- Não negando tudo o que tem sido dito sobre a situação de fragilidade política em que ficaria Miguel Macedo caso tivesse decidido manter-se no cargo de ministro da Administração Interna, com esta sua demissão, e como existem sempre duas faces na mesma moeda, Macedo está contudo a abrir um precedente grave: como não existe qualquer condenação dos aparentemente indiciados, nem sequer mesmo foi ainda deduzida acusação, de futuro, bastará ao Ministério Público, perante indícios mais ou menos suficientes ou até mesmo na ausência deles, e contando com a "prestimosa" colaboração dos "Correio da Manhã" deste mundo, efectuar algumas detenções nos orgãos do Estado, principalmente a alto nível, para levar um ou mais membros de um qualquer governo à demissão. Sabendo como as coisas funcionam e de como se efectuam condenações na praça pública e detenções com indícios tantas vezes irrelevantes, digamos que estamos a entrar por terrenos demasiado perigosos.O mesmo se passará quanto aos envolvidos no processo: seria legítimo suspenderem funções enquanto durasse a investigação, mas parece-me a demissão um exagero e, pior, uma admissão tácita de culpa.
- Independentemente da opinião positiva que possamos ter sobre a atitude de Miguel Macedo (um ministro razoavelmente competente num governo desgraçadamente incompetente), quer-me parecer que Passos Coelho apenas terá acabado por ceder aos seus pedidos de demissão porque esta encerra em si algumas virtualidades. Elogiado por quase todos, suficientemente próximo de Passos Coelho mas não demasiado conotado com a ala radical do PSD actualmente no poder, dirigente experimentado do partido e dotado de bom-senso qb, Miguel Macedo poderá vir a ser trunfo e elemento de ligação importante em futuras negociações com o PS, bem como "ponte" a considerar entre tendências do partido no caso de derrota pesada do PSD/Passos nas eleições legislativas. Oportunidade demasiado importante para não ser aproveitada.
Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
segunda-feira, novembro 17, 2014
Miguel Macedo: os perigos e as virtualidades de uma demissão
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