sexta-feira, outubro 16, 2015

Podem dois partidos antagónicos coligar-se?

Podem dois partidos com programas diferentes e até antagónicos apoiarem o governo de um deles e até coligarem-se? Mais concretamente: pode um partido que defende a democracia liberal, a participação na NATO, na UE e no Euro (para que não restem dúvidas, defendo todas elas) , formar governo com o apoio de quem defende o contrário e, no limite, é partidário da instauração da ditadura do proletariado e de um regime comunista, de "democracia popular"? Claro que, em certas circunstâncias históricas, tal é perfeitamente possível, aconteceu várias vezes no passado (até entre grupos beligerantes no terreno) e só uma total má fé ou ignorância da História pode afirmar essa impossibilidade. Aliás, basta recuar uns anos, até 1936 e para um país aqui bem perto, e ver como os partidos e as burguesias independentistas ou autonomistas das direitas catalã e basca (já para não falar no republicanismo moderado castelhano) apoiaram e se aliaram à República "vermelha" na guerra contra a direita franquista. E este é apenas um exemplo. É que uma coisa são objectivos estratégicos, de longo prazo, outra, bem diferente, as circunstâncias conjunturais que ditam as alianças tácticas, e talvez não fosse má ideia para muita gente, em vez de andar por aí a dizer disparates demonstrando uma ignorância de arrepiar, perder algum tempo com a leitura dos livros de História ou até mesmo, em última análise, dos clássicos do marxismo. Caramba, a maioria até tem uma licenciatura.

Significa isto a defesa de uma qualquer aliança à esquerda do PS? Nada disso - nem mesmo o seu contrário. Apenas a demonstração de que não será por antagonismo programático e de objectivos estratégicos, mas mais por não integrar  o partido vencedor das eleições e enfrentar uma comunicação social adversa, que essa eventual solução governativa apresentará as suas maiores fragilidades.  

Nota final: é um triste espectáculo assistir aos jornalistas/"pivots" das televisões debitando nas suas entrevistas, num género de PREC ao contrário, a mais arrepiante "vulgata" da narrativa da direita. Lamentável.

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