É óbvio que Mário Soares, apesar dos demasiados "faux pas" do seu percurso recente, e alguns dos signatários da "carta-aberta" a pedir a demissão do governo (não direi todos) estão mortos de saber quais a disposições constitucionais que podem levar à demissão de um governo. Sabem também que "cartas abertas" e outras quaisquer petições do mesmo teor não estão entre essas disposições constitucionais e que o actual governo, apesar de ter chegado ao poder escudado numa conspiração presidencial e apoiado na maior fraude programática de que há memória na democracia portuguesa, continua a ter legitimidade democrática. Por isso, o que Mário Soares e os restantes signatários pretendem com esta sua acção é, pois, numa acção legítima e legal, concorde-se ou não e eu não simpatizo demasiado com tais iniciativas, minar o terreno da acção governativa, contribuir para ampliar na sociedade portuguesa a contestação anti-governamental, radicalizando-a, pressionar a acção do Presidente da República em relação ao orçamento de Estado de 2013 e ao tal corte de quatro mil milhões e, last but not least, tentar empurrar o Partido Socialista para uma oposição mais consequente. Que a direita mais radical e "tea partyana" interprete o documento à letra e reaja em conformidade, faz parte do seu ADN, que nunca primou pela inteligência nem pactuou com pensamentos demasiado elaborados. Que Carlos Zorrinho reaja de igual modo já é bem mais triste e sintomático de que vale a actual direcção do PS e do incómodo que tal "carta aberta" lhe terá causado. É que mais valia, tout simplement, ter optado por responder: "touché"!
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