sábado, setembro 29, 2007

História(s) da Música Popular (60)


The Rockin Berries

The Animals - "Don't Bring Me Down" (Gerry Goffin - Carole King)

The Rockin' Berries - "He's In Town" (Gerry Goffin - Carole King)

The Brill Building (X)

Pois encerremos este capítulo do Brill Building dedicado a Gerry Goffin e Carole King com dois dos seus menos conhecidos temas mas que, por razões diversas, “são muito cá de casa”. “Don’t Bring Me Down” é uma interpretação de um dos meus grupos favoritos, The Animals (Newcastle, 1963), de Alan Price e Eric Burdon, único dos grupos importantes da "British Invasion" (para mim, juntamente com Manfred Mann, logo abaixo de Beatles e Stones) que actuou por cá, em 64 ou 65, no antigo Teatro Monumental: mercado incipiente e ditadura colocavam Portugal fora desses circuitos. Era um grupo muito influenciado pelo R&B, e os seus principais sucessos aconteceram ainda com Alan Price como leader e teclista do grupo, que viria a sair no final de 1965 em conflito com Burdon. Price cantou depois com Georgie Fame (“Rosetta”) e formou o Alan Price Set, cujos principais êxitos foram “I Put a Spell On You”, de Screamin’ Jay Hawkins, “Simon Smith and the Amazing Dancing Bear” e “The House That Jack Built”. Burdon formou então o grupo Eric Burdon & The Animals, mas isso já nada trouxe de realmente interessante à música popular.

Já os Rockin’ Berries (Birmingham, início dos anos 60) são um quase ignorado grupo da pop britânica, “ligeirinho” e com excelentes harmonias vocais, que alcançou notoriedade com dois temas: “He’s In Town, #3 no UK, um cover de um original dos americanos Tokens mais conhecidos pelo seu mega-sucesso “The Lion Sleeps Tonight”, composto por Gerry Goffin e Carole King, e “Poor Man’s Son”, um follow up, gravado originalmente pelos americanos Reflexions. Em Portugal, acho, são praticamente ignorados fora de um pequeno círculo de “iniciados”. Mas vale a pena ouvi-los.
E pronto, continuarei a falar do Brill Building durante bastante mais tempo, mas já não de Goffin e King, apesar de toda a sua importância para a história da música popular.

Mourinho e Santana Lopes - contra a corrente (4)

"Mourinho pode não ter dito nada de interessante quando chegou, mas Santana Lopes não diz nada de interessante há 30 anos"... ..."E não é uma figura relevante na sociedade portuguesa, como é Mourinho".
Eduardo Cintra Torres in "Público"- sexta-feira, 28 de Setembro de 2007

sexta-feira, setembro 28, 2007

Afinal, em Malta também se joga "à bola"!

À atenção do meu Benfica
Enfim, sejamos positivos. Este é Michael Mifsud, ponta de lança, autor dos dois golos com que o Coventry City eliminou o Machester United, em Old Trafford, da Taça da Liga. É maltês, natural de Pietá. Sabendo que Malta é normalmente considerada, com justiça, um dos underdog do futebol europeu, aqui fica, como recomendação e lembrança, o merecido registo à atenção de Luís Filipe Menezes e José António Camacho. O rapaz até pode ser que se faça e era mais uma razão (será preciso?) para a minha aficion.

"When I woke up this morning" - original blues classics (13)

Blind Lemon Jefferson (1883 - 1929) - "Black Snake Moan"

Mourinho e Santana Lopes - contra a corrente (3)

Algo que o episódio Santana Lopes/SIC Notícias também revela, quando uma estação de TV decide interromper uma entrevista com um político em favor da chegada de alguém do mundo do espectáculo, neste caso desportivo, é a crescente vulgarização/desqualificação da actividade política em favor de outras até aqui desvalorizadas, principalmente aquelas integrantes das áreas das artes performativas, entretenimento e desporto. Só a esta luz ele poderá ser cabalmente entendido. Apenas mais um exemplo: duas das últimas “Grandes Entrevistas” de Judite Sousa, um espaço nobre na RTP1 em prime time, tiveram como entrevistados Luís Filipe Scolari e Vanessa Fernandes. Não cabe agora aqui, neste momento, analisar o assunto em profundidade, mas a valorização destas áreas terá muito que ver com a sua cada vez maior profissionalização e com o crescimento, qualitativo e quantitativo, da classe média no Portugal dos últimos decénios, crescente urbanização e subsequente emergência de uma cultura de massas - em que o povo deixou de ser apenas actor e agora também participa - até aí prisioneira do circuito das feiras e da cassete pirata. Mas também, e muito, do modo como os políticos, por incompetência, falharam na credibilização de uma actividade cada vez mais escrutinável e que, pela sua natureza – o governo do país - deveria ser de todas a mais nobre. A questão não será assim tão simples e é transnacional, mas, por agora, fiquemo-nos por aqui. Por último, não está ausente – longe disso – dessa desqualificação e vulgarização da política, a crescente promiscuidade de interesses que, ao longo dos anos, se foi estabelecendo entre jornalistas - saltando alegremente entre os “meios” e as assessorias de comunicação – comentadores e analistas, por um lado, e actuais governantes, futuros governantes e ex-governantes (alguns deles também comentadores), por outro, partilhando com demasiada frequência actividades, objectivos, cumplicidades, interesses e ambições. E, sabemos, demasiada promiscuidade, no relacionamento humano, leva quase sempre ao desrespeito e à ruptura.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Mourinho e Santana Lopes - contra a corrente (2)

Peço desculpa por voltar ao assunto, mas uma estranha (será?) reacção unanime de opinião e solidariedade começa a grassar entre políticos, aspirantes a políticos, comentadores e analistas políticos, ou seja, entre todos aqueles que directa ou indirectamente dependem ou vivem da política, sobre o caso de Santana Lopes/ SIC Notícias. De tal forma que tal unanimidade me começa a fazer lembrar os chamados “desígnios nacionais” em que Portugal é tão pródigo, infelizmente nem sempre com os melhores resultados. Ou, então, será que não estamos apenas perante mais uma reacção corporativa quando interesses últimos “de classe” são postos em causa?

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (26)

"Las enfermedades venereas amenazan tu salud" - Cartaz republicano anónimo
"Una de les preocupacions de la república és la sanitat. En temps de guerra les malalties venèries es difonen amb gran velocitat pel front. És per això que hi ha gran nombre de cartells que intenten evitar que els soldats pateixin aquest tipus de malalties. Pel que fa a l'estil, és un exemple del nou estil realista però eclectic amb influencies de l'art decó i els estils del cartell comercial."

Mourinho e Santana Lopes - contra a corrente (1)

Pedro Santana Lopes (licenciado em Direito, sem especial brilhantismo, pela Universidade de Lisboa, sem qualquer registo notável na sua profissão de advogado, ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa deixada, por ele e pelo seu sucessor nomeado, à beira da bancarrota e sem obra que notabilize a sua vereação, episodicamente primeiro ministro não eleito de Portugal – diz-se que o pior dos últimos 30 anos – demitido pelo Presidente da República e cuja governação conduziu o principal partido da oposição à sua primeira maioria absoluta, se calhar para muitos anos) não gostou de se ver interrompido na sua entrevista à SIC Notícias pela chegada a Lisboa de José Mourinho, licenciado em Educação Física por essa mesma Universidade de Lisboa, treinador de futebol que levou o FCP à conquista, em anos consecutivos, dos dois principais títulos europeus de clubes e que, posteriormente, e mesmo que com muito dinheiro, conduziu um mediano clube inglês à conquista de dois títulos de campeão no principal campeonato nacional do mundo, uma Taça de Inglaterra, etc. Mais, alguém que, por via dessas conquistas, se alcandorou, por mérito próprio, ao topo de uma das profissões mais bem pagas do mundo (sendo mesmo o mais bem pago nessa sua profissão), numa das suas actividade mais concorrenciais, com maior notoriedade e que movimenta mais dinheiro, e que, por via da rescisão do seu contrato, foi notícia de 1ª página e de abertura de telejornais nos mais importantes jornais e cadeias de TV do planeta, objecto de uma declaração do primeiro ministro do Reino Unido (um dos países mais poderosos do mundo e uma democracia exemplar) sendo, talvez, hoje em dia, o português mais conhecido no mundo, apontado normalmente como um exemplo para Portugal. Obviamente que Pedro Santana Lopes não tem razão e só pode queixar-se de si próprio...

quarta-feira, setembro 26, 2007

A personalidade de Guilherme Silva e o Conselho de Jurisdição do PSD

Tenho, para mim, que o presidente do Conselho de Jurisdição (ou orgão equivalente) de um partido político, para além da indispensável preparação jurídica e longe de ter que ser obrigatoriamente uma “rainha de Inglaterra, isto é, podendo e devendo ter opinião e participar no debate e combate políticos, deve, contudo, apresentar, como personalidade e antecedentes partidários, características que lhe possibilitem assumir uma capacidade de independência e isenção, uma predisposição de equidistância, que lhe permita, por norma e por muito difíceis que possam ser as suas decisões, ser respeitado quando chamado a exercer as suas funções em condições de dificuldade extrema.

