Devo dizer, antipatizo solenemente com Francisco Assis (o do PS, não o santo), e esta minha antipatia pouco ou nada tem a ver com razões ideológicas. Tal acontece desde aquela sua ida a Felgueiras, na qual - e não nutrindo eu qualquer simpatia por aquilo que a ex-autarca Fátima representa - Assis mais parecia um "chefe de turma" ressabiado, tentando repor a ordem que o senhor reitor lhe tinha encomendado, do que um político lutando pelas suas ideias e ideais; alguém que viu na situação a oportunidade para os seus cinco minutos de fama e para uma espécie de vingança dos fracos que, num país de vistas curtas e ideias vagas, haveriam de o catapultar para a ribalta. Depois, a partir daí, sempre me pareceu bem mais um género de aspirante a António Vitorino de província: sempre sem uma ideia clara e com um pé no PS e outro no PSD, mas sem o à-vontade, a bagagem cultural, o cosmopolitismo e a tarimba política do "autêntico". Uma espécie de "copycat" em versão "low cost".
Tendo dito isto, reconheço Assis terá sem dúvida razão em alguns dos pontos que enuncia na sua entrevista ao "Observador", mas como não é a razão que faz mover o mundo e essa mesma razão não basta para caucionar uma atitude, as suas afirmações "nesta altura do campeonato", o "timing" escolhido, o interlocutor (Maria João Avillez) e o "media" ("Observador") seleccionados são tudo menos ingénuos e constituem uma autêntica punhalada cravada à traição na liderança de António Costa e na estratégia do partido. Uma punhalada que poderá custar alguns pontos percentuais nas próximas sondagens e talvez mesmo uns milhares de votos nas próximas legislativas. Mas, no fundo, é esse o verdadeiro objectivo de Assis: dificultar a obtenção de uma maioria clara ou até absoluta pelo PS forçando um quase inevitável governo do "Bloco Central" mas em condições bem mais desvantajosas para o seu partido. Porquê? Porque é nesse terreno, um pouco pantanoso e indistinto, sem fronteiras muito claras entre os dois partidos, que Assis encontra o seu terreno de eleição, aquele de onde sempre esperou retirar vantagens. É isso que sempre verdadeiramente o moveu.
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