segunda-feira, março 31, 2008

Clássicos do Cinema (48)


"Forbidden Planet" de Fred M Wilcox (1956)

António Borges vs Manuel Pinho, com os "Bichos Carpinteiros" de permeio

Muito provavelmente, o episódio narrado por António Borges, então vice-presidente do Goldman Sachs, sobre as pressões que ele e os negócios do banco terão sofrido por via das declarações hostis de Borges, enquanto militante do PSD, ao governo de Sócrates, será verdadeiro. Nada me leva a pensar que o não seja; tudo me leva a crer seja esta, com mais ou menos nuances, a prática corrente.

Já estou em completo desacordo com a crítica de "hidden persuader" a Borges, acusando-o de falta de ética, quando afirma que, para António Borges, o governo é mau para governar mas bom para os negócios. Não vejo a razão pela qual criticar a governação do país seja incompatível com manter negócios com esse mesmo governo. A adoptar esse procedimento como norma, a maioria das empresas privadas do país já estaria fechada.

Mas existem duas atitudes de António Borges que, do ponto de vista ético, me parecem ser, em absoluto, inaceitáveis, ou, no limite, pelo menos pouco admissíveis: uma é um vice-presidente de um banco, internacional, participar activamente num congresso partidário, inclusivamente nele usando da palavra enquanto militante; outra é se deverá, uma vez abandonadas as funções que exercia, expor publicamente acontecimentos inerentes à gestão e aos negócios do banco. Eu não o faria...

As afirmações de Gama e o silêncio do PS

Estranho e ensurdecedor silêncio, este, o dos críticos da actual direcção do PS no caso das afirmações de Jaime Gama na Madeira. Onde está a tonitruante voz de Manuel Alegre em defesa da liberdade e da cidadania na região do país ela terá mais dificuldade em exprimir-se? Onde está, perante as afirmações de Jaime Gama em louvor de Jardim, a soit disant “ala esquerda” em defesa de um projecto que marque uma clara ruptura com a direita? Será o facto de as afirmações de Gama poderem criar dificuldades à actual direcção do partido suficiente para os críticos colocarem de lado, esquecendo-os, os princípios, tão afirmativamente agitados em outras ocasiões em que dá jeito, e, oportunisticamente, manterem, também eles, este silêncio torpe, da cobardia dos fracos, que parece tolher a direcção do PS?

Os poemas e as canções de Leonard Cohen (2)

"Winter Lady" in "The Songs Of Leonard Cohen" (1968)
Trav'ling lady, stay awhile
until the night is over.
I'm just a station on your way,
I know I'm not your lover.

Well I lived with a child of snow
when I was a soldier,
and I fought every man for her
until the nights grew colder.

She used to wear her hair like you
except when she was sleeping,
and then she'd weave it on a loom
of smoke and gold and breathing.

And why are you so quiet now
standing there in the doorway?
You chose your journey long before
you came upon this highway.

Trav'ling lady stay awhile
until the night is over.
I'm just a station on your way,
I know I'm not your lover.

domingo, março 30, 2008

Nada melhor para um "peixe de águas profundas" do que os abismos da Madeira

Não tendo Jaime Gama por tontinho, muito menos por politicamente inexperiente; tendo, isso sim, bem presente a opinião sobre si expressa por Mário Soares (“peixe de águas profundas”, para os mais distraídos) e acreditando estas suas afirmações não terão sido produzidas na sequência de uma visita demorada ao Artur, Barros e Sousa da Rua dos Ferreiros, no Funchal, algo que a sua experiência política, que não o bom gosto, desaconselharia na circunstância, elas têm apenas um único e claro objectivo: causar embaraços e desacreditar o actual PS e o governo de José Sócrates, contribuindo, assim, para dificultar a obtenção de uma nova maioria absoluta. Uma questão que Sócrates deve ter em devida conta, claro, se calhar muito mais do que as manifestações da Anadia ou o pulsar de quaisquer corporações. Esperemos, do facto, saiba pelo menos retirar as indispensáveis consequências.
E, já agora, também algo que o próprio Jaime Gama, pelo lugar que ocupa na hierarquia do Estado e que momentaneamente terá esquecido em função de outros interesses, deveria também saber fazer.

Jaguar... ou a nostalgia de um domingo

Durante anos sonhei ter um Jaguar e, claro, nunca tive um. Aí por volta da adolescência, nos late teens, ainda me lembro ter sondado o meu pai - para que comprasse um para ele -, que deve ter pensado tinha um filho doido e me retorquiu, de imediato, até estar disposto a comprá-lo se eu pagasse a respectiva manutenção, coisa com fama de se situar muito para além das possibilidades do comum dos mortais. Um familiar por afinidade tinha um, um “E Type”, preto com estofos de cabedal bordeaux, e manteve-o até há relativamente pouco tempo (anos 90), juntamente com um Daimler (a versão mais exclusiva) “saloon” 3.8, este comprado já como “clássico” e de longe o meu modelo favorito.
Depois, a partir dos anos 70, a marca entrou em declínio, juntamente com todas as outras da indústria automóvel britânica (lá por casa sempre houve carros ingleses), e o Jaguar tornou-se num carro de fiabilidade duvidosa que ninguém, pelo menos no seu perfeito juízo, se lembraria de comprar. Indiferente, pois, naquilo que me diz respeito, foi a época em que passei a ter direito a carro de empresa, melhor ou pior consoante a função que ocupava, e, por isso, de escolha limitada à política vigente.

Já nesta década, depois da marca ter sido vendida à Ford, o Jaguar passou novamente a ser considerado um carro fiável, mas perdeu algum do seu charme, ou melhor, travestiu esse charme em glamour, o que significa ter-se tornado emergente, coisa que teve o condão de me afastar afectivamente da marca. Claro que ainda me fazia virar a cabeça, de vez em quando espreitar, mas, bem vistas as coisas, era já mais uma romagem de saudade, como se estivesse apenas a ver uma recriação "hollywoodesca" de um passado não muito distante e não um daquelas séries de época tão caras à BBC.

Agora, passou de colonizador a colonizado e, mesmo que venha a ser considerado, por decreto, viatura oficial de todo e qualquer marajá que ainda reste dos tempos do velho Raj, com direito a cornaca de turbante tornado chauffeur por imposição turística, já nada será como dantes. Ou melhor, até poderá ser: se me sair um dia em sorte o prémio de um qualquer Euromilhões, em que não jogo, ou a herança de uma tia rica que desconheço exista, comprarei um exemplar de cada modelo saído até 1970, desde os tempos dos Swallow, e, então sim, eles se tornarão de novo em charme guardados religiosamente na garagem que não tenho. Ah, e serão todos verde escuro, pois claro, com o emblema do RAC na grelha.

sexta-feira, março 28, 2008

O PCP e o "Tide"

Contrariamente ao que pensa o Tiago Barbosa Ribeiro, não existe qualquer incapacidade do PCP para pensar o mundo. O pensamento político do PCP e os artigos do “Avante” que o expressam são, isso sim, como a publicidade do "Tide": nós achamos ridícula, mas funciona, de facto, muito bem junto do target group a que se destina.

Os poemas e as canções de Leonard Cohen (1)

"Suzanne" - in "The Songs of Leonard Cohen" (1967)
Suzanne takes you down to her place near the river
You can hear the boats go by
You can spend the night beside her
And you know that she's half crazy
But that's why you want to be there
And she feeds you tea and oranges
That come all the way from China
And just when you mean to tell her
That you have no love to give her
Then she gets you on her wavelength
And she lets the river answer
That you've always been her lover
And you want to travel with her
And you want to travel blind
And you know that she will trust you
For you've touched her perfect body with your mind.
And Jesus was a sailor
When he walked upon the water
And he spent a long time watching
From his lonely wooden tower
And when he knew for certain
Only drowning men could see him
He said "All men will be sailors then
Until the sea shall free them"
But he himself was broken
Long before the sky would open
Forsaken, almost human
He sank beneath your wisdom like a stone
And you want to travel with him
And you want to travel blind
And you think maybe you'll trust him
For he's touched your perfect body with his mind.
Now Suzanne takes your hand
And she leads you to the river
She is wearing rags and feathers
From Salvation Army counters
And the sun pours down like honey
On our lady of the harbour
And she shows you where to look
Among the garbage and the flowers
There are heroes in the seaweed
There are children in the morning
They are leaning out for love
And they will lean that way forever
While Suzanne holds the mirror
And you want to travel with her
And you want to travel blind
And you know that you can trust her
For she's touched your perfect body with her mind.

