segunda-feira, março 03, 2008

Desencanto

Basta termos oportunidade de sair do nosso “habitat” natural por um ou dois dias, mergulhando num ambiente desconhecido ou porventura esquecido, para percebermos, de imediato, o que verdadeiramente preocupa os portugueses, o que os traz angustiados, o objecto das suas conversas, aspirações e lástimas. Claro que rapidamente escutamos nas conversas palavras como LCD, a antiga carrinha ou o novo jeep, a próxima ou a última viagem ao Brasil, o novo i Pod da filha mais velha, os talk shows da TV e a sua parada de freaks e, misturado com tudo isto, a saúde, a sempre presente saúdinha, quer seja tantas vezes a doença real ou nada mais do que uma lástima porque sim.

Nada disto nasceu de geração espontânea, brotou da terra como por encanto. Claro que não: implicou semente, adubo, clima adequado e rega e cuidados permanentes. Nasceu com força no consulado “cavaquista” e nos seguintes se sedimentou; brotou do dinheiro fácil e da necessidade democrática de fazer crescer uma classe média e uma nova burguesia, sem as quais a democracia nada mais é do que miragem. Foi visível nos exemplos mediáticos, nos “majores”, nos “presidentes” fossem de Câmaras ou de clubes de futebol, nas vedetas do espectáculo ou nas vedetas apenas com espectáculo. Nasceu das contas na Suiça, dos bronzeados do Brasil, ou as contas da Suiça e os bronzeados do Brasil já são conclusão e não origem. Nasceu de um modelo de desenvolvimento especulador e imediatista, moldado à medida daquilo a que veio dar origem. Talvez á medida de Portugal

Sem comentários: