sábado, dezembro 06, 2008

Dupond e Dupont

Ambos nasceram pobres, desfavorecidos, lá pelo Portugal mais profundo; nas “berças”!, dizia-se no tempo dos meus pais de modo politicamente incorrecto. Nada lhes augurava um futuro de riqueza, de notoriedade ou, se calhar, nem mesmo qualquer futuro. Talvez lá pela aldeia, quem sabe o que a vida nos reserva... Na política, nunca se lhe ouviu um pensamento mais profundo, uma ideia brilhante, um rasgo de liderança, uma estratégia para o país; num dos casos, quando muito, soou um acorde vagamente trauliteiro: “quem se mete...” Nos cargos que exerceram... quem se lembra de terem deixado marca que perdure, algo de modernidade, parecido com a civilização? Limitaram-se, qual funâmbulos de sucesso, a manter e equilíbrio, esperando não os aplausos do público (o tradicional “basta, basta!!!”...) mas a passagem do tempo. É que o tempo passa mesmo, sabiam? Eles sabiam, e esperaram... Na “bola” há outros iguais, nascidos humildes e pobres, que fizeram a vida “a pulso”, como gostam de dizer: uns escolheram um clube e outros o seu rival; apenas por questão de conveniência de momento, sem emoções ou tradição que lhes valesse. Muitos esqueceram-se mesmo de anular inscrições antigas, mas parece não se importarem, ou ninguém se importar muito com isso. Demasiado. Razão tinha um dia Vasco Pulido Valente (isso acontece-lhe às vezes), quando achava preferível que essas coisas da política fossem reservadas aos ricos e bem nascidos: assim, teríamos a certeza de que não os movia riqueza ou ascensão social, poder. Por mim, quando oiço falar nessas coisas da “vida a pulso” tomo logo as precauções convenientes: nada de benefício da dúvida, condena-se e depois logo se vê! Ensinamentos da vida, sabem? Depois, depois de chegado o futuro, tomam do passado as devidas precauções, distanciam-se de quem com eles partilhou: um assomo de crítica aqui, um ou outro reparo acolá. Até chegam a conseguir que outros tomem disso sinais de independência - sabiam? - de desprendimento. Idiotas, apetece-me dizer dos convencidos: não sabiam que o futuro não tem fim e até pode desenterrar o passado? Algures, lá longe onde impera a civilização e existem leis que se cumprem, o futuro, por vezes, chega para eles ao fim. Noutras terras, de outras gentes, por sua causa o futuro chega mesmo ao fim para todos, ou pelo menos para muitos. Excepto para "caudillos", "führers", "czars" e outros "césares", brancos ou vermelhos, generais, Tapioca ou Alcazar - quem sabe? Por cá, por terras mais conhecidas, resta-nos a repulsa, o asco, o nojo, o síndroma da repelência. Como se isso nos servisse de consolo, não fosse só sintoma de impotência. Da nossa! Filhos da...

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