Aquilo a que o país assistiu ontem, no Palácio de Belém, não foi mais do que uma encenação, por vezes até patética, concertada entre os partidos apoiantes do actual governo e o Presidente Cavaco Silva, que teve como objectivo principal reforçar a hipótese de candidatura a Belém de Durão Barroso. Os elogios despropositados de Cavaco Silva à influência positiva que a nomeação de Barroso terá tido para Portugal e o "branqueamento" do seu abandono do cargo de primeiro-ministro outra intenção não tiveram senão conceder ao agora ex-presidente da Comissão Europeia alguma "patine" da respeitabilidade patriótica necessária para uma candidatura ao cargo com hipóteses, mesmo que remotas, de vir a ser bem sucedida. De caminho, Cavaco Silva, com a despropositada pressa demonstrada na entrega da condecoração a Barroso, em contraste com o que acontece com acto semelhante envolvendo José Sócrates, não deixou por mãos alheias mais uma tentativa de humilhar o anterior primeiro-ministro, mostrando mais uma vez ao país que a mesquinhez é um dos traços relevantes do seu carácter. Só estranho como Sócrates ainda não teve a coragem e desassombro políticos de declarar publicamente que não aceitará qualquer condecoração das mãos do actual Presidente da República. Ficava-lhe tão bem como o actual silêncio lhe fica mal.
Já agora, não será estranho ver, num futuro muito próximo, Cavaco Silva, o governo e os partidos da actual maioria bastante empenhados na candidatura de António Guterres a um qualquer alto cargo internacional, tentando afastá-lo de uma candidatura a Belém. Só se não puderem.
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