Não sei se, no presente caso das eleições directas no PSD, o Conselho de Jurisdição do partido decidiu mal ou bem, de acordo ou à revelia das normas que regem o partido. Menos saberei, até porque não sou jurista, se essas normas colidem ou não com as leis da República. Mas, uma pergunta me ocorre antes de tudo isso: tendo em atenção o perfil que, idealmente, deve ser o do presidente de um orgão desse tipo, em que medida Guilherme Silva, os seus antecedentes, práticas e personalidade, a ele (não) respondem? É que o PSD, nos últimos tempos, tem sido “useiro e vezeiro” nestes dramáticos erros de casting, tendo eleito em congresso Pedro Santana Lopes para vice-presidente do partido esquecendo-se que um vice-presidente pode ter de assumir a presidência por impossibilidade do seu titular e, assim, por inerência, as funções de primeiro-ministro. Foi o que aconteceu - lembram-se? – e os resultados são ainda bem visíveis, com as consequências que se conhecem. Importam-se de não repetir?

A PT, este "blog", a Rita, a Teresinha e a Joana

Este blog faz hoje um ano (viva!).
E como presente, o seu autor recebeu da PT a quebra de serviço de internet durante 24 gordas e lindas horas 24, que, claro está e escusado será dizer, não lhe vão ser descontadas na factura do mês. Como resultado, para além de ter sido obrigado a exercícios vários para não prejudicar muito o trabalho e a estar "junto do equipamento" (é assim que eles dizem) à espera que o call centre da NetCabo se decidisse atender (ontem, por junto e dividido em 3 tentativas "a coisa" chegou a uma hora e sem sucesso - durou até à meia noite), o seu autor, que se assina JC, gastou só em chamadas, para o dito supracitado call centre, cerca de, também eles gordos e lindos, 10 euros 10, que a PT não lhe vai devolver ou descontar na factura. E querem saber o porquê de tal interrupção, esclarecida pelo funcionário da assistência técnica que daqui saiu há pouco? O Modem precisava de ser substituído pelo modelo mais moderno, onde é possível também ligar o telefone, e o antigo tinha sido desactivado!!! Isto, sem aviso, claro, porque as emoções da vida é que lhe dão algum sal. Bom, para além de eu não ter telefone fixo e achar que as outras duas "fantásticas" já bem me "arrasariam" e uma terceira seria gula que é pecado mortal, não teria sido melhor avisarem? Custava muito, era? Ou só telefonam (até já chateia) para vender a m... do "Funtastic Life"? É que até podiam ter mesmo pedido à Rita, à Teresinha ou à Joana... Não estava mesmo a calhar virem dentro do bolo?
É que este blog faz hoje um ano... e... bem merecia uma festa!

segunda-feira, setembro 24, 2007

"Chelsky"

True Blue

"Chelsky" drama. Aqui, em versão full length.

O "Gato Maltês", num "post" bem longo, fala de livros a pedido do "Miss Pearls"

Pois pede-me a Miss Pearls, no “também seu” “Corta-Fitas” (não poderia também tal blog luzir o título de “Américo Tomás”, the one and only?) e do seu mui alto estatuto de Línguas e Literaturas Modernas, das “humanísticas” que é onde acontecem, por definição e tradição, essas coisas das sensibilidades e dos afectos, para eu, modesto tecnocrata, por tradição frio e insensível como só o podem ser os verdadeiros, que escrevinhe algo sobre livros, essa coisa que, em última das últimas análises, serve para separar o trigo do joio, isto é, os verdadeiros intelectuais dos pobres de espírito, os primeiros com direito ao céu na terra e os segundos ao reino dos céus. Bom, mas vamos lá à tarefa, que já se vai fazendo para o tarde, isto é, já vai chegando o fresco dos fins de tarde de Outono (tomara já) que anuncia o fim da silly season, que é mesmo a época adequada a tais futilidades. Não dos livros, mas das listas de livros favoritos, dos filmes das nossas vidas ou das músicas para levar para uma ilha deserta, assuntos, para mim, bem mais adequados a conversa de “engate” com interlocutora não muito exigente num por do sol algarvio com vinho branco à mistura.
Pois esta é a história dos meus livros - pelo menos alguma, cara Miss Pearls - e aqui vai de seguida.

Como toda a gente, ou quase, da minha geração, cheguei à leitura pelos “Cinco”, claro está, comprados nas férias de Natal ou Páscoa na livraria DN que existia no Chiado onde hoje é a Hermès. Curiosamente, nunca me identifiquei com qualquer personagem ( o Júlio era demasiado sério e bem comportado e o David cinzentão), mas mais com o ambiente, os picnics e as sanduíches, acho que tudo isso ajudando a definir para todo o sempre a minha anglofilia. No caso das sanduíches deu mesmo origem a um conflito, que ainda hoje se mantém, com as sanduíches à portuguesa, normalmente (se não estamos atentos) constituídas por uma fatia translúcida de queijo “dito” flamengo dentro daquele estranho objecto, do género “pão oco por dentro”, a que os portugueses dão o nome de “carcassa” ou “papo-seco”. Ah, e ainda houve o “Emílio e os Detectives” do Erich Kästner, seguido de um outro cujo nome se me escapa mas metia também o Emílio, que me lembro ter lido numa daquelas intermináveis férias de praia que duravam dois meses e acabavam com as “marés vivas” de Setembro e as primeiras chuvas de Outono.

Entrado na adolescência, vieram uns livros de capa dura, biografias de inventores, descobridores e pioneiros do oeste, desde o casal Curie a Thomas Edison, passando por Kit Carson, Buffalo Bill, Marconi e ofícios correlativos, seguidos a distância pelos romances de cavalaria - Walter Scott, pois claro - “Ivanhoe” e por aí fora. Até aqui tudo certinho - não é? -, mas também por aqui começam a chegar algumas contradições, nem sempre objecto de “justa resolução no seio do povo”: nunca me entusiasmei lá muito com o Emílio Salgari e o Sandokan (vá lá saber-se o porquê), tendo mesmo lido poucos dos dele, e criei o meu primeiro ódio de estimação literário na pessoa e figura do Sr. Charles Dickens que, como dizia no meu livro de inglês do antigo 6ª ou 7º ano, escreveu “David Copperfield was a boy whose father died before he was born”. Pois acho foi mesmo por isso, tudo muito lúgubre e triste, negro mesmo, demasiado a puxar á “lagrimita” e nada consentâneo com a minha visão "glamourosa" do mundo e da vida. Como diz um velho amigo meu, era já a minha “insensibilidade social” a começar a manifestar-se. Pois que fosse... Manifestar-se-ia também, mais tarde, como verá! Ah, mas havia o Jules Verne, que bem compensava, com enormíssimas vantagens, a falta do Charles Dickens. Foram, até hoje e que me lembre, talvez os únicos livros que aluguei, na biblioteca do Liceu, embora fosse também comprando alguns e o meu pai tivesse chegado a casa, um dia, com um exemplar já antigo e com grafia em desuso (a que eu achei muita graça) da “Ilha Misteriosa”. Quanto ao Miguel Strogoff, o “Correio do Czar”, ainda me lembro de um exemplar que trazia um esquema explicando porque o “dito” não tinha ficado cego com a espada em “brasa”. Não tentei repetir a experiência, mas lá que era entusiasmante...

A partir para aí dos catorze, férias sem exame passaram a ser sinónimo de policiais da “Vampiro”, Agatha Christie, Erle Stanley Gardner, Rex Stout e Ellery Queen à cabeça. Nada de especialmente notável, portanto. Tudo muito mainstreem. Mas, tan, tan, tan, tan, à medida que se passa dos early para os late teens, as necessidades aumentam e, depois de passagem pelo Herculano e pelo Eça, obrigatório lá por casa – herdei do meu pai uma edição completa das obras do Eça (Lello & Irmão, 1945) e um “Mandarim” de 1907 -, eis que a minha insensibilidade social se manifesta de novo, face, agora, ao tão cantado neo-realismo – hem, aposto que desta gostou!!! – obrigatório à época numa família urbana de tradições liberais e, em parte, “reviralhista”. Final dos anos sessenta, sem quaisquer tradições ou ligações rurais para lá das criadas que lá por casa vinham maioritariamente de uma aldeia ali do Oeste, queria eu, adolescente urbano e fanático do rock n’ roll, saber lá dessas vidas dos ceifeiros do alentejo e dos operários das fábricas, que me diziam tanto respeito como as lições "salazarentas" dos livros da segunda e terceira classe, povoadas de avôs velhinhos e com longas barbas brancas, procissões e pais que regressavam, enxada ao ombro, do trabalho do campo? Claro que achava trabalho duro, talvez injusto e essas coisas assim, mas, para mim, como para muitos como eu, contestação à ditadura era pelo lado do conservadorismo social, do provincianismo do país, dos usos e costumes, da censura que nos impedia de ver os filmes “lá de fora” e, claro, da guerra. Que me reconcilia então com a literatura? Bom, um escritor, hoje em dia, considerado menor (não serei eu que estarei em completo desacordo), mas que falava de gente que se cruzava comigo e de assuntos "que me tocavam e diziam respeito” – a realidade urbana. E, depois, aquele que considero um livro-chave na modernidade da literatura portuguesa. No primeiro caso, refiro-me a Luís Sttau Monteiro e principalmente aos “Angústia para o Jantar” e “Um Homem Não Chora”; no segundo caso, o “Delfim” (e o ensaio “A Cartilha do Marialva”) do José Cardoso Pires.

Pois quer que continue, cara Miss Pearls? Pois aí vai. Bom, passando rapidamente pelo teatro do absurdo e por Eugene Ionescu - que, confesso, em dada altura me atraíram depois de uma leitura "em voz alta” do meu pai, um dia a seguir ao jantar, de “A Cantora Careca” (numa primeira abordagem, pensei que o meu pai estava a gozar connosco) - o início da idade adulta é marcado por aquilo que considero duas referências literárias que me ficaram para a vida. Um deles é, desde aí, o meu único (ou melhor, únicos) livro de cabeceira (é assim que se diz, não é?), a que volto sempre e sempre: a poesia “beat” de Ginsberg (“The Owl and Other Poems”) e Lawrence Ferlinghetti (“The Coney Island Of The Mind” e “Pictures Of The Gone World”, principalmente). Fotografia de JC à porta da City Lights de San Francisco faz parte, em local de destaque, do espólio cá de casa; e “The World Is A Beautiful Place” e “Just As I Used to Say” leituras que sei de cor. A outra referência foi o “Nouveau Roman”, principalmente depois de ler a Duras de “Moderato Cantabile” e o guião de “Hiroxima, Mon Amour”. Também “L’Anné Derniére...” de Alain Robe Grillet.