O futuro treinador do Benfica

A contratação pelo Benfica de um treinador com o perfil de Carlos Queiroz, seja ele quem for, esvaziará de conteúdo a figura de Director Desportivo, tornando-o, mesmo que a denominação se mantenha, num simples “relações públicas” com funções de representação do clube em determinadas circunstâncias. Parece-me uma boa solução, até porque também penso que alguém como Carlos Queiroz (repito: seja ele ou alguém com perfil semelhante) seria, no momento, uma boa solução para treinador do clube e Rui Costa terá o perfil e prestígio indicados para as funções que assim ficariam em aberto.

quinta-feira, março 27, 2008

Cinema e Rock & Roll (18)


"To Sir With Love" de James Clavell (1967)

Em tempos tão conturbados, uma lufada de ar fresco e optimismo e a prova de que, pelo menos nos filmes, os bons professores são capazes de ver reconhecido o seu mérito por turmas indisciplinadas e com tendência para a violência. Já por aqui tinha passado, nesta mesma série sobre “Cinema e Rock and Roll” – acho mesmo foi o primeiro da série –, o célebre “Blackboard Jungle” (“Sementes de Violência”), de Richard Brooks, com Glenn Ford no papel do professor. Cabe agora a vez ao seu émulo britânico (embora a produção seja americana), “To Sir With Love”, de James Clavell, um pouco mais tardio (1967 em vez de 1955), com Sidney Poitier no papel do professor negro atirado, pelo mercado de trabalho, para o ensino e para uma escola problemática do "East End" londrino..

Devo dizer que revi o filme, na televisão, ainda à relativamente pouco tempo, e, confesso, foi capaz de me tornar a comover. “Lulu” canta o inesquecível “To Sir With Love” e a banda, que vemos a acompanhá-la, é nada mais nada menos que os “Mindbenders”, ex-Wayne Fontana. Aqui fica, como um incentivo, uma homenagem do "Gato Maltês" aos bons professores (que também os há) e a prova de que o cinema é mesmo “bigger than life”.

A "Stôra" Adozinda Cruz

Dois conselhos dirigidos à “Stôra” Adozinda Cruz (aka “a velha”), professora do Carolina Michaëlis vítima de um grave acto de indisciplina durante uma aula que era suposto ser por si dirigida e que qualquer formação específica, que pelos vistos não teve ou rapidamente esqueceu porque dela não precisava para progredir na “carreira”, lhe devia ter explicado:

Ao deixar que os alunos mantivessem o telemóvel ligado durante a aula, está a infrigir uma fundamental "lei de Murphy": “o que pode correr mal, corre mal”. Claro está, correu!

Ao deixar a cada aluno, individualmente considerado, a iniciativa, está a abdicar de dirigir o grupo, acabando, como é evidente, por perder totalmente o seu controle.

Significa isto que não pode, se isso se justificar, dar uma aula, digamos assim, “aligeirada”? Claro que pode, se não se esquecer das regras básicas que deveriam presidir á condução de um grupo e à sua actividade profissional, isto é, se não abdicar de dirigir e controlar a aula. Falta de "vocação"? Não, total ausência de formação e do mais elementar profissionalismo!

quarta-feira, março 26, 2008

História(s) da Música Popular (82)

Ben E King - "Stand By Me" (King-Leiber-Stoller)


The Walker Brothers - "Stand By Me" (King-Leiber-Stoller)
Jerry Leiber & Mike Stoller (V)
Não sou um grande adepto dos Coasters, com quem Leiber e Stoller mantiveram uma bem profícua colaboração, daí talvez adiar a sua estreia mais um pouco, embora sejam incontornáveis para se falar da parceria ou mesmo em qualquer História da Música Popular digna desse nome. Por isso, vamos a um outro "algo" também ele incontornável, talvez o tema de Leiber e Stoller mais conhecido em todo o mundo e que, inclusivamente, deu título e canção-tema de um filme (realizado por Rob Reiner em 1986), assunto já aqui tratado no “Gato Maltês”. Refiro-me, claro, ao excelente “Stand By Me”, escrito pela dupla com a colaboração do seu intérprete original, Ben E King (Benjamin Earl Nelson, 1938 North Carolina), ex-vocalista dos Drifters que abandonou em 1960 depois de êxitos como “There Goes My Baby” e “Save The Last Dance For Me”.

Pois a canção, baseada num tema gospel de 1955 dos Staples Singers, tem a curiosidade de ter atingido o "Top Ten" por duas vezes, separadas por 25 anos: a primeira vez, quando da sua edição, em 1961 e a segunda em 1986 por via do filme de Rob Reiner. Para além disso, é dona e senhora de uma extensa lista de cover versions, entre as quais uma de John Lennon, em 1975 (torço-lhe o nariz...). Talvez, isso sim, a minha favorita seja a dos Walker Brothers, que nem eram irmãos nem se chamavam Walker (Scott Engel, Gary Leeds e John Mause), um grupo americano mas que apenas alcançou sucesso significativo no UK, sendo portanto frequentemente identificado com a “British Invasion”. Está incluída no álbum “Images” e é, aliás, um bom começo, pois no próximo post não deixarei de aproveitar a oportunidade para aprofundar esta relação de Leiber e Stoller com os Walker Brothers, definitivamente, entre os meus favoritos.

terça-feira, março 25, 2008

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (32)

Socorro Rojo Internacional. La bestia fascista, asesina, destruye. El S.R.I. ampara, ayuda
FCT. de la sección Artes Plásticas. A.I.D.C. Socorro Rojo Internacional. Gráficas Valencia, Intervenido U.G.T. C.N.T. Lithograph, 3 colors; 69 x 50 cm
"The large hand that splits this poster diagonally represents Socorro Rojo Internacional, and serves two important purposes. First, the hand acts as a barrier that shields the frightened boy and girl in the lower left corner from the fascist bomber and the damage it inflicts. Second, the hand, arranged in an non-menacing way, offers the children comfort and peace. The poster dramatically conveys the message that while the fascists bring death and destruction, International Red Aid protects and helps Spain's children.
This poster was published in Valencia by a lithography firm jointly collectivized by the CNT and the UGT, probably in late 1936. At that time many of the local chapters of these two unions collaborated in their collectivization experiments. The poster was designed for International Red Aid and commissioned by the Fine Arts division of the Asociación Intelectual para la Defensa de la Cultura (Intellectuals' Association for the Defense of Culture). This organization, which included artists and writers, was formed in Barcelona in January 1936 and committed itself to aiding anti-fascist forces in whatever way possible. Providing comfort and safety had long been the central purpose of International Red Aid. The charity organization affiliated with the Communist International first made its appearance in Spain after the worker's revolt of October 1934, and attempted to provide comfort, food, and other assistance to those imprisoned for their role in the rebellion. During the Civil War, the Spanish section of International Red Aid expanded its activities to include the building of transportation networks between hospitals and the front, the transformation of various buildings into makeshift hospitals and clinics, the conversion of palaces into orphanages and schools, and the creation of numerous soup kitchens and refugee shelters throughout the Republican zone. Much of the assistance provided by the organization was designed specifically for children. In Madrid, for example, International Red Aid ran the Escuela Nacional para Niños Anormales (National School for Mentally Disabled Children), which brought humane care and attention to 150 children. SRI also offered soldiers in the Fifth Regiment, a communist dominated military unit, the opportunity to send their children to youth homes while they fought the war. International Red Aid's Children's Park at the outskirts of Madrid, housed an additional 150 children away from the front. Much of the food and money that International Red Aid accumulated during its donation campaigns went directly to its programs for children. "

Um exercício divertido e interessante: Portugal e o "Euro 2008" - Análise "SWOT"

Clicar sobre a imagem para ampliar e ler.

As pulsões autoritárias ("there's something in the air")

Já não é só um rumor surdo, mas um clamor em crescendo (there's something in the air), aquele que se começa a ouvir em defesa de soluções musculadas, do retorno a uma velha ordem autoritária num mundo que se fez novo. E o que é curioso é que esse rumor, agora clamor, não parte do governo, tantas vezes acusado de autoritarismo e arrogância, do “quero, posso e mando”, mas de instituições do Estado ou até da chamada sociedade civil - que se “enxofra” por um simples polícia idiota ter visitado um sindicato mas que é capaz de apoiar posições “trauliteiras” quando se imagina ameaçada - apoiadas na demagogia populista de alguns e nas pulsões securitárias de outros, explorando, até à medula e por via mediática, a predisposição de um povo que, tendo passado da ruralidade ao estado urbano em apenas uma geração – ou pouco mais –, vê na cidade e na sua vivência, por vezes pouco acolhedora e, necessariamente, sem um polícia em cada esquina, um espaço anónimo que a violenta e oprime. Já não são só a OSCOT e o general Garcia Leandro, com as suas declarações quase decalcadas do Carmona da “Sala do Risco”, os sindicatos da polícia e da GNR apelando ao reforço de meios e lançando anátemas sobre os juizes que “libertam os criminosos” que eles tão valentemente prendem (às vezes matam...), os comentadores ex-estalinistas, ex-maoistas e ex-marxistas-leninistas, com laivos de Enver Hoxhismo, de súbito convertidos ao ultra-liberalismo militante na economia mas menos liberal... nas liberdades, sem esquecer o divertido João Gonçalves do “Portugal dos Pequeninos que, esse, pelo menos nos diverte a sério. Já não nos bastava o eco que tudo isso produz nos fóruns de opinião pública das diversas rádios e televisões, não. Agora, a propósito da cena do Carolina Michaelis, temos também o Sr. Procurador - Geral Pinto Monteiro, incapaz de resistir a um microfone no exacto momento em que devia estar calado (e devia-o estar quase sempre, pois é isso que se pede a quem exerce essas funções) para que o assentar do ruído e da demagogia permitissem encarar com bom senso as soluções que urgem, a prestar declarações, apelando à autoridade, sobre um assunto que, por ser do estrito foro educativo e não se podendo tipificar como criminalidade, a ele não lhe diria para já respeito. Sendo assim, que nos falta? Nada, excepto todos aqueles que prezam a liberdade, a democracia e a modernidade louvarem o momento de inspiração que tocou os que que decidiram a União Europeia deveria ser o nosso caminho. É isso que estou agora aqui a fazer. Nunca será demais.

