suficientes para, ao fim de seis épocas, se poder concluir da sua incapacidade para potenciar essas qualidades e limar suficientemente os defeitos, projectando a equipa para um outro patamar, o que obrigaria a uma natural evolução do modelo de jogo adoptado pela equipa objectivo que se tem revelado impossível com o actual treinador.

*"Novelty songs" à portuguesa (3)

Max - "A Mula da Cooperativa" (final dos anos 50?)

terça-feira, dezembro 02, 2014

O PS e os votos do "centro"

Para ganhar folgadamente as eleições e conseguir aproximar-se ou conquistar a maioria absoluta o PS terá de conquistar votos ao centro? "Pescar" naquele milhão de votos que ora vota PS ora PSD? Sem dúvida que sim e estou certo António Costa (pelo menos ele) reconhece tal coisa. Só que num país radicalizado, contra e favor de um  governo também ele radical e que pouco ou nada se confunde com os valores do PSD tradicional, também face às políticas implementadas nestes últimos anos e perante a provável surgimento de partidos populistas, "fora do sistema", para conquistar votos ao centro o PS terá de ter um discurso diferente do habitual, menos centrista, e mostrar que pode oferecer uma real alternativa, pelo menos em alguns aspectos e numa ideia geral de governação, à continuidade oferecida pela coligação PSD/CDS. Caso contrário, esse "centrão" optará pela abstenção, pelo populismo ou pelo voto de protesto, afastando os socialistas de qualquer veleidade de maioria absoluta e enfraquecendo a sua posição negocial. No fundo, é isto que pretende o "Observador", representante do sector mais extremista e vanguardista da coligação no poder.

*"Novelty songs" à portuguesa (2)

Maria José Valério - "Menina dos Telefones" (1961)

domingo, novembro 30, 2014

Matiné de Domingo (87)

"Private Buckaroo", de Edward F. Cline (1942)
Filme completo c/ legendas em francês

A propósito de Duarte Lima e de um Acordão


Não tenho qualquer convicção sobre a culpabilidade ou inocência de Duarte Lima - como, aliás, não a tenho sobre José Sócrates. Duarte Lima foi julgado por um tribunal competente de primeira instância e foi-lhe aplicada uma pena de dez anos de prisão da qual vai recorrer para os tribunais superiores, como é seu direito. Aguardemos e ponto final para já. Sobre o já costumeiro "arraial" organizado pelos "media" à volta do caso, principalmente quando da sua detenção, quase tudo ficou dito em devido tempo.

Mas o que não posso deixar de veementemente sublinhar e reprovar é o excerto do Acordão que acima transcrevo, significando que o tribunal, na sua decisão, se deixou influenciar de modo excessivo pelo ambiente geral condenatório dos "ricos e poderosos", dos políticos e, porque não acrescentá-lo, dos indiciados por aqueles crime que a sociedade considera mais infamantes (pedofilia, por exemplo). Claro que nas penas previstas no Direito Penal estão em grande medida vertidos os valores e sentimentos vigente numa sociedade - como não poderia deixar de ser - mas isso acontece de modo estrutural, para um período longo, e não em termos puramente conjunturais que mudam no curto-prazo e ao sabor da corrente.

Estamos, pois, a enveredar por caminhos muito perigosos, contra os quais sempre me bati e continuarei a fazê-lo. 

sábado, novembro 29, 2014

Francisco Assis e o PS

Há uma coisa que Francisco Assis ainda não percebeu, ou não lhe interessa perceber: para estar em situação de efectuar compromissos sobre matéria concreta com os partidos situados à sua direita, mantendo alguma capacidade de negociação e autonomia e sem correr o risco de ser por ela "engolido", o PS precisa absolutamente de um grande resultado eleitoral, com ou perto da maioria absoluta, o que até poderia contribuir para a queda da actual direcção do PSD, facilitando esses compromissos. Para tal, não pode nem deve anunciar desde já qualquer vontade explicita de fazer as chamadas "alianças à direita", o que apenas contribuiria para enfraquecer a sua atractividade eleitoral. A ser obrigado, quer por resultado eleitoral insuficiente, quer por necessidade de maior abrangência social e política, a negociar esses acordos (o que me parece muito provável), tal deve ser apenas apresentado a posteriori e não como vontade do partido mas como necessidade ditada pelas circunstâncias. No fundo, o que Assis está a fazer com este tipo de actuação é agir dentro do seu partido como um verdadeiro "infiltrado" do PSD actual. 

sexta-feira, novembro 28, 2014

Friday midnight movie (110) - Hammer House of Horror (III)

 (Emitido no Reino Unido a 27 de Setembro de 1980)
Legendas em português

PS: uma estratégia dual?