Bom, muitas e variegadas coisas se passaram depois disso, tendo chegado frequentemente à literatura através do cinema (olhe, foi o caso recente de “A Costa dos Murmúrios”, mas confesso preferi a Margarida Cardoso à Lídia Jorge), ou ao cinema através da literatura, como foi o caso da já citada Duras e do excelente “The End Of The Affair”, de Graham Green, um livro que tinha recomendado aos meus filhos, católicos. Pelo meio, algo ficou, como, por exemplo, o “Less Than Zero” do Ellis, o "Go-Between do L. P. Hartley ou a belíssima escrita da Agustina (confesso que, por vezes, muito chata). Mas, como esta já vai longa, por aqui me fico e despeço, com estas - algumas - referências literárias de um tecnocrata “frio e empedernido”, upon request de uma bibliotecária de Línguas e Literaturas Modernas, de seu nome Miss Pearls. Mas, já que estamos em maré de desafios, que tal se, em jeito de retribuição, eu lhe pedir agora para definir umas estratégias, ler uns P&L ou analisar uns estudos de mercado? Boa?

sábado, setembro 22, 2007

The Hammer Collection (6)

"Captain Clegg" de Peter Graham Scott (1962)

Mourinho, Abramovich e as empresas

Na sua essência, o conflito que opôs José Mourinho a Abramovich não é muito diferente de centenas ou milhares de outros que, em muitas empresas portuguesas, se manifestam entre executivos e técnicos qualificados, de um lado, e donos das empresas, do outro, a quem o dinheiro e o ownership concedem a apetência e o legítimo direito de “mandar” mas a quem a falta a necessária preparação para que efectivamente o saibam fazer.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Afinal a televisão não faz assim tão mal aos jovens!...

Apesar do "Cabo" e da "codificação", desde há algumas semanas raro é o dia em que não encontro ali no Jardim da Estrela, ao fim da tarde, um grupo de pré e recém adolescentes disputando num dos relvados, que quando era criança era proibido pisar, aguerridos jogos de rugby, não se coibindo mesmo de ensaiar umas "valentes" placagens. Uma das vezes, não consegui mesmo resistir à tentação (segundo Oscar Wilde a única coisa a que se não deve resistir) e lá resolvi recordar alguns passes, umas fintas e uns drops já pouco certeiros, embora nunca o tivessem sido muito. Desisti rapidamente, antes que os jovens resolvessem passar às placagens. Mas espero eles continuem, apesar do "Cabo", da codificação e do Nuno Ramos de Almeida, se por lá passar, os olhar com desdém chamando-lhes "betinhos"!

Anglophilia (40)







The Picnic Basket

quinta-feira, setembro 20, 2007

O "5 dias" e o regicídio

Em primeiro lugar, compete-me afirmar que não sou monárquico. Convém, neste país em que quase tudo se discute em função de posições apriorísticas e categorias pré definidas. Segundo, que não alinho no disparate completo que constitui valorizar os acontecimentos históricos à luz dos valores actuais e em função de categorias morais entretanto edificadas. Por isso, não considero o regicídio um acto terrorista – e é desonesto e propagandístico mencioná-lo desse modo - com a conotação e significado que hoje em dia se atribui a tais actos, o que não implica que o aprove enquanto forma de luta política e considere o assassinato do rei D. Carlos um acto legítimo. Afirmar, no sentido de uma sua defesa, como Fernanda Câncio o faz no 5 Dias, que não estávamos numa democracia e num estado de direito, mas em regime de tirania - em plena monarquia constitucional???!!! -, o que tornaria legítimo tal acto, vai um passo que só a ignorância histórica e/ou a má fé permitem dar. Os analfabetos e as mulheres não votavam? Era um dado adquirido e ainda não significativamente contestado nos regimes parlamentares: estávamos ainda longe, tal como durante a democrática I República, do one man (women)/one vote. João Franco governou, episodicamente, em efectiva ditadura? Um facto, mas foi apenas um episódio breve que duraria de 10 de Maio a 24 de Dezembro de 1907, sendo nessa data marcadas eleições para 5 de Abril de 1908. Quando se dá o regicídio estamos, portanto, a 65 dias das eleições. Ao colocar a questão neste plano, bem me parece que Fernanda Câncio está a conceder inestimáveis argumentos aos ultra-monárquicos e aos falsificadores da História, o que ela seguramente não quererá. Ou então o 5 Dias anda em maré de azar.

Mendes, Menezes, eu e o futuro da "pátria"

Confesso que não acho irrelevante qual o vencedor das eleições no PSD. E já que estou em maré de confissões, estado de espírito a que o meu agnosticismo não é nada dado, confesso também que o populismo de Luís Filipe Menezes me assusta um pouco, sendo eu pouco dado (outra confissão) a manifestações que mais me habituei e associar, historicamente, a regiões geográficas às quais não sou particularmente afecto. Não é que considere que com a vitória de Menezes a “pátria esteja em perigo”, coisa que não me preocuparia de sobremaneira. Mas está a inteligência dos portugueses, o ar que se respira e aquilo que eu, à falta de melhor definição, designaria abreviadamente por “civilização” coisa que bem mais me preocupa a mim, “sulista, elitista e liberal qb”.

O problema maior é que, sendo eu um cidadão que me interesso suficientemente por estas coisas da política e do governo da nação – embora não militante de qualquer partido -, e não considerando indiferente a vitória de qualquer um dos candidatos, dei por mim, no dia e hora do debate (???), a preferir “ir vendo” um filme, pouco menos do que irrelevante, sobre a WWII, na RTP Memória (“A Noite Dos Generais”), em vez de ouvir atentamente os cidadãos Menezes e Mendes preocupados com o futuro da pátria. Confesso que a questão me angustiou, pois poderia ter trocado os M&M por um jogo do meu “glorioso”, uma exibição de garra dos “Lobos”, uns "gritinhos da Sharapova ou um filme interessante e uma das minhas séries da BBC favoritas. Nada disso: limitei-me a assistir displicentemente a um filme medíocre. Talvez fosse por isso, por pouco me interessar o futuro da pátria. Pelo menos prefiro pensar assim, em vez de concluir que, pura e simplesmente, M&M, se calhar, não passam de uns grandes e desinteressantes “chatos” e o futuro da pátria (ou lá o que quer que seja) não passa definitivamente por eles.

Mourinho deixa o Chelsea e este "blog" já o tinha previsto há algum tempo

Sobre Mourinho, o Chelsea, Abramovich e o divórcio anunciado:

A única coisa que me apetece acrescentar é que é uma "chatice" ter razão antes de tempo.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Cinema e Rock & Roll (11)


"Loving You" de Hal Kanter (1957)

O segundo filme de Elvis, ainda Elvis ia valendo a pena (às vezes). Ao que consta, foram necessários quarenta takes antes de Presley aprovar a versão final da canção que dá o título ao filme e uma outra curiosidade é que a mãe Presley faz figuração, aparecendo na assistência durante uma performance do filho. Bom, mas neste clip temos apenas a interpretação de "Party" e um medley com excertos de "Teddy Bear", "Got A Lot Of Livin' To Do" e "Hot Dog", este da dupla Leiber - Stoller, responsável por alguns êxitos de Elvis nos primeiros tempos da RCA. Vale a pena ouvir.

terça-feira, setembro 18, 2007

O profissionalismo dos McCann e o "lado de cá"

Culpados ou não se verá (?), e esperemos a justiça seja capaz de o determinar sem qualquer ponta de dúvida. Mas algo se pode dizer desde já com toda a justiça e com uma grande chapelada: o enorme profissionalismo da defesa dos McCann, que actua com a precisão de um relógio e mexe as suas pedras com o rigor de um grande mestre do xadrez. Tudo acontece como e quando deve acontecer: o regresso a Inglaterra; o perfil dos advogados contratados; a mudança dos assessores de comunicação e o seu perfil e antecedentes; as notícias, nada inocentes, saídas nos media, mesmo nos portugueses - sendo escolhidos os mais “sérios” como o “Público” -, sobre casos anteriores e semelhantes em que se provaram erros judiciais; o surgimento de peritos altamente qualificados na área cientifica e, por fim, o foco no grande telhado de vidro da PJ que constitui o “Caso Joana”. E, claro, simultaneamente com tudo isto e em pano de fundo, a normal cooperação entre polícias, actuando a inglesa na sombra com o silêncio dos inocentes.

Todo um rigor e profissionalismo que me parece, por contraste, começar a abrir algumas brechas na coesão do lado da investigação, que durante alguns dias viveu e se alimentou de uma “fuga para a frente” talvez não inteiramente consistente em função dos dados recolhidos e parecendo eventualmente reversível: recusa do Conselho Superior da Magistratura a divulgar elementos sobre o caso; indecisões sobre futuras audições e recusa do juiz de instrução à sua audição em Portugal; demissão ou afastamento de Olegário Sousa; hipóteses fantasiosas sobre o destino do corpo(?) e afirmações ridículas e irrelevantes para o caso, sopradas para os media, sobre a personalidade de Kate McCann, o seu perfil psicológico e o relacionamento com os filhos.

