sábado, maio 31, 2008

Ferreira Leite e a 2ª Guerra Mundial

Fui ensinado que na II Guerra Mundial teria havido dois vencedores (URSS e USA), dois derrotados (França e Império Britânico) e dois países que se tinham limitado a perder a guerra (Alemanha e Japão). Parece que nas eleições do PSD terá havido um vencedor (Pedro Passos Coelho), um candidato que se limitou a ganhar (Manuela Ferreira Leite) e um outro (Santana Lopes) que é como a Itália: nunca se sabe o que vai fazer e só serve para atrapalhar.

Eles também foram "soixante-huitards" (21 e último da série)

Birth Control Pill

sexta-feira, maio 30, 2008

A campanha de Ferreira Leite

Durante a campanha para a liderança do PSD, Ferreira Leite confirmou aquilo que dela se esperava: é uma pessoas séria, honesta, credível, mas falta-lhe dimensão política, o que só confirma as suas insuficientes prestações enquanto governante responsável pelas Finanças e Educação. Mas, infelizmente, embora afirmando sempre nada prometer por não saber se poderia cumprir, também não conseguiu resistir à tentação, ao afirmar ser o principal problema do país de índole social. Por muito que isso possa doer e parecer ferido de insensibilidade, não é, e Ferreira Leite bem o sabe: é político, isto é, tem que ver com a opção por um modelo de desenvolvimento que, embora possa ter consequências sociais negativas no curto prazo (certamente as teria), consiga minimizar e até eliminar os problemas da pobreza e desigualdade no futuro. Isso passa, a nível financeiro e económico, pela rápida correcção do déficit e por uma política de desenvolvimento que rompa com o ciclo do betão e obras públicas, pela minimização do desperdício, pela reformulação da Justiça e da Administração, pela reconversão empresarial e pelo combate ás ideias conservadoras e retrógradas dos sindicatos e das corporações, em boa parte responsáveis pelos níveis actuais de desigualdade e de pobreza. Passa, também, por um modelo de integração ibérica fundamentalmente baseado na complementaridade e não numa hipotética e condenada ao insucesso concorrência entre iguais. Também, no campo ideológico, por um combate contra o conservadorismo da esquerda tradicional e o aventureirismo ultra-liberal dos diversos choques fiscais e das miríficas flat taxes. Repetir as mesmas receitas, o que parece depreender-se tanto das afirmações de Ferreira Leite como da esquerda conservadora de Manuel Alegre, apenas dará origem aos mesmos trágicos resultados que ambos afirmam agora querer combater. Valeu a Ferreira Leite a falta de credibilidade de Santana Lopes e a incongruência de Passos Coelho. É pouco.

quinta-feira, maio 29, 2008

quarta-feira, maio 28, 2008

"The words of the prophets are written on the subway walls": os cartazes do Maio 68 (12)

História(s) da Música Popular (89)


Dion & The Belmonts - "A Teenager In Love" (Doc Pomus-Mort Shuman)
Doc Pomus-Mort Shuman (I)

Muito menos espaço irão ocupar neste “História(s)...” Doc Pomus e Mort Shuman, não por ausência de quantidade criativa, mas porque uma parte dela cairá fora do âmbito e dos padrões de qualidade que muito prezo. Por outro lado, a dupla, cujos trabalhos mais conhecidos foram entregues a alguns dos chamados teenage idols na época de refluxo do rock n’ roll e também a um Elvis Presley já longe dos seus melhores momentos, nunca trabalhou directamente com a Aldon Music e o Brill Building. Que resta? Nos temas para os teenage idols, quando o lado mais transgressor do rock foi domado e era imperioso continuar a produzir algo com que a nova geração dos baby boomers minimamente se identificasse, principalmente o que deu fama a Dion & The Belmonts (“Teenager in Love”) e, idem idem, aspas aspas, a Fabian ("Hound Dog Man"). Esses dois, mais pelo sucesso alcançado do que por algo mais, valem uns poucos de bytes. Ah, mas há os Drifters, e aí o caso já muda de figura, pois claro, mais uma ou outra coisa dispersa e não demasiado importante para Ray Charles e LaVern Baker.

Bom, mas para começar digamos que Jerome “Doc” Pomus (1925) e Mort Shuman (1936) são ambos nova-iorquinos, o que não interessa lá muito para a sua música, como não será igualmente demasiado relevante o facto de Pomus ter começado a sua carreira com cantor de blues. Mais relevante será o facto de não ter tido grande êxito como cantor, o que o levou a associar-se a Shuman como compositor de canções onde o êxito sorriu mais um pouco. E sorriu com Dion & The Belmonts, já depois de ter sorrido a Dion quando este resolveu não aceitar uma boleia no avião em cuja última viagem morreram Buddy Holly e Ritchie Valens. Dion, também ele um nova-iorquino com um clean cut look mas com sérios problemas com a droga, teve vários êxitos, tais como “The Wanderer” e Runaround Sue”, mas foi “A Teenager In Love” (muito, muito Doo Wop), de Pomus e Shuman (1959), que o catapultou para o êxito. Nem mais...

O "Público" e os combustíveis

O “Público” de hoje titula em 1ª página: “Queda na procura de combustíveis trava aumento de receita do IVA”. O que vemos depois nos gráficos das páginas 2 e 3? Uma comparação do mês de Janeiro deste ano, único para o qual existem estatísticas oficiais da DGGE, com Dezembro do ano anterior, sendo os valores dos meses seguintes, de Fevereiro a Maio, meras estimativas calculadas pelo... “Público”. Mesmo assim, apenas para a gasolina as receitas sofrem um decréscimo médio mensal, aumentando as oriundas do gasóleo apesar de um comprovado decréscimo da actividade económica que nem sempre estará directamente ligado ao aumento do preço dos combustíveis. Acresce que um leitor mais atento e informado facilmente também se interrogará em que medida Dezembro não será um mês atípico (Natal, férias, aumento da actividade económica em algumas áreas por via de um aumento anormal do consumo nesta quadra), o que tornará a comparação Janeiro 08/Dezembro 07 fonte óbvia de distorção de conclusões.

O “Público” até poderá ter razão e as estatísticas oficiais virem a confirmar esta análise. Mas, até agora ela é, apenas, digamos que um “suponhamos”. Jornalismo ou mera propaganda?

terça-feira, maio 27, 2008

Pollack...

Não sou grande entusiasta de Sidney Pollack, lamento dize-lo, embora deva ter visto mais de 80% da sua filmografia enquanto realizador. Acho que o último que vi foi “A Intérprete” um filme bem menor. Pollack pareceu-me sempre ser um daqueles realizadores à beira de qualquer coisa, um grande filme que acho nunca fez. Tem, contudo, uma obra escorreita, profissional, com uma qualidade média bem aceitável. Irrito-me, no entanto, quando o vejo citado quase exclusivamente como o cineasta de “Out of Africa” um filme com o qual eu particularmente antipatizo; um daqueles filmes que parecem ser propositadamente feitos para a posteridade, um repositório de lugares comuns de agrado certo: uma escritora consagrada (Karen Blixen), um par romântico com dois actores de prestígio indiscutível (embora eu confesse a minha particular embirração por Meryl Streep), a paisagem africana (o “feitiço” de África) , a reconstituição do ambiente aristocrático de uma época, um piscar de olhos ao feminismo então em voga e a paixão pelo caçador romântico. Está lá tudo!

Prefiro pois lembrar-me do Pollack de um dos seus primeiros filmes, injustamente esquecido nesta hora de homenagens póstumas: “This Property Is Condemned” (1966), que em Portugal tomou o nome de “A Flor À Beira do Pântano”. Talvez também de “They Shoot Horses”, embora à distância me possa parecer marcado pelo tempo (não o revejo há uns bons trinta anos). Talvez ainda, um pouco, de “Jeremiah Johnson”. Boa oportunidade para os rever, como homenagem a Pollack.

