domingo, novembro 08, 2009

O Sindicato da Construção Civil do Norte e o acidente de Andorra

Leio que o presidente do Sindicato da Construção Civil do Norte, Albano Ribeiro, afirmou que a obra onde se encontravam a trabalhar os cinco operários portugueses mortos em Andorra não oferecia condições de segurança. Não questionando a razão de Albano Ribeiro, pergunto-me por que razão o sindicato e o seu presidente só agora denunciam o problema, “à posteriori”, pois se o tivessem feito em devido tempo talvez tivesse sido possível salvar as vidas desses cinco operários cuja perda agora se lamenta. Ou será que alertar para este tipo de situações, que possam pôr em risco o bem estar e a integridade física dos seus associados e outros trabalhadores do sector, não é também tarefa deste e de outros sindicatos?

Conclusões: não estarão, deste modo, o Sindicato da Construção Civil do Norte e o seu presidente a afirmar a sua própria negligência e a agir da mesma forma que muitas vezes está na base das críticas que dirigem ao Estado e às associações empresariais, isto é, a agir apenas depois do facto consumado? Ou estarão apenas, de uma forma que demonstra pouco respeito para com as vítimas e seus próximos, para com todos nós que lamentamos o sucedido, para com a inteligência dos portugueses, a querer, de modo oportunista e rasteiro, retirar dividendos da tragédia alheia?

13 comentários:

Rui disse...

Você ainda perde tempo com esta gentinha? Faz mal: É claro que isto é um aproveitamento de uma tragédia para se porem em bicos de pés e deitarem umas bojardas cá para fora. Era bem feito que as famílias das vítimas os encostassem às tábuas. O normal era que tivessem uma base de dados das obras em que os seus membros trabalhassem e que tivessem uma acção pedagógica, alertando-os sempre e quando estivessem em risco. Normal, escrevi eu... Percebe?

JC disse...

Perceber, percebo. O que não percebo é pq os "media" lhes dão tanto tempo de antena sem sequer os questionar.

Jack Kerouac disse...

Ou seja, assumimos que os trabalhadores eram sindicalizados, que não foram avisados anteriormente, e que se o fossem iriam abdicar de ganhar o que ganham lá por uma questão de segurança ? quem é o naif aqui ? e os sindicatos agora têm que denunciar as centenas ou milhares de obras que decorrem sem as normas de segurança obrigatória, porque não há inspecção do trabalho ? então e as entidades oficiais ? Então e porque não denunciar a causa do acidente depois de esta ser conhecida, antes que fosse abafada ?

JC disse...

Não, JK: assumimos que os sindicatos se devem informar das condições de trabalho dos assalariados do sector e alertar as autoridades e a opinião pública quando se verifiquem ilegalidades, irregularidades e/ou deficiências, desta ou de outra ordem, assim os defendendo. Exactamente o que não fizeram em devido tempo, mas à posteriori, evitando que as autoridades fossem alertadas. Se, depois, estas actuam ou não já é outra questão, que transcende os sindicatos, mas, actuando desse modo, o sindicato teria cumprido o seu papel. Assim, é fácil - e de mau gosto.
E, já agora, não era uma pequena obra, mas de grande dimensão onde trabalhavam mtºs portugueses. E era quase aqui ao lado, num Estado da UE,não no Burkina Faso!Será mtº difícil, num caso destes, um sindicato estar informado e contactar regularmente um ou outro trabalhador para saber o que se vai passando? Não é. O que está aqui em causa são a natureza e os objectivos do sindicalismo que por cá, maioritariamente, se pratica.

Jack Kerouac disse...

E tens a certeza de que os trabalhadores não foram informados ? E sabes que esse tal sindicalismo de que falas, está farto de alertar para as condições em que as pessoas vão para certas obras em espanha, os perigos de acidentes. Pedem para serem feitas inspecções nos fim de semana na estrada, por ser a altura em que eles se deslocam. Sabes que por acaso estás a acusar se calhar os únicos que se preocupam com isso, e que lutam para estas coisas acontecerem cada vez menos ? Agora achas que quem vai para essas obras, não sabe ao que vai ? Esta acusação, se isto fosse batalha naval, foi mesmo um tiro na água. E sim, sabemos o sindicalismo que temos, felizmente.
E já agora, o argumento de que o Sindicato deveria saber das condições de uma obra enorme num principado da CEE, não é válido para as autoridades ? estas precisam de ser avisadas pelo SIndicato da CC do Norte de que há uma Obra em Andorra que não respeita as normas de Segurança ? bom argumento !

JC disse...

Não sei, de facto, se os trabalhadores foram ou não avisados, nem nunca me referi a isso nem tal é importante para a minha argumentação. O que perguntei foi se a comunicação social (principal/ esta) e as autoridades competentes tinham sido alertadas pelo sindicato em devido tempo. Nada ouvi, e tb o sindicato nunca menciona tê-lo feito (se o tivesse feito, com certeza o afirmaria agora e o meu "post" não teria razão de ser: estaria a louvar a actuação do sindicato). Mas repara: não digo nunca que as autoridades não tenham falhado, mas sim que o sindicato tb falhou nas suas competências ao não ter alertado para as deficientes condições de segurança (partindo do princípio que existiam, pois a derrocada deu-se), só agora, "à posteriori" e tentando retirar dividendos políticos, o fazendo. E repara, não estamos a falar de "certas obras em Espanha".Passando ao largo de não ser em Espanha, mas num país tão ou mais desenvolvido do que a Catalunha, trata-se de uma obra de vulto. O que coloco em causa, meu caro, é exactamente a concepção de sindicalismo que tu mencionas: as autoridades é que têm de fiscalizar e não os sindicatos. Nada disso: os sindicatos devem usar o seu poder para, em devido tempo, forçar as autoridades a essa mesma fiscalização, mormente chamando a atenção dos "media". E, já agora, se existem ainda, infelizmente, muitos casos em que os empreiteiros se estão nas tintas para as condições de segurança, não é verdade que isso aconteça com a maioria, em que as seguradoras exercem uma vigilância mtº apertada (principalmente nas grandes obras). Conheci o assunto de perto, pois o meu pai foi director da área de acidentes de trabalho e prevenção, durante anos, naquela que era, no seu tempo, a maior companhia de seguros portuguesa. E, claro, falava e trocava mtªs vezes impressões comigo s/ essa sua actividade.