Nada que me pareça propositado - o que não significa não o seja -, mas parece depreender-se das reacções do PS ao "caso Sócrates" uma espécie de estratégia "dual": de um lado, o PS "oficial", tentando "separar a política da justiça" e isolar a detenção de José Sócrates no restrito círculo de "um caso de Justiça", mantendo a respeitabilidade política; por outro, algumas figuras que não ocupam cargos dirigentes no partido, pelo menos nas primeiras linhas, mas com indiscutível importância política e impacto mediático, como é o caso de Mário Soares (mas não só), que jogam tudo na sua politização e na tese da "cabala", com isto tentando responder à letra aos sectores mais extremistas e radicais do PSD, bem visíveis nas redes sociais, e gerar um ambiente de vitimização em torno do ex-primeiro-ministro e do PS que pode, indiscutivelmente, vir a render frutos políticos e eleitorais.

Uma vez mais: parece-me bem menos uma estratégia pensada e estruturada mas algo bem mais fruto da casualidade e das circunstâncias. Mas não só em política "o que parece, é" como também, a ter sido definida de forma pensada, e embora possa geral perplexidade e sentimentos contraditórios em muitos cidadãos, pode não vir a revelar-se muito má ideia. Veremos, já que à velocidade a que os acontecimentos políticos estão a ocorrer, "prognósticos só mesmo no fim do jogo".

quarta-feira, novembro 26, 2014

Sobre o SLB

Publicado no "Gato Maltês" no  passado dia 5 de Novembro: 

"Digamos que o modelo de Jogo de Jorge Jesus, demasiado dependente do valor e características das individualidades e inadequado para os grandes jogos, está esgotado nas suas potencialidades, significando isto que independentemente dos resultados que a equipa venha a conseguir a SAD do meu clube deverá ponderar seriamente a substituição do treinador no final da presente época". 

Nada mais acrescento.


4ªs feiras, 18.15h (100) - "Nouvelle Vague" (V)

"Paris Nous Appartient", de Jacques Rivette (1960)
Filme completo c/ legendas em castelhano

Soares e Sócrates

Mário Soares foi um dos três políticos mais importantes do século XX português (os outros terão sido Afonso Costa e Salazar). Foi fundador da democracia portuguesa e quem mais consequentemente se bateu por ela antes e depois do 25 de Abril. Personalidade determinante na adesão de Portugal à CEE e da consolidação democrática civilista dos anos 80. Um género de "pai da pátria", sem qualquer sentido pejorativo ou ressonância ditatorial mas antes como justa homenagem. 

É um gesto de amizade e coragem que enalteço e um sinal de indesmentível significado político ter-se dado ao incómodo, nos seus 90 anos, de se deslocar já hoje ao Estabelecimento Prisional de Évora para visitar José Sócrates. Mas se o seu estatuto e principalmente o seu merecido prestígio lhe conferem uma indesmentível relevância política e pessoal, também seria desejável exigir-se-lhe alguma prudência e contenção, a prudência e contenção que deve ser exigida a quem, por uma maioria de boas razões e direi mesmo que justamente, se alcandorou a um estatuto quase majestático. Seria isso que eu também esperaria de alguém a quem, apesar de nos últimos anos ter estado quase sempre em desacordo consigo, não posso deixar de manifestar a minha admiração e prestar a minha homenagem. Mesmo que reconheça em Mário Soares uma personalidade "bigger than life" à qual é difícil exigir tal contenção.

terça-feira, novembro 25, 2014

Roy Orbison SUN recordings (10)

"It's Too Late" (1956)

A caminho de um Estado policial?