Gostaria de ter a certeza que os responsáveis pela investigação têm a perfeita noção dos terrenos que pisam e do que está em jogo. Infelizmente, em função do que vejo e dos antecedentes, estou longe de ter essa mesma certeza. Esperemos, pelo menos, que a televisão do Serviço Público não volte a cair na armadilha Barra da Costa, seja ela qual for ou chame-se como se chamar. É que é o mínimo...

História(s) da Música Popular (59)

Dusty Springfield - "Going Back" (Gerry Goffin - Carole King)

Herman's Hermits - "I'm Into Something Good" (Gerry Goffin - Carole King)
The Brill Building (IX)
O nome da londrina Mary Isobel Catherine Bernardette O’Brien (1939 – 1999, tendo a rainha Elizabeth declarado a sua tristeza quando da sua morte) pouco dirá a quem quer que seja fora do seu círculo familiar, mas se nos referirmos a Dusty Springfield (OBE, se faz favor), personalidade largamente controversa mas isso são outros “quinhentos”, a identificação será bem mais fácil, mesmo para os mais novos que viram um dos seus temas principais “Son Of A Preacher Man” integrar a banda sonora de “Pulp Fiction”. Mas se me perguntarem que compositor associo a Dusty, direi eu, e muitos outros iniciados nestas histórias ligadas à música popular, de imediato, Burt Bacharach e Hal David. Pois é, mas Dusty, que também interpretou com sucesso “The Windmills Of Your Mind”, o tema de “The Thomas Crown Affair” (o primeiro, com Steve McQueen, que em português se chamava “O Grande Mestre do Crime”), também recorreu a Gerry Goffin e Carole King, que eu saiba – e sei alguma coisa – pelo menos por duas vezes. Uma delas chama-se “Some Of Your Lovin’” e a outra este “Going Back” (1966), que soa mesmo a Burt Bacharach mas é Goffin e King. Diz-se que a interpretação deste “Going Back”, que os Byrds também “cobriram”, era muito elogiada por Carole King, com quem Dusty nunca trabalhou em conjunto, dizendo “que lhe partia o coração”. Digamos que, a mim, quase, por isso aqui a deixo para partir também os vossos.

Outro tema que aqui trago é talvez bem mais conhecido. Trata-se de “I’m Into Something Good” na interpretação dos Herman’s Hermits (Manchester 1963, cidade também dos Hollies e de Freddy & The Dreamers) de Peter Noone, o seu primeiro sucesso, #1 no UK em 1964 e também escrito por Gerry Goffin e Carole King. Os Herman’s Hermits e a sua música bem disposta e despretensiosa, nas margens da bubble-gum music, foram o que se pode chamar verdadeiros hit makers (“No Milk Today”, “There’s A Kind Of Hush”, “Can’t You Hear My Heartbeat”, etc, etc) e nas suas sessões de gravação chegaram a tocar os então músicos de estúdio Jimmy Page e John Paul Jones, mais tarde Led Zeppelin. Bom, e por hoje já chega. Voltaremos para o último capítulo de Goffin e King, passando depois a outras personalidades do Brill Building.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Exploitation (5)

" Girls On The Loose" de Paul Henreid (1958)

Grandes Séries (20)

A série já aqui foi referida a propósito de séries notáveis sobre a WWII. É, para mim, ao mesmo nível da americana “Band Of Brothers” (a história da "Easy Company", da célebre Divisão 101 Aerotransportada, desde Omaha Beach – ou antes, desde o seu teino em Inglaterra – até ao final da guerra), uma das duas melhores séries de TV, de “combate”, sobre a WWII - para as distinguir das séries dramáticas que têm a guerra apenas como “fundo”. Só que, na altura em que a referi não havia video clip disponível, o que já não acontece agora uma vez que alma inteligente se lembrou dela no "You Tube".

Trata-se da história da esquadrilha de caça “Hornet”, da "Royal Air Force”, durante as batalhas de França e de Inglaterra, e é muitíssimo mais do que um conjunto de excelentes cenas de batalhas aéreas - o que, para quem gosta, já não seria nada pouco: como boa série britânica que se preza, é também um retrato do relacionamento entre homens com personalidades, passados e futuros diferentes num ambiente, em certa medida, “fechado” e “redutor”. É, para além disso, um flashback que nos leva à sociedade de classes inglesa dos anos de “antes da guerra”. Também, uma homenagem àqueles a quem Winston Churchill se referiu numa das mais célebres frases de todos os tempos: "Never in the field of human conflict was so much owed by so many to so few" .

A série passou, e repetiu, na RTP2, no tempo em que não estávamos ainda reduzidos ao “modo de contar” americano e aos “Sopranos”, “CSI”, “Dr. House”, “Roma” e tudo o mais que antes se viu e adiante se verá. Nada contra, só que podiam fazer o favor de intervalar... No IMDB tem direito a um rating de 8.9 em 10. Como curiosidade, um dos actores da série é Nathaniel Parker, o Inspector Lynley de “Inspector Lynley Mysteries”, série já aqui referida e que tem passado entre a SIC Mulher e a BBC Prime. Para quem se quiser dar ao trabalho, “Piece Of Cake” (traduz-se por “é canja”) pode ser encomendada na Amazon por cerca de €25.

domingo, setembro 16, 2007

Requiem. III - Lacrimosa, Dies Irae

Se Scolari está certo ao estabelecer como objectivo os 28 pontos no apuramento para o Europeu de 2008, erra quanto á periodização no modo de os alcançar, digamos assim, uma vez mais, fruto da sua pouca flexibilidade e questionável rigor no modo como perspectiva os jogos. Podendo o grupo ser dividido em dois - cinco equipas candidatas a dois lugares de apuramento e as restantes três para “atrapalhar” –, Scolari deveria saber que iria disputar alguns jogos decisivos (Polónia e Finlândia fora e Polónia e Sérvia em casa) no início da época, os primeiros na “ressaca” de um mundial desgastante, e sendo obrigado a mexer na equipa-base dado o abandono de alguns jogadores, e os segundos no início da preparação e, conhecendo o mercado, com hipótese de alguns dos jogadores-chave da selecção estarem em período de mudança de clube e/ou de país, com toda a instabilidade e problemas de adaptação que tal alteração implica. Mais ainda, sabe também que, ao contrário do acontecido na qualificação para o Mundial de 2006, terá oito e não quatro jogos contra adversários directos, três deles incómodos para os princípios e modelo de jogo portugueses (Finlândia, Polónia e Bélgica), estando assim a selecção mais exposta a variações de forma, lesões, imponderáveis, sorte e azar e... a ter dificuldades nesses jogos em casa. Não minimiza os riscos, mantendo demasiada rigidez nos seus princípios de gestão (não sugiro que os mudasse radicalmente – o que seria um erro – mas que introduzisse alguma flexibilidade), optando com demasiada frequência por jogadores fora de qualquer forma aceitável e não possuindo um sistema de jogo alternativo. O resultado é um empate lisonjeiro na Finlândia e uma derrota na Polónia (por números que poderiam ter sido bem mais dilatados). Em ambos os jogos, Portugal não consegue impor os seus princípios de jogo contra equipas que jogam rápido e simples e de grande poder físico-atlético, essencialmente porque o meio-campo, em forma deficiente, defende baixo, encostando á defesa, e a equipa, sentindo-o, tem medo de atacar (ou ataca com pouco apoio) e, quando o faz, não recupera, expondo-se. Mesmo quando domina, vê-se em dificuldade para controlar o jogo. O mesmo irá passar-se na Arménia e no Estádio da Luz contra a Polónia. Acresce que, sabendo isto – e as dificuldades que Portugal poderia encontrar em casa contra Polónia, Finlândia e Bélgica (neste último caso, não confirmadas) – teria sido bem mais prudente definir à partida como objectivo, sem qualquer hesitação, vitória nos seis jogos contra Arménia, Cazaquistão e Azerbaijão (seriam 18 pontos) gerindo os jogos e resultados contra os adversários directos, disputados – alguns – com grandes intervalos entre eles, em função do momento da equipa, incidências do jogo, etc.

Penso ser este o problema actual de base: se os princípios de gestão de Scolari (um grupo fechado, ainda mais fechado se considerarmos os onze iniciais, modelo de jogo com poucas ou nenhumas “nuances” e sem sistema alternativo) se revelam extremamente adequados a uma fase final, concentrada, ou a uma qualificação com poucos jogos decisivos, já não o serão tanto, sem a introdução de alguma agilidade, para um período longo e com muitos jogos disseminados por esse mesmo espaço de tempo. Acresce que quando introduz alguma flexibilidade nesses princípios o faz não de uma forma prospectiva, mas sempre em função de algo que já correu mal, como aconteceu no Europeu de 2004 e, recentemente, depois do jogo com a Arménia. É exactamente o contrário do que manda a gestão (gerir é prever) e confirma um dos seus defeitos, já aqui citado, de alguma falta de rigor na abordagem e preparação dos jogos. E perde o controle: antes do problema acontecido no jogo com a Sérvia, será bom lembrar as declarações no final do jogo com a Arménia sobre o modo como “corriam” os jogadores desta equipa. Aparentemente, o disparate ficou esquecido, e interrogamo-nos se terá merecido alguma chamada de atenção por parte da FPF, prevenindo o futuro. Em vez de afirmações dignas de qualquer treinador de terceira categoria (que Scolari não é), deveria, com o seu grupo, ter procurado as respostas para o acontecido.