segunda-feira, março 24, 2008

Ainda a violência escolar e as atitudes desculpabilizadoras

"Não podemos diabolizar uma aluna, uma professora, uma turma. Seria injusto para as pessoas que protagonizaram a cena que foi filmada".
Ana Tomás de Almeida, docente do Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho, 24-03-2008 - In "Público"

Podemos encontrar muitas causas, umas próximas outras mais remotas, para o acontecido no Liceu Carolina Michaelis. Podemos procurar explicações (tentei fazê-lo aqui), mais gerais ou particulares, circunstâncias agravantes e elementos atenuantes, outros acontecimentos ainda mais chocantes acontecidos no passado e outros que até nós não chegaram por falta de relato, também situações, por antagonismo, de excelência. Tudo isso, descartada a demagogia das primeiras reacções, ajudará a encontrar soluções alternativas, caminhos, para que, no futuro, cenas semelhantes sejam cada vez menos frequentes.

O que não podemos é adoptar a atitude desculpabilizadora e capitulacionista que a afirmação de Ana Tomás de Almeida parece querer enquadrar, na senda das que assumem existir sempre uma sociedade, um contexto, um ambiente e um passado que tudo justificam, mesmo o injustificável. Independentemente de tudo o que possa ter conduzido à situação que conhecemos (e sabemos do muito, com responsabilidades várias e partilhadas, que a pode ter ajudado a gerar), existiu uma aluna que se comportou de modo incorrecto e desrespeitador, no limite da violência física e certamente para lá dos limites da agressão psicológica, uma professora que não soube, ou não foi capaz, de demonstrar a capacidade necessária para gerir um problema do âmbito e no exercício da sua actividade profissional e uma turma que demonstrou uma total incapacidade para se comportar de acordo com as mais básicas regras da disciplina escolar. Esta é, para já e no curto prazo, a questão básica a resolver, o que significa que sem uma total responsabilização dos agentes envolvidos - , aluna, turma e professora – nunca será possível, finalmente e de “cara lavada”, partir para a resolução daquilo que lhe estará na essência.

Willie Dixon's Blues Dixonary (3)

"I'm Your Hoochie Coochie Man" (Willie Dixon)
Muddy Waters - Vocals & Guitar
Little Walter - Harmonica
Jimmy Rodgers- Guitar
Otis Spann - Piano
Willie Dixon - Bass
Fred Bellow - Drums
Gravado em Chicago a 7 de Janeiro de 1954


"I'm Your Hoochie Coochie Man" (Willie Dixon)
Alexis Korner's Blues Incorporated
Cyril Davies - Vocals
e, provavelmente,
Alexis Korner - Guitar
Keith Scott - Piano
Jack Bruce ou Spike Heatley - Bass
Dick Heckstall-Smith - Sax
Charlie Watts ou Graham Burbridge - Drums
Gravado no Marquee Club - 165, Oxford Street, London - em Junho de 1962

As Capas de Cândido Costa Pinto (41)

Capa de CCP para "A Morte da Canária" de S. S. Van Dine, nº 20 da "Colecção Vampiro"

domingo, março 23, 2008

Simone de Oliveira

Não fora o caso de lhe ter calhado em sorte interpretar “Desfolhada”, uma canção emblemática do período de renovação da música ligeira portuguesa do final dos anos sessenta proporcionado pela “primavera” marcelista e pela tradicional infiltração do PCP em algumas organizações e estruturas do regime, onde e quando isso era possível, Simone de Oliveira não teria passado de mais um produto do “Centro de Preparação de Artistas da Rádio”, do maestro Motta Pereira e da Emissora Nacional, aquilo a que João Paulo Guerra chamou de “nacional-cançonetismo”. Talvez o melhor desses produtos – “Sol de Inverno”, de Nóbrega e Sousa, continua a ser o seu melhor tema e a sua melhor interpretação - também beneficiado pelo afastamento precoce de Maria de Fátima Bravo e, certamente, bem melhor do que a “Tonicha” daquele inenarrável “Menina”, com um poema a puxar ao folclorismo bucólico qual versão erótica de uma ilustração de Milly Possoz.

No período de todos os radicalismos do pós 25 de Abril, o ter sido a intérprete de “Desfolhada” permitiu a Simone passar relativamente incólume e, honra lhe seja feita, soube tomar as opções partidárias acertadas em função do ambiente geral do país e do seu perfil e passado: tão à esquerda quanto credível, tão “intelectual” quanto interessava; sem se deixar resvalar para o oportunismo dos compagnons de route de ocasião, para uma direita que a não reconheceria pela sua vida privada e passado artístico ou para o campo da canção “política”, de “intervenção”, ao qual não pertencia e onde não era reconhecida. Opção inteligente teve-a também no modo como geriu a sua vida privada, não se deixando tentar pela devassa nem pela opacidade total, libertando a informação necessária, e do modo e pelos meios que lhe interessavam, para “vender” a imagem de mulher independente e de coragem num país onde, por dependências várias e cobardias muitas, esse tipo de comportamento, que deveria ser o padrão e a normalidade, ainda embasbaca muita gente. Tê-lo-á sido ou não - se o foi ainda bem - mas essa é a imagem que fez sua e a ajudou na construção da carreira. Tudo isso esteve uma vez mais bem presente na entrevista que concedeu a Judite Sousa e que hoje repete na RTP1 a propósito dos seus cinquenta anos de carreira, mas se formos verificar quem a acompanha no espectáculo desses mesmos cinquenta anos, que a mesma RTP hoje proporciona a quem estiver disposto a vê-lo (a RTP e não a SIC ou a TVI, o que faz toda a diferença e serve para caucionar uma imagem "nacional" de respeitabilidade e "qualidade"), a visão é deprimente: Anabela, Carlos Quintas, Mariza Pinto, Dulce Pontes, Madalena Iglésias, Vítor de Sousa e Wanda Stuart (cito do “Público”) pertencem ao pior de Portugal ou são o Portugal no seu pior, o que nem a presença de um mais aceitável Pedro Abrunhosa consegue fazer esquecer. É este, no fundo, o Portugal que gerou Simone e que ela cauciona. Um Portugal do qual, por também lhe pertencer e lhe ter dado sempre um certo jeito (à carreira, claro), nunca conseguiu ou terá querido descolar.

sexta-feira, março 21, 2008

Indisciplina na escola e comportamentos sociais

Tentação fácil responsabilizar a política “facilitista” do Ministério da Educação, nos últimos decénios, pelo clima de indisciplina e violência nas escolas. Tentação fácil responsabilizar os professores e a sua má ou inexistente preparação pela incapacidade de lidar com ela. Tentação também fácil apelar ao regresso impossível de uma disciplina “pura e dura”, do “antigamente é que era”, como solução para o problema. Significa isto que o Ministério e a dita política “facilitista”, os professores e a sua incompetência fruto de uma preparação inexistente, não terão a sua quota parte de responsabilidade neste estado de coisas? Claro que têm. Significa isto que regras mais rígidas de disciplina (por exemplo, deixar o telemóvel identificado em local apropriado à entrada de cada aula) não serão indispensáveis e bem vindas? Claro que sim. Mas a questão é um pouco mais funda e assim deve ser analisada.

Quando eu andava no Liceu os liceus eram frequentados por uma elite (a não-elite ficava na 4ª classe ou ia para a Escola Técnica) e os professores constituíam, eles próprios, uma outra elite respeitada enquanto tal. Era por isso relativamente fácil manter alguma disciplina nas escolas, já que ela era, em certa medida e variando de família para família, um prolongamento como que natural dos valores de ordem e disciplina, de “respeito”, vigentes na sociedade, mesmo para quem nasceu, cresceu e viveu numa família relativamente liberal, como foi o meu caso. Para além das saudáveis manifestações de irreverência e rebeldia, tanto no Liceu como em casa, era absolutamente natural os alunos levantarem-se quando entrava o professor, porque também em casa, na maioria das famílias, nos levantávamos quando chegava ou cumprimentávamos alguém mais velho. Era também natural ir de gravata para o liceu (em alguns liceus isso era obrigatório), pois esse era o dress code habitual fora do período de brincadeira, quer fosse para ir “à baixa”, ter com o pai ao escritório ou até ao cinema. Não era nada forçado pedir ao professor licença para entrar na sala de aula, se também pedíamos aos mais velhos para nos levantarmos da mesa no final do jantar. Para os professores a questão era igualmente fácil de gerir, pois também eles provinham da mesma elite que formava o grupo de alunos e, enquanto tal, eram respeitados de acordo com os valores vigentes na época. A ditadura “ajudava”, claro, mas, com ou sem ela, estes eram os padrões de comportamento, que só começaram a alterar-se, lenta e conroladamente, na segunda metade dos anos sessenta. A Escola, o Liceu, não estava, como não poderia nunca estar, desfasada daquilo que era a sociedade de então, pelo menos da sociedade que a frequentava e constituía.