Leio e não acredito. Espero bem não seja verdade. Não sou jurista e isto nada tem a ver com a pessoa de José Sócrates, mas então um juiz e um tribunal, supostamente independentes e livres nas suas decisões, subordinados apenas ao primado da lei, mantêm alguém detido apenas a pedido da acusação, do Ministério Público? Repito: espero bem não seja verdade, pois, caso contrário, parece-me ser o Estado de Direito Democrático a estar a ser perigosamente subvertido. Mas infelizmente, as minhas suspeitas de conluio entre o Ministério Público e o TCIC não são de agora. Estamos a caminho de um Estado policial?

segunda-feira, novembro 24, 2014

O caso José Sócrates e a minha posição pessoal (a quem tal interesse)

Não votei no PS de José Sócrates em 2005. Fi-lo, depois, em 2009 e 2011, pese embora discordar de algumas das suas políticas, nomeadamente as grandes obras públicas (apenas defendi o comboio de alta-velocidade Lisboa-Madrid), a capitulação perante as manifestações contra Correia de Campos e Maria de Lurdes Rodrigues e a imprudência com que enfrentou o início da crise, o que incluiu o tal aumento excessivo dos salários dos funcionários públicos. São apenas alguns exemplos. Mas, em contrapartida, sempre considerei positivo um número suficiente das suas políticas (reformas na saúde e na educação - algumas apenas tentadas - investimento nas novas tecnologias e nas energias renováveis, agenda de costumes, "Novas Oportunidades", tentativa de diversificação das exportações, etc, etc) para, perante as alternativas disponíveis e o meu posicionamento ideológico de partida, merecer o meu voto. Continuo a considerar que, apesar do pedido de resgate e de alguns falhanços, o balanço dos seus governos é, apesar de tudo, positivo.

Não conheço pessoalmente José Sócrates, mas, apesar de admirar alguns aspectos da sua personalidade política (coragem política, resiliência, convicção) devo dizer não nutro especial empatia pelo cidadão, embora também não seja daquelas personalidades com as quais especialmente antipatizo (neste último grupo, Cavaco Silva leva a palma). Posso dizer, sem o conhecer pessoalmente, que José Sócrates é uma daquelas pessoas cuja personalidade me é indiferente, mas de quem dificilmente seria amigo ou convidaria para minha casa. Ponto.

Não teço quaisquer comentários sobre a sua culpabilidade no actual processo, limitando-me a comentar um ou outro ponto sobre o qual é possível assegurar alguma credibilidade (são muito poucos, no entanto). Mas uma coisa devo dizer: existem valores que para mim são intocáveis, relacionados, fundamentalmente, com os Direitos, Liberdades e Garantias e todas e quaisquer pedras basilares do Estado de Direito Democrático. Por isso mesmo, sou dos que preferem ver um qualquer criminoso à solta do que preso graças ao desrespeito pelas normas processuais, pelo atropelo dos Direitos, Liberdades e Garantias ou com recurso a prova que não seja insofismável, produzida e validada por tribunal competente. E estas últimas questões superam, como disse, todas as outras e a elas subordino toda e qualquer opinião. Nesse aspecto, já me viram aqui, no "Twitter" ou no "Facebook" defender Passos Coelho ("caso" Tecnoforma), Ricardo Salgado, Duarte Lima e até os assaltantes de uma agência bancária em Campolide. Continuarei a fazê-lo sempre que necessário. Ponto final.

Felícia Cabrita paga com os meus impostos?


Ontem, ao fazer "zapping" tentando saber notícias e assistir a comentários sobre a detenção de José Sócrates, dei com a jornalista(?) Felícia Cabrita a comentar o caso na RTP Informação. Nada teria contra se tal acontecesse num dos canais privados, mas ver semelhante personagem,, arvorada à categoria de comentadora encartada num canal de serviço público confesso me deu volta ao estômago.

Acho muito bem a RTP convide comentadores de esquerda e de direita, do PCP ao CDS, do "Avante" ao "Observador", dos que odeiam e dos que "rasgam as vestes" pelo ex-primeiro-ministro, até, se tal for relevante, o simpático advogado Garcia Pereira, mas ver alguém como Felícia Cabrita, símbolo maior do jornalismo de sarjeta, a comentar o que quer que seja paga com os meus impostos, não obrigado. Mas parece que o governo, no que diz respeito à RTP, apenas se preocupa - e neste caso até acho que com alguma razão - com as transmissões da Champions League.  

domingo, novembro 23, 2014

Uma simples pergunta sobre o caso José Sócrates

Só uma pergunta: a ter alguma relação com a realidade o esquema divulgado de "circulação" de dinheiro entre a conta de José Sócrates na CGD, a conta na Suiça do seu amigo e as movimentações financeiras de Maria Adelaide Monteiro, mãe de José Sócrates, no qual, e pelo menos no modo como é descrito, devo dizer, dificilmente  vislumbro algo de irregular (o que não quer dizer tal não exista, particularmente hipótese de fraude fiscal), porque é que esta última ou um qualquer seu procurador nomeado não foram convocados para depor ou para interrogatório? Nada tenho contra a senhora e muito menos lhe desejo qualquer mal, mas, admitindo exista forte razão para tal, confesso a minha estranheza pelo facto em função da contribuição que poderia(m) dar para o apuramento da verdade.