Eles também foram "soixante-huitards" (19)

Barry McGuire - "Eve Of Destruction" (P F Sloan)

A "novela" Mourinho e a imprensa portuguesa

Basta "dar uma volta" pelos jornais desportivos italianos para perceber o que se passa com a novela Mourinho: Moratti, presidente do Inter, ter-se-á comprometido ou apalavrado com José Mourinho em Março; entretanto o Inter, com Roberto Mancini, foi campeão e finalista da Taça de Itália, este tem mais três anos de contrato e Moratti, face também a uns adeptos divididos (basta ler em diagonal os comentários na “Gazzetta dello Sport” e do “Corriere dello Sport”), está indeciso e mostra-se receoso em despedir Mancini; em função disso, Mourinho pressiona o Inter e Moratti através de Luís Figo e da imprensa portuguesa, inclusivamente prometendo facilidades para a contratação de Lampard, Quaresma e Deco, alguns dos “seus rapazes”. Aliás, a imprensa desportiva internacional tem sido bastante discreta e pouco conclusiva no tratamento deste tema, com excepção de um artigo na “Gazzetta dello Sport” e de uma ou outra citação de... “a Bola”, sempre pronta para uns fretes (não está só, infelizmente).

Nota: sou um admirador de José Mourinho, o que não impede, claro está, o exercício do meu sentido crítico.

Quatro (boas) razões para o Estado não baixar o ISP

  1. Baixar o ISP (Imposto Sobre os Produtos Petrolíferos) seria, numa conjuntura em que a consolidação das contas públicas é ainda insuficiente - e agora mais ameaçada pelo menor crescimento económico - e a situação deficitária se mantém, transmitir ao país um sinal inadequado. Mais ainda, ele não deixaria de ser invariavelmente seguido de uma série de reivindicações do mesmo sinal vindas de outros sectores da sociedade. Como se tem provado – por exemplo, Luís Campos e Cunha escreveu não há muito tempo sobre o assunto no “Público” - em Portugal a carga fiscal está longe de ser um elemento essencial na competitividade do país, suplantado por questões como a justiça, burocracia etc. Acresce que uma boa parte do investimento estrangeiro negoceia as suas condições fiscais, e outras, digamos que “caso a caso”. Quer se queira quer não, a consolidação das contas públicas é um elemento essencial e condição sine qua non para o desenvolvimento sustentado do país e, portanto, este deve ser o seu objectivo principal sem recuos, hesitações ou dúvidas injustificadas.
  2. Os combustíveis são um exemplo típico de um produto com elevada rigidez da procura, isto é, cuja procura pouco ou nada reage, dentro de limites relativamente amplos, às alterações do preço. Isto significa que não só a diminuição da receita fiscal gerada pelos recentes aumentos não será tão elevada como se diz por aí, como é duvidoso que uma diminuição da ISP, em valores necessariamente não muito elevados e num contexto em que essa variação negativa seria rapidamente “comida” pelo aumento dos preços-base, trouxesse consigo um proporcional (ou quase-proporcional) aumento da procura, com os seus reflexos na respectiva receita fiscal. Mas... façam-se as contas, e veremos a que conclusões se chega. Nada como comparar números, mas não me parece que a conclusão pudesse ser muito favorável aos arautos da baixa do ISP.
  3. Por outro lado, nem tudo o que é negativo neste contexto. Um aumento significativo dos custos com a energia obriga necessariamente a melhores eficiências, tanto no consumo desses mesmos combustíveis como em outras áreas em que a racionalização de custos o permita compensar. Isto tanto a nível das famílias (menos carro, mais transporte público; menos desperdício em casa; racionalização e partilha das deslocações) como das empresas (busca de oportunidades para redução de custos nos processos produtivos, menos viagens, enfim, maior eficiência). Algo que deve sempre nortear cidadãos e empresas é que é sempre possível fazer ou produzir o mesmo a um menor custo. Existem mesmo empresas que premeiam anual e especificamente esse objectivo.
  4. Por último, existe uma questão mais estritamente política, relacionada com a intervenção do Estado na economia num país em que tudo dele demasiado depende. Intervir neste sentido e nesta conjuntura seria, indiscutivelmente, um sinal dado no sentido da regressão e não do progresso, podendo, e devendo, isso sim, o Estado contribuir para minorar as consequências negativas da actual situação através de uma intervenção ao nível das prestações sociais, das transferências para as famílias que desse apoio mais necessitem e da penalização do desperdício. Esse sim, será um sinal dado no sentido correcto e aí parece-me que haverá ainda muito mais a fazer para além do congelamento do preço dos passes sociais.

segunda-feira, maio 26, 2008

"The words of the prophets are written on the subway walls": os cartazes do Maio 68 (11)


Transportes públicos e preço dos combustíveis

Em tempos de combustíveis caros, é comum assistirmos aos apelos para uma maior utilização de transportes públicos, sendo invariavelmente a resposta que a sua má qualidade e cobertura deficiente do território impedem um melhor aproveitamento e uma sua maior utilização. Mas nem sempre isso é verdade.

O que é facto é que o modelo de desenvolvimento, em Portugal, pelo menos desde os anos 60 que privilegia o transporte individual, o automóvel, e grande parte do investimento efectuado em obras públicas, directa ou indirectamente, promoveu o seu uso e desenvolvimento, em detrimento, por exemplo, do caminho de ferro. Mais ainda, ao nível dos valores, da ideologia, o automóvel transformou-se em símbolo de ascensão social, assumindo cada uma das marcas existentes um papel, uma imagem muito clara e diferenciada na escala dos valores e na estrutura de classes da sociedade portuguesa. As duas coisas não são separáveis, como não podem também os resultados deste modelo de desenvolvimento e suas consequências ser separáveis do atraso da sociedade portuguesa, contribuindo, também eles e por sua vez, para a forma de certo modo distorcida que assumiu o progresso social. Note-se que não pretendo negar a importância do automóvel nos níveis de bem-estar de uma sociedade, nem me move uma qualquer fobia anti-liberal e pró-colectivista. Constato apenas a importância desmesurada e desproporcionada que o automóvel assumiu, em contraste com o lugar mais “sóbrio” que ocupa em sociedades, como as do norte da Europa, com níveis de bem-estar e uma qualidade de vida bem superiores. Digamos que com um maior grau de civilização.

Assim sendo é bem difícil convencer o cidadão a utilizar transportes públicos (incluindo o táxi) mesmo quando é essa a melhor alternativa que se apresenta, tão mais difícil, por exemplo, quanto mais estamos perante alguém de ascensão social mais recente. Invocar a má qualidade da rede pública de transportes para a sua não utilização, mesmo em situações em que é visível essa não ser a norma, não é, por isso mesmo e em muitas situações, mais do que uma desculpa para quem sente que isso lhe retira estatuto, imagem perante si e os outros. Algo que fere uma personalidade e um modo de vida construídos na base de valores contrários transmitidos ao longo de 40 ou 50 anos. Que credibilidade – e capacidade de convencimento - terão agora para, de repente, lhe dizer o contrário?

A campanha do PSD

Olho para a campanha do PSD e vejo um populista e uma cristã-democrata (é isso que Ferreira Leite verdadeiramente é) manifestarem-se contra o controle do preço dos combustíveis pelo governo e um soit-disant liberal pronunciar-se em sentido contrário. Vejo também um populista (Menezes) apoiar o dito “liberal”, o mesmo acontecendo com Fernando Ruas, o inefável “chefe” dos respectivos autarcas, que deve estar para o liberalismo como o porco para Maomé. Por último, vejo quem sempre tem sempre manifestado posições liberais apoiar a cristã-democrata Ferreira Leite e, se me der ao trabalho de procurar bem, por certo encontrarei euro-cépticos a apoiar federalistas, sendo que a inversa também não deixará de ser verdadeira. Pelo vistos, no PSD já nada faz mesmo sentido, ou melhor, apenas faz sentido o poder. Esperemos a epidemia não se espalhe demasiado, pois não acredito muito que a restante sociedade tenha gerado os anticorpos necessários à respectiva imunidade.