Provavelmente, directa ou indirectamente comandará a equipa até ao final da qualificação. Se falhar, abandonará; se conseguir o apuramento, o que é bastante provável, ficará até Julho de 2008 e será bem possível consiga uma boa presença nessa mesma fase final, onde os seus princípios de gestão se revelam mais eficazes. Mas acabará aí, mesmo que campeão, o seu contrato com a FPF. Restará a esta, com aquilo que entretanto terá aprendido, não voltar atrás, ao tempo dos Oliveiras e dos casos Paula, do corropio de jogadores entrando e saindo porque sim, à época de tornar jogadores internacionais à força por mor da sua valorização, contratando um treinador estrangeiro (europeu) que potencie os importantes “activos” deixados por Scolari e minimize os seus pontos fracos. Não há caminho de regresso!

sexta-feira, setembro 14, 2007

Reforma adiada?

Muito mau sinal, o adiamento da parte mais significativa da Reforma da Administração Pública para 2009. Das duas, uma: ou o calendário foi estabelecido com uma dose significativa de voluntarismo e era, à partida, “incumprível”, o que revela falta de conhecimento, planeamento deficiente ou incapacidade de o pôr em prática, ou o adiamento se deve a problemas ao nível da vontade e capacidade política para a executar. Se ambas as causas são razão para preocupações, a segunda – a ser essa, efectivamente, a verdadeira – é caso para sérias interrogações. Indiscutivelmente, este sim, um falhanço do governo e uma verdadeira oportunidade para a oposição. Só que, implicando esta reforma algumas medidas que têm sido contestadas fortemente pelos sindicatos, este adiamento constitui, para o PCP e “Bloco”, uma dávida que só não é vinda dos céus porque se trata, maioritariamente, de não crentes. Quanto ao PSD (o CDS existe?), com a onda de populismo que por lá grassa e a ideia peregrina (aqui já podemos falar de crentes) e demagógica de Luís Filipe Menezes estar à porta das fábricas (e das repartições? – há que não discriminar) ao lado da contestação laboral, que coerência restará para uma interpelação credível ao governo? Pois é, a facilidade populista é uma tentação demasiado grande para que lhe resista quem da política tem uma concepção tablóide.

O Mundo em Guerra (38)

France

Requiem. II - Gloria, Laudamus te, Gratias

É pois a adopção de um modelo de jogo inadequado (post anterior) a quem tem de disputar uma fase final em casa que, em minha opinião, deve ser responsabilizada pela derrota nos dois jogos contra a Grécia e pela não obtenção do título. Mais ainda, esses jogos são mal preparados e esse modelo de jogo não consegue “integrar” Pauleta, o único “ponta de lança” com provas dadas, parecendo sempre este jogador um corpo estranho na equipa, o que será ainda mais evidente no Mundial de 2006. Mas é também a organização, independência, sentido de grupo, disciplina e liderança que Scolari traz à selecção, a convocação de jogadores experimentados e pertencentes a grandes clubes europeus acabando com os Kenedys, Porfírios ou um Paulo Sousa lesionado e em fim de prazo de validade, que está na base de uma carreira até à final, da ultrapassagem do percalço do jogo inicial com a Grécia e, mesmo, da resolução do bloqueio que constituía para as equipas portuguesas o desempate por penalties. Scolari no seu pior e no seu melhor, portanto: nem deus nem demónio. Melhor, Scolari, brasileiro, consegue uma mobilização popular nunca antes vista, aproveitando um povo em crise de identidade e que tem dificuldade em se reconhecer nos valores de um cosmopolitismo europeu trinta anos depois da perda do império do qual esse Brasil e os trópicos, a sua cultura e way of living, eram parte integrante e importante. É essa mobilização que permite “esquecer” a derrota na final e os erros cometidos. É essa identificação popular, esse “peronismo” na periferia europeia, que permite que o povo esqueça algo que em Portugal é normalmente imperdoável – que o diga José Mourinho –: a arrogância, categoria na qual os portugueses classificam quem tem ideias e convicções, luta por elas, não muda por “obra e graça” de qualquer fortuito golpe de vento, só o faz quando convicto do erro e não tem paciência para o disparate alheio. Mas enquanto em José Mourinho (um produto da universidade) essa dita “arrogância” se afirma com o seu quê de aristocrático e distante, ao mesmo tempo que pretende juntar-lhe o glamour de um James Bond, de única ou estrela maior de um grupo (com ele nunca se confundindo), Scolari é o sargento de um filme de Samuel Fuller, aquele que está próximo do povo, dos seus homens, a quem estes respeitam e seguem por lhe conhecerem as origens, com ele partilhando os perigos e junto dele se sentindo mais seguros no combate. Mourinho nunca teria mandado colocar bandeiras nas janelas e teria resguardado o seu grupo daquela caminhada de Alcochete para o Estádio da Luz. Eventualmente, teria ganho à Grécia, mas ninguém lhe perdoaria se o não fizesse. Teria chegado tão longe, até à final?

A fase de apuramento para o Mundial de 2006, num grupo fácil mas com uma abordagem globalmente correcta da parte do seleccionador, tem pouca história para contar. Um ponto alto – a goleada à Rússia – e um empate no Lichtenstein, percalço sem significado de maior, são os acontecimentos que fogem ao normal fluir das coisas. Algo, quanto a mim, daquilo que viria a ensombrar o futuro é já, aqui e ali, visível. No campo, e no jogo da Eslováquia, a dificuldade da equipa para controlar o jogo quando é dominada (controle e domínio são coisas diferentes), defendendo demasiado baixo com os médios encostados à defesa, principalmente contra adversários de elevado poder físico-atlético, rápidos e fisicamente poderosos como era o caso. Fora dele, no caso do convite da Football Association, Scolari revela-se pouco cuidadoso no controle das suas emoções, na gestão do seu comportamento e da sua relação com a entidade patronal (FPF), causando a esta visíveis embaraços. E quando afronta alguns dos seus críticos mais acérrimos (Rui Santos – testa de ferro de Carlos Queiroz - António Pedro Vasconcelos, etc), alguns revelando comportamentos nas margens da xenofobia ou da idiotice “pura e dura” (há quem chegue a levantar a questão de um estágio no calor do Alentejo, quando se sabe que no centro da Europa Junho/Julho são normalmente meses bastante quentes, como se veio a verificar), em vez de optar por um tom distanciado e superior – talvez didáctico ou até sobranceiro, como seria mais indicado -, responde desabrida e malcriadamente. Mas, lá está, nem deus nem diabo, gere correctamente as pressões para convocar Quaresma (que estava longe da maturidade e de ser um indiscutível), aproveitando, mais uma vez, para demonstrar aos derrotados a sua condição, e constitui um grupo para enfrentar a fase final de gente internacionalmente experiente, com “escola” e traquejo nas grandes competições europeias, mostrando que a fase final de um Campeonato do Mundo não é um passeio ou uma feira de vaidades. É essa experiência de sargento calejado no terreno e no combate que lhe permite conhecer que quem joga bem e deslumbra raramente chega longe, optando pelo útil em detrimento do espectáculo. Chega ao 4º lugar e dificilmente poderia chegar mais longe: faltam-lhe um ponta de lança (uma vez mais não consegue “integrar” quem joga por contraste: Pauleta, um jogador de último toque, e Luís Boa-Morte, com o seu futebol físico e directo), algum poder e frescura físicas e um modelo de jogo ganhador, que não seja o dos excelente vencidos. É a glória! (continua)

quinta-feira, setembro 13, 2007

Requiem. I - Introitus


Antes de Scolari mandavam na selecção nacional de futebol e na FPF Joaquim Oliveira e o FCP. Ou o FCP e a Olivedesportos. Ou a Olivedesportos e Pinto da Costa. Tanto faz, a ordem e o nome dos factores é puramente arbitrária. Para além disso, moviam-se, aqui e ali, outras influências, embora menores, entre as quais as do grupo ligado a Carlos Queiroz, cujo rosto mais visível e mediático é Rui Santos. Só assim se pode compreender a nomeação para o cargo de seleccionador de António Oliveira, alguém sem CV ou vocação, por mínima que fosse, para treinar ou dirigir uma equipa de futebol. Para que isso pudesse vir a acontecer, passou primeiro pelo FCP, claro, onde foi campeão numa altura em que difícil era não o ser (até Carlos Alberto Silva o foi).

A contratação de Scolari, como antes disso a de Humberto Coelho, insere-se numa tentativa de mudança nesta luta pelo domínio da selecção e da FPF (lembram-se da candidatura de Artur Jorge?) quando os ventos começavam a soprar diferentemente, o Sporting tinha dito, de uma vez por todas, adeus ao populismo que marcou a sua gestão durante anos, o Benfica começava, mesmo que por maus caminhos, a “mexer-se” e a região norte via definhar a sua importância política e económica. Humberto Coelho veio cedo demais; Scolari em altura mais certa e, além de ter sido campeão do mundo, tinha atrás de si a força de multinacionais como a Nike e de patrocinadores importantes, o que enfraquecia a posição negocial de Joaquim Oliveira.

A sua nomeação (de Scolari) correspondeu a um autêntico golpe de estado legal dentro da FPF e Scolari, percebendo-o, assumiu-o de forma exemplar com o afastamento de Vítor Baía, assim indicado urbi et orbi como o representante da facção perdedora dentro da selecção e do seu grupo de jogadores. Foi um aviso do tipo “I don’t take prisioners”!, e o afrontamento directo a quem tinha perdido o poder, seguindo-se-lhe, depois disso, algumas entrevistas destinadas a fazer entender de que lado estava, quem seriam os seus inimigos e quais os seus aliados. Foi esta sua atitude que lhe permitiu grangear as primeiras simpatias, fora do núcleo duro dos adeptos do FCP, e foi ela, já então misturada com laivos de um populismo terceiro-mundista, a semente da empatia e mobilização que mais tarde viria a conseguir com o público português.