Matiné de Domingo (86)




"Smash-Up - The Story of a Woman", de Stuart Heisler (1947)
Filme completo c/ legendas em francês

sábado, novembro 22, 2014

José Sócrates: uma detenção oportuna?

Partindo do princípio existem indícios válidos para levarem à detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates, e outra coisa não me passa pela cabeça pois a provar-se a sua inexistência tal conduziria a uma descredibilização acelerada da Justiça, pergunto-me se só agora, três anos depois do anterior primeiro-ministro cessar funções e exactamente quando António Costa assume a liderança do PS, subindo este nas sondagens, e os apoiantes do actual governo centram a sua estratégia no "regresso de José Sócrates", esses indícios são suficientemente fortes para que essa detenção se efective, ou se não estaremos aqui perante uma questão de pura e simples oportunidade.

sexta-feira, novembro 21, 2014

Friday midnight movie (109) - Hammer House of Horror (II)

 (Emitido no Reino Unido a 20 de Setembro de 1980)
Legendas em português

Subvenções vitalícias: os pontos nos ii

Podemos ter a opinião que quisermos sobre as subvenções vitalícias atribuídas a alguns antigos políticos (a lei foi revogada em 2005 e por isso só se aplica a quem abandonou a actividade antes desta data), sobre a inoportunidade de as restabelecer, mas não pudemos insurgir-nos contra o corte nas pensões já atribuídas e nos salários livremente negociados entre as partes, com quebra unilateral de um contrato, e, depois, acharmos muito bem que tal corte se aplique aos ex-políticos que adquiriram um direito ao abrigo da lei então vigente, como se existissem portugueses de primeira e de segunda. Pede-se alguma coerência, se fazem favor.

Pessoalmente, sou contra tais benefícios, em tempos atribuídos para compensar os baixos salários pagos a alguns cargos políticos e pensando com esta compensação se evitava a crítica popular a eventuais salários mais elevados, mas a partir do momento em que eles são atribuídos manda a honestidade e o respeito contratual cumprir com o acordado.

quinta-feira, novembro 20, 2014

Jimmy Ruffin (1936 - 2014)

"What Becomes Of The Broken Hearted" (1966)

O que move Francisco Assis

Devo dizer, antipatizo solenemente com Francisco Assis (o do PS, não o santo), e esta minha antipatia pouco ou nada tem a ver com razões ideológicas. Tal acontece desde aquela sua ida a Felgueiras, na qual - e não nutrindo eu qualquer simpatia por aquilo que a ex-autarca Fátima representa -  Assis mais parecia um "chefe de turma" ressabiado, tentando repor a ordem que o senhor reitor lhe tinha encomendado, do que um político lutando pelas suas ideias e ideais; alguém que viu na situação a oportunidade para os seus cinco minutos de fama e para uma espécie de vingança dos fracos que, num país de vistas curtas e ideias vagas, haveriam de o catapultar para a ribalta. Depois, a partir daí, sempre me pareceu bem mais um género de aspirante a António Vitorino de província: sempre sem uma ideia clara e com um pé no PS e outro no PSD, mas sem o à-vontade, a bagagem cultural, o cosmopolitismo e a tarimba política do "autêntico". Uma espécie de "copycat" em versão "low cost".

Tendo dito isto, reconheço Assis terá sem dúvida razão em alguns dos pontos que enuncia na sua entrevista ao "Observador", mas como não é a razão que faz mover o mundo e essa mesma razão não basta para caucionar uma atitude, as suas afirmações "nesta altura do campeonato", o "timing" escolhido, o interlocutor (Maria João Avillez) e o "media" ("Observador") seleccionados são tudo menos ingénuos e constituem uma autêntica punhalada cravada à traição na liderança de António Costa e na estratégia do partido. Uma punhalada que poderá custar alguns pontos percentuais nas próximas sondagens e talvez mesmo uns milhares de votos nas próximas legislativas. Mas, no fundo, é esse o verdadeiro objectivo de Assis: dificultar a obtenção de uma maioria clara ou até absoluta pelo PS forçando um quase inevitável governo do "Bloco Central" mas em condições bem mais desvantajosas para o seu partido. Porquê? Porque é nesse terreno, um pouco pantanoso e indistinto, sem fronteiras muito claras entre os dois partidos, que Assis encontra o seu terreno de eleição, aquele de onde sempre esperou retirar vantagens. É isso que sempre verdadeiramente o moveu.

