Nunca segui muito de perto o ciclismo, apesar de me correr pelo corpo 25% de sangue da França, essa verdadeira pátria do único desporto “em que a besta puxa sentada” (ocorre-me que também no remo!). Muito criança era quando me chegavam os ecos de Alves Barbosa e adolescente e jovem adulto lá acompanhava um pouco mais de perto a odisseia de Joaquim Agostinho, o verdadeiro português emigrante do salazarismo, pobre e ignorante mas do mais vale quebrar que torcer, relatada por Carlos Miranda nas páginas do que era então “A Bola”. Depois disso, bem me poderiam perguntar pelo nome do vencedor da Volta a Portugal que o mais certo era responder que deveriam estar a gozar comigo. É que nem as participações (devo dizer, que sempre achei contra-natura) do meu “glorioso” me obrigaram a mudar de atitude.
E o que me levou então a mudar essa atitude? O trabalho, ou melhor, o dinheirinho, pois claro, ganho não com o suor do meu rosto mas com as “little grey cells” do meu cérebro, qual Poirot (sem modéstia) destas coisas da vida das marcas e das empresas.
Bom, há alguns – poucos – anos, já na era da João Lagos Sports e por via de uma minha ligação profissional a um dos patrocinadores, lá me coube enfronhar a sério no assunto e acompanhar, no ar condicionado de um VW Golf que a vidinha não está para calores, a Volta a Portugal em dois anos consecutivos, não sem que antes disso, e entre projectos, estratégias e “powerpoints” vários, não tivesse dedicado algumas tardes de veraneio a ver, na TV, o Tour, para melhor tentar compreender como tudo se fazia – ou deveria fazer - num patrocínio de um desporto como o ciclismo.
Devo dizer do Tour fiquei adepto, e lá continuo fiel à TV, sempre que posso, em algumas das etapas decisivas. E da Volta? Bom, aqui a “coisa fia mais fino”.
Para já, convém dizer que exceptuando no final de algumas etapas em zonas onde o ciclismo tem implantação tradicional (Oliveira de Azeméis, Feira, talvez Fafe e pouco mais) e nas etapas da Torre e da Srª da Graça, a Volta a Portugal quase não tem público, quer ao longo da estrada quer nas chegadas. Lembro-me que fiquei desapontado por em chegadas a cidades da dimensão de Coimbra ou Beja estarem, se tanto, 500 pessoas. Isto é tão mais importante quanto falamos de um desporto que é, na sua essência, uma actividade comercial. Também porque sem público não há festa e sem festa não existe espectáculo, já que no ciclismo “ao vivo” o espectáculo estritamente desportivo dura segundos.
Claro que, deste modo, nem todo o profissionalismo reconhecido à Lagos Sports consegue operar milagres na angariação de patrocinadores – e sem estes não há dinheiro e sem dinheiro não há ciclistas. A Volta a Portugal vivia muito do espectáculo levado à porta de casa, e hoje a TV leva os grandes espectáculos desportivos mundiais a casa de cada um. Na comparação, a Volta a Portugal fica a perder e o que se passa não será muito diferente de vermos hoje pavilhões onde se disputam jogos de basquete, hóquei em patins ou andebol positivamente ás moscas. E mesmo estádios onde se joga o futebol da I Liga! É a concorrência.
Por outro lado, Portugal evoluiu. Quando dantes a passagem da caravana ciclista era motivo de festa e nas cidades e vilas de partida e chegada (dizem-me) quase tudo girava à sua volta, hoje os portugueses têm ao seu dispor um sem número de alternativas, desde a televisão aos bares e discotecas, festivais de Verão, piscinas municipais, praias fluviais e carro para passear. Felizmente!, devo dizê-lo, apesar de todos os problemas. E o país rural, aquele que deixava a enxada para vir ver passar os ciclistas, também desapareceu, tanto como o ciclismo que “sprintava” por um presunto e um garrafão de azeite local! O ciclismo é, hoje, um desporto “high tech”, onde esta tecnologia se conjuga com uma sofisticada medicina desportiva, principalmente nas áreas da dietética, cardiologia, aeróbica (peço desculpa pela eventual falta de rigor) e outras que não recordo ou nessa mesmo em que estão a pensar.
