Durante algum tempo era obrigado a viajar em classe executiva nas minhas deslocações profissionais ao serviço de uma entidade privada. Diga-se, desde já, que não podendo, por sistema, aproveitar as tarifas mais reduzidas, com restrições que normalmente inviabilizam quem tem de viajar com datas e voos em aberto ou sujeitas a alteração, o preço de uma viagem em executiva correspondia, “mais coisa menos coisa”, e consoante os voos, ao de uma tarifa normal, pelo que o encargo extra resultante era, ao fim de um ano, quase negligenciável
Claro que nunca me passou pela cabeça, nem sequer nos meus mais surrealistas sonhos, optar por viajar em turística e, com a diferença de custo, quando ela existisse, fazer-me acompanhar por mulher, amiga ou amante: a obrigatoriedade tinha a ver com questões de representação, conveniência e facilidades colocadas à minha disposição pela minha entidade empregadora, normas que não me competiria nunca incumprir. No limite, quando me fazia acompanhar por colega de empresa que não tinha direito a voo em classe executiva, já dentro do avião perguntava a alguém do pessoal de cabina se poderia passar para turística por troca com um outro passageiro que não se importasse de fazer o “upgrade” para executiva (o que, como devem calcular, era fácil), o que me permitia viajar junto com esse colega, conversando e/ou trabalhando.
Penso que a obrigatoriedade dos deputados viajarem em executiva nas suas deslocações ao serviço da República se justificará, pelo menos na maioria das vezes, pelo que a deveriam cumprir. Sempre! Espanto-me que só agora (vá lá saber-se porquê?), e apenas por determinação expressa do Presidente da Assembleia da República, sejam os deputados forçados a agir de acordo com estipulado, não aproveitando para o desdobramento das viagens em benefício familiar ao bom estilo “compre um leve dois”. Esperemos que o bom exemplo de Jaime Gama frutifique, e a metodologia seja extensível aos outros serviços do Estado em que as viagens em classe executiva sejam a norma. E, já agora, que os bónus em milhas só possam ser utilizados por esses mesmos deputados nas suas viagens em trabalho político de representação parlamentar. Os deputados eleitos devem essa manifestação de respeito (no mínimo, essa) a quem os elegeu.
Claro que nunca me passou pela cabeça, nem sequer nos meus mais surrealistas sonhos, optar por viajar em turística e, com a diferença de custo, quando ela existisse, fazer-me acompanhar por mulher, amiga ou amante: a obrigatoriedade tinha a ver com questões de representação, conveniência e facilidades colocadas à minha disposição pela minha entidade empregadora, normas que não me competiria nunca incumprir. No limite, quando me fazia acompanhar por colega de empresa que não tinha direito a voo em classe executiva, já dentro do avião perguntava a alguém do pessoal de cabina se poderia passar para turística por troca com um outro passageiro que não se importasse de fazer o “upgrade” para executiva (o que, como devem calcular, era fácil), o que me permitia viajar junto com esse colega, conversando e/ou trabalhando.
Penso que a obrigatoriedade dos deputados viajarem em executiva nas suas deslocações ao serviço da República se justificará, pelo menos na maioria das vezes, pelo que a deveriam cumprir. Sempre! Espanto-me que só agora (vá lá saber-se porquê?), e apenas por determinação expressa do Presidente da Assembleia da República, sejam os deputados forçados a agir de acordo com estipulado, não aproveitando para o desdobramento das viagens em benefício familiar ao bom estilo “compre um leve dois”. Esperemos que o bom exemplo de Jaime Gama frutifique, e a metodologia seja extensível aos outros serviços do Estado em que as viagens em classe executiva sejam a norma. E, já agora, que os bónus em milhas só possam ser utilizados por esses mesmos deputados nas suas viagens em trabalho político de representação parlamentar. Os deputados eleitos devem essa manifestação de respeito (no mínimo, essa) a quem os elegeu.
13 comentários:
Você está mais uma vez a gozar com o pagode...
“Espanto-me que só agora (vá lá saber-se porquê?), e apenas por determinação expressa do Presidente da Assembleia da República, sejam os deputados forçados a agir de acordo com estipulado, não aproveitando para o desdobramento das viagens em benefício familiar ao bom estilo “compre um leve dois”.”
É que...
"O presidente do Parlamento sublinhou que a proposta, de sua iniciativa e aprovada “por unanimidade” na conferência de líderes, foi feita “livremente e não sob pressão de nenhum caso”.
O que descodificado quer dizer que foi! Ou seja a Face Oculta já produz os seus efeitos...
Understood my dear?
Admito que sim, mas não só. Não serão tb os deputados,no início de nova legislatura, a quererem "dar uma " de "fresh start"?
No sir! No way!D'ont pull my leg!
E mais meu caro naif:
"Claro que nunca me passou pela cabeça, nem sequer nos meus mais surrealistas sonhos, optar por viajar em turística e, com a diferença de custo, quando ela existisse, fazer-me acompanhar por mulher, amiga ou amante: a obrigatoriedade tinha a ver com questões de representação, conveniência e facilidades colocadas à minha disposição pela minha entidade empregadora, normas que não me competiria nunca incumprir."
E, se incumprisse o problema ara entre você e a sua entidade empregadora...Não entre você e todos os contribuintes que pagam os seus impostos...
Vá lá, admita que tenho razão...
Começava por ser entre mim e a minha consciência. Depois, entre mim a mimha entidade empregadora. No caso dos deputados, tem razão, entre eles e nós, contribuintes. tem razão. Por isso digo que nos devem essa manifestação de respeito.
Caro JC
Mas é a classe executiva que dá carácter, o que quer que seja, a um deputado?
Mordomias saloias de um país de tanga, ou da tanga.
