Não sou dos que acham a Assembleia da República deva ser um conjunto de meninos de coro, aprumados, bem afinadinhos, angelicais, onde o recurso a alguma palavra ou expressão tida como mais ousada possa ser motivo de escândalo. Aliás, qualquer país com cultura democrática a tradição parlamentar é exactamente o contrário de tal coisa, não sendo raro o recurso aos radicalismo e violência discursivas, às expressões irónicas e jocosas, aos risos e pateadas e aos apartes com maior ou menor sentido de humor. Apesar de tudo, vamos já longe das "bengaladas" e das polémicas que se arriscavam a acabar num qualquer descampado no dia seguinte pela alvorada. Quem não tem capacidade ou poder de encaixe para tal, melhor será que se dedique a outras áreas da política ou a "caçar gambozinos".
Exactamente por isso, e sendo dos que consideram grave falta desrespeitar o parlamento (por exemplo, mentindo, como manifestamente o fez a actual ministra das Finanças, ou prestando falsas declarações) não sou dos que pensam o ministro Pires de Lima, pese embora o inequívoco mau gosto revelado na forma escolhida para se expressar e que nada tem a ver com a sua habitual imagem de pessoa circunspecta, faltou ao respeito à Assembleia da República com aquela sua cena das "taxas e taxinhas". Terá, isso sim, contribuído para criar uma pior imagem de si próprio, alguém que me parece nada acrescentou no cargo ao tão vilipendiado ministro Álvaro mas que, ao contrário do seu antecessor, tem beneficiado daquilo a que se convencionou chamar "boa imprensa". Digamos que Pires de Lima, um membro do governo que, como disse - e beneficiando dos favores mediáticos - tem sabido resguardar-se, escolheu mal o "mood & tone" da sua intervenção e, muito justamente, está e virá a pagar o preço justo por essa sua escolha. Tanto pior para si e para o governo de que faz parte.
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