Eles também foram "soixante-huitards" (18)

Pop Art

domingo, maio 25, 2008

Eles também foram "soixante-huitards" (17)


"Blow Up" de Michelangelo Antonioni (1966)

José Mourinho: mais um passo em falso

Não sei qual será a agência de comunicação responsável pela assessoria de José Mourinho, se é que a tem, mas dada a multiplicação de asneiras, faux pas, inconveniências e acções, atitudes e afirmações muito pouco consentâneas com aquela que deveria, de momento, ser a sua estratégia, diria que a Cunha Vaz & Associados dificilmente faria pior. O que se pode dizer das suas afirmações sobre Avram Grant, que, independentemente do papel que possa ter tido no despedimento de José Mourinho, levou uma equipa dizimada, durante parte da época, por lesões e ausências à final da "Champions", onde não teve sorte e perdeu nos penalties nas condições que se conhecem, e a discutir o título até á última jornada da "Premiership", é que são, no mínimo, deselegantes e, no limite, cobardes, ao bom estilo “dá-lhe agora que ele está de costas”.

É que até posso admitir - partindo do princípio que desde Maquiavel a moral nada tem a ver com a política - que essa deselegância e cobardia possam ser aceitáveis quando úteis (vejam bem até que ponto vai a minha flexibilidade e a amplitude da minha compreensão), só que não vejo, não consigo mesmo ver, o que de positivo possa daí advir para aquela que deveria ser a estratégia mais adequada para servir o objectivo fundamental, em tempo presente, da vida profissional de José Mourinho: conseguir um emprego compatível com a sua experiência, qualificações e desejos num clube de prestígio da 1ª divisão europeia (já agora, a ida de Pepe Guardiola para o Barça doeu, não foi?). Mais ainda, como aqui já escrevi, este é o tipo de afirmações que, em conjunto com algumas das suas atitudes anteriores, apenas tornará mais difícil a sua aceitação pela elite de clubes e treinadores. Será que Mourinho ainda disso não se deu conta e não compreende que determinado tipo de comportamentos podem ser positivos quando se tem um emprego no Chelsea e se é ganhador e passam rapidamente a contraproducentes quando isso não acontece? As suas afirmações sobre Grant (aconselho Mourinho a ler os comentários dos adeptos do Chelsea, e outros, sobre o despedimento de Grant no site da Sky Sports), as continuadas informações passadas para os jornais de que está quase a ter novamente clube e a pouco clara ida a Milão, só se podem explicar por um excesso de nervosismo e incerteza. Pela sua incomodidade e desconhecimento em lidar com actual situação. Mas não é exactamente a capacidade para controlar essas emoções que também define um líder? E não é para também gerir esses assuntos que serve uma assessoria de comunicação?

sábado, maio 24, 2008

Eles também foram "soixante-huitards" (16)

Pete Seeger - "Where Have All The Flowers Gone" (Estocolmo, 1968)

"The words of the prophets are written on the subway walls": os cartazes do Maio 68 (10)


A ANAREC quer pôr todos os portugueses a financiar a sua actividade

Preocupada com uma redução no consumo de combustíveis em virtude do aumento dos seus preços, aumento esse que, pela sua amplitude, começa a pôr em causa a tradicional rigidez típica da procura deste tipo de produtos e, portanto, a fazer baixar a rentabilidade do negócio que é o seu, e através da sua associação representativa (ANAREC), os revendedores de combustíveis solicitam ao Presidente da República que todos os portugueses passem a contribuir para manter o seu negócio e os seus lucros aos níveis anteriores. É esta a única conclusão a tirar do seu apelo, já que não vejo outro modo do Estado interferir que não seja diminuir a carga fiscal respectiva, o que, dada a situação actual das finanças públicas, significaria aumentá-la em quaisquer outros produtos ou actividades, porventura provocando injustiças sociais acrescidas. É que, contrariamente ao que os arautos dos “amanhãs que cantam” e dos diversos populismos andam por aí, quase de braço dado, a afirmar tentando convencer os incautos, existe mesmo muito pouca vida para além do déficit, ou melhor, como a situação em Espanha consegue provar, existe muita vida, mas apenas para depois, e não para além, do déficit. Esperemos o Governo e o PR não vão no canto da sereia e tentem compensar, isso sim, o aumento dos preços dos combustíveis através de prestações sociais, directas ou indirectas (o congelamento de preços dos passes sociais acaba por ser uma prestação social indirecta), àqueles que mais precisam. Quanto á ANAREC, acho que já os tinha ouvido a reclamar “menos estado e melhor estado”. Ou será que estou enganado?

sexta-feira, maio 23, 2008

Willie Dixon's Blues Dixonary (6)

"My Babe" (Willie Dixon)
Little Walter - Vocals & Harmonica
Leonard Caston & Robert Jr. Lockwood - Guitar
Willie Dixon - Bass
Fred Bellow - Drums
Gravado a 25 de Janeiro de 1955

Cliff Richard & The Drifters (mais tarde Shadows) - "My Babe" (Willie Dixon)
Gravado ao vivo nos estúdios da EMI, St. John's Wood, Londres, a 9 e 1o de Fevereiro de 1959
The Drifters:
Hank Marvin - Guitar
Jet Harris - Bass Guitar
Bruce Welch - Guitar
Tony Meehan - Drums

Eles também foram "soixante-huitards" (15)

Radio Caroline

Dos noticiários da rádio

Bom, voltemos ás notícias para além do futebol, futebol, futebol, do pai afectivo, do pai biológico, dos cancros dos famosos(???!!!) e de “tudo o mais que uma família (não) precisa”, como dizia no meu livro da segunda ou terceira classe dos anos de chumbo da década de cinquenta do século defunto. E voltemos focando os noticiários da rádio, companhias de tantos de nós durante as abulações diárias das manhãs e dos caminhos de e para os empregos (quem os tem, claro, que isto não está para todos). É que, cada vez mais, se vão transformando-se num muro de lamentações, em megafones dos protestos, queixinhas, reivindicações de todas e mais algumas corporações existentes e outras em vias de existir. Todas elas, claro (as queixinhas e as corporações) tendo por denominador comum, já se sabe, a “falta de meios”, eufemismo pouco esforçado para designar: dêem-me mais dinheiro senão “faço e aconteço”, como diriam os “Deolinda” no seu “Fado Toninho”. Todas elas ameaçadoras, pois, pois, visto que se não virem as suas queixas, reivindicações, alertas, o que quer que seja, satisfeitas o mundo acaba já amanhã de manhã, “ao meio dia menos um quarto, senhor estou farto”. Bombeiros na primeira fila, polícias e a sua associação na segunda, agricultores da seca e da chuva (da seca quando chove, da chuva quando seca) e pescadores, do baixo ou do alto, do mar ou da terra firme, de olho alerta, espreitando a oportunidade, que isto de jogar com a segurança e a comidinha costuma dar resultado, não faltando médicos, enfermeiros, maqueiros, motoristas dos maqueiros e respectivos ajudantes a ajudarem, agitando o espectro da falta de saúdinha “vai bem graças a Deus, senhora dona Alzira”. Claro que me vão dizer que, neste país (?), “quem não chora não mama”, frase que me dá voltas ao estômago e todas as vísceras, e que isto é a liberdade de expressão e é assim mesmo. Claro que sim e ninguém no seu perfeito juízo os quererá mandar calar (cá por mim, bem me divertem, pela desfaçatez e falta de vergonha). Mas então e os senhores jornalistas? Não investigam, não comprovam, não se interrogam, não procuram o contraditório (brr...), enfim, não assumem o seu papel, a sua profissão? Serão apenas megafones ou microfones com decote ou sem ele (onde já ouvi isto?). Como não quero ser deselegante com tão insigne e prestimosa classe profissional , e não querendo aceitar que também eles acreditam que o mundo acaba mesmo amanhã “ao meio dia menos um quarto”, já sei, encontrei a solução: eles bem querem investigar, indagar, comprovar, ar, ar, mas não podem, não têm meios!!! Querem lá ver que, um dia destes, ainda os vamos ver a queixarem-se, ao vivo e em directo, alegando que se não satisfizerem as suas reivindicações com mais microfones, mais carros de exteriores, mais helicópteros (a propósito: para que serve na realidade o do RCP), mais computadores e, aqui sim, é verdade, “tudo o mais que uma família precisa”, o mundo acaba mesmo amanhã de manhã, “ao meio dia menos um quarto”? Senhores, estou farto!

quinta-feira, maio 22, 2008

"The words of the prophets are written on the subway walls": os cartazes do Maio 68 (9)


"O Segredo de um Cuscuz"

Sim, eu sei que me vão dizer que o filme é ideologicamente talvez demasiado maniqueísta, de um simplismo muito redutor. Por essa mesma ideologia, e também pela etnicidade (passa-se entre a comunidade magrebina de Sète, no sul de França), muito “Bloco de Esquerda”. Talvez, mas, tendo isso em atenção e também se não se importam com muitas espinhas chupadas e tiradas da boca, muita conversa com a boca cheia, promiscuidade quanto baste e algumas banhas a mais (e o suor que se pressente), se isso não os incomoda o suficiente para os afastar de um belíssimo filme, com uma sequência final que me fez lembrar "The Man Who Knew Too Much", é melhor correrem a ver “O Segredo de um Cuzcuz” de Abdellatif Kechiche. Não, não é uma obra-prima, não merece as 5 estrelas que por aí já vi, mas merece bem os 5.50€ e as pouco mais de duas horas passadas no cinema, coisa escassa e rara nos tempos que hoje correm. Mesmo que para isso tenha de abdicar do Indiana Jones, que já não é nenhuma surpresa e nada de relevante e novo deverá trazer ao mundo.

