Não, não vou falar sobre o salário e prémios de António Mexia: o assunto é demasiado complexo para ser tratado com o populismo e demagogia que têm presidido à maioria das análises sobre o tema, existindo boas razões para argumentar em seu favor ou desfavor. Há por ai já demasiado ruído...
Quero apenas chamar a atenção para o seguinte, em termos gerais e abstractos: os altos salários e prémios de executivos e gestores das grandes companhias revelam, hoje em dia, aquilo que se pode chamar um desajustamento ideológico entre o caldo de cultura que os gerou e o ambiente social actual. No fundo, no auge daquilo que se convencionou chamar, numa generalização talvez abusiva, “capitalismo neo-liberal”, esses salários e prémios tinham também para o exterior, para a sociedade, uma função ideológica, ajudando a comunicar e tornar dominante um determinado conceito de vida que mitificava e colocava o empreendorismo financeiro e a capacidade de enriquecer e gerar dinheiro com dinheiro como elementos fulcrais e exemplares de uma nova ordem social triunfante, gerada pela derrota da União Soviética na guerra fria. A crise económica e financeira de 2008/09, embora não colocando em causa o capitalismo e a sociedade liberal, veio, pelo menos, pôr em causa esse modelo nos seus aspectos mais extremistas, trazendo consigo uma certa desmistificação da capacidade de gerir, pelo que esses salários e prémios perderam essa sua função ideológica e aparecem agora como algo desajustado, fora de época, uma excrescência de um passado que conduziu à crise e ao descalabro social.
É exactamente este desfasamento que coloca na ordem do dia um assunto pelo qual ninguém se interessaria há meia dúzia de anos...
Quero apenas chamar a atenção para o seguinte, em termos gerais e abstractos: os altos salários e prémios de executivos e gestores das grandes companhias revelam, hoje em dia, aquilo que se pode chamar um desajustamento ideológico entre o caldo de cultura que os gerou e o ambiente social actual. No fundo, no auge daquilo que se convencionou chamar, numa generalização talvez abusiva, “capitalismo neo-liberal”, esses salários e prémios tinham também para o exterior, para a sociedade, uma função ideológica, ajudando a comunicar e tornar dominante um determinado conceito de vida que mitificava e colocava o empreendorismo financeiro e a capacidade de enriquecer e gerar dinheiro com dinheiro como elementos fulcrais e exemplares de uma nova ordem social triunfante, gerada pela derrota da União Soviética na guerra fria. A crise económica e financeira de 2008/09, embora não colocando em causa o capitalismo e a sociedade liberal, veio, pelo menos, pôr em causa esse modelo nos seus aspectos mais extremistas, trazendo consigo uma certa desmistificação da capacidade de gerir, pelo que esses salários e prémios perderam essa sua função ideológica e aparecem agora como algo desajustado, fora de época, uma excrescência de um passado que conduziu à crise e ao descalabro social.
É exactamente este desfasamento que coloca na ordem do dia um assunto pelo qual ninguém se interessaria há meia dúzia de anos...
7 comentários:
Sem entrar em populismos, mas realismo. Objectivos que dão 3 milhões numa empresa monopolista (sem concorrência), que não produz bens transaccionaveis, com um desprezo pelos consumidores. Só podemos estar a brincar. Porque que não colocar a figura em causa a gerir a CP e estabelecer como objectivo que a mesma dê lucro ? Aí sim talvez os 3 milhões se justificassem. Qualquer um a gerir a EDP (monopolista e sem concorrência) suplantaria os objectivos.Apenas uma nota sobre a questão dos prémios e dos objectivos "loucos". São uma forma de se pensar no curto prazo (para se atingir o objectivo) comprometendo o futuro de muitas empresas (veja-se o exemplo do que em acontecido um pouco por esse mundo fora)
Sem entrar em populismos, mas realismo. Objectivos que dão 3 milhões numa empresa monopolista (sem concorrência), que não produz bens transaccionaveis, com um desprezo pelos consumidores. Só podemos estar a brincar. Porque que não colocar a figura em causa a gerir a CP e estabelecer como objectivo que a mesma dê lucro ? Aí sim talvez os 3 milhões se justificassem. Qualquer um a gerir a EDP (monopolista e sem concorrência) suplantaria os objectivos.Apenas uma nota sobre a questão dos prémios e dos objectivos "loucos". São uma forma de se pensar no curto prazo (para se atingir o objectivo) comprometendo o futuro de muitas empresas (veja-se o exemplo do que em acontecido um pouco por esse mundo fora)
Eu disse que não iria discutir o salário de António Mexia, mas apenas aproveitar um tema que tem estado na ordem do dia para uma abordagem específica a uma das vertentes dos salários de gestores, em termos gerais e abstractos. Peço desculpa, e não leve a mal, mas mantenho o que disse.
De modo algum levaria a mal.
O que está em causa, não é o salário do Mexia (embora o contexto em que o mesmo é obtido seja um escândalo e uma provocação) mas um sistema que permite ter situações destas.
Um artigo cuja leitura recomendo.
http://www.ver.pt/conteudos/ver_mais_Actualidade.aspx?docID=1062
Vou escrever um pequeno "post" tomando como base um dos pontos da sua argumentação. Mas sempre em termos gerais e abstractos.
Cumprimentos
Já agora... Obrigado pelo interessante artigo que "linkou". Como comentário, deixe -me dizer-lhe que muitas grandes empresas internacionais produtoras de bens transacionáveis não se deixaram, felizmente, ofuscar pelo conceito de gerar apenas valor para os accionistas, no curto prazo. Bastantes colocaram mesmo no primeiro plano, comunidade, empregados, etc, etc. Seja, todos os seus "stakeholders".
Cumprimentos
Totalmente de acordo. Essas serão as empresas com boas práticas e com preocupações sociais (as empresas existem para gerar lucro, mas também para assumir uma função social). São as empresas que querem permanecer no mercado, e que se guiam por principios éticos. Os "share holders" vão e vêm, os "stake holders" suportam e dão vida à(s) empresa(s).
Cumprimentos
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