(Um avanço no tempo para verificar que, neste cenário, surgirá mais tarde um imprevisto: o FCP de José Mourinho vence a taça UEFA e sagra-se campeão europeu, fortalecendo a posição do poder deposto. Scolari, sem alternativa e correndo o risco de sair sem glória, muda a equipa em pleno europeu, com isso conseguindo manter a empatia a sul conquistando apoios a norte – ou pelo menos retirando-lhes alguns argumentos de contestação.)

Voltando atrás, esta questão arrumada - pese embora o ruído de fundo vindo de muitos jornalistas pouco preparados, outros pouco inteligentes, ainda outros tantos porta-vozes de alguns interesses, bem como de alguns comentadores confortáveis no papel de idiotas úteis -, haveria que dar lugar ao futebol. Mas, sem isso certamente não haveria futebol, tal como pouco tinha existido nos anos anteriores.

Scolari tem então quase dois anos para preparar um grupo para disputar a fase final do Euro 2004 e mostra desde logo o seu melhor e o seu pior:


  1. Uma grande capacidade para formar e liderar o seu grupo; uma total impermeabilidade às influências de terceiros e a percepção de que, no futebol actual, nenhuma selecção pode ter êxito sem princípios e um modelo e jogo definidos, o que é incompatível com a entrada e saída permanente de jogadores sem que se tenha em conta o colectivo onde se vão inserir. Digamos que, no estado de então das selecções, não era qualidade de somenos.

  2. Passividade na aceitação de um modelo de jogo herdado do passado e falta de rigor na perspectivação do jogo seguinte; e, logo, deficiente preparação e pouca flexibilidade na sua abordagem, para além de um conservadorismo extremo levando a sua lógica de decisões para além do minimamente defensável.

Disse então entre o meu círculo de amigos ligados a estas coisas do futebol que, indo a selecção portuguesa disputar a fase final do Europeu em casa - onde seria, logicamente uma das favoritas - tendo de defrontar equipas que se iriam fechar na defensiva, a primeira coisa a fazer, e já que o tempo disponível constituía para isso uma oportunidade única, seria mudar o modelo de jogo da selecção - uma equipa tradicionalmente “de espera” e de contra-ataque com problemas quando tinha de jogar em “ataque continuado” - pois, caso não o fizesse, iria sentir dificuldades quando “provasse do seu próprio veneno”. Scolari não o fez, acomodou-se, e perdeu duas vezes com a Grécia, falhando a conquista do Europeu. (continua)

quarta-feira, setembro 12, 2007

"Lucy in the Sky with Diamonds" (12)

Cartaz de Greg Irons para concerto de Mike Bloomfield e Paul Butterfield Blues Band em Filmore (1969)

A polícia angolana e os direitos humanos...

Segundo o JN, a Amnistia Internacional acusa a polícia angolana de se considerar “acima da lei”, “violando os direitos humanos com toda a impunidade”. “Isto apesar da introdução, na sua formação, de cursos de iniciação sobre direitos humanos”.

Como disse? Cursos de formação sobre direitos humanos ministrados pelo estado angolano à sua polícia? Acho que sim, e só não percebo porque não convidaram para o efeito um qualquer inspector da PIDE reformado (porventura não precisam). Mas, já agora, tenho mais sugestões a dar. Que tal cursos de fair play no desporto ministrados por Paulinho Santos e pelo presidente do FCP (tendo como professor convidado o “guarda Abel”)? E de Literatura Portuguesa tendo como professora Margarida Rebelo Pinto? Ou, já agora, de gestão autárquica, aqui havendo vários candidatos a uma cátedra, desde o Sr. Ferreira Torres a Isaltino Morais?... Por último, porque não “Ética na Gestão Empresarial” leccionada por aquela senhora Dos Santos, empresária e gestora de sucesso no país? Bom...mas desculpem a citação do anúncio: “perfeito, perfeito”, seria mesmo convidarem para uma pregação o próprio Frei Tomás – em pessoa, ele mesmo. De uma vez, parece resolveriam o assunto. Mas... e se, por uma vez, uma só que fosse, os alunos decidissem não fazer o que ele faz?

terça-feira, setembro 11, 2007

"When I woke up this morning" - original blues classics (12)



Hudy William Ledbetter "Leadbelly" (1888 - 1949) - "Where Did You Sleep Last Night?"

Nuno Ramos de Almeida, o "Cinco Dias" e a origem social dos jogadores de rugby

Aqui e ali afloram nos "media" e na "blogosfera" preconceitos de classe - ou manifestações de “racismo de classe”, mais propriamente - face à origem social de muitos dos jogadores da selecção nacional de rugby. Exemplar, no mau sentido, este post de Nuno Ramos de Almeida (NRA) no “Cinco Dias”, esquecendo, por exemplo, que “os melhores resultados” não são uma categoria absoluta, mas sim relativa nessa comparação se integrando questões tão relevantes como os antecedentes e grau de desenvolvimento de cada desporto em Portugal, condições da sua prática (infra-estruturais e financeiras), notoriedade e importância de cada desporto a nível mundial, etc, etc, e muitos mais etcs que NRA bem conhece mas faz por não se lembrar. Por isso, não se exigem nem se festejam da mesma maneira resultados do futebol (onde se exige – e bem – um lugar, pelo menos, nas meias-finais das principais competições e menos do que isso é uma desilusão), no basquetebol, no andebol, no hóquei em patins (aqui exige-se sempre o título e, dados os antecedentes e a pouca relevância internacional do desporto, só nos tempos do “hóquei patriótico” isso dava direito as festejos) ou no rugby. Do mesmo modo que não se espera que o Bloco de Esquerda obtenha nas eleições um resultado ao nível do PS ou PSD, festejando os seus militantes, com toda a razão e legitimidade, resultados de 7 ou 8%. O problema de NRA e de outros autores de disparates semelhantes é que estas suas afirmações, no fundo, não andam assim tão longe como eles próprios possam pensar dos comentários ignóbeis de Jean Marie Le Pen sobre a composição étnica da selecção de futebol da França ou mesmo, no limite, das atitudes de Adolf Hitler face ás vitórias de Jessie Owens nos Jogos Olímpicos de 1936. Quais seriam os comentários e as atitudes de NRA e dos seus pares de pensamento se alguém, repetidamente, viesse a terreiro afirmar que a maioria dos atletas de uma dada selecção nacional eram pretos ou amarelos, maltrapilhos ou analfabetos? Ou afirmar, com desdém, que a maioria era da Cova da Moura ou do Bairro das Furnas? Que pensa dos ataques de tantos críticos e comentadores aos “brasileiros”, Deco e Pepe, da selecção de futebol? Ou será que isto do racismo é só étnico e não uma questão social com dois sentidos, como efectivamente o é e NRA, certamente, não desdenharia comigo concordar?

Quanto á questão do hino nacional, o meu post anterior, penso, responde à questão.

E, já agora, falando da cobertura mediática, claro que a FPR aproveitou a presença no Campeonato do Mundo para fazer a promoção do rugby; seria estúpida e incompetente se não o fizesse, não acha? É um desporto de repercussão mundial, ainda numa fase relativamente incipiente em Portugal e que, por isso mesmo, pode progredir bastante. Mas deixe-me lembrar-lhe que os jogos estão a ser transmitidos no “Cabo”, e em canal codificado, enquanto os de basquetebol o são na RTP2. Além disso, o basquetebol vê os jogos da sua liga profissional serem habitualmente transmitidos também na RTP2 (nada contra) enquanto no caso do rugby isso acontece apenas com alguns jogos internacionais (não todos).

Para terminar: todos falamos da indiscutível crise da direita. Nada mais verdadeiro. Mas será esta, a de NRA, a esquerda “alternativa” que temos? Como costumava dizer uma amiga minha, “que susto”!

segunda-feira, setembro 10, 2007

A selecção de rugby e o hino nacional

Gosto pouco de gente que não pensa – ou pensa pouco. Certamente, muito menos do que deveria e os jornalistas e críticos de desporto, neste país, normalmente pensam pouco. Ele há excepções, e algumas vezes já aqui as referi.

Bom, vem isto a propósito dos comentários que já ouvi sobre o modo entusiasta e sentido (o que é verdade) sobre o modo como os jogadores da selecção nacional de rugby entoam o hino, no início dos jogos, em contraste com o que acontece noutros desportos, mormente no futebol, falando desde logo esses mesmos críticos num maior patriotismo e vontade de vencer. Será mesmo assim; será essa a razão? Sobre a (grande) vontade de vencer não tenho qualquer dúvida, tendo por lá passado, meio a brincar, e tendo amigos e familiares chegados que também por lá andaram, uns mais a sério do que outros. Patriotismo? Acho que sim, e falo pelos outros, que essa não é definitivamente religião que professe, embora não veja bem a razão porque Juan Murré, Cristian Spachuck e Juan Severino, que não nasceram portugueses tal como Deco ou Pepe, o possam ser mais ou menos do que Cristiano Ronaldo ou Nuno Gomes. A questão é bem outra.