Cristiano Ronaldo, os portugueses e a língua inglesa

Ao longo da minha vida profissional, se algo fui constatando distinguir os portugueses dos meus colegas estrangeiros, para além de falarem alto, não usarem sobretudo ou gabardina e se vestirem anormalmente mal, foi o facto de, com a possível excepção dos gregos, falarem pior inglês e terem mais dificuldade em se exprimirem fluentemente em público, isto é, restringindo-se ao essencial e apresentando um raciocínio lógico, organizado e conclusivo. Para o inglês parece já vai existindo solução, com a sua obrigatoriedade escolar desde cedo (falta o castelhano, mas lá iremos que o tempo resolve tudo e aí a tradição da padeira continua a falar mais alto). Esperemos se encontre rapidamente solução para a expressão oral em público, e note-se que estou a falar de algo na antítese da verborreia e retórica parlamentares.

Comecei a notar algo podia estar a mudar quando, aí pela segunda metade dos anos oitenta, ao sair de uma discoteca que nessa altura ainda se chamava “boite”, seriam umas quatro ou cinco da manhã, dei com dois polícias conversando alegremente em inglês com um casal de turistas. Lembro-me de ter feito notar isso mesmo ao grupo que me acompanhava. Tinha razão: era um sinal das mudanças que hoje em dia se fazem notar na PSP, uma instituição que, felizmente, nada tem a ver com a de um passado não assim tão distante, com a qual parece partilhar apenas o nome.

A minha esperança aumentou há pouco, quando, ao ver a Sky News, ouvi Cristiano Ronaldo exprimir-se num tom de voz loud and clear, mais ou menos escorreita e fluentemente, na língua de Sua Majestade Elizabeth II. Foi um sobressalto! Estará mesmo algo a mudar? Eu acho que sim, e uma secreta esperança me assaltou o coração, já se si tão fragilizado depois de 120 minutos a torcer pelo United. É pelo menos um bom indício... que esperemos daqui a uns anos se confirme.

quarta-feira, maio 21, 2008

Eles também foram "soixante-huitards" (14)

First Party At Ken Kesey's With Hell's Angels - A poem by Alan Ginsberg

Cool black night thru redwoods

cars parked outside in shade

behind the gate, stars dim above

the ravine, a fire burning by the side

porch and a few tired souls hunched over

in black leather jackets. In the huge

wooden house, a yellow chandelier

at 3 A.M. the blast of loudspeakers

hi-fi Rolling Stones Ray Charles Beatles

Jumping Joe Jackson and twenty youths

dancing to the vibration thru the floor,

a little weed in the bathroom, girls in scarlet

tights, one muscular smooth skinned man

sweating dancing for hours, beer cans

bent littering the yard, a hanged man

sculpture dangling from a high creek branch,

children sleeping softly in their bedroom bunks.

And 4 police cars parked outside the painted

gate, red lights revolving in the leaves.

December 1965

História(s) da Música Popular (88)

Ruth Brown

Ruth Brown - "Lucky Lips" (Leiber-Stoller). 1957

Cliff Richard & The Shadows - "Lucky Lips" (Leiber-Stoller). 1965

Jerry Leiber & Mike Stoller (XI)

Pois vamos lá para o último capítulo dedicado a Leiber & Stoller, passando um pouco pelos Drifters, de Clyde McPhater e Ben E King, como cão por vinha vindimada, já que, sendo incontornáveis quando falamos de Leiber & Stoller, foram-no essencialmente enquanto produtores e menos como escritores de canções. Aliás, no caso dos Drifters outras duplas do Brill Building disso se encarregaram, e já tendo aqui falado do grupo a propósito de Goffin e King e Mann e Weil, por aqui me ficarei.

Bom, mas vamos lá finalizar com uma pequena curiosidade, regressando para isso a 1957. Ruth Brown não terá sido a vedeta feminina maior da Atlantic Records de Ahmet Ertegun, longe de Aretha Franklin e até suplantada (eu acho) por LaVern Baker. Mas foi suficientemente importante para fazer parte da colectânea de 7 CDs da mais importante editora de música negra dos fifties e sixties. Mais importante, claro, do que a Motown, se me dão licença. Suficientemente importante, também, para ter gravado Leiber e Stoller. Este “Lucky Lips”, composto pela dupla, não está incluído nessa colectânea, mas tem a curiosidade de ter sido mais tarde (1963) gravado por... Cliff Richard e os Shadows. Pois aqui estão as duas versões: o take original de Ruth Brown e uma versão de 1965 de Cliff Richard com os Shadows, estes já com Brian Bennett na bateria e John Rostill no baixo, sucedendo ao “original” Jet Harris e ao sucessor deste, Brian “Licorice” Locking - que, acho, ainda terá gravado o take original do tema, editado em single em 1963.

terça-feira, maio 20, 2008

O mundo segundo José Pacheco Pereira

FUTEBOL,

FUTEBOL,

FUMEI, PEQUEI, VOU DEIXAR DE FUMAR, A

ESMERALDA ENTRE O PAI AFECTIVO E O PAI BIOLÓGICO, FUTEBOL,

DIRECTO DO ACIDENTE NA A1 QUE PROVOCOU TRÊS FERIDOS, OS

PAIS DA PEQUENA MADDIE, FUTEBOL, TENHO UM CANCRO-TIVE UM

CANCRO - VOU TER UM CANCRO, o resto,

FUTEBOL, FUTEBOL, FUTEBOL

Sim, confesso partilho com José Pacheco Pereira alguns dos seus “nojos”, das suas aversões a esta massificação/tablóidização das notícias, das capas, dos cabeçalhos, dos “Fóruns” e das “Opiniões Públicas” e publicadas, dos noticiários esticados até ao limite, do "desordenamento" da informação e do não ordenamento social. Mas, “em verdade, em verdade vos digo”, que o mundo segundo JPP, por si “desenhado” e concebido, imaginado se para isso tiver criatividade qb, sério, sem uma irracionalidade, um devaneio ou um flirt que nos ridicularize e ponha a nu as nossas fraquezas, sem o “pé no balde e bolo na cara”, sem aquela futilidadezinha que por vezes nos pode valer o dia, confesso, enfim, também deveria ser bem “chato”. Muito chato, mesmo, meu caro JPP. Ou será deveria dizer aborrecido? Uma neura!, é o que era...

