Tenho estado fora do país estes dias, acompanhando o que se passa apenas via internet. Mas já deu para perceber que esta direita radical que nos tem governado, escudada na inevitabilidade das soluções económicas, no "there is no alternative", revela enorme dificuldade em entender a essência da democracia liberal, o seu funcionamento e o primado da política. Quando tudo tende a inclinar-se para esse lado, o seu incómodo para lidar com a situação é por demais evidente.
Independentemente do que vier a acontecer, de qualquer que venha a ser o novo governo e concorde eu ou não com os acordos que se vierem a estabelecer (quaisquer que sejam), o que António Costa está a fazer, qualquer que seja o resultado das negociações em que se envolveu, é a dar uma lição de como se actua num regime democrático, de que em democracia não se podem excluir partidos e soluções, de que cada voto é individual e tem uma intenção própria, apenas conhecida por quem o decidiu, de que não existem votos nem cidadãos de primeira e de segunda. No fundo, de que, em caso de necessidade e de poder resultar daí algo de positivo, até com o Diabo se podem fazer compromissos. Como um dia disse Churchill, que Paulo Portas e a direita gostam tanto de citar, "If Hitler invaded hell I would make at least a favourable refererence to the devil in the House of Commons"). Aprendam!
Nota final - já agora: quem disse e afirmou repetidamente que o PCP era um "partido de protesto"? Com certeza, alguém sem qualquer formação política ou desconhecedor da História. O PCP é e sempre foi (e até o provou com a sua atitude cautelosa no 25 de Novembro de 1975), um partido de poder, como também sempre o foram os partidos comunistas que se inseriam na mesma linha política, o PCE de Carrillo, o PCI de Berlinguer ou o PCP de Marchais, entre outros.
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