O meu texto de 24 de Maio de 2007 sobre a "Feira do Livro", agora que um grupo de editores retrógrados tenta, num contexto de mudança do mercado editorial com a emergência da Leya, evitar qualquer inovação na "Feira" que ponha em risco os seus... direitos adquiridos. Ou seja, que coloque em causa o seu direito a suicidarem-se arrastando consigo todo um sector.
"O que me espanta é a "Feira do Livro" ainda existir!!! Eu comecei a ir à "Feira do Livro" teria uns 8 ou 9 anos, com o meu pai, em busca dos livros dos "Cinco" e do "Emílio e os Detectives". A "Feira" tinha lugar na "Avenida", onde as pessoas circulavam, saindo dos empregos para apanhar transportes públicos e beber um café. Era um Portugal c/ uma classe média quase inexistente, com 35 ou 40% de analfabetismo, 50% da população a trabalhar no campo e 3 ou 4 livrarias em Lisboa frequentadas por uma elite restrita. E não havia descontos nos livros, nem promoções, lançamentos, "feiras" do livro usado e muito menos centros comerciais, hipermercados, Amazon e Fnac, lojas multimédia onde se pode comprar tudo. Sendo assim, o "conceito" de "levar o livro ao povo" fazia todo o sentido, colocando-o na rua, onde as pessoas passavam, com descontos a promover a sua venda.Entretanto, Portugal mudou radicalmente. Existe uma larga classe média com algum poder de compra; a população tornou-se "urbana"; os livros vendem-se em Livrarias localizadas nos "Centros Comerciais" que o "povo" frequenta, em hipermercados c/ promoções e descontos, em lojas multimédia onde se podem comprar em conjunto com cd's e dvd's. Durante o ano, compram-se livros a 1 euro em "feiras" do livro usado. Ah, e há a "Amazon"... Para além disso, o livro tem agora a concorrência do cd, do dvd e de 60 canais de TV. E da internet. Entretanto a "Feira do Livro" é basicamente a mesma, com o mesmo aspecto pouco acolhedor, que não nos "envolve" com os livros, e as mesmas "barraquinhas" manhosas atiradas para o Parque Eduardo VII onde ninguém "passa". Acresce que a "Feira" está dividida por "editoras" e não por "temas": quem se lembra de qual a editora de um livro a comprar? Hoje em dia, por muito que nos custe, não tem qualquer razão de ser. Quem leva o "livro ao povo" são os hipermercados, as "Bertrand" e "Bullosa" nos CC's e por aí fora. E com sucesso!, pois nunca se leu tanto em Portugal. Portanto, não é uma questão de falta de promoção de um bom produto: é um mau produto, sem mercado, que, como tal, nenhuma boa campanha de promoção poderá salvar!"
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