Durante a campanha para a liderança do PSD, Ferreira Leite confirmou aquilo que dela se esperava: é uma pessoas séria, honesta, credível, mas falta-lhe dimensão política, o que só confirma as suas insuficientes prestações enquanto governante responsável pelas Finanças e Educação. Mas, infelizmente, embora afirmando sempre nada prometer por não saber se poderia cumprir, também não conseguiu resistir à tentação, ao afirmar ser o principal problema do país de índole social. Por muito que isso possa doer e parecer ferido de insensibilidade, não é, e Ferreira Leite bem o sabe: é político, isto é, tem que ver com a opção por um modelo de desenvolvimento que, embora possa ter consequências sociais negativas no curto prazo (certamente as teria), consiga minimizar e até eliminar os problemas da pobreza e desigualdade no futuro. Isso passa, a nível financeiro e económico, pela rápida correcção do déficit e por uma política de desenvolvimento que rompa com o ciclo do betão e obras públicas, pela minimização do desperdício, pela reformulação da Justiça e da Administração, pela reconversão empresarial e pelo combate ás ideias conservadoras e retrógradas dos sindicatos e das corporações, em boa parte responsáveis pelos níveis actuais de desigualdade e de pobreza. Passa, também, por um modelo de integração ibérica fundamentalmente baseado na complementaridade e não numa hipotética e condenada ao insucesso concorrência entre iguais. Também, no campo ideológico, por um combate contra o conservadorismo da esquerda tradicional e o aventureirismo ultra-liberal dos diversos choques fiscais e das miríficas flat taxes. Repetir as mesmas receitas, o que parece depreender-se tanto das afirmações de Ferreira Leite como da esquerda conservadora de Manuel Alegre, apenas dará origem aos mesmos trágicos resultados que ambos afirmam agora querer combater. Valeu a Ferreira Leite a falta de credibilidade de Santana Lopes e a incongruência de Passos Coelho. É pouco.
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