Preocupada com uma redução no consumo de combustíveis em virtude do aumento dos seus preços, aumento esse que, pela sua amplitude, começa a pôr em causa a tradicional rigidez típica da procura deste tipo de produtos e, portanto, a fazer baixar a rentabilidade do negócio que é o seu, e através da sua associação representativa (ANAREC), os revendedores de combustíveis solicitam ao Presidente da República que todos os portugueses passem a contribuir para manter o seu negócio e os seus lucros aos níveis anteriores. É esta a única conclusão a tirar do seu apelo, já que não vejo outro modo do Estado interferir que não seja diminuir a carga fiscal respectiva, o que, dada a situação actual das finanças públicas, significaria aumentá-la em quaisquer outros produtos ou actividades, porventura provocando injustiças sociais acrescidas. É que, contrariamente ao que os arautos dos “amanhãs que cantam” e dos diversos populismos andam por aí, quase de braço dado, a afirmar tentando convencer os incautos, existe mesmo muito pouca vida para além do déficit, ou melhor, como a situação em Espanha consegue provar, existe muita vida, mas apenas para depois, e não para além, do déficit. Esperemos o Governo e o PR não vão no canto da sereia e tentem compensar, isso sim, o aumento dos preços dos combustíveis através de prestações sociais, directas ou indirectas (o congelamento de preços dos passes sociais acaba por ser uma prestação social indirecta), àqueles que mais precisam. Quanto á ANAREC, acho que já os tinha ouvido a reclamar “menos estado e melhor estado”. Ou será que estou enganado?
3 comentários:
Privatizaram a Galp e agora começam a entender porque é necessário o Estado controlar empresas-chave em momentos de crise...Com a actual crise energética, e com os contratos de futuros fechados, a Administração da Galp tem o combustível com preços muito mais baixos; no entanto marca ao preço de mercado, e com o seu poder de mercado, os concorrents alinham os preços...
Caro anónimo:
Essa é uma realidade diferente da que aqui foquei (o que analisei foi o comportamento da ANAREC) e é bem capaz de ter alguma razão naquilo que afirma. Veremos o que conclui (ou é capaz de concluir) a Autoridade da Concorrência sobre o problema da cartelização, o que é bem diferente de exigir uma intervenção administrativa nos preços. E tb concordo que terá talvez existido alguma precipitação nas condições e situação em que o mercado foi liberalizado. Penso mesmo que o problema estará mais aí do que na privatização, devendo eu, à partida, dizer-lhe que não tenho uma posição ideológica de princípio contrária ao controle do Estado em certas empresas estratégicas e em condições específicas.No entanto, tudo isso, infelizmente, poderia minorar, mas não alterar a questão de fundo.
Cumprimentos
Bom lapso do anónimo: "marca ao preço de mercado".
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