Eles também foram "soixante-huitards" (13)

Timothy Leary (1920-1996)

"The words of the prophets are written on the subway walls": os cartazes do Maio 68 (8)


"Prós & Contras" outra vez

Confesso-me (já aqui o tinha dito) pouco ou mesmo nada admirador do “Prós & Contras”. Vejo o programa episodicamente, muito raramente na totalidade, quando o assunto é de molde a chamar mais a minha atenção e reconheço alguma qualidade e independência nos participantes. Reconheço, no entanto, o esforço por chamar mais espectadores ao debate político através de “uma coisa em forma de assim”, algo a meio caminho entre o “talk show” e o debate propriamente dito, embora o debate político sério e aprofundado seja inimigo do espectáculo e o “talk show”, demasiado dependente da qualidade de comunicadores dos participantes, inimigo do debate político. Cruel dilema, diria o velho Vasco Santana do “Pátio das Cantigas”. Ou a dificuldade da quadratura do círculo, se quiserem assim seja. Passando por cima (salvo seja) das qualidades e defeitos da apresentadora, também ela, tal como o programa, “uma coisa em forma de assim” mas claramente bem enquadrada no espírito e na forma da dita “coisa”, parece-me, contudo, que o “Prós & Contras” enveredou, nos últimos tempos, por um tom demasiado sensacionalista, muito feira de algumas vaidades (pelo que vejo e oiço, não me são mostradas razões para tal), campo de batalha do bloco central de interesses e, o que é ainda pior mas se tem acentuado de forma notória, palco de mediatização privilegiado de mesquinhos interesses corporativos. Demasiada província, direi. Tem-se acentuado, assim, a vertente “talk show”: muita plateia e pouco palco e neste demasiada representação institucional, demasiada gente que antes de abrir a boca já se sabe ao que vem e porque vem. Será talvez essa uma das funções do programa – assegurar a representação mediática dos interesses corporativos, um “escape” para o sistema, mais um palco para o queixume habitual “se não nos valem o mundo acaba amanhã” – mas, parece-me, pode ser também esse um dos caminhos mais curtos para o cansaço. Eu, pessoalmente, cansei-me, embora não fazendo parte do target possam achar já assim nasci. Se calhar, terão razão: continuo saudoso do “Choque Ideológico” da RTP N, o melhor programa de debate político dos últimos anos. Provavelmente, só eu devia gostar, e por isso acabou. Olhem, Ita Missa Est.

segunda-feira, maio 19, 2008

Eles também foram "soixante-huitards" (12)

Swinging London - 60's Fashion

Portugal e Catalunha

Carod-Rovira afirma que a Catalunha é Portugal sem os Restauradores. Tendo em atenção a diferença entre as nações catalã e portuguesa não sei se entendeu que, assim, está a prestar uma homenagem a Castela. De qualquer modo, fossem apenas os Restauradores a diferença e eu trataria desde já de ressuscitar Miguel de Vasconcelos.

"Gato Maltês" e o "Público"

"Gato Maltês" agradece ao "Público" a transcrição deste seu post na sua edição de hoje

domingo, maio 18, 2008

"The words of the prophets are written on the subway walls": os cartazes do Maio 68 (7)

Comida para os "pobrezinhos"...

Parece que o “Público” não se importa que a comida armazenada pelas instituições de solidariedade social (ou seja, a comida para os “pobrezinhos” – era assim que eram tradicionalmente denominados) não se submeta às leis gerais do país, mais especificamente àquelas que regulamentam as condições de higiene e salubridade da sua guarda e permitem mantê-la em perfeito estado de conservação. Ou seja, tanto o “Público” como algumas dessas instituições consideram os “pobrezinhos” cidadãos de segunda. Já se sabia que esse é o “espírito” que normalmente prevalece em muitas iniciativas deste tipo, mas era escusado torná-lo tão demasiado evidente. Bem fez Isabel Jonet, que de imediato declarou que o Banco Alimentar Contra a Fome teria que se adaptar ás novas condições legais. Talvez isto, esta afirmação reveladora de inteligência e consideração por aqueles que necessitam de apoio, explique em parte o enorme sucesso da instituição que Isabel Jonet dirige.

sábado, maio 17, 2008

Eles também foram "soixante-huitards" (11)

Janis Ian - "Society's Child" (1966)

Ainda a Feira do Livro, a Leya, a APEL, a CML e o que mais adiante se verá, meninos e meninas!

Duas coisas a actual polémica sobre a Feira do Livro de Lisboa vem trazer à luz do dia. Em primeiro lugar, o modo como são concedidos os subsídios (ou patrocínios) por parte das entidades oficiais a determinado tipo de iniciativas ou realizações. De facto, tendo em atenção o que aqui afirmei e o actual formato da Feira do Livro, não me parece que a Câmara Municipal de Lisboa, ou seja, os munícipes onde me incluo, tirem algum benefício real e efectivo dessa participação camarária, mais parecendo que ela só continua a existir por hábito ou medo de qualquer reacção negativa por parte da APEL ou dos lobies a ela, directa ou indirectamente, associados. Quaisquer critérios de rigor, análise custo/benefício para os “alfacinhas” me parecem bem longe de estar a ser considerados na decisão camarária, que deveria de futuro ponderar de forma bem mais profissional as suas decisões neste e noutros casos similares. Principalmente, se tivermos em conta a actual situação financeira da CML, embora esta não deva ser a condicionante decisiva mas apenas situação agravante.

Em segundo lugar a completa impreparação do sector da edição livreira, que mais parece saído da idade da pedra da gestão empresarial, para lidar com a entrada no mercado da Leya, uma mega-empresa, para o sector, com ideias novas que parecem querer entrar em ruptura com o statu quo existente. Não conhecendo esse mesmo sector, e falando apenas como consumidor interessado, parece-me que a Leya estará a trazer para o mercado da edição a mudança que a FNAC, os supermercados, as feiras do livro usado e as mega lojas multimédia trouxeram para o sector da distribuição, assim contribuindo para uma aproximação nunca antes imaginada entre o livro e o leitor e respondendo, deste modo, às modificações da procura há muito em curso no mercado. Há quem não goste, claro, mas ouvir esses mesmos editores afirmar que o fazem em nome de “altos princípios” e do interesse do leitor, quando o que está em causa, tanto como no caso da Leya, é apenas o negócio – e negócio por negócio, a entrada no mercado da Leya só me parece positiva para o livro e o leitor – confesso que me dá volta ao estômago. Haja alguma decência, se não se importam...

sexta-feira, maio 16, 2008

"The words of the prophets are written on the subway walls": os cartazes do Maio 68 (6)

História(s) da Música Popular (87)

Jay & the Americans - "She Cried"
Jerry Leiber & Mike Stoller (X)
Não sou grande "fan" (de fanático, claro) de Jay & the Americans, mas seria impossível não os mencionar ao falar de Jerry Leiber e Mike Stoller, muito principalmente porque esta será uma grande oportunidade de também mencionar a faceta de produtores da parceria. “She Cried” (#5 em 1962) merece-me, apesar da minha ausência de fanatismo, algum respeito, e não sendo um tema da autoria de Leiber e Stoller foi contudo por eles produzido para a United Artists e a eles (Leiber e Stoller) também fica a dever o grupo nova-iorquino de “Jay” Traynor a abertura das portas da fama, o que significa sempre o acesso ao céu e ao inferno (as doses são variáveis). Não foi o seu maior êxito, tendo “Come a Little Bit Closer” (#3 em 1964) ficado com os louros já com David “Jay” Black no lugar do outro Jay. Não os meus, que vão (quase) inteiramente, no que ao grupo diz respeito, para o mencionado “She Cried”, até porque 1964 é já ano de “British Invasion” e aí a música será bem outra. Curiosamente, o seu best selling record, embora apenas #6, será, em 1969, uma versão do tema dos Drifters (com Ben E King), de 1960, “This Magic Moment”. Prefiro, claro está, o original, mas disso falaremos quando for o tempo e a vez de uma outra parceria de sucesso: Doc Pomus e Mort Shuman. Já não falta muito...
Por agora fique com o "She Cried", produzido por Leiber e Stoller na voz de Jay & the Americans e, por favor, esqueça a versão de Del Shannon, mesmo que dê de caras com ela. É que cada um nasce para o que nasce e Del Shannon nasceu mais para o "Runaway".

Duas notas de uma sexta-feira

  1. Sim, eu sei que por muito menos daquilo que eu vou dizer algumas almas ardem já nas profundezas do inferno. Mas seria muito mais saudável ver a economia portuguesa crescer mais mesmo que com redução ou manutenção do emprego (não, não é um contra-senso), do que ver o desemprego diminuir numa conjuntura de forte redução do crescimento económico.
  2. Pode um pretenso liberal como Pedro Passos Coelho afirmar convictamente que os governos de Cavaco Silva, que, apesar de alguns méritos, foram responsáveis por um modelo de desenvolvimento que de liberal pouco tem e conduziu Portugal ao estrangulamento e á estagnação, foram os melhores governos do país nos últimos anos?