Rui disse...

Não sei onde quer chegar Sr.JK, porque o que está verdadeiramente em causa é uma denuncia à posteriori que tendo como objectivo tirar o cavalinho da chuva, o sujeitou a uma violenta carga de água.

Jack Kerouac disse...

É verdade, concordo em absoluto, há que acabar com esses sindicalistas malandros !

A bem da nação !

JC disse...

Mas, JK, ninguém quer acabar com os sindicalistas nem lhes está a chamar malandros. Têm de perceber é que para bem dos seus associados tem de mudar o seu paradigma de actuação. Diz-me uma coisa: para além dos sindicatos da FP, incluindo professores, que lá vão ainda tendo algum poder (não importa agora se o usam no bom sentido) que sindicatos são ainda capazes de se constituir como um parceiro de negociação eficaz face ao governo e às associações patronais? Nenhum. Isto, e o louvável modelo de actuação da CT da AutoEuropa, que está nos antípodas do sindicalismo maioritário em Portugal e tem conseguido importantes garantias para os trabalhadores e para o funcionamento do "cluster" automóvel aqui no rectângulo, deveriam dar-te que pensar.

Jack Kerouac disse...

Eu depois do golo do Javi Garcia fiquei bem disposto o suficiente até para aceitar visões com mais de 40 anos, aliás isto até poderia dar origem a uma anedota - "Numa obra de grande porte, em Andorra-CE, morrem alguns trabalhadores num acidente, quem ficou mal na fotografia ? o desgraçado do Sindicato da CC do Norte de Portugal..." - adiante.
Tens razão JC, de facto é cada vez mais complicado um sindicato ter força, numa economia que volta a estar baseada em salários mínimos e precariedade de emprego. Alguém em tempos disse, e bem, "...se as pessoas tiverem que optar entre comida, roupa e conforto ou liberdade de expressão, vão optar pela primeira hipótese..". Não é por acaso que os sindicatos mais fortes que referiste, são os de áreas onde o risco de despedimento é mínimo. Já se sabe que os grandes grupos empresariais beneficiam desta situação, pois sabem que a maioria prefere receber pouco do que ir para o desemprego, quando as pessoas que se manifestam são identificadas, e algumas indiciadas, pela polícia, esperas o quê ? quando se utiliza a chantagem de que se não estão bem há mais 100 á espera do teu lugar, ou quando é permitido que as multinacionais façam chantagem ameaçando de mudança de país, não cumprindo os acordos com o governo que lhes atribuem os benefícios, mas não lhes exigem as contrapartidas. Só mesmo quando se chegar a uma situação extrema, quando a opção do bem estar deixar de estar disponível, aí sim os protestos irão ter a força que lhe falta agora.

JC disse...

Bom, como já disse o sindicato apenas focou mal na fotografia pelo tipo de reacção que teve. Se se tivesse limitado a dizer que exigia um rigoroso inquérito (algo que o governo de Andorra já decidiu fazer) e iria tomar providências para tentar minimizar o surgimento de situações semelhantes, no futuro,o meu "post" não tinha razão de ser.
Quanto ao resto, devo dizer-te que tendo trabalhado em 4 multinacionais, onde as condições de trabalho e salariais eram mtº superiores à média, nunca assisti a nenhuma pressão digna de registo junto dos sindicalizados. Em mtªas empresas essa pressão existirá, mas devo dizer que atribuir a isso a culpa da fraqueza dos sindicatos é como culpar sistematicamente o árbitro das derrotas. Cito mais uma vez o caso da AutoEuropa, em que a taxa de sindicalização é mtº alta. E tb não é por causa das garantias de emprego vitalício que na FP, onde a % de recibos verdes é das mais elevadas, o sindicalismo ainda tem alguma força. É pela própria estrutura orgânica do sector e por dependerem do Estado, logo, a pressão política ser mais susceptível de surtir efeito. Por exemplo, no dia em que os profs forem efectivamente avaliados, tiverem salários diferenciados consoante o mérito, disciplina que leccionem e área da escola (não faz sentido um prof que leccione numa escola de uma zona degradada não ganhar mais), etc, etc, as escola tiverem mais autonomia para contratarem os seus profs, a Feprof perderá imenso do seu actual poder que tem contribuído para uma concepção conservadora da escola pública (e eu defendo a escola pública).
E viva o Javi Garcia. Mas sofri que nem um cão...

Jack Kerouac disse...

Pois muito bem, mas nem todos os empregados das multinacionais vivem em redomas. Eu também trabalhei em multinacionais, onde parte das pessoas também beneficiavam de condições acima da média, ou dentro da média do mercado em que actuavam, mas onde desgraçado de quem descontasse para o sindicato através do ordenado, ou de quem se lembrasse de reivindicar algo. E salários altos nem sempre são sinónimo de boas condições, depende do que exigem em troca.

JC disse...

Experiências diferentes, JK. Eu estava a referir-me a todos.