quinta-feira, abril 22, 2010

Desperdícios?... Sim, claro. Mas que tal se voltássemos aos submarinos?

  1. Para os fundamentalistas: o desperdício é algo de inerente à actividade humana, tanto maior quanto maior for a presença do homem. Numa máquina ou numa linha de produção razoavelmente automatizada e eficaz, percentagens de desperdício inferiores a 5% são comuns. Numa manufactura – penso – seriam necessariamente mais elevadas e quando se fala em serviços começam por ser dificilmente mensuráveis - e por aí fora... Isto significa que na actividade do Estado o nível de desperdício será dificilmente calculável e, se o for (ou fosse), uma percentagem de dois dígitos não me pareceria um exagero.
  2. Assim sendo, acresce que numa actividade, como a desenvolvida pelo Estado, que não produz nem parafusos nem automóveis, a redução do desperdício terá fundamentalmente que ver com a organização, racionalização e controlo de serviços (espero não estejamos a falar de papel higiénico, de "clips" ou das “luminárias” do software livre), o que, claro está, implica que se mexa na estrutura de recursos humanos: alterando, reclassificando, deslocalizando, despedindo, reformando, etc. Modificando hábitos. Exige também um estudo prévio do que e como fazer, tarefa entregue a quem o sabe e cobra bom dinheiro por isso. Mais ainda, pelo que acima se afirma trata-se de uma tarefa que poderá obter resultados, no mínimo, apenas no médio-prazo. E que a curto-prazo tem custos. Depois do rotundo fracasso que constituiu a “reforma da Administração Pública” do primeiro governo de José Sócrates, alguém quer, de facto, meter-se a tal tarefa? O objectivo é bem louvável, desejável mesmo, e aceitam-se voluntários. Que tal o Miguel Frasquilho?
  3. Diz-me a experiência das empresas e da gestão que o melhor método para diminuir o desperdício nos serviços é efectuar cortes cegos ou estabelecer plafonamentos. Acabamos por descobrir que afinal - oh! surpresa das surpresas - sempre os havia, para grande tristeza dos “atingidos” e que, na altura, muito “espernearam” perante tal perspectiva. Diz-me também essa mesma experiência que quando se trata de reduzir custos vale pouco a pena olhar para as rubricas “pequenas”. Nesse caso, estamos normalmente, perante a tal situação marxista (dos ditos irmãos e não do Karl), “much ado about nothing”. É bem preferível encarar o toiro de frente e ir where the big money is. O resto (adiamento de troca do carro de serviço, redução da verba de viagens e P. R. ou limitação do aumento salarial do porteiro, dá muito nas vistas mas de pouco ou nada vale. Digamos que “não dá a mecha para o sebo”... Ora, onde está o “big money” na Administração Pública?: transferências sociais e salários. Para além de ser socialmente injusto (o que já não é nada pouco), alguém quer ousar? Provavelmente, alguém vai ter de o fazer, pelo menos nos salários a partir dos – digamos – mil euros.
  4. De qualquer modo, e para colocar um ponto final nestas elucubrações, é possivel reduzir desperdícios na Serviço Nacional de Saúde, por exemplo, mantendo, no essencial, aquela que é, de facto, uma verdadeira “conquista de Abril”? Bom, Correia de Campos tentou-o, com o insucesso que se conhece, tendo saído, injustamente, de cena perante uma edição, contemporânea e tão reaccionária como a anterior, da Maria da Fonte oitocentista. Alguém se oferece para completar o trabalho? E há ainda a questão da sobre-prescrição dos medicamentos, em última análise uma resultante da iliteracia dos portugueses (e da cedência dos médicos), que acham bom médico é o que receita muito. Aí sim, haverá muito desperdício. Alguém quer pegar no assunto?
  5. Posto isto, em que ficamos? Ah, já sei: nos carros “topo de gama”, nas “reformas milionárias” e... nos “clips”, no papel higiénico e no “software” livre. Ou nos escritórios de advocacia, claro. Ora bem, aqui está um bom ponto. Todos sabemos como alguns políticos se movimentam entre os partidos e os escritórios de advocacia, o que não deixa de dar que pensar. Nos contractos jurídicos de consultoria existirão porventura desperdícios evidentes. Mas, uma pergunta: sabendo que os grandes fornecedores do Estado utilizam os serviços e o know how desses escritórios, existirá na Administração Pública uma estrutura de suporte compatível que torne desnecessário o Estado recorra a “outsourcing”. Não existindo, seria possível implementá-la? E com que custos?
  6. No fim de tudo... que tal voltarmos aos submarinos, “where the big money is”?

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