A democratização da Escola, ajudada pela democratização e massificação da sociedade (o fim da sociedade de classes, estanque como a conhecíamos) alterou todo este estado de coisas, do lado dos alunos e do lado dos professores. Mesmo sem a desautorização destes e o “facilitismo” das políticas do Ministério (que são e foram reais), como explicar e fazer aceitar por um aluno, sem que este se sinta demasiado violentado nos seus valores e direitos, sem que este considere a sua imposição como uma arbitrariedade, determinadas regras de conduta que ele nunca seguiu na sua vida fora da escola e que lhe são completamente estranhas, e até anómalas, no seu dia a dia na família e no “bairro”? Como explicar-lhe que não deve usar boné ou capuz na sala de aula se isso é comum na sua casa e no seu ambiente familiar? Como explicar que não pode usar o seu telemóvel na mesma sala de aula se, provavelmente, o faz permanentemente durante as refeições em família – se é que, eventualmente, algo de semelhante existe na sua em casa – ou se fecha no quarto horas a fio a enviar SMS’s ou numa sala de chat? Como incutir-lhe códigos de linguagem que não são habitualmente os seus, deles diferindo dramaticamente? Mais ainda, como conseguir tudo isto através de professores que, também eles, se proletarizaram e para os quais muitos destes valores, se não estranhos, são, pelo menos, práticas pouco comuns e habituais na sua vida fora da escola, nas suas famílias? Para quê maçarem-se muito se, muitos deles, já escolheram o ensino porque assumiram, à partida, a sua incapacidade ou desinteresse perante a competitividade a que seriam obrigados numa outra profissão, no “mundo exterior”? Mais uma vez, a Escola não pode constituir - porque não só “não pode” como isso não é possível de acontecer - algo de exterior à sociedade que a compõe e onde se insere, onde vivem os seus agentes, alunos, professores e funcionários.

Significa isto “atirar a toalha” e capitular perante este estado de coisas? Claro que não, e é absolutamente necessário, de imediato, definir e fazer cumprir um plano de crise que inclua algumas regras básicas de comportamento, até porque, para além da questão do aproveitamento escolar, isso é indispensável ao papel da Escola como instituição integradora na sociedade. Mas a sua resolução global e de fundo parece-me ser bem mais complicada do que o simples regresso à “boa ordem” do antigamente, por muitos demagogicamente agitada como panaceia para todos os males do mundo.

Outras Músicas

Georg Friederich Händel - "Der Messiah" . "And the Glory of the Lord"

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quinta-feira, março 20, 2008

Outras Músicas

Georg Friederich Händel - "Der Messiah". Abertura.

PSD: Ganhar eleições ou exercer o poder?

Restringir o problema do PSD a saber-se como vai ganhar eleições e conquistar o poder é simplificar a questão, abdicando de pensar o mais importante. Para saber como vai ganhar eleições e conquistar esse poder, o PSD precisa, fundamentalmente, de saber como o vai exercer. E pelo andar da carruagem, quer-me bem parecer que é aí “que a porca ainda torce mais o rabo”.

terça-feira, março 18, 2008

A Ministra da Saúde

"Sou uma pessoa de diálogo, acho que todas as situações se podem resolver através do reconhecimento de que todos somos importantes na construção de um melhor Serviço Nacional de Saúde”.
Ana Jorge, Ministra da Saúde

Um discurso redondo, vazio, acomodado, de uma ministra que, depois de desaparecida, parece e aparece agora conformada numa pasta em que se exigia exactamente o contrário: alguém com o dinamismo suficiente para fazer as rupturas necessárias, para mudar, para pedagogicamente resistir ao populismo e à demagogia. Um erro de casting? Talvez nem tanto: mais uma personagem que o autor da peça tem dificuldade em definir ou, propositadamente, prefere, para já, deixar na sombra.

"Lucy in the Sky with Diamonds" (16)

January 27-28, Grateful Dead, Quicksilver Messenger Service
Avalon Ballroom, Sutter, Van Ness, San Francisco;
all that stuff on the wall by Roger Hillyard, Ben Van Meter. 1967

História(s) da Música Popular (81)

The Searchers

The Clovers

The Clovers - "Love Potion nº9" (Jerry Leiber-Mike Stoller)


The Searchers - "Love Potion nº 9" (Jerry Leiber-Mike Stoller)

Jerry Leiber & Mike Stoller (IV)

Muitos dos grupos da chamada “British Invasion” começaram ou, até, alicerçaram a sua carreira por via de covers de originais americanos. Assim, se os grupos nascidos na área R&B, como os Rolling Stones, Manfred Mann, Animals, Yardbirds, etc, todos eles gravaram originais dos grandes nomes do "blues" clássico, outros, muitos deles nascidos do skiffle, não deixaram de gravar temas dos pioneiros do "rock n’roll" ou de compositores americanos da área da pop music. Foi este o caso dos Beatles – e um dia lá iremos – que incluíram no seu repertório composições e temas originais de Chuck Berry, Carl Perkins, Little Richard, Smokey Robinson, Barry Gordy (o da Motown), mas também de Goffin e King, Bacharach e David e Jerry Leiber e Mike Stoller (“Kansas City”, já aqui citado), todos eles, de uma ou de outra forma, ligados ao Brill Building.

Um dos grupos de maior sucesso da chamada segunda linha do "Liverpool Sound", dos poucos que não partilharam com os Beatles o manager Brian Epstein, e, também ele, tal como os Beatles, com raízes no skiffle, foi The Searchers, um grupo “certinho” que foi assim chamado em homenagem ao filme homónimo de John Ford e que baseava a sua música em harmonias vocais agradáveis e num som de guitarra com notórias semelhanças com o que viria a ser o dos americanos Byrds, de Roger McGuinn. Pois também os Searchers não ficaram imunes à inspiração americana e começaram a sua carreira de êxitos em 1963 com “Sweets For My Sweet”, um original dos Drifters e de Doc Pomus e Mort Shuman, nomes que também passaram pelo Brill Building. Mas não se ficaram por aqui, já que alguns dos seus maiores êxitos foram obtidos com covers da pop americana, tais como “Needles and Pins” (#1 em 1964), de Jack Nietzsche e Salvatore “Sonny” Bono (marido e parceiro de Cher no duo Sonny and Cher e mais tarde político republicano eleito para a Câmara dos Representantes), ambos “Brill Building”, “When You Walk In The Room”, de Jackie DeShannon e este “Love Potion nº 9”, um original dos Clovers escrito por Jerry Leiber e Mike Stoller. Diga-se, embora eu talvez prefire as versões de Jackie de “When You Walk In The Room” e, até, de “Needles and Pins”, que o fizeram com proficiência e originalidade, merecendo bem o destaque que conseguiram. Aqui fica a boa nota, bem como o original dos Clovers, um grupo de Washington DC ligado ao movimento Doo Wop e à Atlantic Records de Ahmet Ertegün, e a versão dos Searchers de “Love Potion nº 9” de Jerry Leiber e Mike Stoller.

segunda-feira, março 17, 2008

Bernardo Marques (2)

Capa de Bernardo Marques para o nº1 do Grande Magazine "Civilisação" (1928)

A política e a mentira

"Segundo estudos independentes, só entre 2001 e 2003, Bush, Powell, Rumsfeld, Cheney, Condleezza Rice e mais membros da administração americana proferiram um total de 935 declarações falsas [sobre a guerra no Iraque]. Neste quadro de terror e mentira impunes, não deixa de ser chocante que, nos Estados Unidos, um governador seja forçado a demitir-se por ter mentido... sobre a sua vida sexual."

Manuel António Pina, "Jornal de Notícias", 17 de Março de 2008

Se nos quisermos debruçar um pouco mais sobre este problema, analisá-lo com um pouco mais de profundidade e levá-lo às suas últimas consequências, isto significa, nada mais nada menos, o reconhecimento da mentira como algo inerente à própria actividade política e sem a qual ela não pode viver e muito menos sobreviver. Digamos que, tal qual prova de fogo para se ser admitido na tribo dos escolhidos, ungido com os santos óleos no sacro e santo reino onde a mentira, se usada com correcção e oportunidade, é beatificada, onde o “saber bem mentir" é condição necessária para se ser bem sucedido e ascender ao Olimpo dos imortais, é necessário apresentar-se como que limpo desse “pecado original”, tábua rasa onde tudo pode ser escrito, a partir desse momento, sem o risco de se confundir com um passado que possa tornar a mentira em algo de classificável como vulgar, definidor de um carácter. É a política como que sacralizada, e os políticos, a partir do momento em que o são, auto-considerados como uma casta privilegiada a que o pecado da mentira (só?) é necessário mas apenas permitido no âmbito dessa mesma actividade e em favor de “altos desígnios”, com a condição de que não caiam na tentação de, por vezes, esquecerem quais os limites do seu exercício. Digamos que a “grandeza” atribuída à mentira política só pode sobreviver se, e quando, confrontada com a vulgaridade e o “pecado” da mentira fora dela. Chocante? Talvez, tanto quanto a verdade o possa ser...