Uma nota sobre o fim do Estoril Open

Tenho pena o Estoril Open (será sempre Estoril Open, por muitos nomes que lhe dêem) chegue ao fim. Em primeiro lugar, porque gosto de ténis, e, convenhamos, ter um torneio, mesmo que de média dimensão, aqui mesmo ao lado era sempre interessante; em segundo lugar, porque tive oportunidade de coordenar alguns patrocínios empresariais e de marcas a eventos organizados pela Lagos Sports ("Open de Portugal" em golfe e "Volta a Portugal" em bicicleta) e pouco ou quase nada tive a apontar ao profissionalismo e capacidade organizativa da empresa; por último, porque nestas "andanças" tive oportunidade de conhecer João Lagos e sempre mantive com ele e com a Lagos Sports um bom e saudável relacionamento. Mas sejamos honestos (e isto nada tem a ver com a capacidade demonstrada pela Lagos Sports e pelo seu principal rosto): o Estoril Open só foi sobrevivendo graças ao apoio do Grupo Espírito Santo (incluindo a PT no "pacote"), com ligações familiares e de amizade a João Lagos, e do Estado português (CGD e Turismo de Portugal), no seu conjunto os principais patrocinadores do torneio, sem que esses patrocínios tivessem na sua base qualquer racional custo/benefício mas apenas relações de carácter pessoal e de muito contestável interesse ou, pior ainda, "desígnio nacional". Mas, infelizmente, esta é uma situação que espelha bem alguma fragilidade da estrutura empresarial portuguesa, com pouca capacidade para sobreviver autonomamente (por um lado) e com idêntica incapacidade para, numa base puramente racional e não por outras quaisquer razões, patrocinar eventos de alguma dimensão (veja-se o caso actual da Liga Portuguesa de Futebol Profissional).

Tal como João Lagos, espero um dia o Estoril Open regresse, mas apenas se em bases bem mais saudáveis do que aquelas em que assentou no passado. Será sinal de que algumas coisas terão mudado, no bom sentido, no profissionalismo e capacidade de actuação do Estado e de muitas empresas portuguesas.  

segunda-feira, novembro 17, 2014

Miguel Macedo: os perigos e as virtualidades de uma demissão

  1. Não negando tudo o que tem sido dito sobre a situação de fragilidade política em que ficaria Miguel Macedo caso tivesse decidido manter-se no cargo de ministro da Administração Interna, com esta sua demissão, e como existem sempre duas faces na mesma moeda, Macedo está contudo a abrir um precedente grave: como não existe qualquer condenação dos aparentemente indiciados, nem sequer mesmo foi ainda deduzida acusação, de futuro, bastará ao Ministério Público, perante indícios mais ou menos suficientes ou até mesmo na ausência deles, e contando com a "prestimosa" colaboração dos "Correio da Manhã" deste mundo, efectuar algumas detenções nos orgãos do Estado, principalmente a alto nível, para levar um ou mais membros de um qualquer governo à demissão. Sabendo como as coisas funcionam e de como se efectuam condenações na praça pública e detenções com indícios tantas vezes irrelevantes, digamos que estamos a entrar por terrenos demasiado perigosos.O mesmo se passará quanto aos envolvidos no processo: seria legítimo suspenderem funções enquanto durasse a investigação, mas parece-me a demissão um exagero e, pior, uma admissão tácita de culpa. 
  2. Independentemente da opinião positiva que possamos ter sobre a atitude de Miguel Macedo (um ministro razoavelmente competente num governo desgraçadamente incompetente), quer-me parecer que Passos Coelho apenas terá acabado por ceder aos seus pedidos de demissão porque esta encerra em si algumas virtualidades. Elogiado por quase todos, suficientemente próximo de Passos Coelho mas não demasiado conotado com a ala radical do PSD actualmente no poder, dirigente experimentado do partido e dotado de bom-senso qb, Miguel Macedo poderá vir a ser trunfo e elemento de ligação importante em futuras negociações com o PS, bem como "ponte" a considerar entre tendências do partido no caso de derrota pesada do PSD/Passos nas eleições legislativas. Oportunidade demasiado importante para não ser aproveitada.

domingo, novembro 16, 2014

sexta-feira, novembro 14, 2014

Friday midnight movie (108) - Hammer House of Horror (I)

(Emitido no Reino Unido a 13 de Setembro de 1980)
Legendas em português

Nota: "Hammer House of Horror" foi uma série de TV criada pela Hammer Films, constituída por 13 episódios com cerca de 50' cada,  que passou no Channel 4 entre Outubro e Dezembro de 1980. O "Gato Maltês" espera poder vir a passar aqui no "blog" a série completa.