Eles também foram "soixante-huitards" (11)

Jan Palach (1948-1969)

quinta-feira, maio 15, 2008

Eles também foram "soixante-huitards" (10)

"A Taste of Honey", de Tony Richardson (1961). Baseado na peça homónima de Shelagh Delaney (1958)

Feira do Livro

O meu texto de 24 de Maio de 2007 sobre a "Feira do Livro", agora que um grupo de editores retrógrados tenta, num contexto de mudança do mercado editorial com a emergência da Leya, evitar qualquer inovação na "Feira" que ponha em risco os seus... direitos adquiridos. Ou seja, que coloque em causa o seu direito a suicidarem-se arrastando consigo todo um sector.
"O que me espanta é a "Feira do Livro" ainda existir!!! Eu comecei a ir à "Feira do Livro" teria uns 8 ou 9 anos, com o meu pai, em busca dos livros dos "Cinco" e do "Emílio e os Detectives". A "Feira" tinha lugar na "Avenida", onde as pessoas circulavam, saindo dos empregos para apanhar transportes públicos e beber um café. Era um Portugal c/ uma classe média quase inexistente, com 35 ou 40% de analfabetismo, 50% da população a trabalhar no campo e 3 ou 4 livrarias em Lisboa frequentadas por uma elite restrita. E não havia descontos nos livros, nem promoções, lançamentos, "feiras" do livro usado e muito menos centros comerciais, hipermercados, Amazon e Fnac, lojas multimédia onde se pode comprar tudo. Sendo assim, o "conceito" de "levar o livro ao povo" fazia todo o sentido, colocando-o na rua, onde as pessoas passavam, com descontos a promover a sua venda.Entretanto, Portugal mudou radicalmente. Existe uma larga classe média com algum poder de compra; a população tornou-se "urbana"; os livros vendem-se em Livrarias localizadas nos "Centros Comerciais" que o "povo" frequenta, em hipermercados c/ promoções e descontos, em lojas multimédia onde se podem comprar em conjunto com cd's e dvd's. Durante o ano, compram-se livros a 1 euro em "feiras" do livro usado. Ah, e há a "Amazon"... Para além disso, o livro tem agora a concorrência do cd, do dvd e de 60 canais de TV. E da internet. Entretanto a "Feira do Livro" é basicamente a mesma, com o mesmo aspecto pouco acolhedor, que não nos "envolve" com os livros, e as mesmas "barraquinhas" manhosas atiradas para o Parque Eduardo VII onde ninguém "passa". Acresce que a "Feira" está dividida por "editoras" e não por "temas": quem se lembra de qual a editora de um livro a comprar? Hoje em dia, por muito que nos custe, não tem qualquer razão de ser. Quem leva o "livro ao povo" são os hipermercados, as "Bertrand" e "Bullosa" nos CC's e por aí fora. E com sucesso!, pois nunca se leu tanto em Portugal. Portanto, não é uma questão de falta de promoção de um bom produto: é um mau produto, sem mercado, que, como tal, nenhuma boa campanha de promoção poderá salvar!"

O regresso de Jorge Coelho

Uma ou duas pequenas notas sobre esta afirmação de Jorge Coelho:

O que o país precisa não é, essencialmente, de infra-estruturas que suportem o seu desenvolvimento. Utilizando uma expressão muito popular: “para esse peditório andamos há muito a contribuir”. O que o país precisa é, isso sim, de um modelo de desenvolvimento equilibrado e sustentado que quebre de vez com o ciclo do betão e das exportações de baixo valor acrescentado produzidas por empresas de baixa produtividade e baseadas em mão de obra desqualificada e mal paga. Claro que este não é o modelo que mais convém à empresa onde Jorge Coelho exerce actualmente as funções de administrador (aqui para nós: far-lhe-ia bem um período de “nojo” mediático, um certo luto da palavra, embora todos saibamos ao que vai e o que a ambos – Jorge Coelho e Mota-Engil - move), e também, face á revisão em baixa do crescimento da economia portuguesa e às dificuldades que a crise internacional irá causar à expansão das exportações, aquele do qual o governo irá tirar maiores proveitos no curto prazo. Mas este é na realidade o drama: se não cresço não ganho eleições, para crescer e ganhar eleições nada como a velha receita. Pelo menos – secreta esperança – que o governo a saiba aplicar com alguma dose de bom senso e parcimónia quanto baste, à espera de melhores dias. É que é já pedir tão pouco...
PS: já agora uma vista de olhos ao nome de outros dois participantes na conferência: Augusto Mateus e Fernando Nunes da Silva, dois dos "mentores" do projecto da "mega cidade aero-portuária". Nada mais a acrescentar...

quarta-feira, maio 14, 2008

Rui Costa

Excelente a conferência de imprensa de Rui Costa. Um discurso curto que não ultrapassou o essencial; um equilíbrio perfeito entre proximidade e distanciamento, formalidade e informalidade olhando de frente os seus interlocutores; respostas simples, directas e claras, curtas mas contendo o essencial; um certo toque de cosmopolitismo onde ele costuma ser uma raridade. Igual dentro e fora dos relvados: a rara capacidade de tornar o difícil fácil, aparentemente sem esforço. Algo só ao alcance dos eleitos. Esperemos confirme. Se assim for, será um dia presidente do Benfica. Ainda bem, já que o contraste com Luís Filipe Vieira foi por demais evidente. Para este último, certamente penoso.

Eles também foram "soixante-huitards" (9)

1960's Civil Rights Movement

À deriva...

O que têm em comum Sven Goran Eriksson, Alberto Zaccheroni, Quique Flores, Alberto Malesani e Carlos Queirós? Um clube à deriva, em completo desvario e sem qualquer projecto e estratégia consistentes para a actividade que persegue. Nada de novo, pois o que aconteceu com a opção Eriksson já aqui o tinha previsto.

terça-feira, maio 13, 2008

"The words of the prophets are written on the subway walls": os cartazes do Maio 68 (5)





Smoking/No Smoking

Duvido que José Sócrates alguma vez tenha visto “Smoking/No Smoking”, o díptico de Alain Resnais. A ideia é muito simples: a intriga desenvolve-se de forma diferente, em cada um dos filmes, em função de um (ou ambos, confesso já não me lembrar bem) dos protagonistas, Pierre Arditi e Sabine Azéma, decidir ou não fumar em determinado momento da história. É um conselho que deixo a José Sócrates e Manuel Pinho: que tal desenvolverem um argumento ficcionado baseado na decisão contrária, isto é, se, em vez de terem decidido fretar um voo “smoking”, tivessem optado por um voo igual ao de tantos outros passageiros, ou seja, “no smoking”? Que mudanças isso iria provocar nos temas do “Público”? Nas discussões da blogosfera? Nas reuniões com Chavez? No humor das hospedeiras? No comportamento de ambos? Na consideração dos portugueses ou no futuro do seu mandato? Não, não se trata de um exercício inconsequente e que apenas serviria para ocupar o tempo de quem dele não dispõe em profusão, preocupado como deve estar com o futuro dos portugueses. É que, para além de poderem vender essa ficção para um qualquer editor e os direitos respectivos para o cinema - com os respectivos proveitos, pois claro - bem poderiam, por essa via, chegar mais facilmente á conclusão de que uma pequena dose de bom senso, aplicada na altura certa e em matérias por vezes julgadas despiciendas, pode ter uma influência bem maior do que em princípio se julga em qualquer futuro político. A começar no dos próprios protagonistas, pois claro.

Eles também foram "soixante-huitards" (8)

"Rebel Without A Cause" (1955)

segunda-feira, maio 12, 2008

No "Prós & Contras" de hoje o futebol português suicida-se alegremente em directo

Uma pergunta: depois do “Prós & Contras” de hoje, dedicado aos vários “apitos”, quantos potenciais espectadores ainda continuarão dispostos a deslocar-se a um estádio para ver um jogo de futebol em Portugal?

