Tenho as maiores dúvidas sobre qualquer eficácia da estratégia "Cartas da Prisão" adoptada por José Sócrates. E por duas razões fundamentais:
- Obrigado ao segredo de justiça, não pode José Sócrates pronunciar-se sobre o processo nem contestar os indícios que levaram à sua detenção, tendo de limitar-se a afirmações genéricas sobre a política e de crítica ao sistema de justiça. Ora sendo, neste momento, parte interessada, quaisquer suas afirmações serão sempre analisadas e julgadas sob essa perspectiva, sendo que afirmações e análises de juristas, comentadores e jornalistas sobre essa matéria serão sempre vistas como bastante mais distanciadas e independentes - logo, mais eficazes.
- José Sócrates foi primeiro-ministro durante mais de cinco anos, quatro deles governando com maioria absoluta. Poderá sempre perguntar-se o que fizeram os seus governos durante esse tempo para alterar, no sentido correcto, o funcionamento da justiça nas áreas (e refiro-me apenas a estas) agora - e bem - postas em causa. E não me parece seja fácil uma resposta convincente da parte do antigo primeiro-ministro.
Podemos considerar que, encontrando-se em prisão preventiva, poucas ou nenhumas alternativas restam a José Sócrates, excepto o remeter-se ao silêncio. Verdade, mas não só o silêncio é por vezes muito eficaz, como a sua ausência pode assumir conteúdos diversos daqueles que têm sido expressos nas cartas enviadas de Évora. Provavelmente não estamos perante uma questão de forma, mas apenas de conteúdo.
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