A decisão de Jaime Gama em exigir que os deputados viajem em executiva, e não poderem fazer alterações para turística para poderem viajar acompanhados, deveria ir mais longe – os deputados só viajarem em classe turística. Já que o faziam para irem, em recreio, acompanhados também o poderiam fazer em trabalho.
A populaça agradecia. No fundo, somos nós que pagamos tudo isto… e mais alguma coisa…
Na mouche, caro Hugo, nem mais!
Apoiadissimo!
Normalmente, uma viagem em executiva custa aproximadamente o mesmo preço de uma em tarifa normal, não reduzida. E, tb normalmente, como disse no "post", é virtualmente impossível, uma grande maioria das vezes, ter acesso a tarifas reduzidas quem não pode viajar c/ determinado tipo de restrições em termos de voos, o que é o caso da grande maioria das viagens profissionais. Frequentemente, acabaria po sair mais caro, pois teria de ficar mais uma noite, não teria flexibilidade para alterar voos por necessidade de última hora,caso perdesse um voo perderia o direito ao bilhete, etc, etc. Mas, para além disso, devo dizer que acho mtº bem que os deputados, como representantes do Estado português, viajem em classe executiva. Quadros de empresa, executivos, etc, mtºs o fazem. Não vejo pq, nesse campo, os deputados que nos representam devam ter um estatuto de menoridade perante eles, o que só desprestigiaria e ao Estado, clocando-os numa posição de inferioridade. Não é por aí que se moraliza a vida pública. Quero ver orgãos e representantes do Estado prestigiados (em todos os aspectos), a democracia valorizada e não o seu contrário. Aliás, é isto que acontece nos países mais evoluídos e civilizados, ao contrário do que v. dizem.
Meu caro JC,
Deixe-me dizer-lhe que hoje, em viagens de 2/3 horas toda a gente se está a marimbar para a representatividade que dá a excutiva. Eu viajo sempre em turistica, com excepção das viajens de longo curso.E, viajo muito. O conforto é o praticamente o mesmo (muitas vezes nenhum) e no fundo apenas uma cortina faz a diferença. Por isso eu mandava os deputados para a turistica, nas viajens tipo Lisboa- Paris, sem qualquer problema. Estamos a falar de deputados, pelo amor de deus!
Essa do moralizar, através das viagens em executiva, a vida pública leva-nos longe. No que aos deputados diz respeito são os próprios que criam o seu próprio desprestigio.
Recordo o recente exemplo de Deus Pinheiro deputado por meua-hora. Recordo quando uma trintena foram ver a final Porto Celtic e invocaram “trabalho político” para não lhe descontarem o dia.
Há aquela célebre entrevista do Almeida Santos quando referiu que, entre outras razões, um deputado da província, vindo três ou quatro vezes por semana à capital permite uma liberdade, nomeadamente, conjugal., que é bastante sedutora.” Recordo quando foram passar a Páscoa à terrinha deixando uma votação sem quórum. Recordo as tais viagems-fantasma
Já para não falar o quanto é fácil saber quantos deputados exercem em “full-time” o cargo para que foram eleitos. Os que marcam o ponto, bebem o café, dão duas de treta e marcham para os seus ecritórios de advogados, ou gestão de empresas privadas,
O ex-ministro Marçal Grilo, num livro que intitulou “Difícil é sentá-los”, fez o retrato: “No Parlamento não se pensa muito”, que nos 230 deputados há de tudo: “miúdos, ignorantes e tolos” e de todos esses deputados “talvez 50 sejam pessoas de boa qualidade”.
Ora vamos lá responder, animado por uma bela vitória.
1. Tb viajei mtº até há poucos anos, Rui, e estou de acordo c/ o que diz: se no longo curso a executiva é importante nas viagens profissionais, nestas viagens de pouco mais de duas horas, aqui na Europa, não faz quase diferença. Aliás, nunca digo no "post" que os deputados devem viajar em executiva mas sim que "penso, na maioria das vezes, se justificará". Não sou, portanto, taxativo, até pq não conheço o assunto "por dentro". Acho no longo curso se justificará sempre e, nos restantes casos, dependerá de mtª coisa (tipo de viagem, condições, objectivo,quem vai contactar, como viajam os seus pares de outros Estados da UE, etc, etc). Mas não acho mal normalizem e simplifiquem e, como norma, não me custa aceitar a viagem em executiva. Até pq, como bem sabe, muitas vezes o acréscimo de custos é nulo ou insignificante.
2. Gin-Tonic: Nunca falei em "moralização". Aliás, quando oiço falar em moral, moralização da vida política, fico logo preocupado e cheira-me a moral e bons costumes talibânicos. Uma coisa é ética; outra, mtº diferente, moral.Nem falo, em parte alguma, em prestigiar a AR através das viagens em executiva (vê, p. f., o que escrevo ao Rui). Os deputados criam o seu próprio desprestígio? Em muitos casos, como alguns que citas, é verdade. Este era seguramente um deles; felizmente, agora acabou. Espero que outros tb acabem. É que o meu objectivo será sempre tentar que as instituições democráticas se prestigiem e, no caso da AR, acho que aos deputados devem ser concedidas as melhores condições para o exercício da sua função, dentro dos limites do bom senso e razoabilidade. Daí preferir exaltar este bom exemplo, que assinalo no "post" querer ver ser seguido por outras instituições. Deixa-me tb acrescentar que, mtªas vezes, as críticas aos "políticos", aos "deputados", quando genéricas e indiscriminadas, têm na sua base um carácter populista e justicialista que me parecem nas margens da crítica ao regime democrático. São coisas c/ as quais lido "c/ pinças".
Abraço
JC
O deputado roullote vulgo Jaime gama deu-lhe para esta agora!
E ainda bem, Karocha, ainda bem.
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