Exactamente por isso, ao ver no Telejornal a reportagem da 1ª etapa deste ano, corrida na zona central de Lisboa (porque não antes a zona nobre de Belém?), não fiquei surpreendido com a ausência de público e o relativo fiasco. Num sábado, domingo ou feriado, sem “mirones”, teria sido mesmo bem pior. Como acontece no hóquei, basquete ou andebol, o ciclismo irá ser cada vez mais remetido para a “província”, principalmente para as pequenas cidades e vilas onde existe tradição e afición. Aí poderá talvez ser rentabilizado, já que Portugal não é a França, onde o ciclismo sempre foi desporto nacional de eleição, Lisboa não é Paris, nem a Avenida da Liberdade os Champs Élyseés ou os Restauradores a Place de la Concorde - e o Palácio Foz o Louvre! É a vida...
E o que me levou então a mudar essa atitude? O trabalho, ou melhor, o dinheirinho, pois claro, ganho não com o suor do meu rosto mas com as “little grey cells” do meu cérebro, qual Poirot (sem modéstia) destas coisas da vida das marcas e das empresas.
Bom, há alguns – poucos – anos, já na era da João Lagos Sports e por via de uma minha ligação profissional a um dos patrocinadores, lá me coube enfronhar a sério no assunto e acompanhar, no ar condicionado de um VW Golf que a vidinha não está para calores, a Volta a Portugal em dois anos consecutivos, não sem que antes disso, e entre projectos, estratégias e “powerpoints” vários, não tivesse dedicado algumas tardes de veraneio a ver, na TV, o Tour, para melhor tentar compreender como tudo se fazia – ou deveria fazer - num patrocínio de um desporto como o ciclismo.
Devo dizer do Tour fiquei adepto, e lá continuo fiel à TV, sempre que posso, em algumas das etapas decisivas. E da Volta? Bom, aqui a “coisa fia mais fino”.
Para já, convém dizer que exceptuando no final de algumas etapas em zonas onde o ciclismo tem implantação tradicional (Oliveira de Azeméis, Feira, talvez Fafe e pouco mais) e nas etapas da Torre e da Srª da Graça, a Volta a Portugal quase não tem público, quer ao longo da estrada quer nas chegadas. Lembro-me que fiquei desapontado por em chegadas a cidades da dimensão de Coimbra ou Beja estarem, se tanto, 500 pessoas. Isto é tão mais importante quanto falamos de um desporto que é, na sua essência, uma actividade comercial. Também porque sem público não há festa e sem festa não existe espectáculo, já que no ciclismo “ao vivo” o espectáculo estritamente desportivo dura segundos.
Claro que, deste modo, nem todo o profissionalismo reconhecido à Lagos Sports consegue operar milagres na angariação de patrocinadores – e sem estes não há dinheiro e sem dinheiro não há ciclistas. A Volta a Portugal vivia muito do espectáculo levado à porta de casa, e hoje a TV leva os grandes espectáculos desportivos mundiais a casa de cada um. Na comparação, a Volta a Portugal fica a perder e o que se passa não será muito diferente de vermos hoje pavilhões onde se disputam jogos de basquete, hóquei em patins ou andebol positivamente ás moscas. E mesmo estádios onde se joga o futebol da I Liga! É a concorrência.
Por outro lado, Portugal evoluiu. Quando dantes a passagem da caravana ciclista era motivo de festa e nas cidades e vilas de partida e chegada (dizem-me) quase tudo girava à sua volta, hoje os portugueses têm ao seu dispor um sem número de alternativas, desde a televisão aos bares e discotecas, festivais de Verão, piscinas municipais, praias fluviais e carro para passear. Felizmente!, devo dizê-lo, apesar de todos os problemas. E o país rural, aquele que deixava a enxada para vir ver passar os ciclistas, também desapareceu, tanto como o ciclismo que “sprintava” por um presunto e um garrafão de azeite local! O ciclismo é, hoje, um desporto “high tech”, onde esta tecnologia se conjuga com uma sofisticada medicina desportiva, principalmente nas áreas da dietética, cardiologia, aeróbica (peço desculpa pela eventual falta de rigor) e outras que não recordo ou nessa mesmo em que estão a pensar.
Exactamente por isso, ao ver no Telejornal a reportagem da 1ª etapa deste ano, corrida na zona central de Lisboa (porque não antes a zona nobre de Belém?), não fiquei surpreendido com a ausência de público e o relativo fiasco. Num sábado, domingo ou feriado, sem “mirones”, teria sido mesmo bem pior. Como acontece no hóquei, basquete ou andebol, o ciclismo irá ser cada vez mais remetido para a “província”, principalmente para as pequenas cidades e vilas onde existe tradição e afición. Aí poderá talvez ser rentabilizado, já que Portugal não é a França, onde o ciclismo sempre foi desporto nacional de eleição, Lisboa não é Paris, nem a Avenida da Liberdade os Champs Élyseés ou os Restauradores a Place de la Concorde - e o Palácio Foz o Louvre! É a vida...
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