Eles também foram "soixante-huitards" (7)

Mods and Rockers on Brighton Beach (1964)

Manuela Ferreira Leite e o JN

Pedir a alguém que divulgue publicamente o sentido do seu voto, algo que por lei é secreto e por essência íntimo, constitui uma intromissão inqualificável na vida privada e na intimidade de um cidadão, facto agravado quando esse cidadão é um político, ex-ministro e candidato à presidência de um partido. Algo que deveria merecer pudor acrescido quando esse cidadão e político tem sempre reservado e resguardado a sua vida privada e que bem poderia ter sido evitado com o conhecimento básico das regras de profissionalismo e deontologia que regem, ou deveriam reger, a actividade jornalística. Por isso, a resposta de Manuela Ferreira Leite a essa pergunta de um jornalista do JN só poderia a que foi: “obviamente que não lhe respondo”. Tudo o que se diga a mais é puro e simples ruído.

"The words of the prophets are written on the subway walls": os cartazes do Maio 68 (4)


"Dress codes" e as Finanças cá do bairro

Aqui há uns tempos escrevi isto sobre a questão dos Dress Codes.
"Os dress codes estão, hoje em dia, bastante aligeirados, mas independentemente de questões práticas (não dá jeito nenhum ir para a praia de fato e gravata ou jogar ténis de sobretudo), eles têm permitido, ao longo dos anos, marcar a importância e solenidade dos acontecimentos. Vestimo-nos de modo mais formal para um casamento ou um enterro, por exemplo, porque são considerados, cada um de seu modo, acontecimentos únicos e solenes, e o próprio traje utilizado contribui para essa solenidade, conferindo-lhe, inclusivamente, um mood and tone adequado. Vestimos fato e gravata para trabalhar, em certas profissões, porque estamos num terreno de relações formais, mas se essa profissão se exercer numa área onde o relacionamento é mais informal (nas áreas “criativas”, por exemplo) o nosso dress code acompanha essa maior informalidade, dispensando o fato completo e gravata. Do mesmo modo, o dress code é mais conservador e formal na banca e na advocacia, porque estamos em terrenos tradicionalmente considerados mais “sérios”, onde os negócios têm a ver com o dinheiro e a liberdade (ou a sua restrição) e onde, por isso, devemos inspirar confiança e “solidez” e não “ir com a moda do momento”. Noutra vertente, é um valor assumido que a solenidade dos acontecimentos aumenta com o decorrer do dia, por isso, em termos gerais, é comum um dress code mais formal para um jantar do que para um almoço, o mesmo acontecendo para uma festa à noite se comparada com um cocktail ao fim da tarde."
Tendo dito isto, e mesmo correndo o risco de me chamarem conservador ou elitista, até talvez arrogante que é o pior insulto que pode vitimizar um português, alguém me explica porque fui hoje atendido na Repartição de Finanças aqui do bairro por um funcionário de jeans? Eficiente, até mesmo simpático e colaborante, mas envergando uma muito proletária camisa aos quadrados e um algo coçado par de jeans? Será assim tão difícil, já não digo exigir fato e gravata, um casaquito de tweed, vá lá, que os há a preço bem módico, pedir aos senhores das Finanças que, se não se importarem, deixem os jeans para os seus fins de semana em família, com sogra, canário e cão? Pois é, eu sei, sou isso tudo que disse e ainda por cima um empedernido reaccionário. Um careta, claro! Mas, humilde contribuinte, quer queiram quer não, não vou tratar de assuntos com o fisco... de jeans! Dignidade e respeito por quem me cobra e representa: o Estado... Importam-se de retribuir?

domingo, maio 11, 2008

Passos Coelho e Fernando Ruas

A propósito da candidatura de Pedro Passos Coelho à presidência do PSD. Será que se pode ser credível apresentando um programa de cariz liberal e sendo, simultaneamente, apoiado activamente pelo autarca Fernando Ruas, presidente da Associação Nacional de Municípios? Ele há ligações que são verdadeiramente assassinas...

Eles também foram "soixante-huitards" (6)

Peter, Paul and Mary - Washington Peace March (1971)

Eriksson...

E o segundo:
Sven Goran Eriksson será ou não o próximo treinador do Sport Lisboa e Benfica, mas a luzida embaixada a Manchester - a que só faltaram os proverbiais rinoceronte e elefante já que parece o ouro, esse, não terá rareado - é reflexo de que nada se aprendeu (pode alguém ser quem não é?) e de que, mais do que uma negociação com vista a contratar um futuro treinador, estamos perante uma gigantesca operação de propaganda na linha do populismo tão caro à actual direcção - a que não terá faltado, claro está, a proverbial informação deixada cair para uma das televisões, tal qual rabo escondido com gato todo de fora. Sobre a vinda ou não de Svennie, aguardemos, embora LFV e Rui Costa tenham adoptado uma estratégia de máximo risco: se a contratação falhar o descrédito será total (os oito golos “encaixados” hoje pelo City frente a Boro parecem, contudo, vir mesmo na altura própria em socorro de Vieira). As perguntas de um milhão de dólares são contudo outras: qual a definição de funções de Rui Costa, sua autonomia e relação hierárquica com Eriksson? A quem reporta o Director Desportivo? Ao presidente, a um administrador da SAD que não LFV? Quem vai proceder à restruturação do futebol profissional do clube: Eriksson? Rui Costa? Como se vai processar a ligação do futebol profissional com as categorias de formação? Qual a política e recursos humanos do clube? Muitas perguntas; ainda poucas respostas.

Apito...

O “Gato Maltês” volta ao texto e à actividade normal com dois posts sobre futebol, já que estamos num fim de semana de grandes decisões e muito de aparentemente importante se passou nos últimos dias. Pois vamos lá ao primeiro.

Terá algo de muito importante mudado no futebol português com o desfecho do caso que passará para a posteridade com o nome de “Apito Final”? I’m afraid not... Tentarei justificar os porquês, avisando desde já que, não sendo jurista, o faço, portanto, de um ponto de vista não técnico e apenas de cidadão interessado.

Em primeiro lugar pelo óbvio: excepto no caso de Augusto Duarte, as sentenças são demasiado leves, para não dizer inócuas, o que significa não estar preenchida uma das condições-base da sua eficácia: serem suficientemente dissuasoras e evitarem que o crime compense. Mesmo no caso do Boavista, a descida de divisão constitui um problema bem pequeno face à situação do clube (é falacioso invocar a dificuldade acrescida que isso coloca à angariação de investidores, pois, como ficou provado com o lamentável caso Sérgio Silva, que só demonstra o desespero, eles pura e simplesmente não existem) e a suspensão de Pinto da Costa chega quando o seu modelo de gestão está gasto e já se perfilam candidatos credíveis (Rui Moreira) à sua sucessão. Para este, é um pequeno empurrão providencial, pese embora os seus beijos de morte a Pinto da Costa que têm já o valor de elogio fúnebre. Contra argumentarão que existe, de facto, uma sanção moral e que ficou provada a corrupção existente. Fraca consolação, numa área, numa indústria e com agentes em que a moral ocupa um lugar demasiado subalterno na hierarquia das preocupações, podendo o único resultado das condenações ser apenas, isso sim, o de provocar um ainda maior afastamento dos espectadores do espectáculo, face à sua crescente descredibilização, que é presente, e à incerteza da sua credibilização, que será ou não futuro. Claro que, muito possivelmente, são as possíveis em função da legislação existente, mas esse é exactamente um dos problemas: sendo a legislação produzida pelos dirigentes, que na sua esmagadora maioria se mantêm, nada nos diz que possa ser alterada no sentido de uma maior equidade, podendo inclusivamente as actuais sentenças servirem, isso sim, para alertar para os perigos a que clubes e dirigentes se podem expor. A tibieza das reacções à questão dos ordenados em atraso, mesmo da parte de Hermínio Loureiro (a questão não é não poderem inscrever-se na Liga ou perderem pontos no caso de ordenados em atraso – a perda de pontos pode causar prejuízos ou provocar benefícios a terceiros -, é apresentarem garantias reais de que isso não aconteça), não augura nada de muito positivo.

Em segundo lugar porque tudo é demasiado tardio, demasiado à posteriori. Sejamos claros: os acontecimentos que deram lugar à punição aplicada ao FCP e ao seu presidente, por quase desnecessários na altura, só se explicam por um way of doing the things, uma cultura de clube instalada desde há muito e, como acontece com todas as tradições e práticas de longa data, difícil de alterar. Muito mais quando a impunidade de anos a fio tornava o FCP inimputável. A superioridade do clube era já um dado adquirido por essa altura e esses tempos, vinda dos anos em que uma conjuntura política, social e económica favorável permitiu que passasse incólume muito mais e muitíssimo mais grave do que aquilo que agora é condenado, ajudando a vencer a inércia criada por anos a fio de ausência de vitórias e de sucessos escassos. Digamos que o clube cresceu numa mentira para se poder agora afirmar numa verdade: a sua actual e incontestada superioridade desportiva.

