Volta e meia escuto e leio, por aí, apelos ao regresso da ideologia, como se de um retorno purificador às origens se tratasse depois do mergulho no pântano do “centrão”, num magma viscoso e sujo que se nos cola e que se opõe ao “puro e cristalino” do passado. Ignorância pura e simples daqueles que o “propõem”.
A actual tendência para um centro de ideologia difusa não nasceu do nada, muito menos do espírito oportunista de uns tantos políticos “construídos” pela comunicação e pelo marketing político, e, como tal, não se altera por qualquer via semelhante. Os tradicionais partidos “ideológicos” (partindo do errado princípio que os actuais o não são – mas isso é outra conversa), de “classe”, nasceram da sociedade dos finais do século XIX e da primeira metade do século XX, correspondendo, tal como a ideologia que veiculavam, às principais classes sociais de então: comunistas, socialistas e sociais-democratas como partidos operários, propondo, em maior ou menor grau, a nacionalização das principais empresas industriais e da Banca a elas “associadas” - pondo assim fim à relação assalariada, democracia-cristã e conservadores como representantes de agricultores e empresários para quem a noção de propriedade tinha uma importância decisiva e pequenos partidos liberais e radicais, ao centro, correspondendo basicamente aos interesses de uma pequena e média burguesia urbana, de profissões liberais e dos serviços. Este era, a traços largos, o retrato das sociedades das primeira e segunda vagas industriais, das grandes concentrações fabris de que em Portugal são exemplo o Barreiro e a Marinha Grande, mas onde a agricultura tinha ainda uma importância significativa.
Se algo marca indelevelmente a nossa sociedade pós-moderna isso é, sem dúvida, a terciarização, o domínio da sociedade urbana, dos serviços, influência que se estende também às novas formas de funcionamento e organização industriais, também elas se “terciarizando”, o que, por sua vez, se vai reflectir decisivamente nas ideologias e, logo, nas organizações partidárias. Nos países desenvolvidos, os “excluídos”, os “explorados” já não são maioritariamente os operários, os antigos “proletários”, nem a sua relação com o trabalho terá as mesmas características de “alienação” do passado. A sociedade rural, pelo menos tal como a conhecíamos, da pequena e média agricultura familiar, também desapareceu. A terciarização gerou a massificação. É este o retrato e, com possíveis excepções em países onde questões políticas de outra ordem possam gerar tensões importantes, como em Espanha com a questão das nacionalidades, a convergência ao centro é apenas uma sua consequência. É também esta nova estrutura social a responsável pela mudança na base social de apoio do PCP - do operariado para o funcionalismo - ou pela emergência de novas organizações partidárias como o Bloco de Esquerda, representante de novas expressões sociais e culturais de uma juventude urbana e suburbana.
Claro que, por vezes, nem tudo se passa assim de forma tão linear, pois sabemos que o domínio das ideias subsiste muito para além da mudança das estruturas e formas de organização da sociedade. Daí algum incómodo e alguma crise de representação; daí algumas tentativas de lançamento de novas organizações partidárias ou de “cidadãos”, fundamentalmente à esquerda, com uma ideologia que apela ao passado; daí a emergência, aqui e ali, de alguns populismos, tentativa de representação dos novos “excluídos” e “alienados” ou sentindo-se como tal.
Mas nada de ilusões: o passado não volta por obra de uma qualquer atitude voluntarista, de um grupo ou de um iluminado. Podem apenas acontecer, aqui e ali, fogos fátuos, mesmo que, alguns, ainda cheguem para fazer sonhar.
A actual tendência para um centro de ideologia difusa não nasceu do nada, muito menos do espírito oportunista de uns tantos políticos “construídos” pela comunicação e pelo marketing político, e, como tal, não se altera por qualquer via semelhante. Os tradicionais partidos “ideológicos” (partindo do errado princípio que os actuais o não são – mas isso é outra conversa), de “classe”, nasceram da sociedade dos finais do século XIX e da primeira metade do século XX, correspondendo, tal como a ideologia que veiculavam, às principais classes sociais de então: comunistas, socialistas e sociais-democratas como partidos operários, propondo, em maior ou menor grau, a nacionalização das principais empresas industriais e da Banca a elas “associadas” - pondo assim fim à relação assalariada, democracia-cristã e conservadores como representantes de agricultores e empresários para quem a noção de propriedade tinha uma importância decisiva e pequenos partidos liberais e radicais, ao centro, correspondendo basicamente aos interesses de uma pequena e média burguesia urbana, de profissões liberais e dos serviços. Este era, a traços largos, o retrato das sociedades das primeira e segunda vagas industriais, das grandes concentrações fabris de que em Portugal são exemplo o Barreiro e a Marinha Grande, mas onde a agricultura tinha ainda uma importância significativa.
Se algo marca indelevelmente a nossa sociedade pós-moderna isso é, sem dúvida, a terciarização, o domínio da sociedade urbana, dos serviços, influência que se estende também às novas formas de funcionamento e organização industriais, também elas se “terciarizando”, o que, por sua vez, se vai reflectir decisivamente nas ideologias e, logo, nas organizações partidárias. Nos países desenvolvidos, os “excluídos”, os “explorados” já não são maioritariamente os operários, os antigos “proletários”, nem a sua relação com o trabalho terá as mesmas características de “alienação” do passado. A sociedade rural, pelo menos tal como a conhecíamos, da pequena e média agricultura familiar, também desapareceu. A terciarização gerou a massificação. É este o retrato e, com possíveis excepções em países onde questões políticas de outra ordem possam gerar tensões importantes, como em Espanha com a questão das nacionalidades, a convergência ao centro é apenas uma sua consequência. É também esta nova estrutura social a responsável pela mudança na base social de apoio do PCP - do operariado para o funcionalismo - ou pela emergência de novas organizações partidárias como o Bloco de Esquerda, representante de novas expressões sociais e culturais de uma juventude urbana e suburbana.
Claro que, por vezes, nem tudo se passa assim de forma tão linear, pois sabemos que o domínio das ideias subsiste muito para além da mudança das estruturas e formas de organização da sociedade. Daí algum incómodo e alguma crise de representação; daí algumas tentativas de lançamento de novas organizações partidárias ou de “cidadãos”, fundamentalmente à esquerda, com uma ideologia que apela ao passado; daí a emergência, aqui e ali, de alguns populismos, tentativa de representação dos novos “excluídos” e “alienados” ou sentindo-se como tal.
Mas nada de ilusões: o passado não volta por obra de uma qualquer atitude voluntarista, de um grupo ou de um iluminado. Podem apenas acontecer, aqui e ali, fogos fátuos, mesmo que, alguns, ainda cheguem para fazer sonhar.
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