quinta-feira, dezembro 18, 2008

Professores e reforma antecipada

Tem sido notícia recorrente nos "media" o pedido de reforma antecipada de muitos professores, mesmo com sacrifício da respectiva pensão. O assunto é frequentemente apresentado pelos sindicatos como sendo uma má notícia, prova da desmotivação de muitos professores experientes. Permito-me discordar e considerá-la uma boa notícia para a reforma do sector e a melhoria dos padrões de qualidade do ensino público. Vejamos.

Muitos, a maioria desses professores são mulheres cujo salário era, quando do início da carreira profissional do casal, importante e até decisivo para o bem estar familiar. Hoje, com o casal na “casa dos cinquenta”, o casamento dos filhos e/ou respectiva entrada no mercado de trabalho e a progressão na carreira profissional e melhoria significativa das condições salariais do conjuge masculino, esse salário perdeu a sua importância relativa e a respectiva percentagem nos rendimentos totais do agregado familiar terá decrescido, em muitos casos, substancialmente. Assim sendo, a reforma antecipada com a perda de 10 ou 20% do salário não é significativamente penalizadora, em termos de manutenção do nível de vida adquirido, para quem a ela adere. Reflecte, isso sim e de modo notório, um estado de espírito acomodado, do tipo: “se isto não der muito trabalho e muita chatice continuo, caso contrário quero lá saber de 20% do salário". Exactamente o estado de espirito contrário às reformas necessárias para a requalificação da escola pública.

3 comentários:

Rato disse...

Mas dos trabalhadores no activo que estão perto da idade de "recolher a penates" existe algum que não pense na reforma antecipadada, mesmo com perda de parte do vencimento?
Só aqueles que não têm outros interesses na vida, sobretudo culturais, e que por terem passado uma vida inteira a fazerem sempre a mesma coisa têm um certo pavor de ficarem depois de "braços cruzados", sem entenderem lá muito bem o mundo à sua volta. Conheço alguns destes espécimes, mas aqui o Rato pertence claramente à grande maioria. É as condições mínimas e necessárias chegaram que ele aí vai, cantando e rindo. Esta vida são dois dias, meu amigo, e o primeiro já o passámos há muito...

Rato disse...

Ah, e esqueci-me de rectificar: o espírito não é de "acomodado" mas ao contrário práctico e realista, sobretudo para os que ainda pretendem gozar um pouco a vida, antes de irem de abalada para outros lugares. Sem retorno!

JC disse...

Rato:
Acho que isso depende um pouco do trabalho que se faz. Eu sempre trabalhei naquilo que gostava e, apesar do tempo bastante ocupado e da vida fenética, com muitas viagens, responsabilidades e trabalho, muitas vezes fora de horas, tive a sorte de ter um trabalho diversificado e interessante e isso nunca me impediu de ter e cultivar outros interesses, como podes ver. Agora, que tenho menos e outro género de trabalho e uma vida mais calma, esses interesses são-me muitos úteis. Mas, por vezes, sinto a falta do tipo de trrabalho mais interessante e, até, "stressante" que era o meu. Tive sorte!
abraço.