Zombieland (6)

The Zombies - "I Can't Make Up My Mind" (Março de 1965)

"Vistos Gold": a compra de um direito?

  1. O alegado caso de corrupção no processo de atribuição dos "vistos Gold" tem pelo menos um mérito: demonstrar que o Estado português está disposto a permitir o acesso a um direito básico (a concessão do direito de residência a estrangeiros originários de países não pertencentes à UE), que deveria ser igual para todos, independentemente da sua condição, através da sua compra (no fundo, é do que se trata). Talvez não chegue ao ponto de dizer que estão a ser postos em causa direitos liberdades e garantias (e no limite...), mas fácil é perceber que, pelo menos, o Estado português está a dar um péssimo exemplo na forma como trata a questão da imigração e da igualdade de tratamento e de oportunidades para os que procuram o nosso país.
  2. Esse exemplo estender-se-à facilmente a outras áreas e a outros procedimentos: se o Estado considera legítimo, desejável e legal a compra de um direito, porque não o poderei fazer, mesmo que com recurso a métodos ilegais, em relação a quaisquer outras actividades? No limite, podemos considerar estarmos perante um apelo mais ou menos encapotado à corrupção. 
  3. Acresce que do modo como a lei está "desenhada", a oportunidade só pode mesmo atrair dinheiro e cidadãos de proveniências mais do que duvidosas, e com intenções que facilmente se adivinham, até porque estamos perante o primeiro passo, necessário, para que esses cidadãos venham a adquirir no futuro as nacionalidades portuguesa e europeia. Deixem-se, portanto, de mentiras piedosas e hipocrisia sobre o controlo do registo dos estrangeiros que a ela pretendem ter acesso. Por alguma razão a maioria dos que aproveitaram a benesse são cidadãos chineses, angolanos e russos, países onde não existe liberdade empresarial, são dominados por oligarquias e a corrupção está instalada ao mais alto nível da governação. Mas se o Estado português vendeu algumas empresas estratégicas ao Estado chinês e os investimentos do Estado angolano em Portugal, incluindo no sector sensível da comunicação social, atingem níveis elevadíssimos, onde está a surpresa?
  4. Ah, mas temos de atrair investimento estrangeiro, e para isso há que negociar e conceder facilidades. De acordo, mas convém lembrar isso sempre foi feito - e bem - com as grandes empresas que pretendiam instalar-se em Portugal, caso a caso e em função do seu interesse para a economia portuguesa (como deve ser, portanto),concedendo benefícios fiscais e outro tipo de facilidades e garantias de vária ordem (por exemplo, para "quadros" expatriados"). Mas não me consta alguma vez tal tenha acontecido, pura e simplesmente, através da compra de um direito básico.
  5. Ah, mas existem leis semelhantes em outros Estados europeus e portugal tem de ser competitivo na captação de investimento estrangeiro. Em primeiro lugar, como digo no ponto 4., existem muitas maneiras de atrair investimento estrangeiro sem colocar em causa a igualdade de tratamento no acesso a direitos fundamentais. Em segundo lugar, é altamente questionável o interesse, actual e futuro, do investimento que tem sido captado através dos "vistos Gold", bem como do "caldo de cultura" negativo que pode e já está a gerar na sociedade e no relacionamento entre os cidadãos e a política (e isso também conta, e muito). Por último, a facto de tal medida poder ser comum a muitos países da UE só demonstra, infelizmente, o estado de "abandalhamento" em que se estão a deixar cair muitas das democracias liberais, o que não augura nada de especialmente positivo para todos os que nelas se reconhecem. E se tentássemos copiar, das democracias liberais mais desenvolvidas, fundamentalmente os bons exemplos?
  6. Já agora, um aparte: quantos dos defensores da actual lei que rege a concessão de "vistos Gold" já não se manifestaram - muitas vezes até com despropositado radicalismo, note-se - contra a presença nas selecções nacionais de futebol de ex-cidadãos estrangeiros que adquiriram a nacionalidade portuguesa cumprindo todos os requisitos legais e em condições de igualdade com quaisquer outros estrangeiros em idênticas circunstâncias, isto é, não comprando esse direito? Pois...