Todos, os da minha geração do baby boom do pós-guerra, crescemos aprendendo a ideologia das cores, nos símbolos e bandeiras, do encarnado proletário ao negro da luta contra a fome. Em Portugal, do azul da monarquia ao verde e encarnado republicanos. Por mim, por via de algumas origens hexagonais, também do significado da tricolor, da liberdade, da igualdade e da fraternidade, que me ensinaram desde sempre ter sido o acontecimento histórico mais importante da marcha da humanidade. Se o foi ou não pouco importa, já que o que se quer ilustrar com estes exemplos nada mais é do que essa ideologia colorida presente nos símbolos pelos quais lutamos e com os quais nos identificamos.
Que as cores do vestuário tenham também esse significado, ou mesmo uma conotação de classe, era algo que desconhecia. Aqui há uns tempos, e a propósito de “dress-codes”, escrevi por aqui que achava curioso os homens do Bloco de Esquerda o assumissem (ao “”dress-code) de modo muito estrito: na permanente ausência de gravata; naquele segundo botão da camisa tão inesteticamente apertado. Mas, concluí, também naquela horrível paleta de cores oscilando entre o “beige” e o castanho, o cinzento e o verde azeitona, tudo muito pouco contrastante e a tresandar àquilo que a minha mãe denominaria de “encardido”. Percebi então que no PCP a paleta de cores pouco diferia, com excepção – honra lhe seja feita - daquela gravata berrante, de um encarnado bem proletário, ostentada orgulhosamente por um Jerónimo de Sousa com quem, divergências à parte, apetece ir ver o “glorioso”, beber umas imperiais” e petiscar uns carapaus de escabeche. Confesso, nunca percebi a razão para tais cores “encardidas”, até porque, durante muito tempo, mais propriamente até aos anos 60 do século XX, os burgueses da cidade e os operários das fábricas pouco variavam e se distinguiam na cor taciturna dos trajes (as distinções de vestuário eram outras), pertencendo aos camponeses ricos em festa o colorido dos cromos das “Raças Humanas” da minha infância.
Finalmente fez-se luz ao ler, em um dos últimos exemplares do “Público”, que algo que muito atraía os cidadãos da extinta RDA no ocidente, mais propriamente na RFA, era, para além dos sacrossantos jeans Levi’s, a variedade de cores vivas disponibilizadas no vestuário, algo inexistente do lado de lá do muro onde o colorido se limitava á tal paleta entre os “beige” e os castanhos, o “terra-sena” e o verde tropa. A questão, claro, nada tinha a ver com a ideologia, mas, isso sim, concluí utilizando uma linha de pensamento bem marxista, com questões económicas e de produção: na fabricação em série de uma economia planificada, seria bem mais económico produzir apenas meia dúzia de cores de cada peça e, por isso, tal como a comida dos aviões não é boa nem má mas apenas desenxabida para poder ser tragável por todos, o ideal era que as cores também o fossem, dando origem àqueles tons mais ou menos “encardidos”, como se toda a roupa fosse lavada em conjunto na máquina de debotasse, o que, last but not least, também serviria às mil maravilhas para acentuar o carácter igualitário das gentes e do regime.
Se sempre tinha dado uma boa quota-parte de razão a Marx quando este afirmava que o económico é determinante em última instância, esta constatação veio corroborar dessa minha quase certeza: eis senão quando, algo que tinha apenas que ver, na sua origem, com questões de racionalização da produção - um pouco como uma lição tardia aprendida da corriqueira história do modelo “T” de Henry Ford - se tinha rapidamente transformado em bandeira ideológica e de agitada pertença de classe. Por mim, se o BE se quisesse mesmo afirmar na sua essência como pós-moderno, bem mais gostaria de ver Louçã e companheiros de cores e trajes bem garridos, multicolores e até um pouco ousados, bem ao espírito gay pride ou do saudoso flower power. Caso contrário, isto é, caso insistam nas suas actuais cores insípidas, não me parece a sua conversão ideológica possa ser levada demasiado “à séria”. Haverá, no "Bloco", sempre uma RDA de má memória que espera por nós...
Que as cores do vestuário tenham também esse significado, ou mesmo uma conotação de classe, era algo que desconhecia. Aqui há uns tempos, e a propósito de “dress-codes”, escrevi por aqui que achava curioso os homens do Bloco de Esquerda o assumissem (ao “”dress-code) de modo muito estrito: na permanente ausência de gravata; naquele segundo botão da camisa tão inesteticamente apertado. Mas, concluí, também naquela horrível paleta de cores oscilando entre o “beige” e o castanho, o cinzento e o verde azeitona, tudo muito pouco contrastante e a tresandar àquilo que a minha mãe denominaria de “encardido”. Percebi então que no PCP a paleta de cores pouco diferia, com excepção – honra lhe seja feita - daquela gravata berrante, de um encarnado bem proletário, ostentada orgulhosamente por um Jerónimo de Sousa com quem, divergências à parte, apetece ir ver o “glorioso”, beber umas imperiais” e petiscar uns carapaus de escabeche. Confesso, nunca percebi a razão para tais cores “encardidas”, até porque, durante muito tempo, mais propriamente até aos anos 60 do século XX, os burgueses da cidade e os operários das fábricas pouco variavam e se distinguiam na cor taciturna dos trajes (as distinções de vestuário eram outras), pertencendo aos camponeses ricos em festa o colorido dos cromos das “Raças Humanas” da minha infância.
Finalmente fez-se luz ao ler, em um dos últimos exemplares do “Público”, que algo que muito atraía os cidadãos da extinta RDA no ocidente, mais propriamente na RFA, era, para além dos sacrossantos jeans Levi’s, a variedade de cores vivas disponibilizadas no vestuário, algo inexistente do lado de lá do muro onde o colorido se limitava á tal paleta entre os “beige” e os castanhos, o “terra-sena” e o verde tropa. A questão, claro, nada tinha a ver com a ideologia, mas, isso sim, concluí utilizando uma linha de pensamento bem marxista, com questões económicas e de produção: na fabricação em série de uma economia planificada, seria bem mais económico produzir apenas meia dúzia de cores de cada peça e, por isso, tal como a comida dos aviões não é boa nem má mas apenas desenxabida para poder ser tragável por todos, o ideal era que as cores também o fossem, dando origem àqueles tons mais ou menos “encardidos”, como se toda a roupa fosse lavada em conjunto na máquina de debotasse, o que, last but not least, também serviria às mil maravilhas para acentuar o carácter igualitário das gentes e do regime.
Se sempre tinha dado uma boa quota-parte de razão a Marx quando este afirmava que o económico é determinante em última instância, esta constatação veio corroborar dessa minha quase certeza: eis senão quando, algo que tinha apenas que ver, na sua origem, com questões de racionalização da produção - um pouco como uma lição tardia aprendida da corriqueira história do modelo “T” de Henry Ford - se tinha rapidamente transformado em bandeira ideológica e de agitada pertença de classe. Por mim, se o BE se quisesse mesmo afirmar na sua essência como pós-moderno, bem mais gostaria de ver Louçã e companheiros de cores e trajes bem garridos, multicolores e até um pouco ousados, bem ao espírito gay pride ou do saudoso flower power. Caso contrário, isto é, caso insistam nas suas actuais cores insípidas, não me parece a sua conversão ideológica possa ser levada demasiado “à séria”. Haverá, no "Bloco", sempre uma RDA de má memória que espera por nós...
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