quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Cinema e Rock n' Roll (21)


"Cherchez L'Idole" (1963)

Este é talvez o filme-arquétipo do movimento Ié-Ié, com uma intriga suficientemente idiota para ser rapidamente esquecida em favor daquilo que efectivamente importava: vender a França de Johnny Halliday, Sylvie Vartan e uma panóplia restante de vedetas para agradar aos copains e às copines do respectivo "Salut": Les Chaussettes Noires – com Eddie Mitchel (por favor, ler êdi mitchél), Les Surfs e Charles Aznavour, para impor um pouco de ordem e respeito e também agradar aos mais velhos (no filme, canta "Et Pourtant"). Ah!, e também se vendia a França do general De Gaulle, pois claro, uns anos depois de este ter arrumado a questão argelina para desgosto de muitos dos que o tinham ido buscar. Mal sabiam!...

Mas pronto, para mim e outros tantos como eu valia mesmo só para ver Sylvie Vartan, por quem todos tínhamos uma verdadeira paixão assolapada na verdura da nossa adolescência que nos impelia sempre, ou quase sempre, ao bom gosto. E, claro, ela interpretava esse canção-rainha das festas de garagem, durante a qual só mesmo as muito feias ficavam sentadas: “La Plus Belle Pour Aller Danser”, que eu e alguns mais versados na língua de Moliére resolvemos “trocadilhar” apelidando-a de “La Poubelle (trad.: caixote do lixo) Pour Aller Danser”. Mas apesar da poubelle, eram mesmo - a canção e Vartan - de partir todos os corações... O meu deve ter caído em cacos no cinema Alvalade, onde me lembro vi o filme numa sessão (chamava-se matinée) de sábado à tarde.

Curiosamente, na sequência do filme passada no Olympia podem ver-se na plateia figuras como Françoise Sagan, Juliette Gréco, Jean Marais e Marie Laforêt. Mas eu não dizia que o objectivo era mesmo vender a França?

2 comentários:

Rato disse...

À cause deste poster vi ontem o filme pela 1ª vez. Estava na prateleira dos "filmes a ver", secção criada pela impossibilidade temporal de ver ou fazer tudo o que quero nas escassas vinte e quatro horas que nos deram para viver o dia-a-dia.
Uma belissima cópia a preto e branco que o Daniel Bacelar me fez a gentileza de ofertar aqui há uns tempos atrás - uma qualidade de imagem e som que realmente o filme não merece. Vê-se apenas com a ajuda de uma certa nostalgia daquele "temps des copains", cuja música fazia (e continua a fazer) as delícias da minha geração.
O melhor é efectivamente a curta aparição de la plus belle Sylvie, cuja frescura juvenil parecia fazê-la "levitar" em palco. Uma outra sequência merece relevo, a do concurso das danças, algo muito comum na época, e que se desenrola ao ritmo da Nancy Holloway em palco - esta sim, uma autêntica revelação, pois só lhe conhecia a voz dos discos e a senhora (uns anitos mais velha que os restantes) tinha aquilo que os ingleses baptizaram de "it": um misto de sensualidade e provocação que atraía inevitavelmente os olhares mais gulosos.

JC disse...

Um "je ne sais quoi", para utilizar a língua do filme. Mas não me lembro já dessa cena, Rato, tantos anos passados, já que não tornei a ver o filme. Acho que será algo hoje em dia nos cativará (de certeza) mas na altura pouco nos dizia. O que importava era a Sylvie e a pikena mais gira do nosso grupo.
Abraço