O “Jornal de Notícias” faz hoje eco dos resultados de um estudo da Faculdade de Economia da Universidade Porto afirmando que as empresas convidadas a integrar as viagens oficiais de Presidente da República e primeiro-ministro tiram poucas vantagens dessa participação, não aproveitando todo o potencial que poderiam proporcionar. Mais, noticia o JN, os empresários afirmam que o objectivo mais valorizado “é o estabelecimento de redes de negócios com outros participantes na visita oficial”.
Bom, não ignorando que muitos dos resultados dessas visitas não serão por vezes assim tão tangíveis, pelo menos no curto prazo, sabendo que existem mercados emergentes onde só se consegue entrar encostado ao Estado e não menosprezando o interesse dessa rede de negócios entre participantes (cabe-me perguntar para que servem as associações, mas enfim...) existe algo que os empresários convidados não podem abertamente afirmar e que no tecido empresarial português é (tem sido) de uma enorme importância, e para o qual essas visitas são feitas exactamente à medida: o estabelecimento de uma rede de contactos e negócios, até de tráfico de influências, entre os empresários e o Estado, instrumento até aqui indispensável ao desenvolvimento de ambos e na base do qual o país alicerçou o seu crescimento desde o salazarismo (pelo menos). Por isso mesmo se compreende também que da parte do Estado “não existam critérios definidos na escolha das empresas convidadas” (é outra das conclusões do estudo): ficam pois os convites ao dispor das conveniências de ocasião e da cedências às pressões do momento.
Apenas uma nota adicional: quem disser que vai mudar este estado de coisas poderá até estar cheio de boas intenções, mas seguramente estará a mentir.
Bom, não ignorando que muitos dos resultados dessas visitas não serão por vezes assim tão tangíveis, pelo menos no curto prazo, sabendo que existem mercados emergentes onde só se consegue entrar encostado ao Estado e não menosprezando o interesse dessa rede de negócios entre participantes (cabe-me perguntar para que servem as associações, mas enfim...) existe algo que os empresários convidados não podem abertamente afirmar e que no tecido empresarial português é (tem sido) de uma enorme importância, e para o qual essas visitas são feitas exactamente à medida: o estabelecimento de uma rede de contactos e negócios, até de tráfico de influências, entre os empresários e o Estado, instrumento até aqui indispensável ao desenvolvimento de ambos e na base do qual o país alicerçou o seu crescimento desde o salazarismo (pelo menos). Por isso mesmo se compreende também que da parte do Estado “não existam critérios definidos na escolha das empresas convidadas” (é outra das conclusões do estudo): ficam pois os convites ao dispor das conveniências de ocasião e da cedências às pressões do momento.
Apenas uma nota adicional: quem disser que vai mudar este estado de coisas poderá até estar cheio de boas intenções, mas seguramente estará a mentir.
6 comentários:
Meu caro,
Sendo-me familiar este tema, devo-lhe dizer que é óbvio que estas viagens poderiam e deveriam ter resultados bem mais eficazes. Em primeiro lugar não são convenientemente preparadas, sendo muitas vezes tudo muito lusitanamente tratado à ultima hora. Por outro lado, não existe em Portugal, uma cultura de diplomacia económica, que transforme as nossas embaixadas em verdadeiros escritórios de promoção e desenvolvimento de negócios. Nos ultimos anos melhorou, mas ainda não chega. Os nossos embaixadores tem que passar a ter uma formação que lhes permita dominar os assuntos de teor económico, o que apenas sucede em raras excepções.
Quanto ao tráfico de influências, desculpe mas ele não nasceu com o Dr. Salazar... Ele sempre existiu e vai-se sofisticando à medida das suas necessidades.O Salazar nem gostava...
A finalizar, mais uma vez apanhei-o em contrapé: quem tem boas intenções não mente...Ou não?
1. Disse pelo menos, desde Salazar!!! Mas podemos recuar até ao Marquês, isto é, até ao início do capitalismo.
2. Talvez se possa mentir com intenções... piedosas!!!
Abraço
Caro JC,
Desculpe, mas embora não pratique profissionalmente, tenho um "canudito" em história...
O capitalismo surge na Europa no final do feudalismo, que desapareceu, consoante os países, entre os seculos XIV e XVI. Em Portugal o nascimento do capitalismo poder-se-à situar,em minha opinião, na segunda metade do sec XV e está intimamente ligado ao negócio dos descobrimentos. Portanto, uns 300 anos antes do Sr. de Carvalho e Melo.
E, a propósito do capitalismo, deixe-me referir que aquilo que está no seu tutano, sempre existiu de uma forma ou de outra desde que houve sociedades minimamente organizadas.
É humano...
Caro JC,
Desculpe, mas embora não faça dele uso profissional, tenho um "canudito" em história...
O capitalismo surge na Europa no final do feudalismo, que desapareceu, consoante os países, entre os seculos XIV e XVI. Em Portugal o seu nascimento poder-se-à situar,em minha opinião, na segunda metade do sec XV e está intimamente ligado ao negócio dos descobrimentos. Portanto, uns 300 anos antes do Sr. de Carvalho e Melo.
E, a propósito do capitalismo, deixe-me referir que aquilo que está no seu tutano, sempre existiu de uma forma ou de outra desde que houve sociedades minimamente organizadas.
É humano...
Caro Rui: ok, completamente de acordo. Foi a burguesia mercantil quem esteve, como diria Marx, na "acumulação primitiva de capital", em termos históricos. É ela quem tem uma importante palavra a dizer na opção pela exploração das rotas marítimas em prejuíxo da ocupação magrebina. Mas terá sido o Sr. de Carvalho e Melo quem deu bom impulso, pelo menos da parte do Estado, ao desenvolvimento empresarial, que era do que fundamentalmente estávamos a falar (nos comentários, p. f. ,não me peça para ser mtº rigoroso).
De acordo tb quanto ao "tutano". A partir do momento em que o homem gerou excedentes e os trocou fundou os alicerces do capitalismo. Mas, conhecedor de História como é, sabe ao que me estou a referir quando falo do nascimento do capitalismo.
Já agora. Salazar, sabendo da importância para o regime em manter a sua equidistância, não gostava do tráfico de influências, claro. Afastava-se dele e repugnava-o. Mas estávamos em pleno condicionamento industrial e no Estado corporativo, o que limitava a livre iniciativa e não será preciso adiantar mtº mais.
Abraço
Em vez de "repugnava-o", leia, p. f., "este causava-lhe repulsa"
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