quinta-feira, maio 22, 2008

Cristiano Ronaldo, os portugueses e a língua inglesa

Ao longo da minha vida profissional, se algo fui constatando distinguir os portugueses dos meus colegas estrangeiros, para além de falarem alto, não usarem sobretudo ou gabardina e se vestirem anormalmente mal, foi o facto de, com a possível excepção dos gregos, falarem pior inglês e terem mais dificuldade em se exprimirem fluentemente em público, isto é, restringindo-se ao essencial e apresentando um raciocínio lógico, organizado e conclusivo. Para o inglês parece já vai existindo solução, com a sua obrigatoriedade escolar desde cedo (falta o castelhano, mas lá iremos que o tempo resolve tudo e aí a tradição da padeira continua a falar mais alto). Esperemos se encontre rapidamente solução para a expressão oral em público, e note-se que estou a falar de algo na antítese da verborreia e retórica parlamentares.

Comecei a notar algo podia estar a mudar quando, aí pela segunda metade dos anos oitenta, ao sair de uma discoteca que nessa altura ainda se chamava “boite”, seriam umas quatro ou cinco da manhã, dei com dois polícias conversando alegremente em inglês com um casal de turistas. Lembro-me de ter feito notar isso mesmo ao grupo que me acompanhava. Tinha razão: era um sinal das mudanças que hoje em dia se fazem notar na PSP, uma instituição que, felizmente, nada tem a ver com a de um passado não assim tão distante, com a qual parece partilhar apenas o nome.

A minha esperança aumentou há pouco, quando, ao ver a Sky News, ouvi Cristiano Ronaldo exprimir-se num tom de voz loud and clear, mais ou menos escorreita e fluentemente, na língua de Sua Majestade Elizabeth II. Foi um sobressalto! Estará mesmo algo a mudar? Eu acho que sim, e uma secreta esperança me assaltou o coração, já se si tão fragilizado depois de 120 minutos a torcer pelo United. É pelo menos um bom indício... que esperemos daqui a uns anos se confirme.

2 comentários:

ié-ié disse...

Apenas duas impressões:

1ª Também o meu queixo se abriu desmesuradamente quando não há muito tempo ouvi um jovem PSP a explicar fluentemente em inglês a uma turista que não valia a pena pagar o estacionamento no Parque das Nações, alegando a sua ilegalidade.

2ª Não estou tão certo quanto a Cristiano Ronaldo e a sua língua de Shakespeare. Nem na de Camões!

LT

JC disse...

Mas olhe que se safou razoavelmente, Luís. Principalmente se tivermos em conta o cansaço e o momento de euforia!!! É que futebolista, aqui há uns anos, dois dias depois de estar no estrangeiro já só pensava no bacalhau com batatas...
Abraço