A questão agora será: é possível que tudo mude para que eventuais situações semelhantes possam ser detectadas em tempo suficientemente útil para que o prevaricador delas não beneficie? E que a legislação permita a aplicação de penas verdadeiramente dissuasoras? Com a maioria dos actuais dirigentes, criados pelo actual “sistema” e que dele vivem e se alimentam (sem mesmo saberem como sobreviver fora dele), isso parece-me impossível, e apenas a sua substituição o poderá tornar viável. Parece-me que só um ainda maior declínio da indústria, fruto da sua incompetência dirigente, ou um mercado mais competitivo, por via de uma maior internacionalização (a ideia de uma Taça da Liga Ibérica, na impossibilidade da fusão dos campeonatos ibéricos, a solução ideal, parece-me muito positiva), poderá conduzir a esse desiderato. Sem isso, receio bem estarmos apenas perante pequenos face liftings, pequenas operações de cosmética.

segunda-feira, maio 05, 2008

Eles também foram "soixante-huitards" (2)

Tommie Smith e John Carlos - Final dos 200 metros dos Jogos Olímpicos do México (1968)

"The words of the prophets are written on the subway walls": os cartazes do Maio 68 (2)


Ainda a unificação das polícias

Embora a transferência da tutela da Polícia Judiciária do Ministério da Justiça para a Administração Interna pudesse ser um começo, um ponto de partida, no fundo tem razão Carlos Anjos, representante da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC), ao afirmar que estando a PSP e a GNR sob a mesma tutela nem por isso a descoordenação entre elas deixou de existir. Tem razão porque o que deveria estar em causa, isso sim e de uma vez por todas, para pôr fim a essa descoordenação, seria a unificação de todas as polícias numa única polícia civil (em vez de continuarem a existir cidadãos de primeira e de segunda consoante vivam em áreas sob a jurisdição da PSP civil ou da GNR militar), com os seus diversos ramos especializados, constituindo a actual Judiciária o seu ramo de investigação criminal. Mas esta será, porventura, uma questão da qual o tradicional nacional-corporativismo fugirá a “sete pés” e sobre a qual Carlos Anjos, que em muitas ocasiões tem demonstrado uma dose de bom senso bem superior aos seus colegas de outras polícias, talvez nem sequer goste de ouvir falar. Direi que é pena.

3 000 espectadores no Estrela-Benfica

Analisando as "fichas de jogo" publicadas pelo "Público", o decisivo Estrela da Amadora-Benfica foi, entre os jogos disputados ontem, aquele que teve a segunda menor assistência (3 000), só ultrapassado negativamente em 500 espectadores por um Boavista-Braga sem qualquer interesse competitivo. E, note-se, jogava-se um União de Leiria-Leixões! Será que isto não leva a direcção do meu clube a pensar um pouco mais sobre o destino para onde está a conduzir o Benfica? Ou para LFV, tendo em conta o exemplo de Vale e Azevedo, afigura-se assim tão dramático o dia em que deixar a presidência do clube?

domingo, maio 04, 2008

Eles também foram "soixante-huitards" (1)

Buffalo Springfield - "For What It's Worth"

"The words of the prophets are written on the subway walls": os cartazes do Maio 68 (1)

Maio de 68

Maio de 68 perdeu ou ganhou? É estúpido colocar a questão deste modo. Em primeiro lugar porque Maio de 68 não foi uma revolução no sentido clássico do termo, conduzida por uma classe ou aliança de classes cujo objectivo essencial fosse derrubar e substituir as estruturas do Estado por estas terem deixado de corresponder aos interesses e relação de forças da sociedade, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, na Revolução de Outubro ou na Revolução Francesa. Em segundo lugar, e pessoalmente acho só isso permite compreender integralmente o que se passou, Maio de 68 é apenas mais um acontecimento, embora talvez o que assume uma proporção mais dramática e mais concentrada no tempo, de algo que começa em meados dos anos cinquenta com a emergência do rock and roll e daquilo que ficou conhecido como a “deliquência” juvenil e se prolonga pela década de 60 com a “swinging London”, o movimento “Mod”, a cultura pop, a Primavera de Praga, a luta pelos direitos cívicos e contra a guerra do Vietnam, o movimento Hippie, o LSD e o psicadelismo, o Black Power e acaba, em apenas algumas das suas formas minoritárias e marginais, no desespero dos Bader-Meinhoff e das Brigadas Vermelhas: a luta da geração dos pós guerra, dos baby boomers, contra valores e instituições anteriores à WW II, e que em nada correspondiam ás aspirações, desejos, valores sociais e culturais de uma nova geração. Neste sentido, sim, tratou-se de choque com posterior reajuste, não entre Estado e sociedade mas entre gerações, entre valores, entre culturas, entre modos de vida e formas de ver e entender o mundo. Daí o ter sido essencialmente um movimento protagonizado por jovens estudantes, muitos deles oriundos de classes sociais favorecidas, mesmo quando, conjunturalmente, conseguiu agregar a si outros extractos sociais. Daí, mesmo no caso da luta anti-segregacionista nos USA, ter nascido e ter-se sedimentado nos campus universitários. Daí a influência do maoísmo, mesmo que muitas vezes reduzido apenas a algum do seu folclore, visto como algo anti-sistema por via da revolução cultural e nascido, também ele, no pós guerra, aparentemente combatendo e subvertendo o rejeitado conservadorismo tradicional do movimento comunista de inspiração soviética, vindo do período entre as duas guerras.

Por isso, colocar a questão do poder em algo que nada tinha ver com ele - pelo menos no sentido do poder de “estado”, já que tinha a ver com o poder na sociedade, se é que a expressão permite fazer compreender o que estava em causa e as diferenças -, como o faz alguma esquerda mais radical do BE, é um erro de quem percebeu pouco do que se passava. Daí serem tão importantes para entender Maio de 68 nomes como Daniel Cohn Bendit e André Glucksmann, como também Dylan, Timothy Leary, Mary Quant, Mick Jagger, Luther King, Janis Joplin, Tommy Smith e John Carlos, Alexander Dubcek e Andy Warhol. Tantos outros... Já agora, “A Taste of Honey” e Rita Tushingham. Alguém conhece?

quinta-feira, maio 01, 2008

"Que floresçam mil flores"... (19)

Cartaz de Ha Qiongwen (1963)
American imperialism must be driven out of Southern Vietnam!
Publisher: Shanghai People's Fine Arts Publishing House(Offset, 107x77x cm., inv.nr. BG G1/867)
"Throughout the Vietnam War, China supports the communist north. After the departure of the Americans and the unification of the North and South, the old rivalry between China and Vietnam for dominance in this region leads to strained relations and border conflicts."

Os estádios...

Depois de o recentemente reeleito presidente da Associação Académica de Coimbra (OAF), com um estádio novinho em folha quase no centro da sua cidade, ter proposto a construção de um novo estádio para o seu clube, agora é o presidente da Naval 1º de Maio, clube sem tradição no futebol e que tem mais de 2 500 adeptos a assistir aos jogos apenas no dia em que o rei faz anos, a querer fazer o mesmo. Resta acrescentar que na Região centro existem 3 estádios construídos para o Euro 2004 - mais um em Águeda, moderno e com boas condições - normalmente desertos e, dois deles, entregues a clubes em crise e que disputarão a Liga de Honra no próximo ano. E isto sem falar do Estádio Algarve e do que irá acontecer ao "Bessa", propriedade de um clube falido. Ah, os responsáveis, quase todos, continuam por aí: Madaíl é presidente da FPF, José Sócrates 1º ministro, Hermínio Loureiro presidente da Liga, Laurentino Dias secretário de estado, Barroso presidente da Comissão Europeia. Mas, claro está, tratou-se de um desígnio nacional e a memória dos portugueses anda mesmo a precisar de fósforo.