"Piercings" - afinal, quem manda no corpo de quem?

Este blog está perfeitamente à vontade com o que vai afirmar de seguida, pois fez campanha activa pelo “SIM” no referendo sobre a IVG e, claro, o voto expresso do seu autor foi no mesmo sentido. Mas, coerentemente, gostava de ver as radicais do “no meu corpo mando eu” fazer agora, com igual veemência, campanha contra o disparate de lei sobre a proibição de determinado tipo de piercings com que o governo se apresta para nos brindar. Então, em que ficamos? “Quem manda no nosso (delas) corpo?”

Já agora, também para o governo. Seguindo a mesma lógica com que se autorizou, e bem, a IVG em estabelecimentos licenciados, não seria melhor que, em vez de uma lei proibicionista, qual "Volstead Act" do século XXI, fosse definida uma política que protegesse a saúde de quem decidir fazer um piercing, evitando a actividade clandestina e definindo regras muito claras para quem, estabelecimentos e pessoas, o decidisse fazer?

domingo, março 16, 2008

Willie Dixon's Blues Dixonary (2)


"Third Degree" (Eddie Boyd - Willie Dixon)
Eddie Boyd - Vocal & Piano
Little Sax Crowder - Tenor Sax
Lee Cooper - Guitar
Willie Dixon - Bass
Percy Walker - Drums
Gravado em 1953

Eric Clapton - "Third Degree" (Eddie Boyd - Willie Dixon)
Live at Filmore 1994

sábado, março 15, 2008

José Sócrates na SIC

Que posso concluir de importante da reportagem da SIC Notícias sobre José Sócrates? (que, aliás, não vi na totalidade).

Duas coisas:

Existem alguns bons exemplos de pintura contemporânea portuguesa no Palácio de S. Bento. Vi pelo menos um João Vieira que as paredes cá de casa não desdenhariam.

José Sócrates ignora algumas elementares regras de cavalheirismo e boa educação: num sítio público, como um restaurante ou um café, um homem entra sempre á frente (originalmente, para ver se o local é adequado à presença de uma senhora); num carro, dá sempre a direita ao elemento do sexo feminino.

Ainda a avaliação dos professores

Contrariamente ao que Helena Matos afirmava no “Público” da passada 3ª feira, 11 de Março,

"(Falo da única forma que conheço de avaliação dum serviço: termos a liberdade de o trocar por outro. O critério da escolha das famílias – instituindo o cheque ensino e dando liberdade às escolas públicas para se organizarem consoante as necessidades daqueles que as procuram – é a única forma de se poder avaliar o trabalho duma escola e dos seus professores. Os professores serão avaliados no dia em que numa qualquer escola pública, em Portugal, um encarregado de educação possa dizer que quer transferir o seu filho para a escola Y seja ela pública ou privada, simplesmente porque ela é melhor e que, na sequência dessa transferência, os cinco mil euros que o estado português gasta anualmente com a educação do seu filho passarão a ser entregues na escola Y e não naquela que frequentou até então.

As fichas que tanta indignação têm suscitado não pretendem avaliar professores. São simplesmente um mecanismo de controlo por parte do ministério para com os seus funcionários. Mecanismo autoritário e legitimador de subjectividades várias como sempre aconteceu na relação entre o ministério e os professores. Mas aos pais e aos alunos essas fichas interessam tanto quanto o livro de ponto que os professores têm de preencher.)"

o mercado, mesmo que funcionando de forma perfeita o que só acontecerá na cabeça de Helena Matos ou nos “modelos” económicos que se utilizam como simplificações da realidade (haverá sempre constrangimentos sociais, geográficos, etc e, mesmo que os não houvesse, o resultado final seria sempre “os melhores alunos para as melhores escolas” com toda a discriminação daí resultante que é contrária à inclusão que o ensino público deve promover), apenas poderia avaliar escolas e nunca os respectivos professores, do mesmo modo que esse mesmo mercado pode avaliar empresas, premiando com o sucesso as mais competitivas, mas não cada funcionário e colaborador dentro de cada uma delas, algo que estas não se dispensam de fazer sem que alguém se lembre, talvez com a natural excepção da CGTP, de acusar as respectivas administrações de estarem a recorrer a um “mecanismo autoritário ou de controlo”.

Por muito que Helena Matos não queira ou que os bons samaritanos de momento se esforcem por fazer crer, só existe uma maneira de, em cada escola, avaliar os respectivos professores: através da respectiva hierarquia e por meio de modelos de avaliação pré definidos utilizando critérios vários, subjectivos uns e objectivos outros, pré determinados e cada um deles com a sua valência específica. Tudo o resto, em maior ou menor grau, nada mais é que uma fraude. A hierarquia, os “avaliadores” foram seleccionados por critérios contestáveis? Certamente menos contestáveis do que aqueles que permitem a actual situação de não diferenciação, nunca posta em causa por sindicatos e professores que agora provam do seu próprio veneno.

Claro que os modelos utilizados devem ser suficientemente perfeitos para evitar a aleatoriedade ou o demasiado peso específico atribuído a critérios puramente subjectivos; claro que seria ideal que o modelo fosse suficientemente flexível e as escolas tivessem autonomia suficiente para que a valência de cada critério, o seu peso no total, variasse em função dos objectivos de cada uma, o que não sei se acontece; claro que uma avaliação deste tipo é tanto mais complexa quanto maior for a sua preocupação com o rigor e justiça dos resultados, o significa trabalho acrescido e explica a aparente dificuldade de entendimento do modelo proposto; mas não me parece possa existir qualquer outro sistema credível que se afastasse decisivamente do que aqui descrevo e que é, com variações, o universalmente utilizado nas organizações.

Significa isto que os professores não têm razão na sua contestação? A resposta é sim: de um modo geral, não têm. Significa isto que todos, ou a maioria, estarão mal intencionados na sua contestação? Sou levado a pensar que não, não estarão. O que se passa é que viciados num modelo de funcionamento promovido durante anos pelo ministério que lhes criou uma mentalidade e um way of doing the things muito particular, encapsulando-os e, assim, os protegendo da realidade do mundo e da vida, os professores são agora, de chofre, confrontados com um mundo que não compreendem e para o qual não foram preparados. E, claro está, isso magoa e afastará muitos deles: os menos preparados.

sexta-feira, março 14, 2008

"Que floresçam mil flores"... (18)

Zhou Ruizhuang, ca. 1964
Vigorously support the anti-imperialist struggle of the peoples of Asia, Africa and Latin America
Publisher: Shanghai People's Art Publishing House

quinta-feira, março 13, 2008

PSD - "O partido mais português de Portugal"

Pergunta: alguns daqueles que afirmavam orgulhosamente ser o PSD o “partido mais português de Portugal” tinham bem a noção das consequências futuras dessa identidade?

Ainda o "meu" Benfica

Mandam o bom senso e as regras da boa gestão que ao criar-se um lugar de director desportivo no Benfica SAD, quer para seu titular seja nomeado Rui Costa ou um qualquer outro profissional, este assuma a responsabilidade sobre todo o futebol profissional do clube e reporte directamente à administração da SAD e, dentro desta, a um qualquer administrador responsável pelo pelouro, mesmo que esse possa eventualmente ser o próprio presidente. Isso implica, claro está, uma escolha criteriosa desse administrador: alguém que seja capaz de conceder autonomia e responsabilidade suficiente ao director desportivo para este implementar as suas ideias depois de aprovadas e, simultaneamente, conhecer o funcionamento da estrutura de um clube profissional e do futebol em geral para monitorizar e enquadrar a actuação desse director - que, no caso, parece será mesmo Rui Costa.

Independentemente de Rui Costa ter ou não o perfil indicado para director desportivo e a criação do cargo na estrutura do clube ser a decisão adequada e não apenas uma "oportunidade" para encaixar R.C. e "salvar a pele" de LFV por mais uns tempos, a pergunta que faço – e não tem sido feita – é a seguinte: quem, na administração da SAD do Benfica, tem perfil para assumir esse pelouro? Luís Filipe Vieira não será com certeza, e será por certo indispensável que o clube (todos: accionistas, sócios e simpatizantes) se comece a preocupar seriamente com o assunto. Pelo menos, se o objectivo é mesmo inverter o actual ciclo negativo e não apenas adiar a queda do actual presidente. Mesmo que á custa do clube.

