segunda-feira, novembro 30, 2009

A entrevista de António Barreto ao "i" e o desaparecimento de Portugal

“Estamos à beira de iniciar um percurso para a irrelevância, talvez o desaparecimento.”, afirmou António Barreto ao “i.

Bom, tenho grande respeito pessoal e intelectual por António Barreto, mas será exactamente isso que me leva a considerar que Barreto, num momento de rara fraqueza, apenas terá pretendido, com esta boutade (nada mais é do que isso), garantir um título que levasse os portugueses a ler a sua entrevista, onde existem análises e afirmações bem mais estruturadas e interessantes. Como Barreto, enquanto sociólogo, bem sabe, as sociedades e civilizações nascem, evoluem, atingem o seu apogeu e, eventualmente, acabam por entrar num período de decadência e desaparecer, dando lugar a outras. Entre guerras, dramas, luta política, catástrofes, vitórias e derrotas, desastres e cometimentos de excepção... É assim a História do nosso mundo e assim aconteceu com o antigo Egipto, os impérios romano e otomano, o comércio fenício, o apogeu da civilização mediterrânea, os Incas e os Aztecas, os grandes impérios europeus do século XIX e por aí fora. Um dia, o homem, até mesmo nosso próprio planeta extinguir-se-ão. Acenar, pois, com a irrelevância portuguesa (não terá sido já mais irrelevante no passado dos séculos XVIII e XIX do que é hoje enquanto membro da UE e da zona euro?), talvez com o seu desaparecimento (quando? como? anexado pela Espanha? incluído no horizonte de uma possível decadência da civilização ocidental?), dito assim, como o afirma António Barreto, algo aí ao entreabrir da porta, pode ser de facto chamativo (e a entrevista merece leitura), mas (e que me desculpe Barreto) não será muito honesto, muito menos rigoroso (e Barreto habituou-nos ao rigor) e, até, reputo, a puxar ao demagógico, contribuindo assim para encorajar a onda populista que por aí vai grassando, em vez de conduzir a uma análise rigorosa dos problemas e ao caminho para a sua resolução.. E, caro António Barreto, de si não esperamos isso: estamos habituados a esperar sempre o melhor. Culpa sua, claro.

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