Confesso-me (já aqui o tinha dito) pouco ou mesmo nada admirador do “Prós & Contras”. Vejo o programa episodicamente, muito raramente na totalidade, quando o assunto é de molde a chamar mais a minha atenção e reconheço alguma qualidade e independência nos participantes. Reconheço, no entanto, o esforço por chamar mais espectadores ao debate político através de “uma coisa em forma de assim”, algo a meio caminho entre o “talk show” e o debate propriamente dito, embora o debate político sério e aprofundado seja inimigo do espectáculo e o “talk show”, demasiado dependente da qualidade de comunicadores dos participantes, inimigo do debate político. Cruel dilema, diria o velho Vasco Santana do “Pátio das Cantigas”. Ou a dificuldade da quadratura do círculo, se quiserem assim seja. Passando por cima (salvo seja) das qualidades e defeitos da apresentadora, também ela, tal como o programa, “uma coisa em forma de assim” mas claramente bem enquadrada no espírito e na forma da dita “coisa”, parece-me, contudo, que o “Prós & Contras” enveredou, nos últimos tempos, por um tom demasiado sensacionalista, muito feira de algumas vaidades (pelo que vejo e oiço, não me são mostradas razões para tal), campo de batalha do bloco central de interesses e, o que é ainda pior mas se tem acentuado de forma notória, palco de mediatização privilegiado de mesquinhos interesses corporativos. Demasiada província, direi. Tem-se acentuado, assim, a vertente “talk show”: muita plateia e pouco palco e neste demasiada representação institucional, demasiada gente que antes de abrir a boca já se sabe ao que vem e porque vem. Será talvez essa uma das funções do programa – assegurar a representação mediática dos interesses corporativos, um “escape” para o sistema, mais um palco para o queixume habitual “se não nos valem o mundo acaba amanhã” – mas, parece-me, pode ser também esse um dos caminhos mais curtos para o cansaço. Eu, pessoalmente, cansei-me, embora não fazendo parte do target possam achar já assim nasci. Se calhar, terão razão: continuo saudoso do “Choque Ideológico” da RTP N, o melhor programa de debate político dos últimos anos. Provavelmente, só eu devia gostar, e por isso acabou. Olhem, Ita Missa Est.
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