As nacionalizações, fruto das circunstâncias políticas no pós-25 de Abril, dos grandes grupos económicos, que, embora à sombra do proteccionismo salazarista, tinham conseguido uma dimensão e estruturas que lhes permitiam algum grau de autonomia face ao Estado, forçaram esse mesmo Estado a criar e fazer crescer rapidamente uma nova burguesia empreendedora que assegurasse a base económica necessária à sobrevivência democrática. Foi esta a base inicial, com especial incidência a norte onde um conjunto de médias empresas, muitas delas exportadoras, tinha conseguido sobreviver às nacionalizações, que, posteriormente fortalecida com o surto de obras públicas “cavaquistas”, gerou a actual promiscuidade entre Estado e negócios, cujos aspectos menos claros e mais criticáveis foram, durante muito tempo, objecto de um consenso entre os partidos de governo (PS, PSD e CDS) para que se mantivessem na sombra, para sobrevivência do regime.
A passagem do país à maioridade mediática - com o “Independente”, a abertura das televisões à iniciativa privada, os canais por cabo e a "internet" - a emergência de uma nova geração de políticos no CDS, travestido de PP, e talvez também a luta pelo domínio das novas oportunidades de negócio que os fundos estruturais e as novas tecnologias trouxeram consigo, colocaram em causa esse consenso estabelecido, e os partidos do regime viram aí aberta uma nova área de luta política para onde foram também arrastadas as polícias de investigação criminal e a comunicação social. Assim, hoje temos a sensação que tanto essa investigação criminal como o jornalismo navegam à medida dos interesses dessa luta política e partidária, servindo os interesses de uns ou outros consoante a conjuntura, a oportunidade e a correlação de forças existente no seu seio.
Aquilo que foi gerado, a seu tempo, pela necessidade de crescimento e consolidação do regime democrático pode também gerar o seu fim? Acredito que não. Apenas ingenuidade optimista? Não penso assim: as democracias e as sociedades abertas, ao contrário das ditaduras e dos regimes totalitários, contêm em si mesmas os genes geradores da sua própria renovação.
A passagem do país à maioridade mediática - com o “Independente”, a abertura das televisões à iniciativa privada, os canais por cabo e a "internet" - a emergência de uma nova geração de políticos no CDS, travestido de PP, e talvez também a luta pelo domínio das novas oportunidades de negócio que os fundos estruturais e as novas tecnologias trouxeram consigo, colocaram em causa esse consenso estabelecido, e os partidos do regime viram aí aberta uma nova área de luta política para onde foram também arrastadas as polícias de investigação criminal e a comunicação social. Assim, hoje temos a sensação que tanto essa investigação criminal como o jornalismo navegam à medida dos interesses dessa luta política e partidária, servindo os interesses de uns ou outros consoante a conjuntura, a oportunidade e a correlação de forças existente no seu seio.
Aquilo que foi gerado, a seu tempo, pela necessidade de crescimento e consolidação do regime democrático pode também gerar o seu fim? Acredito que não. Apenas ingenuidade optimista? Não penso assim: as democracias e as sociedades abertas, ao contrário das ditaduras e dos regimes totalitários, contêm em si mesmas os genes geradores da sua própria renovação.
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