Série "B" (13)

"The Brain Eaters" de Bruno VeSota (1958)

quarta-feira, março 12, 2008

História(s) da Música Popular (80) - Cinema e Rock & Roll (18)

"Jailhouse Rock" - tema de Leiber-Stoller do filme homónimo de Richard Thorpe (1957)

"(You're So Square) Baby I Don't Care" (Leiber-Stoller). Da banda sonora de "Jailhouse Rock" de Richard Thorpe (1957)
Jerry Leiber & Mike Stoller (III)
Ora aqui está o verdadeiro dois em um, o autêntico “álbum duplo” “blogosférico” que junta duas das rubricas deste blog a propósito de Leiber & Stoller e Elvis Presley: “Cinema e Rock & Roll” e “História(s) da Música Popular. Tudo isto por causa do célebre “Jailhouse Rock”, o filme de Richard Thorpe (foi também o responsável por “Fun In Acapulco”, com Presley, e por alguns Trazans com Johnny Weissmuller) para o qual Leiber & Stoller escreveram a banda sonora. O filme, de 1957, é um dos últimos suspiros do Elvis que ainda vale a pena, antes do "GI Blues" e do “It’s Now Or Never" a que eu responderia “never”, se faz favor. Para mais, (“You’re So Square) Baby I Don’t Care” é um dos meus temas preferidos do Elvis RCA, já que os meus favoritos em termos absolutos vão para algumas das gravações para a SUN, principalmente para um “I Forgot To Remember To Forget” e um outro “I’m Left, You’re Right, She’s Gone”, ambos muito rockabilly e covers de originais de um tal Charlie Feathers quase desconhecido em Portugal – e é pena. Buddy Holly tem um cover de "Baby I Don't Care" (sorry, só tenho em vinil) e Johnny Halliday uma versão em francês (sorry once again: existe no You Tube mas eu tenho bom gosto).

É o terceiro filme de Elvis Presley, depois de “Love Me Tender” e “Loving You”, e penso que o penúltimo (o último terá sido “King Creole”) antes de ir para a tropa e se dedicar no futuro a havaianas e férias em Acapulco, com um western (“Flaming Star”) pelo meio, que eu até vi quando da sua estreia em Portugal: nos early teens quem resistia a uma combinação entre Elvis e "cowboys"?

Quanto a Leiber e Stoller penso ambos os temas constituem um bom exemplo do seu trabalho para Presley, embora incluir aqui “Treat Me Nice”, o “B” side de “Jailhouse Rock”, também não fosse nada para desmerecer. Mas sobre Leiber & Stoller continuaremos numa próxima vez com os Clovers e os Searchers, para os meus amigos do IÉ-IÉ, muito mais “british invasion”, se renderem um pouco mais à América do rock & roll.

O governo e o seu "balanço"

Eu, que tenho esta espécie de vocação suicida para a tecnocracia e para pensar que sou o centro do mundo, uma atracção demencial pela ingenuidade, esperava que, aproveitando a efeméride (3 anos sempre são 3 anos, diria o tal senhor francês), o governo nos presenteasse com um balanço credível da sua actividade, o que foi feito e o que falta fazer, o melhor e o menos bem sucedido, os planos para o que resta da legislatura, enfim, uma espécie de análise SWOT à escala do governo do país, tanto mais necessária quanto o governo chega a este ponto do seu mandato enfrentando problemas vários, com as suas forças e fraquezas, mas, principalmente, com mais ameaças no horizonte do que oportunidades radiosas que se perfilem.

Bom, mas não. O governo, tendo como inspiração qualquer método do tipo “o que não fazer em caso algum nestas circunstâncias se quiser ter sucesso, sobreviver e chegar a velho”, decidiu assumir uma atitude à Luís Filipe Vieira (género “somos o melhor clube do mundo” e “nosso inimigo é quem o contrário disser”) e, pesporrantemente, tratou de deitar cá para fora umas afirmações de um provincianismo bacoco, que dariam para rir se a nossa formação cristã (mesmo eu que sou agnóstico) isso nos permitisse perante manifestações de tal demência.

Pergunta: terão reunido em Rilhafoles e acham-se "o máximo" ou, mais benignamente, querem mesmo atirar-nos para o laboratório do Dr. Frankenstein (desculpem, Menezes) e das suas criaturas?

"No Country For Old Men"

Claro que “No Country For Old Men” (“Este País Não É Para Velhos” é uma má tradução, melhor teria sido traduzir “country” por “terra”) tem muito de “Fargo”, ou seja, do melhor dos irmãos Cohen, e por isso quase não nos surpreenderia ver surgir, às tantas, Frances McDormand no écran, talvez para nos lembrar ao que íamos, se isso fosse preciso e não o é.

Mas tem também algo de “The Three Burials of Melquiades Estrada”, uma das boas surpresas dos últimos anos, e não é só pela "Fronteira" e Tommy Lee Jones, como não foi só por essa mesma "Fronteira" ou por uma pasta com notas carregada como quem leva o estojo da guitarra que me lembrei de “El Mariachi”, de Robert Rodriguez, que acho os Cohen explicitamente citam.

Mais surpreendente foi, contudo, a lembrança de Cronenberg, principalmente o de “Crash” (na cena do desastre de carro em que Javier Bardem sofre fractura exposta), mas também de “A History of Violence”, que acho a crítica, injustamente, terá desmerecido um pouco.

Um filme de cinéfilo, claro, ou a lei de Lavoisier feita cinema...

terça-feira, março 11, 2008

The Classic Era of American Pulp Magazines (45)

Capa de autor desconhecido para "Stolen Sweets" (Outubro de 1933)

"Monarpública"

Pior, muito pior do que a peregrina ideia de discutir a monarquia e a república no “Prós & Contras” de ontem, só mesmo o facto de o post de João Gonçalves sobre o este não-assunto, no “Portugal dos Pequeninos”, ter, às 18.56h de hoje, 21 comentários 21 na respectiva caixa...

No meu clube as asneiras continuam...

No meu clube as asneiras continuam. Agora foi Rui Águas a ser nomeado “elemento de ligação” entre a equipa e LFV, o que, no presente, não se sabe muito bem o que seja e no futuro não tem qualquer razão para existir: com um Director Desportivo em funções, este deverá ser o responsável por todo o futebol profissional do clube e apenas deverá responder perante a administração da SAD ou, mais especificamente, perante um administrador responsável pelo pelouro.

Seria bem melhor que Rui Costa fosse oficialmente nomeado Director Desportivo logo após o jogo com o Getafe e, assim, se acabassem de vez com as ambiguidades. Isto traria consigo também a consequência positiva de Rui Costa se poder finalmente pronunciar perante accionistas da SAD, sócios e simpatizantes sobre as suas ideias, concepções e estratégia para o futebol do clube, se é que as tem e eu espero que sim. Só assim deixaria de ser apenas um nome - embora respeitável - e poderíamos ficar com uma ideia mais clara sobre a justeza da sua escolha.

O impossível regresso das ideologias

Volta e meia escuto e leio, por aí, apelos ao regresso da ideologia, como se de um retorno purificador às origens se tratasse depois do mergulho no pântano do “centrão”, num magma viscoso e sujo que se nos cola e que se opõe ao “puro e cristalino” do passado. Ignorância pura e simples daqueles que o “propõem”.

A actual tendência para um centro de ideologia difusa não nasceu do nada, muito menos do espírito oportunista de uns tantos políticos “construídos” pela comunicação e pelo marketing político, e, como tal, não se altera por qualquer via semelhante. Os tradicionais partidos “ideológicos” (partindo do errado princípio que os actuais o não são – mas isso é outra conversa), de “classe”, nasceram da sociedade dos finais do século XIX e da primeira metade do século XX, correspondendo, tal como a ideologia que veiculavam, às principais classes sociais de então: comunistas, socialistas e sociais-democratas como partidos operários, propondo, em maior ou menor grau, a nacionalização das principais empresas industriais e da Banca a elas “associadas” - pondo assim fim à relação assalariada, democracia-cristã e conservadores como representantes de agricultores e empresários para quem a noção de propriedade tinha uma importância decisiva e pequenos partidos liberais e radicais, ao centro, correspondendo basicamente aos interesses de uma pequena e média burguesia urbana, de profissões liberais e dos serviços. Este era, a traços largos, o retrato das sociedades das primeira e segunda vagas industriais, das grandes concentrações fabris de que em Portugal são exemplo o Barreiro e a Marinha Grande, mas onde a agricultura tinha ainda uma importância significativa.

Se algo marca indelevelmente a nossa sociedade pós-moderna isso é, sem dúvida, a terciarização, o domínio da sociedade urbana, dos serviços, influência que se estende também às novas formas de funcionamento e organização industriais, também elas se “terciarizando”, o que, por sua vez, se vai reflectir decisivamente nas ideologias e, logo, nas organizações partidárias. Nos países desenvolvidos, os “excluídos”, os “explorados” já não são maioritariamente os operários, os antigos “proletários”, nem a sua relação com o trabalho terá as mesmas características de “alienação” do passado. A sociedade rural, pelo menos tal como a conhecíamos, da pequena e média agricultura familiar, também desapareceu. A terciarização gerou a massificação. É este o retrato e, com possíveis excepções em países onde questões políticas de outra ordem possam gerar tensões importantes, como em Espanha com a questão das nacionalidades, a convergência ao centro é apenas uma sua consequência. É também esta nova estrutura social a responsável pela mudança na base social de apoio do PCP - do operariado para o funcionalismo - ou pela emergência de novas organizações partidárias como o Bloco de Esquerda, representante de novas expressões sociais e culturais de uma juventude urbana e suburbana.