Pela sua essência, o rugby é um desporto bastante mais colectivo do que o futebol. Quer isto dizer que as individualidades não são importantes? Claro que são, mas, ao contrário do que acontece no futebol, por exemplo, dificilmente um jogador de génio pode decidir um jogo ou disfarçar uma fraca exibição colectiva. Para se impor, precisa muito de todos os outros e, ainda mais, do espirito e acerto do grupo, como um todo. Por outro lado, o rugby é um desporto de combate, de conquista de terreno, necessitando uma equipa muito mais desse espirito de “corpo”, como um exército em combate, do que outros desportos com características bem diversas. Daí o “Haka” dos "All Blacks", um tradicional grito de guerra maori. Daí que o hino funcione muito como um cântico guerreiro, como elemento catalizador desse espírito de união e de combate, cantado a plenos pulmões com ganas de vencer, tal como quando um exército se prepara para o combate que pode decidir as suas vidas e dos seus. É fundamentalmente esta a razão, e sendo uma excelente razão seria também pouco razoável, e até talvez injusto, que se fizessem comparações com outros desportos sem estabelecer e ter presentes as diferenças. Lá por cantarem eventualmente o hino com bem menor vozeirão ou espirito guerreiro, estou certo que Cristiano, Jorge Andrade e Deco têm tantas ganas de ganhar como Vasco Uva, Luis Pissarra, Cristian ou os dois Juans. Que se conceda, pois, o direito á diferença ao que é diferente.

The Classic Era of American Pulp Magazines (38)

Capa de autor desconhecido para "Sinister Stories" (Maio de 1940)

História(s) da Música Popular (58)


The Beatles - "Chains" (Gerry Goffin - Carole King)

The Cookies - "Chains" (Gerry Goffin - Carole King)
The Brill Building (VIII)
Pois como já tinha dito, também os Beatles “cantaram” Goffin e King. Não apenas “não oficialmente” e em edição bootleg, como vimos num dos posts anteriores com o tema “Take Good Care Of My Baby” e ainda sem o line up definitivo (estávamos no início de 1962 e Pete Best ainda estava no lugar de Ringo Starr – e digamos que estava muito bem), mas oficialmente, estando o tema (“Chains”) incluído no seu primeiro álbum, “Please Please Me” (1963). Originalmente este tema foi composto para as “Cookies”, um trio vocal feminino desde 1955 ligado à “Atlantic” (a grande editora de música negra nos USA) e fundamentalmente utilizado como back up singers de intérpretes como LaVern Baker e Ray Charles. Depois de terem conhecido Neil Sedaka, e já apenas com um dos membros do line up original, as “Cookies” lá continuaram o seu trabalho de back up singers, agora para a Aldon Music de Don Kirshner, tendo finalmente alcançado algum êxito com a gravação de “Chains” (Gerry Goffin – Carole King”), com direito a cover pelos Beatles no ano seguinte. Pouco mais há a dizer, exceptuando, em relação às “Cookies”, que “Don’t Say Nothing Bad (About My Baby)” foi o seu maior êxito (1963) chegando a #7 das tabelas pop e #3 de R&B.

Ficam então aqui as duas versões de “Chains”; é só dizer qual prefere!

Vamos avaliar a PJ?

Não sei se a Polícia Judiciária é ou não a “melhor do mundo”. Duvido que o seja, não só porque em Portugal ser “o(a) melhor do mundo” é a excepção e não a regra – é, portanto, uma questão de probabilidades – como essa mesma probabilidade decresce na medida em que se passa do individual ao colectivo, isto é, se caminha do esforço pessoal, muitas vezes excepcional e episódico – transcendendo-se - para o trabalho organizacional, de equipa, coordenado e dilatado no tempo e obedecendo a padrões e procedimentos definidos, como me parece ser o trabalho de investigação criminal. Para além disso, a excelência é também, em grande parte, fruto da experiência e, felizmente, em Portugal a criminalidade complexa é ainda rara, não dando muito espaço a aprendizagem por via das “curvas de experiência”.

Bom, de qualquer modo, tendo dito isto e sabendo que, no fim do dia, a avaliação última tem necessariamente que ver com a resolução dos casos que investiga, penso seria este o momento indicado para algum escrutínio mediático sobre a nossa polícia de investigação criminal, centrado em questões muito simples que nos permitissem lançar alguma luz sobre a sua efectiva excelência. Por exemplo, como são recrutados os seus membros? Qual a sua origem, formação de base e posterior evolução? Que cursos frequentam? Como é feita a formação interna? Existem protocolos com polícias estrangeiras para frequência de estágios, cursos de formação, troca de experiências (case studies), actualização, etc? Existem procedimentos institucionalizados de avaliação permanente dos seus membros? Como progridem nas suas carreiras? Como comparam as suas estruturas orgânicas e de funcionamento com as suas congéneres da UE? Com que frequência são efectuadas auditorias e avaliações externas?

Fiquemo-nos por aqui... Senhores jornalistas e “meios” de referência, alguém aceita o repto?

domingo, setembro 09, 2007

O primeiro golo de Portugal no jogo de ontem e a arbitragem

Algo que não vi escrito na imprensa desportiva, ou outra, de hoje e foi somente superficialmente aflorado nos comentários de ontem ao Portugal-Polónia, na RTP1: no lance do primeiro golo de Portugal, o árbitro deveria ter interrompido o jogo, marcado penalty contra a Polónia e mostrado o cartão encarnado (expulsão) ao guarda-redes respectivo. É que quando se verifica uma falta punida com a marcação de grande penalidade não há lugar à aplicação da lei da vantagem. Contrariamente ao que dizíamos nos nossos jogos de adolescentes, do “muda aos cinco e acaba aos dez”, “penalty seguido de golo” não é, de facto, golo! Trata-se, pois, de um erro grosseiro do árbitro que, caso o penalty fosse convertido, pode ter prejudicado a equipa portuguesa, pois esta passaria a jogar contra apenas dez elementos. Não é assim?
Que raio, tanta gente capaz de esfolar um árbitro por foras-de-jogo milimétricos ou com tantas certezas sobre decisões tão difíceis quanto subjectivas (como o atraso ao guarda-redes no FCP-Sporting) e deixa passar um erro destes sem qualquer reparo?

"Arte popular" no "Estado Novo" (5)

Capa de Paulo Ferreira para a revista "Panorama", do "Secretariado Nacional de Informação" (SNI)

sexta-feira, setembro 07, 2007

Da descoordenação das polícias...

A oposição – com razão, diga-se - condenou o governo pela descoordenação verificada nas informações prestadas pelas polícias no caso do assalto à ourivesaria de Viana do Castelo. Certo; já não é a primeira vez que algo de semelhante acontece. Mas esqueceu-se essa mesma oposição, ou melhor, os partidos que a compõem, que, já várias vezes tendo sido governo, são tão responsáveis como o PS pela manutenção de um status quo destinado fatalmente a proporcionar, com facilidade, esse tipo de situações: a existência de três polícias diferentes, dependentes de dois ministérios, em vez de uma só, civil, com o seu ramo específico de investigação criminal. Pois é, lei de Murphy, “o que pode correr mal, corre mal”... E com esta (des)organização de polícias, muito mais coisas poderão vir a correr mal, no futuro.

A Guerra Aqui (mesmo) Ao Lado (25)

Cartaz de Manuel Monleón para a U. G. T. - Valência (1938)
"Retrat de Iglesias, un dels màxims representants del comunisme espanyol. Un exemple de com un retrat pot simbolitza tota una ideologia."

O RCP e a "Festa do Avante"

O “Clube de Opinião” desta manhã, no RCP (todos os dias úteis pelas 9.30h, normalmente um espaço de análise política e de sociedade interessante), foi totalmente preenchido por um dirigente do PCP (peço desculpa por não me lembrar do nome) e da “Festa do Avante” fazendo a propaganda da dita e transformando o dito “clube” num espaço de “Tempo de Antena” sem a obrigatória identificação enquanto tal. Isto perante a complacência do jornalista do RCP (Nuno Domingues?) que se limitava a “dar as deixas” para a promoção da festa. Sobre algumas presenças vindas do estrangeiro e “incómodas” para o PCP - como as FARC, por exemplo, para me ficar apenas por aqui -, assunto que tem vindo a ser, e bem, denunciado na "blogosfera”, nem uma pergunta ou interrogação. Jornalismo ou problemas de consciência de Luís Osório?

quinta-feira, setembro 06, 2007

3 temas 3 que já ouvimos em qualquer lado (III)

Joseph Haydn (1732 - 1809) - Quarteto nº 62 em Dó Maior, Hob. III (OP. 76 Nº 3) "Kaiser". 2º Andamento, Poco adagio: Cantabile
Kodaly Quartet

August Hoffmann von Fallersleben - "Das Lied Der Deutschen" : Hino Nacional da Alemanha

O Comendador Berardo e a compreensão do mundo

Joe Berardo, o verdadeiro e único empresário “democrata, antifascista e patriota” (também benfiquista, pois claro, poderia lá ser de outro modo sem negar aquele estatuto tão arduamente conseguido em participadas assembleias gerais e entrevistas a Mário Crespo!?), parece que decidiu construir, lá para os lados do Bombarral, um jardim chinês com estátuas “cópias dos guerreiros de terracota de Xian e um lago artificial com um pagode (um “pagode” mesmo? um grande pagode?) no meio. Penso que a ideia – segundo Berardo – é os visitantes, “todos vestidos de igual para terem uma melhor compreensão do mundo”, poderem meditar e reflectir sobre si próprios.

Duas reflexões o assunto me merece:

  1. A primeira para agradecer ao Comendador Berardo o kitsch de tão notável empreendimento, já que isso me permite não só verificar quão feliz sou por ter bom gosto, como concluir, uma vez mais, quanto nós, os supostamente cultos e mais ou menos bem nascidos, ao ser-nos assim dada a oportunidade de nos compararmos com a sociedade afluente , temos a agradecer à divina providência pela graça concedida.
  2. A segunda porque finalmente percebi porque (eu acho) tenho uma “melhor compreensão do mundo”: é que entre o colégio e o serviço militar obrigatório, andei cerca de dez anos “vestido de igual”, ou seja, fardado!

