Maio de 68 perdeu ou ganhou? É estúpido colocar a questão deste modo. Em primeiro lugar porque Maio de 68 não foi uma revolução no sentido clássico do termo, conduzida por uma classe ou aliança de classes cujo objectivo essencial fosse derrubar e substituir as estruturas do Estado por estas terem deixado de corresponder aos interesses e relação de forças da sociedade, ao contrário do que aconteceu, por exemplo, na Revolução de Outubro ou na Revolução Francesa. Em segundo lugar, e pessoalmente acho só isso permite compreender integralmente o que se passou, Maio de 68 é apenas mais um acontecimento, embora talvez o que assume uma proporção mais dramática e mais concentrada no tempo, de algo que começa em meados dos anos cinquenta com a emergência do rock and roll e daquilo que ficou conhecido como a “deliquência” juvenil e se prolonga pela década de 60 com a “swinging London”, o movimento “Mod”, a cultura pop, a Primavera de Praga, a luta pelos direitos cívicos e contra a guerra do Vietnam, o movimento Hippie, o LSD e o psicadelismo, o Black Power e acaba, em apenas algumas das suas formas minoritárias e marginais, no desespero dos Bader-Meinhoff e das Brigadas Vermelhas: a luta da geração dos pós guerra, dos baby boomers, contra valores e instituições anteriores à WW II, e que em nada correspondiam ás aspirações, desejos, valores sociais e culturais de uma nova geração. Neste sentido, sim, tratou-se de choque com posterior reajuste, não entre Estado e sociedade mas entre gerações, entre valores, entre culturas, entre modos de vida e formas de ver e entender o mundo. Daí o ter sido essencialmente um movimento protagonizado por jovens estudantes, muitos deles oriundos de classes sociais favorecidas, mesmo quando, conjunturalmente, conseguiu agregar a si outros extractos sociais. Daí, mesmo no caso da luta anti-segregacionista nos USA, ter nascido e ter-se sedimentado nos campus universitários. Daí a influência do maoísmo, mesmo que muitas vezes reduzido apenas a algum do seu folclore, visto como algo anti-sistema por via da revolução cultural e nascido, também ele, no pós guerra, aparentemente combatendo e subvertendo o rejeitado conservadorismo tradicional do movimento comunista de inspiração soviética, vindo do período entre as duas guerras.
Por isso, colocar a questão do poder em algo que nada tinha ver com ele - pelo menos no sentido do poder de “estado”, já que tinha a ver com o poder na sociedade, se é que a expressão permite fazer compreender o que estava em causa e as diferenças -, como o faz alguma esquerda mais radical do BE, é um erro de quem percebeu pouco do que se passava. Daí serem tão importantes para entender Maio de 68 nomes como Daniel Cohn Bendit e André Glucksmann, como também Dylan, Timothy Leary, Mary Quant, Mick Jagger, Luther King, Janis Joplin, Tommy Smith e John Carlos, Alexander Dubcek e Andy Warhol. Tantos outros... Já agora, “A Taste of Honey” e Rita Tushingham. Alguém conhece?
Por isso, colocar a questão do poder em algo que nada tinha ver com ele - pelo menos no sentido do poder de “estado”, já que tinha a ver com o poder na sociedade, se é que a expressão permite fazer compreender o que estava em causa e as diferenças -, como o faz alguma esquerda mais radical do BE, é um erro de quem percebeu pouco do que se passava. Daí serem tão importantes para entender Maio de 68 nomes como Daniel Cohn Bendit e André Glucksmann, como também Dylan, Timothy Leary, Mary Quant, Mick Jagger, Luther King, Janis Joplin, Tommy Smith e John Carlos, Alexander Dubcek e Andy Warhol. Tantos outros... Já agora, “A Taste of Honey” e Rita Tushingham. Alguém conhece?
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