A imprensa desportiva continua teimosamente a pensar e ver o futebol como ele era há 30 ou 40 anos, convencendo-se e tentando convencer os incautos de que os grandes clubes do futebol português o continuam a ser em termos internacionais na era em que a televisão e os direitos desportivos substituíram as quotizações e as receitas de bilheteira como principais fontes de financiamento da actividade desportiva. É este o tipo de raciocínio que está subjacente ao artigo de Rui Cartaxana no “Record” on-line.
Partindo de uma afirmação verdadeira, um Acordão do Tribunal da Relação de Lisboa que afirma que quem adquire os direitos de transmissão televisiva “só poderá ser uma entidade legalmente autorizada a exercer a actividade de televisão” - o que não é, como se sabe, o caso da Olivedesportos – e daí tirando as devidas conclusões que me parecem ser também incontestáveis (“o dr Vale e Azevedo pode ser o que for, isso não invalida que, de facto, teve razão quando denunciou os contratos com a Olivedesportos”), Rui Cartaxana salta destas premissas para uma conclusão que elas não justificam, isto é, que aquilo que os clubes portugueses recebem como receitas das transmissões televisivas está francamente sub-avaliado (“para se ter uma ideia, a Olivedesportos paga ao conjunto dos clubes portugueses cerca de 40/42 milhões de euros/ano. Um clube espanhol de 2ª linha como o Villarreal cobra sozinho 46 milhões/ano. E um clube como o Tottenham arrecada só por si, 51 milhões! Andamos todos a brincar com coisas sérias…” ).
Ora embora partindo do princípio que os contratos dos clubes portugueses podem ser melhorados (tese que partilho), apresentar como exemplos comparativos o Villareal e o Tottenham já me parece um exagero e algo que não tem em conta realidades bem distintas: Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes, Espanha um pouco mais do que 45 milhões e o Reino Unido cerca de 60 milhões. Isso significa que se um qualquer jogo entre os três grandes portugueses pode atingir uma audiência de, por exemplo, 2 ou 3 milhões de telespectadores, em Portugal, facilmente, e de modo menos do que proporcional, um Villareal-Barça, Real Madrid ou, até, Valência ou Atlético, mesmo tendo em conta a relativa pequena dimensão da massa adepta do Villareal, facilmente chegarão aos 7 ou 8 milhões só em Espanha. Idem no que diz respeito aos jogos dos "Spurs", na melhor liga do mundo. A dimensão dos mercados dita a sua lei!
Mas devemos ir mais longe. Quer os principais jogos da liga espanhola quer os da Premiership são vendidos para quase todo o mundo, atingindo audiências de muitas dezenas ou centenas de milhões de pessoas em mercados de médio/elevado poder de compra, como o são, por exemplo, o Extremo-Oriente e a América Latina. Isto é algo que não acontece com a liga portuguesa, quando muito com alguma excepção no caso antigas colónias - mercados de muito fraco poder de compra - ou da diáspora europeia. Daqui resulta que considere ainda mais optimista (devo dizer, irrealista?) a comparação efectuada por Rui Cartaxana, embora não conteste a sua boa vontade e a legitimidade e urgência dos objectivos a que se propõe. Daí também considere que, se melhorar um pouco os actuais direitos televisivos é algo possível e desejável, a longo prazo só existe um caminho para tornar os principais clubes portugueses competitivos: fazê-los partilhar do mercado mundial das grandes ligas europeias, o que significa forçar a UEFA, através da fusão de alguns campeonatos nacionais, a permitir a criação de uma Liga Ibérica. Tudo o resto são apenas paliativos; aspirinas que diminuem a dor mas não curam a grave doença.
Partindo de uma afirmação verdadeira, um Acordão do Tribunal da Relação de Lisboa que afirma que quem adquire os direitos de transmissão televisiva “só poderá ser uma entidade legalmente autorizada a exercer a actividade de televisão” - o que não é, como se sabe, o caso da Olivedesportos – e daí tirando as devidas conclusões que me parecem ser também incontestáveis (“o dr Vale e Azevedo pode ser o que for, isso não invalida que, de facto, teve razão quando denunciou os contratos com a Olivedesportos”), Rui Cartaxana salta destas premissas para uma conclusão que elas não justificam, isto é, que aquilo que os clubes portugueses recebem como receitas das transmissões televisivas está francamente sub-avaliado (“para se ter uma ideia, a Olivedesportos paga ao conjunto dos clubes portugueses cerca de 40/42 milhões de euros/ano. Um clube espanhol de 2ª linha como o Villarreal cobra sozinho 46 milhões/ano. E um clube como o Tottenham arrecada só por si, 51 milhões! Andamos todos a brincar com coisas sérias…” ).
Ora embora partindo do princípio que os contratos dos clubes portugueses podem ser melhorados (tese que partilho), apresentar como exemplos comparativos o Villareal e o Tottenham já me parece um exagero e algo que não tem em conta realidades bem distintas: Portugal tem cerca de 10 milhões de habitantes, Espanha um pouco mais do que 45 milhões e o Reino Unido cerca de 60 milhões. Isso significa que se um qualquer jogo entre os três grandes portugueses pode atingir uma audiência de, por exemplo, 2 ou 3 milhões de telespectadores, em Portugal, facilmente, e de modo menos do que proporcional, um Villareal-Barça, Real Madrid ou, até, Valência ou Atlético, mesmo tendo em conta a relativa pequena dimensão da massa adepta do Villareal, facilmente chegarão aos 7 ou 8 milhões só em Espanha. Idem no que diz respeito aos jogos dos "Spurs", na melhor liga do mundo. A dimensão dos mercados dita a sua lei!
Mas devemos ir mais longe. Quer os principais jogos da liga espanhola quer os da Premiership são vendidos para quase todo o mundo, atingindo audiências de muitas dezenas ou centenas de milhões de pessoas em mercados de médio/elevado poder de compra, como o são, por exemplo, o Extremo-Oriente e a América Latina. Isto é algo que não acontece com a liga portuguesa, quando muito com alguma excepção no caso antigas colónias - mercados de muito fraco poder de compra - ou da diáspora europeia. Daqui resulta que considere ainda mais optimista (devo dizer, irrealista?) a comparação efectuada por Rui Cartaxana, embora não conteste a sua boa vontade e a legitimidade e urgência dos objectivos a que se propõe. Daí também considere que, se melhorar um pouco os actuais direitos televisivos é algo possível e desejável, a longo prazo só existe um caminho para tornar os principais clubes portugueses competitivos: fazê-los partilhar do mercado mundial das grandes ligas europeias, o que significa forçar a UEFA, através da fusão de alguns campeonatos nacionais, a permitir a criação de uma Liga Ibérica. Tudo o resto são apenas paliativos; aspirinas que diminuem a dor mas não curam a grave doença.
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