Claro que, por vezes, nem tudo se passa assim de forma tão linear, pois sabemos que o domínio das ideias subsiste muito para além da mudança das estruturas e formas de organização da sociedade. Daí algum incómodo e alguma crise de representação; daí algumas tentativas de lançamento de novas organizações partidárias ou de “cidadãos”, fundamentalmente à esquerda, com uma ideologia que apela ao passado; daí a emergência, aqui e ali, de alguns populismos, tentativa de representação dos novos “excluídos” e “alienados” ou sentindo-se como tal.

Mas nada de ilusões: o passado não volta por obra de uma qualquer atitude voluntarista, de um grupo ou de um iluminado. Podem apenas acontecer, aqui e ali, fogos fátuos, mesmo que, alguns, ainda cheguem para fazer sonhar.

segunda-feira, março 10, 2008

Willie Dixon's Blues Dixonary (1)

"Walking Blues" (Willie Dixon)
Muddy Waters - Vocals & Guitar
Big Crawford - Bass
Gravado em Chicago em Fevereiro de 1950

Rui Costa: a derradeira cartada de LFV

Não querendo assumir dons de pitonisa, ou me engano muito ou, caso o Benfica seja eliminado pelo Getafe, o que é bastante provável, Rui Costa já não acabará esta época como jogador do clube, mas, pura e simplesmente, apenas como seu Director Desportivo, assumindo na totalidade a programação e preparação da próxima época, incluindo a escolha do treinador. Será a derradeira cartada de Luís Filipe Vieira

domingo, março 09, 2008

sábado, março 08, 2008

Bernardo Marques (1)

Capa de Bernardo Marques para "Hollywood Capital das Imagens" de António Ferro

Governo: os cenários depois do dia de hoje

O governo deve preparar-se para uma guerra longa na área da educação, só assim, pela determinação e pelo desgaste, tendo alguma possibilidade de a vencer. Mas, para o fazer deve retomar rapidamente a iniciativa, deixar a defensiva e a timidez que o têm caracterizado nos últimos dias e enfrentar directamente a contestação, cara a cara e olhos nos olhos, à Thatcher. Chamando as “coisas pelo seu nome”. Desafiando o conservadorismo e o poder dos sindicatos, mas também utilizando o didactismo e a pedagogia sempre que necessário e evitando as operações propagandísticas e os eventuais tiques de autoritarismo gratuito. Só assim ganhará para si o respeito da maioria dos portugueses, para o caso de, eventualmente sem condições de levar para diante as reformas no sector da educação, se vir obrigado a pedir a convocação de eleições antecipadas, aproveitando o actual momento de desnorte e fragilidade da oposição. Um cenário que pode parecer longínquo, mas que uma análise mais profunda, depois do dia de hoje, não afastará assim tanto do horizonte e até talvez possa vir a ser a solução definitiva. É que, depois deste dia, talvez se compreenda também, um pouco melhor, porque Guterres se demitiu e Barroso “fugiu” para Bruxelas, ou porque D. Carlos I resolveu chamar João Franco a formar governo.

Nota: em entrevistas realizadas a manifestantes acabei de ouvir um deles, mulher, dizer na RTP 1 que levava “porrada” todos os dias” e um outro confundir conjuntura com conjectura. Professores?

sexta-feira, março 07, 2008

Exploitation (10)

" Playgirl After Dark" de Terence Young (1960)

Portugal, a desigualdade e as classes sociais

Portugal é hoje, seguramente e as estatísticas provam-no, um país mais desigual do que o era há vinte anos, fruto da adopção de um modelo de desenvolvimento que fez um país periférico passar em pouco tempo de uma sociedade rural, de emigração e com uma industria essencialmente produtora de bens de baixo valor acrescentado, a uma sociedade do terciário, acolhedora de imigrantes para as industrias e serviços menos exigentes em qualificação. Talvez seja este o principal legado da Europa e do fim do Império.

Mas se essa desigualdade é, sem dúvida, o lado negativo que se pode apontar ao Portugal recente, com consequências por vezes trágicas, é também verdade que a sociedade portuguesa é, hoje em dia, muito mais “aberta”, apresentando uma muito maior mobilidade social. Menos classista, se considerarmos as classes sociais como devem ser definidas, isto é, integrando, para além da sua vertente económica, dos rendimentos, questões talvez mais complexas como a educação escolar e social, a maneira de estar e de falar, os hábitos, o modo como cada um se veste e se exprime, os seus gostos e as casas onde habitam, enfim, o modo como vivem a sua vida, o que normalmente se altera de forma bem mais lenta do que a velocidade a que se pode ganhar o dinheiro.

Apesar de tudo, foi esse modelo de desenvolvimento que, possibilitando a rápida criação de uma classe média muito mais numerosa, embora ainda fraca e dependente e com “muita terra debaixo das unhas”, e colocando-a no centro do processo, isto é, na política e nas televisões, contribuiu para uma certa massificação social que foi igualizando os valores, ajudando a esbater e aplanar as diferenças, atenuando a diferenciação classista. Claro que muita dessa sociedade emergente nos desagrada, se torna objecto de escárnio como o foram os volframistas do século XX. Outra, menos endinheirada, apenas nos incomoda, invadindo os espaços que eram nossos, das televisões aos cinemas, das praias aos aviões. Até as ruas. Mas trata-se de um puro instinto de defesa, de conservação, e, por muito que essa perspectiva hoje em dia ainda nos pareça estranha, isso será um problema para não mais de duas ou três gerações: um dia, tal qual a burguesia endinheirada tomou como seus, no século XIX, os comportamentos da aristocracia em decadência, de início a soarem apenas como esgares, os nossos bisnetos e trinetos já só se distinguirão pelo passado.

História(s) da Música Popular (79)

Big Mama Thornton - "Hound Dog" (Leiber-Stoller)


Jerry Lee Lewis - "Hound Dog" (Leiber-Stoller)

Elvis Presley - "Hound Dog" (Leiber-Stoller)
Jerry Leiber & Mike Stoller (II)
Pois como disse no primeiro post sobre a dupla, se me perguntassem a quem ou a quê ligaria Jerry Leiber e Mike Stoller facilmente responderia que ao Elvis Presley do período pós SUN, dos primeiros tempos da RCA e do “Colonel” Parker, antes de se despedir do "rock" para sempre e ir para a tropa por dois anos. Mas, curiosamente ou talvez não dada a sua ligação à musica negra, essa parceria começou não através de um original mas de um cover, uma gravação de 1953 para Big Mamma Thornton “Hound Dog” de seu nome, como diria o Alves dos Santos, comentador futebolístico da TV dos meus tempos de adolescente. Por sinal, “Big Mama” Willie Mae Thornton (1926, Alabama) viu ainda um outro seu original ser mais tarde êxito na voz de um branco, por sinal a mais preta das cantoras brancas, a fantástica Janis Joplin. Chamou-se, e chama-se, “Ball and Chain”. Presley gravaria “Hound Dog”, com uma “letra” branqueada (em todos os sentidos), em 1956 e este é um excelente pretexto para iniciarmos aqui uma retrospectiva daquilo que foi a ligação entre ele e Leiber e Stoller, não me esquecendo que também Jerry Lee Lewis gravou o tema.

Ingénuo, eu?

Ameaça tornar-se um hábito. A cena da Covilhã repete-se, agora numa escola de Ourém e noutra do Porto onde a polícia parece que se deslocou a fazer perguntas, num dos casos a uma funcionária (!!!???), sobre a manifestação de sábado, dos professores. Os suspeitos do costume falam de atentado à liberdade e de ambiente de intimidação. Eu, que não gosto de passar por ingénuo, prefiro interrogar-me: a atitude, de tão estúpida e canhestra, a isso me obriga. Parece que o Comando Distrital da PSP de Santarém desconhece qualquer ordem nesse sentido. Rabo escondido com gato quase todo de fora?

quinta-feira, março 06, 2008

Ainda a educação: resposta a um comentário de um leitor

Duas notas para responder a um comentário de interesse geral deixado na caixa deste post, mas também a alguma argumentação que, por vezes, ouço ou leio sobre a questão que opõe professores e ministério, bem como sobre a organização do sector da educação.

