segunda-feira, outubro 05, 2015

5 notas 5 sobre as eleições

  1. Nos próximos tempos iremos assistir a uma tentativa da direita para enfraquecer o PS, contando para tal com a colaboração dos "media" e das redes sociais, onde as ideias  favoráveis à Coligação têm acolhimento maioritário, e com a actividade da facção Segurista dentro do PS - embora não me pareça que esta, a não ser que Assis, que não é propriamente um Segurista, se decida a avançar, recolha internamente apoios de peso. O objectivo é fácil de entender: necessitando a governação de compromissos e não podendo nem devendo, pelo menos nos tempos mais próximos, o PS a eles se esquivar, forçar a que eles sejam o mais possível favoráveis às ideias e ideais governo. 
  2. Desnecessário dizer que o PS vai ter um papel complicado: opor-se necessariamente a quaisquer medidas mais radicais, que possam ir frontalmente contra as ideias-chave apresentadas pelo partido na campanha, sem arriscar fazer cair o governo (pelo menos, não tendo a garantia de que possa vencer novas eleições) ou ser visto pelos cidadãos como não se diferenciando da direita. Isto, tendo à sua esquerda por um BE fortalecido, com uma liderança carismática e que já demonstrou a sua capacidade para lhe "roubar votos". It's a hell of a task.
  3. Qualquer que seja o próximo Presidente da República (Marcelo Rebelo de Sousa ou Rui Rio - quase de certeza será um deles) dificilmente PSD e CDS (que praticamente deixou de existir no dia da "demissão irrevogável") terão em Belém alguém tão complacente, colaborante e com tão pequena estatura política como Cavaco Silva. Num período de incertezas e alguma instabilidade previsível, onde serão necessários compromissos, esta é pelo menos uma boa notícia.
  4. Outra boa notícia: sem uma maioria absoluta, a política, em vez da economia, tenderá a reassumir um papel fulcral e determinante, o que é sempre saudável, e Passos Coelho terá de deixar de ser um género de CEO do país para se tornar mais primeiro-ministro. Veremos se é capaz, e também em que medida isto condicionará a actuação da ala mais radical e "Blasfema" da coligação.
  5. Numa democracia liberal, baseada em "one man, one vote", os portugueses, enquanto entidade colectiva, não existem no momento do voto, por isso não "quiseram", não "acharam", não foram da "opinião que", etc, etc. Numa democracia liberal, cada voto é individual, secreto, sem discussão prévia conjunta, tem uma intenção que só cada eleitor conhecerá, vale o mesmo independentemente dessa intenção e é quantitativo, não qualitativo. Traduzindo isto "por miúdos", os portugueses não quiseram "que a PAF governasse mas sem maioria", "não votaram no compromisso", "não mostraram sabedoria ou ignorância", etc, etc. Cada português votou num partido, com motivações diversas que cada um conhecerá, e o resultado da votação deu legitimidade à PAF para governar sem maioria absoluta. Qualquer outra interpretação, seja ela qual for, será abusiva.

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