Já agora um conselho, Senhor Comendador: farde-se, farde-se! Não importa bem de quê!

quarta-feira, setembro 05, 2007

3 temas 3 que já ouvimos em qualquer lado (II)

Georg Friederich Händel (1685 - 1759) - "Zadok the Priest". Orquestra da Cidade de Alcalá e Coro da Sociedade Lírica Complutense sob a direcção de Vicente Ariño Pellicer

Hino da "Champions League" (adptação e arranjo de Tony Britten baseados em "Zadok the Priest" de G. F. Händel)

terça-feira, setembro 04, 2007

Absolut ads (10)

Summer (Oasis)

3 temas 3 que já ouvimos em qualquer lado (I)

Marc Antoine Charpentier ( 1643 - 1704) - "Te Deum" (prelúdio)

Indicativo (Hino?) da Eurovisão

Que pode o futebol aprender com o rugby?

No próximo Campeonato do Mundo de Rugby – desporto muito caro a este blog – para além das vitórias valerem quatro pontos e os empates dois (até aqui nada de especialmente estranho), as derrotas por menos de sete pontos dão direito a um ponto de bónus, tal como a marcação de quatro ou mais ensaios num jogo. Não seria altura de FIFA e UEFA começarem a pensar em algo de semelhante no futebol, isto é, as vitórias por um mais elevado número de golos (três ou mais, por exemplo) ou as derrotas com um número mínimo de golos marcados (dois?) darem direito a uma bonificação pontual? Não contribuiriam estas medidas para jogos mais espectaculares e interessantes?
Já agora, o Campeonato começa no próximo dia 7 e Portugal entra em acção no dia 9, às 17h, contra a Escócia.

segunda-feira, setembro 03, 2007

"The Queen" by Stephen Frears

Para os que só viram o filme agora, via RTP 1, aqui fica o link para o meu post escrito em Dezembro de 2006 sobre "The Queen" o filme de Stephen (por favor, lê-se Stiven e não Stefan) Frears.

História(s) da Música Popular (57)

The Drifters - "Up On The Roof" (Gerry Goffin - Carole King)

Carole King - "It Might As Well Rain Until September" (Gerry Goffin - Carole King)

Helen Shapiro - "It Might As Well Rain Until September" (Gerry Goffin - Carole King)
The Brill Building (VII)
Para a dupla Gerry Goffin – Carole King, 1962 é o ano da afirmação, com dois #1 e a primeira incursão da Carole na interpretação e única até à edição de “Tapestry” – **** 1/2 da Rolling Stone em 1971. Primeiro foi o êxito com a sua descoberta Little Eva, “The Loco-Motion”, já aqui passado quando se falou da chamada “Dance Craze”; depois o #1 para os Drifters , de Clyde Mc Phatter e Ben E. King, “Up On The Roof”; por fim, “It Might As Well Rain Until September”, originalmente escrito para Bobby Vee, foi o primeiro single de Carole King, que, apesar de não ter passado de # 22 no hit-parade (merecia mais, mas o público tem destas coisas) foi um passo essencial no sentido da sua consagração como intérprete na década seguinte. Aliás, as incursões na interpretação não são caso único no "Brill Building", já que tanto Barry Mann e Ellie Greenwich (The Raindrops) como até Phil Spector (Teddy Bears) as fizeram, embora sem a constância, sucesso e reconhecimento que Carole King viria a ter na década de setenta.

Pois aqui ficam agora os Drifters (“Up On The Roof”) e Carole King, como intérprete, (“It Might As Well Rain Until September”). Deste fica também a bem sucedida versão da britânica Helen Shapiro (1963), que alcançou algum sucesso, mesmo em Portugal, com “Walking Back To Happiness” (1961). Voltaremos ainda a Goffin e King em 1962, mas com algo a merecer específico e individualizado destaque.

O "Bloco de Esquerda" e o Socialismo

O “Bloco de Esquerda” resolveu denominar de “Forum Socialismo” o seu encontro de Verão de quadros e militantes (peço desculpa se a composição não era bem esta, mas dá para entender sobre o que estou a falar). O que o “Bloco” parece ainda não ter entendido é que, com a queda do “muro” e a implosão da URSS e dos países do leste europeu, autodenominados de “socialistas”, o que foi posto em causa não foram os regimes políticos aí vigentes, apenas, mas toda a concepção do socialismo, em si mesma, enquanto conceito oposto e alternativo ao capitalismo e à sociedade de livre iniciativa e baseada no mercado. Note-se que estou a falar de socialismo, enquanto alternativa global, e não de social-democracia ou outro qualquer modelo de regulação, controle e organização política do capitalismo e da sociedade de mercado “pura e dura”, conotados ou não (democracia-cristã) à esquerda, que, enquanto tal, permitiram às sociedades europeias do norte e centro europeu atingirem níveis de bem estar, progresso social e igualdade invejáveis e sem paralelo no passado recente ou longínquo. A não ser que Louçã, ao falar de socialismo, se refira apenas a um qualquer conceito mítico e não a uma forma de organização e funcionamento da sociedade, com o seu quadro normativo e institucional, o que não parece poder depreender-se da ideologia e prática políticas do “Bloco” apesar do pós modernismo militante e da tentativa de caminhar no fio da navalha. Aliás, seria interessante que Louçã e a direcção do “Bloco” auscultassem os seus votantes e simpatizantes sobre a questão do socialismo, pois me parece que, muito mais do que a ideia mítica do socialismo, o que os moverá é bem mais um improvável modelo social que conjugue um largo liberalismo de costumes promotor da individualidade e da pluralidade e uma estatização e regulamentação férreas da economia e do trabalho tendo como objectivo a igualização forçada. A “quadratura do círculo”, enfim!

domingo, setembro 02, 2007

The Hammer Collection (5)


De como não resisti à "Dianomania" e fui jantar ao San Lorenzo - e reincidi

Pronto, confesso. Apesar de não ter Diana Spencer em grande conta, conforme se pode depreender pelo post anterior, também nem sempre fiquei indiferente ao propagandeado glamour e charme, cada vez menos discreto, da tão mediática personagem. Fiquei horas na rua à espera que passasse, agitando bandeirinha, e, eventualmente, me cumprimentasse, ao que eu responderia com um ligeiro baixar de cabeça? Claro que não, nem, não podendo chegar-lhe à fala, pude sequer convidá-la para um chá no meu favorito Basil Hotel, ali mesmo junto ao Harrods do Sr. Al Fayed, pai da sua última conquista (ou vítima, como quiserem). Que fiz eu então, de tão evidentemente pecaminoso, rendido ao apelo irresistível da irmã do Visconde de Althorp? Bom, confesso que depois de algumas tentativas frustradas, já que era preciso marcar com algum mês de antecedência (ou mais, estávamos em plena época de Dianomania, aí pelos idos de 90 ou 91) resolvi ir jantar ao então célebre San Lorenzo, em Beauchamp Place, seu restaurante favorito e onde, ao que consta e consta com verdade, várias vezes a então ainda mulher do futuro rei de Inglaterra poderia ser avistada. Pior do que isso, apesar de nunca com ela me ter cruzado (se calhar por isso mesmo, com esperança isso alguma vez acontecesse), estive em vias de me tornar adicto e reincidi, jantando lá, que me lembre, pelo menos duas vezes. A “coisa” até dava jeito e havia uma boa desculpa: era walking distance do meu hotel habitual, quase em pleno South Kensington - muito Sloan Ranger, portanto - e a rua, onde em devido tempo chegou a existir um restaurante português (onde, apesar de fugir deles a “sete pés” quando fora aqui do rectangulo”, já tinha sido levado pela arreata uma vez), é uma pequena rua “chique” e simpática, lojas trendy quanto baste.

Bem, devo dizer, em abono da verdade, que o San Lorenzo não me deixou especiais memórias; bom, quanto baste, e nada mais. Como diria o José Quitério, “do comido e do provado” (e do bebido, acrescento), retenho apenas uma ideia vaga de umas alcachofras sem história, de uma vez, e de um “Beaujolais noveau”, acho que de outra vez, já que com os vinhos era bem preciso ter cuidado e qualquer "1er Cru" bordalês, em semelhante enquadramento, seria bem capaz de me levar à ruína. Nada de transcendente, portanto, nem de memórias gastronómicas exaltantes, o que não abonaria muito dos gostos de Lady Diana Spencer que não necessitariam desta prova suprema para tal comprovação. E a conta, claro, a conta, perguntarão, terá ela ficado na memória, dado o local escolhido e a “sobretaxa” Diana? Olhem que não, olhem que não!... Carote, claro, um pouco para o puxavante, mas nada de me arrepiar a espinha ou fazer soltar um “ui!” acompanhado de um esgar doloroso - sabendo antecipadamente onde ia, onde estava e ao que ia, sem dúvida. Digamos que antes e depois de tal acontecimento, passei algumas vezes por situações bem mais delicadas e a requererem outro tipo de expertise.

E como todas as histórias de princesas e fadas (?) têm sempre uma moral, mesmo que amoral, qual a conclusão a tirar? Bom, tenho aqui uma boa oportunidade para, quando lá entre o céu e o inferno me reencontrar com Diana Spencer já sem os entraves do protocolo e das diferentes contas bancárias, iniciar uma daquelas vulgares conversas de engate, que, por sinal, não fazem mesmo nada o meu género, do tipo: “sabe, fui lá jantar ao “seu” restaurante umas duas vezes e, deixe-me que lhe diga, não achei nada de especial”. É que no céu até as mais vulgares conversas de engate devem ter a sua desculpa, e no inferno por certo ficam sem punição! Et voilá!