Em primeiro lugar que não se podem citar, de modo avulso e retiradas de um contexto mais geral, questões específicas e particulares de outros modelos organizacionais do sector, em países estrangeiros, comparando-os com o que se passa em Portugal e partindo daí para tirar conclusões, quaisquer que elas sejam. É preciso analisá-las no conjunto mais geral da organização do sector da educação em cada país, comparar esses mesmos contextos, só depois disso sendo possível tirar conclusões, valorizando-as. Por exemplo, e contrariamente ao que afirma um leitor, não se pode dizer que na Finlândia não existe avaliação de professores ou esta não conta para a carreira, ou que na Alemanha, por exemplo, um professor tem x horas lectivas por semana e em Portugal x+n, tentando daí retirar ilações de desfavorecimento para os professores no caso português, sem uma análise mais vasta de como se processa a gestão global do sector nos dois países, qual a situação do ensino e dos professores em cada um deles e de que modo a avaliação ou ausência dela neles se integra e que papel desempenha.

De igual modo, não é possível concluir que uma avaliação rigorosa do trabalho dos professores e o estabelecimento de uma hierarquia entre eles, como resultado dessa mesma avaliação, vá pôr em causa a afirmação de um leitor no sentido de que: “Como já se percebeu na esmagadora maioria dos países europeus, a escola é um organismo que só sobrevive se houver cooperação, que a competição destrói a escola”. Também neste caso se poderá dizer que qualquer organização bem sucedida também só sobrevive e obtém resultados se houver cooperação, só que essa mesma cooperação não é inimiga da competição. Muito pelo contrário, só se consegue e se maximiza se, no seu interior, existir uma saudável e controlada competitividade orientada.

quarta-feira, março 05, 2008

O Mundo em Guerra (44)

UK & CW

Governo e professores: negociação?

Ainda no rescaldo do “Prós & Contras” da passada 2ª feira, onde o assunto foi referido e a solução proposta por não-políticos, tem sido notório um certo apelo geral à negociação na questão que opõe governo e professores. É um apelo bem intencionado, e apenas isso e nada mais, pois ignora que aquilo que está em jogo é uma questão política: pura e simplesmente, trata-se de uma luta política, e é isso que condiciona no momento a opção negocial.

E porquê? Porque a situação actual é tudo menos propícia a qualquer negociação, a que qualquer dos contendores esteja em posição e o queira o fazer. O governo, porque está reduzido a uma situação defensiva, frágil, espera para retemperar forças e preparar o contra-ataque, já entrevisto no comício de apoio ao governo, tentando então, depois disso e após tentar isolar os professores e reduzi-los o mais possível ao núcleo duro sindical, negociar numa posição mais favorável e vantajosa; os sindicatos, sentido o governo em dificuldade e tendo como objectivo primeiro e acima de qualquer outro a derrota governamental (leia-se: a demissão da ministra e a continuação do poder sindical no sector), mais do que a satisfação de algumas reivindicações da “classe” e parecendo-lhe essa demissão possível depois do acontecido com Correia de Campos, claro que, neste momento em que afirma a sua força, por certo não irá recuar para a negociação.

Ou estou muito enganado ou estaremos perante uma guerra prolongada, de desgaste, e não perante uma qualquer Blitzkrieg. Se estivesse no lugar do governo, seria essa a minha opção.

terça-feira, março 04, 2008

segunda-feira, março 03, 2008

Desencanto

Basta termos oportunidade de sair do nosso “habitat” natural por um ou dois dias, mergulhando num ambiente desconhecido ou porventura esquecido, para percebermos, de imediato, o que verdadeiramente preocupa os portugueses, o que os traz angustiados, o objecto das suas conversas, aspirações e lástimas. Claro que rapidamente escutamos nas conversas palavras como LCD, a antiga carrinha ou o novo jeep, a próxima ou a última viagem ao Brasil, o novo i Pod da filha mais velha, os talk shows da TV e a sua parada de freaks e, misturado com tudo isto, a saúde, a sempre presente saúdinha, quer seja tantas vezes a doença real ou nada mais do que uma lástima porque sim.

Nada disto nasceu de geração espontânea, brotou da terra como por encanto. Claro que não: implicou semente, adubo, clima adequado e rega e cuidados permanentes. Nasceu com força no consulado “cavaquista” e nos seguintes se sedimentou; brotou do dinheiro fácil e da necessidade democrática de fazer crescer uma classe média e uma nova burguesia, sem as quais a democracia nada mais é do que miragem. Foi visível nos exemplos mediáticos, nos “majores”, nos “presidentes” fossem de Câmaras ou de clubes de futebol, nas vedetas do espectáculo ou nas vedetas apenas com espectáculo. Nasceu das contas na Suiça, dos bronzeados do Brasil, ou as contas da Suiça e os bronzeados do Brasil já são conclusão e não origem. Nasceu de um modelo de desenvolvimento especulador e imediatista, moldado à medida daquilo a que veio dar origem. Talvez á medida de Portugal

domingo, março 02, 2008

Claques e polícia

Pergunta em dia de Sporting-Benfica a propósito dos incidentes entre claques acontecidos durante a semana: quantos adeptos estão efectivamente proibidos de assistir aos jogos das suas equipas, devendo, para isso, apresentarem-se nas esquadras de polícia das respectivas áreas de residência à hora de cada jogo? Importam-se de dizer?

Um "post militante" sobre a não-razão dos professores

  • Faz sentido que os professores sejam colocados por um computador do Ministério da Educação em escolas que nunca viram e nunca os viram, onde porventura não queiram estar e lá os não queiram, sem conhecerem os seus futuros colegas e superiores hierárquicos (se é que na actual organização escolar isso existe)? Conhecem alguma organização bem sucedida que contrate assim os seus funcionários e colaboradores?
  • Faz sentido que para a carreira docente tanto valha uma nota de curso (12, por exemplo) conseguida no “Técnico”, na “Nova” ou na “Católica”, na Faculdade de Letras de Lisboa, ou na “Internacional”, “Autónoma” e tutti quanti? Alguma organização bem sucedida utiliza este critério na admissão dos seus funcionários e colaboradores?
  • Faz sentido que a direcção de cada escola seja eleita, maioritariamente, pelos seus pares e, depois, tenha de responder pelos seus resultados a terceiros: pais, Ministério, sociedade, etc? Alguma organização bem sucedida utiliza este modelo organizacional e de responsabilização?
  • Faz sentido que os professores, salvo algum raro problema de maior gravidade, progridam até ao topo da carreira sem qualquer tipo de avaliação credível e apenas por via dos anos de serviço e de créditos concedidos através da frequência de cursos sobre a “modelação do barro de Estremoz” ou do tipo “Windows para principiantes”? É assim que funcionam as organizações bem sucedidas?
  • Faz sentido que um professor colocado numa escola de uma zona problemática, no interior, em turmas com problemas de aprendizagem, ganhe o mesmo e tenha o mesmo resultado em termos de (não) avaliação do que um outro que dê aulas ao 9ºA do Pedro Nunes? É isto que se passa nas organizações bem sucedidas?
  • Faz sentido que um professor de Matemática, Português, Inglês, disciplinas básicas para um melhor aproveitamento do aluno e onde estes normalmente apresentam maiores dificuldades de aprendizagem, tenha o mesmo vencimento de um outro de Trabalhos Oficinais ou Educação Física? Será que nas organizações bem sucedidas os responsáveis de Produção, Financeiro, Marketing, Recursos Humanos ou Relações Públicas têm todos vencimentos iguais?
  • Faz sentido que um professor que gaste o seu tempo e o seu dia a criticar a política educativa (qualquer que ela seja), fora dos orgãos competentes para o fazer (Conselho de Gestão, por exemplo), a manifestar permanente má vontade no cumprimento das directivas da sua hierarquia, a criar por isso mesmo um ambiente de trabalho desconfortável, deve ganhar o mesmo que um outro que, não se coibindo de expressar as suas opiniões, o faz disciplinadamente e no sentido de melhorar a sua actividade e a da escola? É exactamente isso que acontece nas organizações bem sucedidas?
  • Faz sentido que um professor na segunda metade da sua carreira, quando tem mais experiência da função que exerce e isso lhe poupa algum trabalho na preparação e organização das suas aulas, lhe permite obter mais facilmente uma atitude de maior disponibilidade para a aprendizagem por parte dos alunos, veja reduzida a sua "carga horária"? Alguém já observou tal coisa nas organizações bem sucedidas?

Sabem, é que estas são algumas das razões pelas quais as escolas públicas não são – e eu bem gostaria que fossem ou passassem a ser – organizações bem sucedidas. Lamentavelmente, nunca vi os professores manifestarem-se contra isso.

sábado, março 01, 2008

Jerónimo de Sousa acusa Governo Sócrates de desenvolver um Estado policial

Países onde, para o PCP, a democracia não estará assim tão "empobrecida e fragilizada"






"O PCP promove hoje, em Lisboa, a Marcha Liberdade e Democracia, que pretende transformar numa manifestação de "direito à indignação" dos portugueses contra as políticas do Governo e num alerta ao risco de fragilização do regime democrático. Em declarações à Agência Lusa, o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, alertou que "a Democracia está empobrecida e fragilizada".

O "Gato Maltês" não poderia deixar dese associar a tal acontecimento, e aproveita para deixar aqui alguns exemplos, expressos sob forma gráfica, de países onde, para o PCP, a Democracia não estará assim tão "empobrecida e fragilizada".